A Laura,
aproveitando da ausência dos
seus patrões, convidou o seu
namorado PINGA na TELHA para
ir lá a casa jantar.
Mas por
motivos imprevistos, o casal
Da Pêra teve de regressar a
casa mais cedo do que
previsto, e, claro, o Pinga
na Telha teve de se
transformar num
extraterrestre ...
Depois,
ficaram frente a frente dois
grandes vigaristas, tentando
cada qual desmoralizar o
outro.
Em
determinada altura da
história, o Fausto da Pêra
debate-se com um grave
problema familiar, pois
tanto sua esposa como a
própria filha, mostram um
certo "fraquinho" pelo Pinga
na Telha.
Entretanto a
sua namorada Laura, também
não desarma ...
ELENCO:
PINGA NA
TELHA - 30 anos. O tal
extraterrestre do planeta do
Kanto, que fica entre o Sol
e a Lua, e que um belo dia
"aterrou" na varanda do
Fausto da Pêra, por culpa da
sua criada Laura.
Mostra-se
muito convencido e não liga
muito à esperteza dos outros
...
LAURA - 25
anos. A grande responsável
pela "aterragem" do
extraterrestre do planeta do
Kanto em casa dos seus
patrões. Depois ... bem
depois ...
FAUSTO DA
PÊRA - 50 anos. Famoso
vigarista que na história
vai tentar dar a volta ao
seu mais jovem "colega” de
profissão, Pinga na Telha.
Só que não contava com as
"paixonetas" de sua mulher e
de sua filha ...
Adelaide da
Pêra - 45 anos. Mulher do
Fausto da Pêra e também
colaboradora eficaz e
interessada nos tenebrosos
golpes que o marido dá. A
certa altura da história,
fica completamente
"apanhada" pelo habitante do
"outro planeta" ...
Manuela - 20
anos. A filha do casal Da
Pêra. Vamos encontra-la numa
fase já muito adiantada da
sua tendência de "vigarista
e amiga do gamanço", sendo a
colaboradora mais activa e
produtiva da actividade de
seu pai. Também queria
provar "o gosto do habitante
do outro planeta" ...
E outros
personagens …
"EXTRA
TERRESTRE de trazer por casa
!" - Carlos Leite Ribeiro
A cena
passa-se numa rua principal
da bela cidade de Lisboa.
Uma esbelta
rapariga cruza-se com um
homem ainda jovem e de bom
aspecto ...
Pinga na
Telha: - Olha, olha quem vem
aqui: a minha querida Laura
! Estás simplesmente
sensacional ! olha lá, aonde
é que vais "gatinha" ?
Laura: - Olha
quem me havia de aparecer à
minha frente: O Pinga na
Telha ! ... oh malandro, por
onde é que tens andado ? ai,
ai que o dia vai-me correr
mal …
Pinga na
Telha: - Antes de mais,
deixa-me admirar-te ... tu
cada vez estás mais bonita,
mais belaaaa, direi mais:
estás um autêntico cântico à
beleza !
Laura: -
Deixa-te de lérias e diz-me
por onde tens andado. Pela
tua cara ... não me digas
que tens estado "dentro das
grades" ?
Pinga na
Telha: - Eu dentro ? ... mas
dentro de quê ? ...
Laura: - Ora,
ora não te faças de parvo
... dentro da prisão, está
mesmo a ver-se!
Pinga na
Telha: - Olha que não te
compreendo. Diz-me lá que
conversa vem a ser essa de
prisão? Para teu governo,
fica sabendo que eu tenho
andado com muito juízo.
Agora, o que eu mais
preciso, é de uma moça para
casar, e tu és a pessoa mais
indicada, minha adorada
Laura !
Laura: - Olha
que eu estou quase a
acreditar – quase mesmo a
acreditar. Só que há três
anos me disseste o mesmo,
não te recordas ?
Pinga na
Telha: - Há três anos ?! ...
e eu disse-te isso ? ou
melhor, pedi-te nessa altura
em casamento ?! ... bem,
tenho uma vaga ideia de que
de facto, te pedi em
casamento. Mas tens de
compreender que eu nessa
época era ainda muito jovem
...
Laura: -
Então queres dizer que
agora, já és um "homenzinho"
e queres casar comigo. Não é
assim, "amorzinho" ?
Pinga na
Telha: - Pois claro que é
assim, embora tu continues a
ser muito "gozona". Porque
será que és tão má para mim,
que te adoro tanto ?
Laura: - Eu
má para ti ? Não te
compreendo "amorzinho" ? ...
Pinga na
Telha: - Ainda não
compreendi bem porque
brincas com os meus
sentimentos, pois tu sabes
muito bem que eu te adoro,
que te amo muito, muito ...
Laura: Por
favor, Pinga na Telha, não
te esforces tanto, pois eu
tenho que me ir embora. Olha
que ainda tenha que fazer
umas compras no
hipermercado.
Pinga na
Telha: - Só te deixo ir
embora se prometeres no
Domingo saíres comigo.
Laura: - Isso
é impossível, pois, os meus
patrões vão sair nesse
fim-de-semana e assim não
posso eu sair. Como vês,
estás mesmo com azar !
Pinga na
Telha: - De facto, estou com
muito azar. Olha lá, e hoje
à noite, não podíamos
encontrar em qualquer lugar
?
Laura: - À
noite, todos os gatos são
pardos e, como deves saber,
eu nunca gostei desair à
noite.
