Quando Deolinda, uma
brasileira ainda jovem, embarcou no
Aeroporto Internacional de Lisboa, com
um grupo de amigos, tinha no seu
pensamento que iria passar uma
maravilhosas férias na cidade de Paris.
Quantos sonhos tivera
antes e já dentro do avião a caminho da
Cidade Luz.
Mas, por vezes, os
sonhos custam a realizar, pois quase
sempre a realidade se sobrepõe ao sonho.
Quando chegou ao aeroporto de Orly tinha
à sua espera uma legião de amigos dos
seus amigos, alguns franceses, outros
portugueses e até luso-descendentes.
Depois das apresentações rumaram todos
em dos grandes automóveis para uma
cidade que ficava longe do centro da
cidade de Paris. Ficou algo surpreendida
e até desagradada, mas como se diz “não
deu parte fraca”. O pior viria a seguir,
pois, seus amigos e “colaram” a seus
familiares e amigos e numa língua em que
se misturava um português algo arcaico e
um francês quase legítimo, Deolinda
sentiu-se com que perdida, ou a mais
naquele ambiente em que as conversas
invariavelmente andavam à volta de
críticas a outras pessoas.
Na segunda noite, custou
a adormecer e muito pensou no seu
longínquo Brasil. Aqui, era tudo
diferente. Sentiu saudades de sua casa,
do seu cão a quem chamava carinhosamente
“saco de pulgas”, dos seus pintos e
galinhas e dos meigos coelhos, os quais
tratava com especial carinho. Além do
seu computador, muitas vezes o “seu fiel
amigo” para o desabafo de sua vida.
Antes de conseguir adormecer, tomou uma
resolução: na manhã, enquanto todos
estivessem a dormir, saia de casa e
depois de andar cerca de 20 minutos a
pé, apanharia um ônibus que a levaria a
uma estação de Metro, que a levaria
enfim ao centro de Paris.
Se pensou, melhor,
melhor executou. Mal a claridade de um
novo dia apareceu, ela pôs-se a caminho.
O tempo estava frio e ela levava um
casaco comprido preto, também cor de
suas calças e na cabeça um boné de malha
de pala preto e branco. Nas costas
transportava uma indispensável mochila
com seus pertences, de uma mala a tira
colo, preta e com uns enfeites prateados
tendo bordada uma pequena bandeira do
seu Brasil.
O Metro deixou-a nos
belos e célebres Campos Eliseos. Num dos
inúmeros quiosques que por lá
proliferam, comprou uma embalagem grande
de pipocas e uma embalagem de sumo de
manga. Sentou num banco de madeira do
jardim, onde começou a comer as pipocas
e ao longe a admirar a Torre Eifell;
mais além o Arco do Triunfo,
lembrando-se de familiares que tinha
nesta cidade pernambucana do mesmo nome.
Descansou um pouco mas
um desejo quase incontrolável a
assaltou, queria subir à Torre Eifell,
embora nunca tivesse prelecção por
grandes alturas. Mas ela era valente e
de certeza que ia chegar ao último andar
da torre, onde ela calculou que lá do
cimo teria uma soberba panorâmica sobre
a Cidade Luz.
Antes de qualquer
arrependimento, levantou-se
resolutamente e em passos rápidos
dirigiu-se ao seu objectivo. Como ia
confiante!
Quanto mais se
aproximava da torre, mais esta se
mostrava mais alta. Chegou mesmo a
pensar em desistir, mas não, tinha que
vencer o seu próprio medo. Já na base,
meteu-se numa fila para comprar o
bilhete de acesso. Atrás de si, apareceu
uma linda jovem, também vestida como a
Deolinda, só com um cachecol também aos
quadrados pretos e branco, que lhe
dirigiu a palavra:
- Estou vendo que também
é brasileira.
- Sim sou, e Nordestina!
Chamo-me Deolinda, mas os amigos
tratam-me por “Deo”.
- Curioso, também sou do
Nordeste do Brasil! Chamo-me Catarina e
os amigos tratam-me por “Teka”. Estou em
Paris aproveitando uma bolsa de estudo,
na área da saúde.
Enquanto a Deo e a Teka,
falavam do seu país enquanto aguardavam
na fila apareceu um homem ainda novo que
as interpelou:
- Que belas
mademoiselles! Vê-se logo que são
brasileiras, mulheres que se sobressaem
em qualquer parte do mundo. Vive alguns
anos no belo país que é o Brasil, daí,
eu falar um pouco português.
