A despedida
do grande Detective TOMIX
de Carlos Leite Ribeiro

Na redacção do “Cá Estamos Nós”, esteve
hoje a apresentar as suas despedidas, o
grande, insubstituível, inimitável,
imutável, etc., detective Tomix, amigo
de longa data. Ao fim de 35 anos de
valiosos serviços ao serviço da
investigação particular, optou pela
reforma antecipada, com receio (fundado
ou infundado) de para o ano receber
menos da aposentação e nos anos
seguintes ainda ser pior.
O último seu grande trabalho, foi
destrinçar na telenovela “Viver a Vida”
entre as profissionais garotas do
programa e as garotas não profissionais,
mas que também fazem programas, numa
concorrência desleal com as primeiras.
Com o que conseguiu juntar em offshores
($), o nosso amigo Tomix vai passar o
resto de sua vida numa das 115 Ilhas
Seycheles, em companhia de uma “brasa”
(gata) moreninha. Ainda pensou em levar
a Bertina de “Viver a Vida”, mas como
esta é tão indecisa, nunca sabendo o que
quer, o que não quer ou, mesmo o que
deseja, optou por outra solução e
convidou a bela criada (ou faxineira) do
Gustavo, para ir viver com ele, e assim,
não fazer mais chantagem com este
pateta-alegre.
Do seu livro de memórias “As Aventuras
do mundo Imaginado do Detetive Tomix”
página 425, com a devida vénia,
transcrevemos parte de um texto:
“Era já noite alta quando Tomix deu por
terminado mais um difícil caso que
conseguiu resolver com a sua reconhecida
competência. Levantou-se da sua tosca
secretária e dirigiu-se à porta do seu
acanhado gabinete de trabalho. Saiu,
fechou a porta assobiando uma canção que
estava na moda e começou a descer,
vagarosamente, as escadas de um alto 4º
andar. Chegou ao portão de entrada; a
noite estava muito invernosa, com muita
chuva, trovoada e vento forte. Entrou no
carro cujo motor custou a começar a
trabalhar. Depois um dia de árduo
trabalho ia finalmente jantar a casa da
sua última e recente conquista amorosa
(e que conquista, minha nossa!). que
curvas harmoniosas desde o cimo, pelo
meio até aos pés.
- “Isto vai ser uma noite formidável! Um
jantar em cima da carpete, à luz de
velas e bem junto à lareira. Que luxo,
tu, Tomix, és um homem de sucesso e não
existe mulher que te resista!” – pensou
o nosso herói.
O caminho para casa de sua amada passava
por uma estreita, escura e desértica
estrada, tendo no lado direito o alto e
comprido muro de um cemitério. Quando,
sensivelmente a meio caminho, o pneu
dianteiro do lado direito furou:
- Maldição! - “Berrou bem alto o Tomix,
que continuou - numa noite tão
tempestuosa e neste sítio é que me
acontece uma destas...”.
Saiu do carro para mudar o pneu furado,
quando, inesperadamente, ouviu uma voz
cavernosa vinda dos lados do cemitério,
que lhe perguntou:
- É, amigo, precisa de ajuda?!
Ao ouvir aquela voz, naquele local e
numa noite de grande temporal, todos os
pelinhos do Tomix se eriçaram e logo
pensou alto:
- É uma... Uma alma do outro mundo!...
Corajosamente, começou a correr para se
afastar o mais rapidamente daquele
maldito lugar, repetindo constantemente:
- É uma alma do outro mundo... É uma
alma do outro mundo!...
O valente detective correu a bom correr;
saltou muros, sebes e por fim viu-se num
grande campo descampado. Cada vez chovia
mais e mais; a trovoada e os trovões
eram quase constantes; o vento cada vez
mais forte. Foi quando no meio daquele
descampado descobriu uma casinhota de
cão, abandonada. Pensou logo em
ocupá-la, quando viu que a casinhota
tinha escrito por cima, talvez o nome do
cão :”Lúcifer”.
- Figas canhoto, pé de cabra à
francesa” - exclamou aterrado o
detective.
Mas a tempestade cada vez era mais
forte, mais horrenda. Ao longe ouviu as
12 badaladas da maia-noite, de um
qualquer campanário de igreja. Depois,
ouviu o piar de um mocho, ou talvez de
uma coruja; um morcego passou por ele a
trissar e até uma cabra preta passou
perto dele. Era demais para um homem só
! Resolveu então entrar na casinhota. Já
estava com a cabeça dentro da entrada,
quando sentiu algo viscoso e húmido no
seu rosto. Assustou-se exclamando num
grito alucinante:
- Maldição!
Passou a mão pelo rosto e aclamou-se ao
verificar que aquela incomoda sensação
desagradável fora provocada por uma
simples teia de aranha. Entrou
finalmente na casinhota, mas desta vez
recuando, pois, pensou Tomix, que não
seria muito conveniente um homem ficar
com o traseiro de fora! Já dentro da
casinhota, começou a sentir por baixo um
quentinho originado por líquido orgânico
de uma necessidade fisiológica, que nem
dera por isso. Sentia-se molhado e frio
por cima e molhado e quente por baixo.
Quase que adormeceu e, quando a
tempestade passou, já o primeiro alvor
de um novo dia se desenhava no
horizonte. Começou a sentir sobre o seu
lado esquerdo algo que se mexia e que o
incomodava. Voltou um pouco o pescoço, o
que era muito difícil naquele tão
acanhado espaço, e, horrorizado, viu uma
enorme aranha: era demais! Decididamente
tentou controlar a situação e assim,
disse à aranha:
- Ou sais tu ou saio eu?...
Depois de ter tomado esta decisão e como
a aranha não se mostrou muito
interessada em sair saiu ele, o Tomix.
Ainda hesitante, dirigiu-se para o local
onde a “alma d’outro mundo” lhe tinha
“falado” o carro.
Aproximou-se cautelosamente do local, e
ao longe, viu junto ao carro uma figura
que não lhe pareceu nada do “outro
mundo”, que ao vê-lo logo dirigiu-lhe a
palavra:
- É amigo!Então você deixou aqui o carro
aberto e abandonado?... Olhe se eu não
fosse eu, o guarda-noturno aqui do
cemitério, com certeza que já não
encontrava aqui o carro. Não me diga que
você teve medo, quando lhe perguntei se
precisava de ajuda?
Já confiante, o nosso herói
aproximou-se, dizendo-lhe:
- Olá amigo! Ante de mais quero
agradecer-lhe o seu cuidado, e,
dizer-lhe que eu não tenho medo, pois
até sou detective particular. Tive que
me ausentar apressadamente para socorrer
uma cliente. Medo, eu? Como pode pensar
em tal?!
Apertou a mão à “alma deste mundo” e
verificou que ele lhe tinha feito o
favor de mudar o pneu furado.
Agradeceu-lhe a gentileza.
Meteu-se dentro do carro e dirigiu-se ao
motel onde estava hospedado. Ia tomar um
merecido duche e mudar de fato, pois,
tinha de começar um novo dia de árduo
trabalho, e quem sabe, até talvez lhe
aparecesse uma nova aventura amorosa…
Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande –
Portugal