Pinga na
Telha: - Estou mesmo a ver
que tu não acreditas em mim,
mas posso jurar que desta
vez é mesmo verdade: eu
quero casar contigo ! Não,
não me faças essa cara, pois
tu és a única mulher que me
conseguia levar ao altar !
Laura: - És
tão aldrabão, Pinga na
Telha, pois à minha colega
Serafina, disseste a mesma
coisa - não te lembras ?...
Pinga na
Telha: É certo que eu disse
isso, mas já foi à muito
tempo. Além que o caso com
ela, foi uma pura
brincadeira, pois a sério,
só contigo, meu amor !
Laura: - Pode
ser que com "a verdade me
enganes" ... mas não sei. É
que eu também já estou
"queimada", pois o Adalberto
também me pediu em casamento
e por fim casou com outra.
Pinga na
Telha: - Deixa isso para lá,
pois já passou. Sabes,
Laura, aquele meu tio de
quem te cheguei a falar ...
Laura: - Sim,
sim lembro-me muito bem;
aquele que tu me dizias que
era muito rico ?
Pinga na
Telha: - É esse mesmo, Laura
! olha, morreu a semana
passada.
Laura: - E
deixou-te alguma coisa de
jeito ?
Pinga na
Telha: - Pois claro que me
deixou. Além de dinheiro,
também me deixou umas terras
e uns edifícios…
Laura: - Ah
sim ? … Isso é muito
interessante, muito
interessante mesmo. Ele
morava, segundo tu me
dizias, para os lados de
Leiria, não é assim ?
Pinga na
Telha: - Mas que memória a
tua, querida Laura, como tu
te lembras tão bem !
Laura: - Olha
lá, Pinga na Telha, esse teu
tio deixou-te tudo para ti ?
Pinga na
Telha: - Pois claro que me
deixou tudo a mim. Sou o seu
herdeiro universal. Olha,
até me deixou parte do rio
Liz !
Laura: - Tudo
junto, deve somar uns bons
milhões de euros, e, sendo
assim, vou tentar acreditar
em ti. Vou dar-te mais uma
oportunidade. Oxalá que não
seja só "conversa de
bandido".
Pinga na
Telha: - Olha, meu amor, tu
podes confiar inteiramente
em mim, assim como em todo o
dinheiro que o meu tio me
deixou !
Laura: - E tu
já tens esses bens todos em
teu nome ?
Pinga na
Telha: - Sim, tenho, ou
melhor, ando a tratar disso.
Mas na a próxima semana já
deve ficar tudo regularizado
.
Laura: -
Então, não te esqueças de
regularizar tudo o mais
rapidamente possível, pois
os prazos podem prescrever e
depois não temos esse
dinheiro, que tanta falta
nos vai fazer, para governar
a nossa vida, melhor, as
nossas vidas em comum !
Pinga na
Telha: - Tens muita razão,
mas agora diz-me quando é
que podemos estar juntos,
bem juntinhos, para
combinarmos umas certas
coisas. Quero dizer, para
"afinar", digamos, as
agulhas ?
Laura: - No
Sábado aparece lá em casa e
assim podemos jantar juntos,
e, e...
Pinga na
Telha: - E, depois ...?
Laura: -
Depois, logo se vê. Os meus
patrões nesse dia estão
fora. Não te esqueças que é
no Sábado à noite. Espero-te
em casa dos meus patrões,
está bem ?
Pinga na
Telha: - Não me esquecerei,
meu amor. Podes ficar
descansada. Adeus, meu
grande amor da minha vida,
meu amor, meu "gatinha"
linda !
Laura: -
Adeus, meu "príncipe
encantado". Até Sábado à
noite, e não te esqueças que
eu tenho um comerzinho feito
a capricho à tua espera !
Pinga na
Telha: - Ai um comerzinho
caprichoso à minha espera.
oh meu amor, podes ficar
descansada !
( no Sábado
seguinte, à hora marcada,
Pinga na Telha dirige-se a
casa dos patrões da Laura.
Toca a campainha da porta, e
...)
Laura: - Lá
estão a bater novamente à
porta, já ouvi e já vou
abrir ... quem é ? ...
Pinga na
Telha: - Laura sou eu, o
Pinga na Telha. Abre a
porta depressa antes que
alguma vizinha me veja …
Laura: - Ah,
és tu !
Pinga na
Telha: - Pois claro que sou
eu !
Laura: -
Entra, entra. Olá querido,
como está o meu amor ?
Pinga na
Telha: - Estou óptimo, só
com uma grande fome; uma
autêntica fome de lobo.
Laura: - Mas
eu já tenho o jantarinho
pronto que deve de estar uma
delícia.
Pinga na
Telha: - Lá cheirar bem,
cheira. O que faz aumentar
ainda mais o meu apetite.
Laura: - Fiz
uma canjinha e um bacalhau
com todos.
Pinga na
Telha: - Então vamos lá
comer. Olha lá, onde estão
os teus patrões ?
Laura: - Como
já te disse, foram passear e
só devem regressar amanhã à
noite. Mas vamos lá ao que
nos interessa mais neste
momento, ou seja, o jantar.
Senta-te aí nesse lugar onde
habitualmente se senta o meu
patrão. Agora diz-me
amorzinho, queres primeiro a
sopa ou o bacalhau ?
Pinga da
Telha: - Tanto me faz, pois
a escolher, queria-te a ti
em primeiro lugar, Laurinha
da minha alma !
Laura: - Já
que assim queres, toma lá
primeiro a sopa. Se por
acaso estiver muito quente,
assopra-a que ela arrefece.