As duas brasileiras,
olharam uma para a outra, sorriram e
piscaram o olho uma à outra. Já tinham
ouvido dizer que Paris é a cidade do
amor…
O silêncio das duas
brasileiras, foi motivo para o homem
continuar a atacar:
- O meu nome é Renault e
só descendente directo dos Condes de
Paris. Tenho um maravilhoso castelo no
vale do Seine, que desde já as convido a
serem minhas convidadas. Peço-vos a
gentileza de tirarem o meu bilhete para
as poder acompanhar ao cimo deste
grandiosa torre. E podem crer que não
podiam arranjar melhor cicerone!
Já no cimo da Torre
Eifell, o Renaut mostrou-se conhecedor
de todos os cantos de Paris, o que
impressionou as duas jovens, que apesar
de tudo se mostravam algo reservadas.
Segredaram entre si:
Teka: - O cara será
mesmo descendente dos Condes de Paris?
Deo: - Duvido muito.
Parece-me mais com aspecto de gigolô.
Desceram uns andares e
entraram num bar, onde se sentaram numa
esplanada virada ao rio Sena. Conversa
puxa conversa, o Renault perguntou-lhe o
que ela faziam no Brasil. A Deo, mais
expedita do que sua companheira,
respondeu-lhe quase sem hesitar:
- Tenho um grande rancho
com muito gado e muitos peões. Até sou
conhecida por todo o Brasil como a
Rainha do Gado.
Já a Teka, um pouco mais
hesitante, a muito custo, lá conseguiu
inventar:
- Bom, eu sou
proprietária de uns poços de petróleo,
que muita família me deixou em
testamento.
O francês mostrava-se
cada vez mais entusiasmado com o relato
das amigas.
- Hoje, bem posso
considerar o meu dia da sorte. Encontrar
duas belas e ricas brasileiras que
convínhamos, se coadunam com a minha
estirpe de Conde de Paris.
Eufórico com sua sorte,
o Renaut convidou-as para um jantar num
restaurante luxuoso do primeiro andar da
Eifell.
Como bom e
desinteressado cicerone, o francês
encomendou todo do melhor até champanhe
para aperitivo.
- Sempre tive a ambição
de dirigir um grande rancho com muitas
cabeças de gado. Ver picar um boi para
as piranhas o comerem para o resto da
manada poder atravessar um rio em
segurança. Deve ser emocionante, assim
como assoprar num berrante para conduzir
a manada.
Deo: - Por acaso, até
estou a procurar um bom dirigente para o
meu rancho. Simplesmente, tem de prestar
provas e rigorosas…
Renaut: - E que provas
são essa?...
Deo: - A primeira prova,
e a de apanhar “coquinho” na praia num
dia de calor; e a última, é atravessar a
nado um rio no Amazonas.
Renault: - Apanhar
“coquinho” não deve ser muito difícil,
não… Agora, atravessar um rio do
Amazonas a nada… Por acaso não tem
jacarés?
Deo: - Pode haver um ou
outro, assim como sucuris e piranhas,
mas são domesticados.
Renault:- E a Teka não
precisa de um administrador?
Teka: - Precisar,
precisava mas mais de um mergulhador
para descer a dois mil metros.
Renault: - a dois mil
metros?!... Bem, como já jantámos, vou
telefonar a um meu primo, que é
Visconde, para nos vir buscar. Como já é
um pouco tarde, vamos ficar os quatro
numa boa pensão. Peço permissão a tão
belas damas para sair da mesa para fazer
o telefonema.
Deo: - Esteja
completamente à vontade que nós,
pacientemente, o vamos esperar!
Quando o francês saiu do
campo de visão das amigas, estas
voltaram-se uma para a outra e quase em
uníssono disseram:
- Vamos aproveitar para
fugir!
Apanharam e táxi e
rapidamente afastaram-se daquele local.
Teka: - Deo, onde vais
pernoitar?
Deo: - Não faço a menor
ideia pois não reservei nenhum quarto em
hotel nem em pensão.
Teka: - Então podes
ficar no meu estúdio, pois a minha
colega de faculdade foi visitar os pais
e só regressará daqui a três dias.