Pinga na
Telha: - Serás sempre a
mesma. Olha lá Laura, já
pensaste se os teus patrões
chegassem neste momento, que
desculpa lhe davas ?
Laura: - Nem
quero pensar nessa hipótese,
porque sei que eles só vão
chegar amanhã à noite. Vamos
mas é mudar de assunto e
falar, por exemplo, naquilo
que o teu tio te deixou de
herança. Olha lá, já
trataste de todos os papeis
que faltavam para poderes
receber a tal herança ?
Pinga na
Telha: - Quais papeis ?! Há
sim, os papeis ... não te
preocupes pois está quase
tudo pronto. Mas voltando ao
assunto que estávamos a
falar, o que é que tu dizias
aos teus patrões se por
acaso eles chegassem neste
momento ?
Laura: -
Dizia-lhes que tu eras o ...
(nesse
preciso momento, ouve-se uma
chave a rodar na fechadura e
a porta a abre-se, e )
Adelaide da
Pêra: - Estou mesmo danada !
com a perspectiva de um
fim-de-semana divertido,
tivemos que regressar tão
estupidamente a casa. Que
pouca sorte a nossa !
Sancho da
Pêra: - Ainda bem que
regressámos a casa, pois eu
já há muito que estou aflito
para ir à casa de banho!
Manuela da
Pêra: - Eu logo vi, para ti,
só uma casa de banho
privativa. Se tivéssemos ido
para o acampamento sempre
gostava de saber como é que
tu te ias arranjar. Mas por
favor despacha-te depressa
pois eu também preciso de ir
lá.
Fausto de
Pêra: - Vocês estão p`ra aí
todos nervosos, mas foi a
mim que roubaram o carro ...
Adelaide da
Pêra: - Olha menino, o carro
não era só teu, era nosso !
Fausto da
Pêra: - Duvido, pois, pelo
menos estava em meu nome.
Adelaide da
Pêra: - Pois é, mas quando
era preciso meter gasolina
ou pagar a oficina, eu é que
tinha de arranjar dinheiro !
Manuela da
Pêra: - Ó papás deixem-se de
discussões. Estou cheia de
fome e desde que chegámos,
só me cheira a Bacalhau.
Fausto da
Pêra: - A mim também me
cheira a bacalhau …
Adelaide da
Pêra: - Já estava admirada
que não te cheirasse, pois,
tu estás sempre esfomeado. A
mim é que não cheira mesmo a
nada. Mas onde é que se
meteu a Laura, a nossa
criada ?
Fausto da
Pêra: - A esta hora já deve
de estar a dormir ...
Adelaide da
Pêra: - Duvido que ela
esteja a dormir, pois não a
ouço ressonar. Laura ...
Laura ...
Manuela da
Pêra: - Com esses gritos
todos a mamã ainda acorda
toda a vizinhança !
Adelaide da
Pêra: - Ninguém tem nada com
isso pois estou em minha
casa e grito quando muito
bem quiser !
Fausto e
Manuela da Pêra: - Em nossa
casa, queres tu dizer !
Laura: -
Chamou, minha senhora ?
Adelaide da
Pêra: - Pois claro que te
chamei. Olha lá, aonde tens
estado ?
Laura: - Bem,
tenho estado ali ... ali ...
acompanhada por um ...
Adelaide da
Pêra: - Não me digas que
tens estado acompanhada por
um ... um homem cá em casa ?
Laura: - Mas
minha senhora, ele não é um
homem, pelo menos um homem
vulgar ...
Manuela da
Pêra: - Estou a compreender,
pois para ti tem de ser um
homem, especial !
Fausto da
Pêra: - Mas o que é que
estás aí a dizer ? … não é
um homem ?!
Pinga na
Telha: - Boas noites a todos
! A Laura tem toda a razão,
pois eu não sou um homem ! …
Fausto da
Pêra: - Podes-me dizer por
onde é que "este” entrou ? E
tu dizes que não é um homem
?!
Laura: -
Sabem, encontrei esta
"espécie rara" na varanda da
sala ...
Manuela da
Pêra: - Na varanda da sala
de um quinto andar ? Olha
que é muito estranho, muito
estranho mesmo …
Fausto da
Telha: - Está mais que visto
que é um ladrão; vou já
chamar a polícia ...
Pinga da
Telha: - Tenha muita calma,
muita calma mesmo. Por favor
não chame a polícia, senhor
Fausto da Pera, que por
sinal só tem bigode. Tenha
muita calma, porque eu vou
explicar tudo muito
direitinho. Pois é, como a
Laura diz, eu aterrei na sua
varanda ...
Fausto da
Telha: - Então você é um
aviador ?!
Pinga na
Telha: - Aviador ...
aviador, não direi. Mas
tenha um pouco mais de
calma, que eu vou contar
tudo. Entretanto dão-me
licença que me sente neste
sofá ?
Fausto do
Telha: - Claro, sente-se à
sua vontade.
Pinga na
Telha: - Muito obrigado.
Fausto da
Pêra: - Agora que já está
comodamente sentado,
peço-lhe que nos conte a
história da sua vida, pois
estamos, digamos, com muita
curiosidade ...
Pinga na
Telha: - É uma história
muito difícil de contar.
Viajava eu numa nave
especial do meu planeta,
quando em determinado
momento ela se desintegrou e
eu fui injectado dentro de
um invólucro e aterrei (ou
caí) na varanda da sua casa
...
Adelaide da
Pêra: - Então você quer
dizer que não é deste
planeta ?
Manuela da
Pêra: - Olha que pergunta a
tua, mamã. Claro que ainda
não notaste que ele não é
deste planeta, mas nota-se
muito bem !