No pequeno estúdio da
Teka, já deitada no seu beliche que a
colega lhe cedeu, custou a adormecer e
foi pensando nos acontecimentos daquele
dia. Tinha visto ou visitado:
Além da Torre Eiffel é uma grande
estrutura de ferro, projetada pelo
engenheiro Gustavo Eiffel por ocasião da
Exposição Universal de 1889. Embora essa
torre tenha se transformado no símbolo
incontestável da cidade, no momento de
sua construção, o seu espetacular
projeto arquitetônico provocou muita
polêmica na sociedade parisiense. A
Torre Eiffel demorou dois anos para ser
concluída, alcançando uma altura de 324
metros. É possível chegar à parte
superior da torre por sua escada de 1665
degraus ou por meio de um elevador. De
cima da torre você terá uma vista
privilegiada de Paris, embora seja
possível chegar ainda mais alto: um
elevador permite chegar até o ponto
culminante da torre, a mais de 300
metros de altura. Localizada diante do
parque Champ de Mars, atualmente a Torre
Eiffel é o monumento mais visitado do
mundo. Após o pôr do Sol, todas as
noites a Torre Eiffel é totalmente
iluminada por mais de 20.000 lâmpadas e
300 projetores. Nos 10 primeiros minutos
de cada hora, a torre brilha em um jogo
de luzes que domina o horizonte de
Paris.
Tinha gostado também de visitar os
Campos Eliseos (Les Champs Elysées) que
é uma grande avenida que vai da praça da
Concórdia ao Arco do Triunfo. Uma das
avenidas mais famosas do mundo. A Champs
Elysées foi projetada em 1667 por André
Le Nôtre, o jardineiro do rei Luís XIV,
com o objetivo de melhorar a vista que
tinha do Jardim de Tuileries, situado
bem na saída do Palácio do Louvre. Essa
avenida foi ampliada durante o séc. XVII
e actualmente mede aproximadamente dois
quilómetros de comprimento, contando com
uma seleção da melhor oferta de lazer de
Paris.
Na manhã seguinte quando a Teka a
acordou, Deo perguntou-lhe onde estava.
Dando uma sonora gargalhada, a mais
jovem respondeu-lhe:
Teka: - Olha Deo, tu não estás com o
Conde de Paris nem eu com o Visconde não
sei de quê. Levanta-te e vai tomar banho
para depois tomarmos o café da manhã.
Depois vamos visitar Paris e fazer umas
compras.
Antes de sair, a Deo não resistiu a ir
ao computador ver o seu correio, e
deixou escapar um desabafo:
- Nem em Paris estes Grupos e esta
gentinha me deixam em paz. Então o chato
de um português, cada vez está mais
impossível. Vão todos dar uma
“voltinha”, para não os mandar para um
sítio pior!
Por fim saíram para a rua e a Teka foi
dizendo a sua amiga que estavam na Ilha
de França. Perante o espanto de sua
colega, esta começou a contar-lhe factos
históricos daquele local.
Teka: - A região foi habitada depois da
pré-história, tendo sido encontrados
traços de monumentos megalíticos, que
acabaram destruídos pela urbanização. Na
época gaulesa, o território atual da
Île-de-France era ocupado por quatro
tribos gaulesas: no centro estavam os
parisii, cuja capital Lutèce
transformar-se-ia em Paris; no norte, os
veliocasses, a oeste os carnutes, e no
sudoeste estavam os senones, que
estabeleceram a sua capital em Sens. O
nome Île-de-France surgiu muito mais
tarde, depois do estabelecimento dos
francos, e correspondia à planície
situada ao norte do rio Sena, que eles
chamavam de País da França.
A região da Île-de-France nasceu do
domínio real constituído depois do
século X, pelos reis da dinastia dos
Capetos. Seus limites variaram muito até
o fim do regime vigente à época. A
província alargou-se na direção oeste,
e, sobretudo sobre a norte, e era mais
vasta do que a atual, considerando-se as
direções leste e sul. Formava uma zona
de interesse econômico para as
corporações mercantis de Paris, o que
então contribuía para a fixação dos seus
contornos. Depois da Revolução Francesa,
a região foi decomposta em três
departamentos - Seine, Seine-et-Oise e
Seine-et-Marne. Em 1965, os
departamentos passaram de três para
oito, além de incluir Paris. Como
resultado do desmembramento dos antigos
Departamentos de Seine e Seine-et-Oise,
foram criados os departamentos de
Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis,
Val-de-Marne (limítrofes de Paris, que
constituem a chamada pequena coroa);
Val-d’Oise, Yvelines e Essonnee (não
limítrofes de Paris, que formam a grande
coroa).