Pinga na
Telha: - Pois, pois eu não
sou deste planeta, sou do
planeta ... do planeta do
Kanto (escrevesse com um
Kápa) !
Fausto da
Pêra: - Do planeta do Kanto
?! nunca ouvi falar em tal.
Então onde fica esse seu
planeta ? ...
Pinga da
Telha: - Olhe ... fica entre
o Sol e a Lua ...
Adelaide da
Telha: - Quer então dizer
que você é um ...
Manuela da
Pêra: - Oh mamã, é um E.T. !
Vê-se mesmo que não estás a
par destes modernismos !
Sancho da
Pêra: - É tão engraçado
ter-mos cá em casa um E.T..
Até me faz lembrar o ALF, o
personagem daquela série
televisiva. Olhe lá, sr.
E.T. , você também gosta de
gatos ?
Pinga da
Telha: - Não, não gosto
nada, mesmo nada de gatos.
Mal por mal, prefiro os
cães.
Adelaide da
Telha: - Mas afinal, sendo
assim, quem é que me diz o
que é um E.T.,ou lá o que
você estão p`ra aí a dizer ?
Manuela da
Pêra: - A mamã tem toda a
razão, pois no tempo dela,
estas coisas não aconteciam,
porque ainda não tinha sido
inventados os E.Ts. !
Adelaide da
Pêra: - Claro que não havia
estas coisas esquisitas, por
isso agora quero saber o que
é ?
Manuela da
Pêra: - Olha mamã, um
extraterrestre, é um
habitante de outro mundo ...
Adelaide da
Pêra: - Ai credo, filha !
não me digas que temos cá em
casa uma "alma do outro
mundo" !
Sancho da
Pêra: - Olhe lá, sr. E.T.,
além de gostar de cães, por
acaso também não gosta de
ossos ? É que eu tenho aqui
o osso de uma perna de vaca
...
Pinga da
Telha: - Eu gostar de ossos
?! Eu, comer ossos ?! O
menino não deve estar bom da
cabeça !
Manuela da
Pêra: - O meu irmãozinho é
mesmo estúpido. Então
querias que um E.T. comesse
ossos ?!
Sancho da
Pêra: - Eu não sabia, por
isso é que perguntei ...
Manuela da
Pêra: - Pois claro que os
E.Ts., não comem os ossos,
pois estes são precisos para
alimentar os cães para
depois, sim, os E.Ts.,
poderem comer os cães bem
gordinhos !
Fausto da
Pêra: - Estou mesmo a ver
que você está p`ra aí com
muita fome ...
Pinga na
Telha: - É um facto sr.
Fausto da Pêra, estou mesmo
esfomeado .
Fausto da
Pêra: - Então ia agora um
cachorro ?...
Pinga na
Telha: - Com a fome que
tenho, comia um ou dois, ou
mesmo três cachorros. O sr.
Fausto da Pêra, nem pode
calcular a fome que eu tenho
! veja só que eu não como
desde ... desde a última vez
...
Fausto da
Pêra: - Sancho, vai ali a
baixo ao canil e procura o
sr. Manuel dos Cães. Escolhe
meia dúzia de cachorros dos
mais gordinhos e trá-los,
que eu amanhã farei contas
com ele. Mas toma atenção,
não é preciso que digas a
ninguém que temos cá em casa
um E.T.
Pinga na
Telha: - O sr. Fausto da
Pêra deve estar enganado,
pois não são desses
cachorros que eu gosto ...
Fausto da
Pêra: - Então, de quais são
?
Pinga na
Telha: - São daqueles que se
comem dentro do pão !
Fausto da
Pêra: - Para mim, você pode
comer os cachorros como
gostar mais, com ou sem pão.
filho, vai lá então buscar
os cachorros.
Manuela da
Pêra: - Olhe lá, sr. E.T.,
como é que você se chama ?
Pinga na
Telha: - Eu sou o Pinga na
Telha !
Manuela da
Pêra: - Que nome tão
engraçado! E aonde é que
este amigo E.T. vai dormir
esta noite ?
Adelaide da
Pêra: - Esta noite, o nosso
convidado vai dormir no meu
quarto, e na minha cama !
Manuela da
Pêra: - Ah sim ? E aonde é
que o papá vai dormir ?
Adelaide da
Pêra: - É lógico que dorme
aqui neste sofá-cama !
Fausto da
Pêra: - O quê, será que ouvi
bem, o E.T. vai dormir
contigo ?! Tu deves de estar
é maluca; um E.T., qualquer
a dormir com minha mulher ?
Adelaide da
Pêra: - Não sei quem é que
está mais maluco ! Pois há
tantos anos que ando a
tentar ensinar-te a arte de
bem receber visitas em nossa
casa, e tu, nunca mais
aprendes !
Fausto da
Pêra: - Mas olha lá, o E.T.,
vai ficar no nosso quarto,
ou por outra, só contigo na
cama ? Não, não posso estar
de maneira nenhuma de acordo
...
Adelaide da
Pêra: - Oh homem, tu cada
vez estás pior ! olha lá, tu
não vês que ele não é nenhum
homem ? É simplesmente um
E.T. e, além disso, temos o
dever de honrar as nossas
visitas !
Fausto da
Pêra: - Mas tens de
compreender que sozinho e
durante a noite ...
compreendes, não compreendes
?
Adelaide da
Pêra: - Não, meu marido, não
compreendo mesmo nada. Nem
sequer aonde queres tu
chegar ...
Fausto da
Pêra: - Apesar de não seres
muito inteligente, tu sabes
muito bem ...
Adelaide da
Pêra: - Tu o que és é um
perfeito desavergonhado, um
homem sem categoria nenhuma
! Vê lá tu que, até de um
simples E.T. desconfias !
Laura: - Mas,
para evitar certas
confusões, o E.T. bem podia
ficar na minha cama, pois
ela até é bastante larga ...
Fausto da
Pêra: - Agora até estou
plenamente de acordo aqui
com a Laura, pois assim se
evitava certas confusões.
Quanto a mim, este amigo
podia ficar perfeitamente
com ela. Isto tudo para
evitar certas confusões ...
Adelaide da
Pêra: - Mas que parvoíce é
essa ?! um E.T. desta
categoria, como pode ficar
no quarto de uma simples
criada ?! Aonde é que isto
já se viu ?!
Laura: - Como
fui eu que o encontrei na
varanda, parece-me que devo
ter uns certos direitos
sobre ele...
Adelaide da
Pêra: - Cala-te ! é certo
que foste tu que o
encontras-te, mas só por
isso, não quer dizer que ele
seja propriedade tua. Tu
tens cada parvoíce, Laura !
Laura: -
Pois, mas também não é
propriedade da senhora !
Manuela da
Pêra: - Por favor não
discutam. O E.T. é de todos
nós, não é exclusivamente de
ninguém, assim, proponho que
ele passe a noite no meu
quarto, pois a minha cama
também é muito larga ...
Fausto da
Pêra: - Vocês estão é todas
malucas ! Ele pode ser um
E.T., mas o certo é que é um
macho, e vocês são fêmeas !
Adelaide da
Pêra: - E o que é que isso
tem ser macho ? És tão pouco
inteligente que nem vês que
ele é de outra raça ?
Fausto da
Pêra: - Então, queres dizer
que ele pode ficar esta
noite no quarto da nossa
filha ?
Adelaide da
Pêra: - No quarto da nossa
filha é que ele nunca poderá
ficar ! Poderá ficar no
mesmo quarto que eu ficar !
Fausto da
Pêra: - Tu estás
completamente doida !
Adelaide da
Pêra: - Então tu pensas que
eu não sei guardar bem a
nossa filha ? Pois fica
sabendo que sei guardar,
inclusive de E.Ts. !
Fausto da
Pêra: - Olhe lá, senhor,
senhor ...
Pinga na
Telha: - Pinga na Telha !
Fausto da
Pêra: - É isso tudo, Pinga
na Telha. Olhe lá, no seu
planeta do Kanto, como é que
vocês fazem ... fazem
...compreende, não
compreende ?
Pinga na
Telha: - Senhor Fausto da
Pêra, o que me pergunta é
assunto tão pessoal, tão
íntimo que nem dá para
explicar ...
Manuela da
Pêra: - Pois é, papá, o sr.
Pinga na Telha tem toda a
razão: nem dá para explicar
!
Adelaide da
Pêra: - Claro, que só dá
para exemplificar. Isto nem
parece teu, Fausto. Tu, com
essa idade, já devias de
saber essas coisas !
Fausto da
Pêra: - O melhor ainda é o
E.T. ficar no quarto comigo
e com o Sancho ...
Pinga na
Telha: - Alto aí, essa é que
não ! Tenha muita paciência
sr. Fausto da Pêra, mas essa
hipótese é que não. No meu
planeta, o do Kanto, não é
permitido dormirem machos
com machos. Sabe, lá no meu
planeta, não são permitidas
certas confusões !
Fausto da
Pêra: - Mas era só uma
solução, digamos, para esta
noite ...
Pinga na
Telha: - Essa solução é
impossível para qualquer
habitante do planeta do
Kanto. Peço mais uma vez que
não me levem a mal, mas
assim terei que me ir
embora. Vou procurar outra
casa, outros amigos que me
dêem melhores condições de
vida.
Fausto da
Pêra: - O sr. E.T. não se
precipite, tenha calma,
pois, com calma tudo se pode
resolver ...
Pinga na
Telha: - Calma tenho tido.
Só preciso é de boas
condições de vida, como por
exemplo, boa comida e uma
boa cama...
Fausto da
Pêra: - Mas eu já lhe disse
que com calma, tudo se irá
resolver ...
Adelaide da
Pêra: - Estás a ver, Fausto
o que tu estás a arranjar
com essa tua mania de tudo
quereres resolver ? estamos
em risco de perdermos uma
visita, um ilustre amigo, um
E.T. !!!
Fausto da
Pêra: - Vê lá se te calas e
se me deixas pensar bem ...
Adelaide da
Pêra: - Pensar bem e
resolveres o quê ?
Fausto da
Pêra: - A melhor maneira de
resolver este problema. Tu
tens cada uma !
Adelaide da
Pêra: - Mas tu nunca
conseguiste nem consegues
resolver nada !
Manuela da
Pêra: - A mamã também está a
ficar muito chata. E se
deixassem que o E.T. ficasse
no meu quarto e na minha
cama, o assunto ficava
resolvido ...
Adelaide da
Pêra: - No teu quarto é que
nunca ! Tu minha filha,
sabes lá quais são as
intenções deste E.T. ? Tu
ainda és muito novinha e
ainda estás muito crua, para
compreenderes estes assuntos
... de E.Ts.
Manuela da
Pêra: - E a mamã o que é que
percebe deste assunto ? diga
lá ...