Deo: - Muito obrigado pela lição de
história. Em certos momentos, até
parecias um amigo português que tenho
que história, é com ele. Mas é um grande
chato.
Teka: - É chato por saber de história?!
Deo: - Não é só por isso. É chato por
ser chato. Já é defeito de fabrico!
Apanharam um ônibus para a Praça da
Concórdia e ao chegar, a Deo disse logo
que já tinha visto aquilo de longe.
Sempre com um belo sorriso nos lábios, a
Teka com toda a paciência do mundo,
disse-lhe:
- Visto de longe é uma coisa, mas ao
perto temos melhor percepção da
realidade. Estamos na Praça da
Concórdia: “que é a maior de Paris e
separa o Jardim de Tuileries dos Campos
Elíseos. Construída entre 1754 e 1763
para a colocação de uma estátua real em
seu centro, essa praça foi o cenário de
muitas execuções durante a Revolução
Francesa. Foi no centro dessa praça que
se colocou a guilhotina que acabou com a
vida de Luis XVI e Maria Antonieta,
entre centenas de outras execuções. Após
a revolução, essa praça foi baptizada
como Place de la Concorde. No centro da
praça foi colocado o Obelisco de Luxor,
um presente que a França ganhou do
vice-rei do Egipto em 1836. Actualmente,
junto ao impressionante obelisco de
22,83 metros de altura, e aprecie
as duas fontes de inspiração romana e
oito estátuas, cada uma delas
representando uma cidade francesa
diferente”.
Deo:- É um conjunto muito lindo! Gostava
de poder levar uma fonte destas para a
Praça das Flores de minha terra, que até
tem um relógio ao meio.
Teka: - Antes de irmos almoçar num
restaurantezinho brasileiro da Rue do
Havre, vamos visitar o Arco do Triunfo.
Deo: - Tekazinha, como já te disse, já
vi o arco de longe…
Teka: - Tem calma, até pareces uma tia
chatérrima que tenho. Tu nem viste os
Inválidos…
Deo: - Inválida ficarei eu se me
obrigares a andar muito a pé!
Teka: - És tão chata como a tal minha
tia. Aprende que eu não posso durar
sempre: O Arco do Triunfo (do francês
Arc de Triomphe) é um monumento,
localizado na cidade de Paris,
construído em comemoração às vitórias
militares de Napoleão Bonaparte, o qual
ordenou a sua construção em 1806.
Inaugurado em 1836, a monumental obra
detém, gravados, os nomes de 128
batalhas e 558 generais. Em sua base,
situa-se o Túmulo do Soldado
Desconhecido (1920). O arco localiza-se
na praça Charles de Gaulle, uma das duas
extremidades da avenida Champs-Élysées.
Iniciado em 1806, após a vitória
napoleônica em Austerlitz, o Arc de
Triomphe representa, em verdade, o
enaltecimento das glórias e conquistas
francesas, sob a liderança de Napoleão
Bonaparte: seja este oficial das forças
armadas, esteja ele dotado da eminente
insígnia imperial. A obra, no entanto,
foi somente finalizada em 1836, dada a
interrupção propiciada pela derrocada do
Império (1815). Com 50 metros de altura,
o monumental arco tornou-se, desde
então, ponto de partida ou passagem das
principais paradas militares e outras
manifestações.
Deo: - Gostei muito de visitar in locco
este arco. podes crer. Mas agora,
Tekinha, onde podemos comer, pois estou
com muita fomeeeeeeee?!
Teka: - Vamos já a caminho da Rue Le
Havre e vamos almoçar ao restaurante e
pratos brasileiros, o LÁcrobate. Se
tivesse de escolher entre ti e minha
tia, escolheria a tia pois esta diz que
nunca tem fome. A não ser em Sintra no
“travesseiros” ou “queijadas”
especialidades de doçaria daquela bela
terra portuguesa!
Deo: - E se vamos encontrar o Renault, o
tal Conde de Paris?
Teka: - É praticamente impossível.