Fausto da
Pêra: - Boa pergunta, minha
filha ! Mas eu sou bem capaz
de te responder por ela: É
que a tua mãe está a ficar
velha de mais para estes
assuntos. Mas numa coisa a
tua mãe tem razão: ainda não
sabemos o que é que este
E.T., ou seja, o sr. Pinga
na Telha veio cá fazer ao
nosso planeta.
Laura: - Se
me dão licença, eu volto a
insistir no sentido do E.T.
(o sr. Pinga na Telha),
ficar esta noite no meu
quarto. Não vai haver
qualquer problema, pois, eu
porei um colchão no chão e
ele pode lá dormir. Para um
E.T., até ficava muito bem,
e os vizinhos não teriam
nada a comentar ...
Adelaide da
Pêra: - Até aí tens toda a
razão:, pois, os vizinhos
não têm nada, mas mesmo nada
a comentarem, pela simples
razão de não saberem que o
sr. Pinga na Telha, está cá
em casa !
Laura: - Pois
é, mas nunca se deve confiar
em demasia, pois eles podem
vir a saber, e depois, já
sabem como é: um grande
falatório !
Manuela da
Pêra: - Não, não, com essa
não nos convences. Sabes, é
que nós também não somos
assim tão ingénuos.
Adelaide da
Pêra: - Manuela, minha
querida filha, não dês
conversa à criada, pois ela,
coitadinha, não tem a mínima
noção do que é a "Arte de
Bem Receber as Visitas". Ela
não tem culpa nenhuma, mas
tem de compreender. Mas, no
fundo, temos de a louvar
pela sua coragem e grande
interesse em tentar resolver
este delicado problema.
Fausto da
Pêra: - Olhem lá, por acaso
não podem ficar um pouco,
uns momentinhos caladinhos
para que o nosso amigo E.T.,
nos possa contar o que é que
veio cá fazer ao nosso
Planeta ? Vocês, por acaso,
já pensaram que podemos
estar na presença de um
espião, ou de um sabotador,
ou mesmo de um assassino, a
soldo de uma grande potência
inter-planetária ?
Adelaide da
Pêra: - Oh homem, cala já
essa boca e acaba com essas
parvoíces. Tu sempre foste
um grande exagerado; nem ao
menos vês que o Pinga na
Telha tem um ar tão
simpático, um ar másculo, é
muito educado e tem muita
personalidade ...
Fausto da
Pêra: - Pois é, pois é, mas
tu podes estar completamente
enganada, pois nós só vimos
caras e não vimos corações.
Ele poderá ser muito
simpático, e ser ao mesmo
tempo um grande assassino.
Tu já não te recordas
daquele filme "O Assassino
da Voz Meiga" ? Usa bem a
cabeça, mulher, e pensa
muito bem, pois continuo na
minha, ou seja, podemos
estar na presença de um
grande bandido, ou mesmo de
um grande assassino !
Manuela da
Pêra: - Oh não, eu também
sou da opinião da mamã. O
Pinga na Telha não tem
aspecto de malfeitor.
Fausto da
Pêra: - Podem ter muita
razão, mas eu não me
convenço sem que primeiro
ele nos diga o que veio cá
fazer ao nosso Planeta. Sim,
que eu saiba, nenhum
habitante cá da Terra foi ao
tal planeta do Kanto, como o
Pinga na Telha diz. É por
isso que eu insisto em saber
o que é que ele veio cá
fazer ao nosso planeta.
Laura: - E
com essa conversa toda,
curiosamente e na vossa
opinião, eu é que não
entendo nada da tal "Arte de
Bem Receber Visitas", e com
mau exemplo, é o sr. Fausto
da Pera quem está a
desconfiar das intenções
desta visita ! Por favor não
se esqueçam daquele velho
ditado que diz: "A quem
bater à tua porta, pergunta
só quem é e nunca quem
foste"
Manuela da
Pêra: - Bravo, bravo ! Ainda
não tinha descoberto que a
Laura era filósofa, mas lá
certa razão, tem ela .
Adelaide da
Pêra: - Sabes, minha querida
filha, o teu pai com a idade
tem vindo a perder muitas
qualidades. Vê lá tu que ele
dantes até era muito belo e
inteligente ...
Manuela da
Pêra: - O papá ?
Laura: - E
com esta conversa toda, este
pobre E.T. deve estar a
morrer de fome.
Fausto da
Pêra: - Eu não me sinto
culpado dessa situação, pois
até mandei o Sancho ir
buscar uns cachorros, mas
ele entretanto adormeceu.
Reparem só como ele dorme
que nem um justo, e nem a
novidade de termos cá em
casa um E.T. lhe vence o
sono. Agora, francamente,
nem sei o que lhe posso
oferecer para o nosso
convidado comer.
Pinga na
Telha: - Ai que sono tenho
eu … Atrevo-me a dar uma
opinião: como não têm cá em
casa cachorros, pode ser
mesmo uns pregos (bife de
vaca dentro de um pão) ...
Fausto da
Pêra: - Nem isso temos cá em
casa. Martelo, ainda temos,
mas pregos é que não.
Adelaide da
Pêra: - Oh homem, tu estás
mesmo em crise de
inteligência, o que o Pinga
na Telha quer, não são
pregos metálicos, mas sim,
pregos de carne - bifanas -
carne no pão !
Fausto da
Pêra: - Eu duvido que seja
assim, mas se é isso que ele
quer, a Laura que prepare
esses pregos, ou lá o que é.
Mas continuo na minha, ele
com certeza que não irá
gostar disso, pois, no tal
planeta do Kanto, são bem
capazes de comerem outras
coisas; talvez umas coisas
mais exóticas ...