Podemos encontrar outros “engatatões”,
mas o Conde é pouco possível – dando uma
gargalhada, continuou – Imagina que
ontem perdi o “amor” possível de um
Visconde não sei de quê! Ahahahah
Quase à entrada do L’Acrobate, ouviram
vozes de dois homens que caminhavam
atrás delas. Dizia um:
- “Amigo ao ver estas duas beldades que
vão à nossa frente, lembro-me que meu
pai queria que eu fosse padre!”
E o outro complementou:
- “São o tipo de mulheres que o médico
me receitou em doses elevadas, entre a
meia-noite e as seis da manhã!”
Voltando-se para trás, a Deo avisou-os:
Deo: - Vocês são portugueses mas tenham
cuidado pois nós vamos ter com os nossos
maridos que não são flor de cheirar…
Teka: - O meu marido é campeão do mundo
em luta livre. Circulem, circulem para
vosso próprio bem…
Já dentro do restaurante, as duas
riam-se do que tinham dito aos
portugueses, que, misteriosamente, ficam
sempre “aluados” quando vêem uma
brasileira.
Pediram picanha, com feijão preto, arroz
branco e vinagrete.
Deo: - Depois de este saboroso almoço,
apetecia-me dormir um pouco. Sinto-me
cansada.
Teka: - Nem quero acreditar no que estou
a ouvir! Vens visitar Paris e queres ir
dormir? Já deve ser devido à tua idade!
Vamos sir do restaurante e vamos
passear, vamos apanhar ar.
Deo: - Estou a ver que já delineaste o
que vamos visitar – estou certa?
Teka: - vamos a um lugar que decerto
vais gostar muito. Despacha-te para
apanharmos aquele ônibus.
Deo: - Para onde me levas? Olha que
estou muito cansada, pois hoje andei
muito a pé e doem as minha perninhas…
Teka: - Vamos a um lugar onde podes
pedir perdão pelos teus pecados!
ahahahah.
Deo: - Eu sou uma mulher sem pecados;
bem, a não ser quando me fazem irritar…
Minutos depois o ônibus parou perto da
Catedral Notre-Dame, onde as amigas
saíram, com a Deo a protestar:
Deo: - Nem quero acreditar que vou
visitar uma igreja!
Teka: - Claro que não vais visitar
nenhuma igreja, mas sim, a célebre
Catedral de Notre-Dame. Esta Catedral
foi nos finais do século XVII, durante o
reinado de Luís XIV, palco de alterações
substanciais principalmente na zona
este, em que túmulos e vitrais foram
destruídos para substituir por elementos
mais ao gosto do estilo artístico da
época, o Barroco. Em 1793, no decorrer
da Revolução francesa e sob o culto da
razão, mais elementos da catedral foram
destruídos e muitos dos seus tesouros
roubados, acabando o espaço em si por
servir de armazém para alimentos. Com o
florescer da época romântica, outros
olhares são lançados à catedral e a
filosofia vira-se para o passado,
enaltecendo e mistificando numa aura
poética e etérea a história de outras
épocas e a sua expressão artística. Sob
esta nova luz do pensamento é iniciado
um programa de restauro da catedral em
1844, liderado pelos arquitectos Eugene
Viollet-le-Duc e Jean-Baptiste-Antoine
Lassus, que se estendeu por vinte e três
anos. Em 1871, com a curta ascensão da
Comuna de Paris , a catedral torna-se
novamente pano de fundo a turbulências
sociais, durante as quais se crê ter
sido quase incendiada. Em 1965, em
consequência de escavações para a
construção de um parque subterrâneo na
praça da catedral, foram descobertas
catacumbas que revelaram ruínas romanas,
da catedral merovíngia do século VI e de
habitações medievais. Já mais próximo da
actualidade, em 1991, foi iniciado outro
projecto de restauro e manutenção da
catedral que, embora previsto para durar
dez anos, se prolonga além do prazo.
Deo: - Bravo! Já sei sua história e
assim, já podemos ir para casa!
Teka: - Tem calma, minha amiga. Vamos
calmamente visitar seu interior e depois
sim, vamos descansar para casa. Isto se
não aparecer um “gato sacristão” que nos
desencaminhe! Hahahah!
Visitaram minuciosamente este belo
monumento parisiense, embora com muitas
queixas da Deo, que, segundo ela alem
das bolhas nos pés e dores nos músculos
das pernas, sentia uma unha do pé grande
a encravar. Sem bem-disposta e alegre, a
Teka ia-lhe dizendo que tinha em casa
uma enorme tesoura para desencravar
unhas ou mesmo para lhe cortar o dedo
dorido se caso fosse possível.
Quando saíram da Catedral, foram a uma
casa especialista em pizzas onde
encomendaram duas de gosto diferentes e
umas embalagens de IceTea com sabor a
manga.
Chegadas ao estúdio da Teka, a Deo
atirou-se para cima da cama de beliche e
logo adormeceu esquecendo-se da tal
“unha encravada”. Acordou perto da
meia-noite e logo protestou por não ter
visto o episódio da telenovela que
andava a seguir. Mas logo se lembrou que
tinha fome e logo devorou uma das
pizzas, sem perguntar à Teka se também
queria um triânguluzinho. Lembrou-se no
fim desculpando-se que, quando uma pizza
lhe agrada, está se esquece de dividi-la
com outros. A Teka ria-se a bandeiras
despregadas com aquela amiga de poucas
horas. Esta ainda lhe perguntou se
queria que ela lhe cortasse a unha
encravada. Enrolando-se ainda mais no
cobertor, respondeu-lhe com voz
sonolenta:
Deo: - Quero lá saber da unha! Quero é
dormir, pois, amanhã é o último dia de
liberdade em Paris…
Quando acordou na manhã seguinte, a Leo
estava muito mal-disposta, mas logo a
Teka, meio a sério meio a brincar
lhe foi dizendo que não
estava para aturá-la, se ela quisesse
sair sozinha, que o fizesse. Um
reparador banho e um farto café matinal,
devolveu-lhe (como se fosse possível) a
sua boa-disposição. Vestiu-se e
calmamente perguntou à amiga:
Deo: - Tekazinha, onde
vamos hoje passear? Olha que é o último
dia que passo em Paris e tu tens sido
uma “santa” em aturar-me…
Teka: - Até fico
ofendida de me dizeres isso. Tu até és
uma moça sociável, bondosa e educada.
Antes de sair-mos queres que eu te corte
a unha encravada?
Deo: - Qual unha
encravada, Tekazinha?
A moça mais jovem levou
sua amiga a visitar a Praça da Bastilha.
O Metro deixou-as perto e a Teka logo
começou a contar a história daquele
locar muito conhecido mundialmente.
Teka: - “Esta Praça
da Bastilha está localizada no mesmo
local onde se encontrava a tenebrosa
prisão da Bastilha até o momento de sua
destruição, durante a Revolução Francesa
de 1789. A prisão da Bastilha tinha sido
construída entre 1370 e 1383 e era ali
que eram encarcerados os prisioneiros
políticos e religiosos. Essa prisão se
transformou no símbolo da opressão,
sendo destruída pelos insurgentes
durante a Revolução Francesa.
Actualmente, tanto a praça como a área
que a rodeia são conhecidas pelo nome de
Bastilha. Merece destaque o seu
monumento central, a Colonne de Juillet
(Coluna de Julho), que foi erigida em
homenagem à revolução de julho de 1830.
Lá também se encontra o edifício da
Ópera da Bastilha e uma parte do Canal
de Saint Martin. Além disso, a Praça da
Bastilha costuma ser utilizada como
cenário para concertos e vários eventos,
contando com uma grande oferta de bares
e salas de espetáculos”.
Como tu és pela liberdade, espero que
tenhas gostado de visitado este local.
Deo: - Claro que sou pela liberdade
quando não tenho que andar muito a pé!
Mas gostei demais de visitar este local.
E agora o que vamos visitar?
Teka:- Vai conhecer Montmartre e admirar
uns pintores que pintam nas ruas à
frente dos turistas. Vais ficar
encantada com tanta arte que sai
espontaneamente dos seus artistas,
alguns dos quais muito jovens.
Deo: - Vamos então e se encontrar algum
quadro que goste, compro-o se não for
muito caro.
Já em Montmarte, a Teka contou um pouco
da vida dos seus artistas do pincel,
pois o pouco tempo que disponham, não
dava para mais.