Pinga na
Telha: - O sr. Fausto da
Pêra, pode ter razão, mas
p`ra agora, que a fome é
negra, carne no pão serve
muito bem. Bom, como já vos
disse, a minha viagem foi
muito longa, e quando assim
acontece, o apetite aumenta
muito.
Laura: - Olha
lá, Pinga na Telha, queres
também um prato de sopa ?
Manuela da
Pêra: - Lá estás tu a meter
a colherada onde não deves.
Olha lá, na tua ilustre
cabecinha, imaginas que um
E.T. de categoria como este
é, coma sopa ? Que falta de
conhecimentos que tu tens
deste assunto, Laura.
Fausto da
Pêra: - Vamos lá ao que
interessa neste momento,
Laura, vai à cozinha fazer o
que o sr. Pinga na Telha te
pediu, e não te demores.
Entretanto, ele vai-nos
contar o que veio cá fazer à
Terra .
Adelaide da
Pêra: - Oh homem, és muito
aborrecido, além de seres
também muito, mas muito
chato !
Manuela da
Pêra: - E estás com vontade
de continuares a insistir e
papá, estás a tornar-te
impossível !
Fausto da
Pêra: - Poderei ser
enfadonho, aborrecido, mas
mesmo assim contínuo em
insistir em saber o que é
que o Pinga na Telha veio cá
fazer ao nosso Planeta. Sim,
eu tenho o direito em saber
quem tenho hospedado em
minha casa. Se ele não tem
nada a esconder, que nos
conte já o que veio cá
fazer, e notem por favor,
que eu também estou a
defender a raça humana de um
possível e eventual ataque
de seres de outro planeta !
Adelaide da
Pêra: - O sr. Pinga na
Telha, tem de desculpar a
insistência descabida do meu
marido, mas compreenda por
favor, pois é a chatice
própria da sua idade.
Pinga na
Telha: - Eu desculpo tudo,
pois não tenho nada a
esconder. Eu vim e este
Planeta, em missão de ...
Fausto da
Pêra: - Parece que quer
dizer em missão de
sabotagem. Será ? ...
Adelaide da
Pêra: - Já estou a ficar
preocupada, pois não me diga
que veio para assassinar
alguém ...
Manuela da
Pêra: - Ou será que veio em
missão de roubar algum
projecto de alta tecnologia
?
Pinga na
Telha: - Nada disso, pois eu
não sou nenhum sabotador nem
nenhum assassino, e muito
menos um ladrão ! Eu vim cá
a baixo em missão ... em
missão de trabalho. Melhor
dizendo, vim em missão
profissional ...
Laura: - Não
me digas que estavas
inscrito no Instituto
Nacional de Emprego. Olha,
entretanto toma lá estas
sandes e este copo de vinho.
Pinga na
Telha: - Muito obrigado,
Laura. Mas como ia a dizer,
na nave onde eu vinha e que
se desintegrou, trazia uma
equipa especializada, que
vinha trabalhar para este
Planeta ...
Fausto da
Pêra: - E olhe lá, o que é
que vinham cá fazer ?
Pinga na
Telha: - Essa equipa de
grandes especialistas, vinha
construir ... vinha
construir, a estrada
marítima que de futuro
ligará Lisboa ao Rio de
Janeiro !
Manuela da
Pêra: - Não me diga que cá
na Terra não há que seja
capaz de projectar e
construir essa estrada ?
Pinga na
Telha: - Creio bem que não,
pois este trabalho obedece a
uma grande especialização.
Fausto da
Pêra: - Estou mesmo a ver
que vocês foram contratados
pelos USA, que quer meter o
nariz em tudo!
Adelaide da
Pêra: - Oh homem, exageras
em tudo.
Fausto da
Pêra: - Eu não estou a
exagerar em nada, o que eu
estou a ver é que eles
querem apanhar tudo, e
assim, prepararem-se para
destruírem os poucos
paraísos que ainda temos !
Manuela da
Pêra: - Papá, não sejas tão
pessimista, pois a estrada
vai só vai ligar Lisboa ao
Rio de Janeiro...
Pinga na
Telha: - Isso será só a
primeira fase, pois depois
será para seguir até à
Argentina !
Fausto da
Pêra: - É o que eu digo, é o
que eu digo. Os USA querem
apanhar tudo. Vejam lá que
nem a América do Sul e a
Europa conseguem escapar à
sua veracidade. Reparem que
eles até foram contratar
pessoal ao planeta do Kanto,
quando podiam ter subsidiado
cá uns quantos cursos de
"Calceteiros Marítimos".
Isto assim, não está bem;
nada bem, pois assim não
poderá haver progresso !
Adelaide da
Pêra: - Acalma-te homem.
Quando começas a falar, até
pareces que engoles agulhas
de gira-discos. Olha que
talvez fosses bom para
relatares jogos de futebol,
pois nunca te calas.
Fausto da
Pêra: - Não posso estar de
acordo contigo, pois
parece-me que não sou eu que
nunca mais me calo. Neste
caso, aconselho-te a olhares
para um espelho antes de
olhares para os outros.
Adelaide da
Pêra: - Não lhe ligue, sr.
Pinga na Telha. Eu vou já
arranjar-lhe a sua caminha,
no meu quarto, e assim
poderá fazer um grande
soninho, pois deve de estar
muito cansado.
Fausto da
Pêra: - Já te disse mulher
para te deixares de
fantasias, pois, este E.T.
nunca ficará no nosso
quarto. Isto é ponto
assente, ponto único e ponto
final e muda de parágrafo.