Teka: - “Estamos na Place du Tertre e
podemos admirar amontoados, eles mesmos
a formar uma tela pitoresca, pintores
actuais e suas obras, muitos a pintar
Montmartre diante dos turistas. Pouco
abaixo, um museu com as obras de
Salvador Dali. Imperdível o Museu de
Montmartre, imortalizando a boémia da
colina, cabarés, pintores, assinaturas
“de ouro” de toda uma época muito rica e
criativa. Poesia pode ser o deixar a
butte descendo as escadarias em pedras
multiformes da Rua Foyatier. Ladeada por
árvores entristecidas, cortada, ao
centro, pela fileira de antigos
lampiões, a rivalizar suas luzes cálidas
com o expirar tênue do sol, a ladeira
inspira... Tem-se a vontade de descer
calado, sob a brisa fria”.
Deo comprou um grande quadro a preço
muito barato. Talvez demasiadamente
barato…
Como começou a chover e com o quadro
não podiam ir de transporte público,
apanharam um táxi que as levou até ao
Louvre, embora a Leo torcesse o nariz e
a dizer que os museus cheiram a mofo e
só têm coisas antigas. A Teka sorria e
fingia não ouvi-la.
Ao chegar ao célebre Museu do Louvre que
tem uma soberba arquitetura, ao abrir a
mala do carro. A Leo teve uma grande
surpresa e decepção ao ver que o quadro
que tinha comprado em Montmartre, com a
chuva tinha esborratado toda a pintura.
Furiosa e dizendo algo que não podemos
escrever, atirou o quadro e moldura para
muito longe. Sentou-se num banco à porta
do Museu e perto da Pirâmide não
querendo sair dali. Mais uma vez a Teka,
apelando para a sua boa-vontade
conseguiu que a amiga se dispusesse a
visitar o Louvre.
Teka: - Quem vem a Paris e não vista o
Louvre, é como visitar Roma e não ir ao
Vaticano.
Deo: - Vamos lá então querida amiga e
desculpa este meu mau gênio que por
vezes fica incontrolável.
Enquanto estavam na fila, a Teka foi-lhe
contado a história deste Museu conhecido
e apreciado mundialmente.
Teka: - “Querida amiga, o Louvre é
grandioso e maravilhoso! Construído em
1190, foi uma fortaleza para os ataques
dos vikings, na época do rei Felipe
Augusto. Depois de quatro séculos e de
várias reformas, inclusive a polémica
pirâmide de vidro, está agora mais
completo do que nunca, com uma das mais
importantes coleções do mundo! Vamos
ver a "Monalisa",de Leonardo da Vinci,
que fica lotada de admiradores...as
crianças também se encantam! Depois as
maravilhosas coleções de Rafael,
Rembrandt, antiguidades gregas, como a
Vénus de Milo, pinturas egípcias (que
mostram famílias em tamanho natural de
2500 antes de Cristo), esculturas
europeias, móveis, tapeçarias,
porcelanas Limoges, miniaturas, jóias
deslumbrantes, até tesouros da Coroa
Francesa usados por Napoleão e Luís XV!
É emocionante e impossível visitar todas
galerias num só dia... Quem não foi ao
Louvre, não foi à Paris...”.
Depois da visita, as duas amigas foram
até às margens do rio Sena e no barco
improvisado de bar, descansaram e
divertiram-se em ver o tráfico daquele
rio. Barcos de todos os feitios e alguns
muito coloridos. Era o seu último dia
passado em Paris, pois, no dia seguinte,
logo pela manhã tinha que ir ter com os
amigos que os tinha deixado nos
arredores de Paris. Nem queria pensar
nisso, mas o relógio não pára e a hora
cada vez estava mais perto. Para
despedida, o tempo em Paris não estava
nada bom, pois chovia e fazia vento
desagradável.
Já a caminho do estúdio da Teka, pararam
numa pizzaria e desta vez compraram três
pizzas, não fosse a gula da Deo apetecer
comer pizza e meia!
Cansadas e com o tempo frio, adormeceram
rapidamente depois do jantar.
A Manhã chegou e com sol como a
despedir-se da Deo. A Teka acompanhou
até ao ônibus que a levaria de volta ao
convívio dos seus amigos, que segundo a
amiga, baralhavam o francês com o
português, falando por vezes um dialecto
desconhecida para a Deo.
Quando entrou em casa seus amigos
perguntaram-lhe:
- De onde vens?!
Sentando-se numa cadeira, pondo as mãos
como a segurar a cabeça e com os olhos
fechados, secamente respondeu:
- Do paraíso!
Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande –
Portugal