Eu amanhã vou comprar-lhe
uma casota com corrente,
para de futuro, ele ficar
aqui no hall !
Adelaide da
Pêra: - Estou a ver que
estás completamente doido,
homem. Então tu, pensas que
o Pinga na Telha é algum cão
? Francamente, essa ideia só
podia ter saído da tua
cabeça.
Manuela da
Pêra: - A mamã tem toda a
razão. Até parece
impossível, paizinho que
possas pensar assim do Pinga
da Telha. Tu não tens é
qualquer respeito pelo teu
semelhante !
Fausto da
Pêra: - Eu, o Fausto da
Pêra, ser semelhante a um
qualquer E.T. ?! Vocês
estão é todas doidas ! O sr.
Pinga da Telha, vai ficar
aqui neste sítio, pois eu
vou comprar-lhe uma
casinhota muito bonita,
assim como uma coleira cheia
de guizos.
Laura: - O
sr. Fausto da Pêra tem cada
uma ! Vejam bem, eu, o Pinga
da Telha armado em cão,
preso a uma casota e no
pescoço uma coleira cheia de
guizos ? Eu, nem quero
acreditar naquilo que estou
a ouvir !
Manuela da
Pêra: - Estou a ver que te
preocupas demasiadamente com
este E.T., Laura. E gostava
de saber porquê ?
Laura: - Pois
preocupe-me e parece que com
toda a razão, pois não se
esqueça que fui eu que o
encontrei lá fora, cheio de
medo, de frio e de fome !
Adelaide da
Pêra: - Em parte, tens toda
a razão. Encontraste-o em
minha casa, na minha
varanda, portanto em
propriedade minha; além
disso, nunca te esqueças que
és minha empregada.
Manuela da
Pêra: - Muito bem, muito bem
mamã - apoiado ! Estamos a
ver que a Laura, neste caso,
está a passar-se (e muito)
das marcas.
Laura: -
Pronto, segundo a vossa
opinião, eu estou a passar
das marcas ... mas, por
favor, deixem-no ir embora,
pois ele coitadinho, precisa
de descansar. Será que vocês
ainda não viram que ele está
muito cansado ? Se não
viram, é porque não têm
coração !
Manuela: -
Laura, então já não queres
que ele fique no teu quarto
?
Laura: - Lá
querer, queria ... Ainda não
compreendi porquê não deixam
...
Adelaide da
Pêra: - Ah, isso é que não
deixamos, não. Repara só
que, se o E.T. ficasse no
teu quarto e se acontecesse
alguma coisa, nós, os teus
patrões é que seríamos os
responsáveis !
Manuela da
Pêra: - Pois é, Laura, tens
de ter paciência pois estás
fora da corrida para a
conquista do E.T.. E tu
papá, como vês, o Pinga da
Telha só poderá ficar no meu
quarto. Mas em minha
opinião, ele como nosso
convidado, é que devia de
escolher em que quarto é que
deseja ficar ...
Pinga na
Telha: - Eu, com o cansaço e
o sono que tenho, não me
importo de ficar em qualquer
quarto, com qualquer pessoa
...
Fausto da
Pêra: - Assim é que é falar,
meu amigo ! Olhe que já
estou a sentir uma certa
simpatia por si. Como este
amigo diz, e com muita
razão, não se importa de
ficar em qualquer quarto.
Aproveitando a sua boa
vontade, ele vai ficar no
meu - concorda ? ...
Pinga na
Telha: - Isso é que nunca !
como já tive oportunidade de
vos dizer, não posso ficar
num quarto com um macho
(desculpe-me qualquer
semelhança), pois é contra
todos os princípios do meu
planeta - o do Kanto. Posso
ficar em qualquer quarto que
me destinarem, mas sempre
acompanhado por uma fêmea !
Fausto da
Pêra: - No planeta do Kanto
poderá ser assim, mas em
minha casa, de certeza que
não o é. Cá em casa, não
existe nenhuma fêmea para
Extraterrestres !
Manuela da
Pêra: - Papá, era só esta
noite ... para mais, o sr.
Pinga na Telha tem um ar tão
pacífico, tão bonzinho, que
até parece um anjinho.
Adelaide da
Pêra: - Olha minha filha, eu
acredito nessa, ele é tão
anjinho, tão anjinho que até
adormeceu aqui no sofá.
Fausto da
Pêra: - Olha que ele até
ressona. Vamos embora para
ele dormir como vocês dizem
: como um “anjinho”.
Laura: -
Podíamos pôr o “anjinho”,
perdão, o Pinga na Telha na
cama do meu quarto ...
Fausto da
Pêra: - Já te disse que isso
está completamente fora de
questão, pois o E.T. vai
ficar aqui muito bem
sozinho.
Laura: - Ai,
coitadinho dele ...
Fausto da
Pêra: - Vamos mas é tirar
daqui o Sancho, pois como o
E.T. diz, por tradição do
planeta do Kanto, não pode
dormir num quarto em que
durma outro macho.
Manuela da
Pêra: - Olhem para ele, que
está a dormir tão bem. O
Pinga na Telha é mesmo
bonito, é um autêntico
gatinho!
Adelaide da
Pêra: - Mas ressona ainda
mais forte que o teu pai !
Olha Laura, passa-me essa
manta que está aí a trás de
ti. Pronto, já está todo
tapadinho. Dorme bem, Pinga
na Telha (toma lá um
beijinho) ...
Laura: - Olha
que é preciso ter
descaramento ! Olhe lá,
porque é que a senhora
beijou o Pinga na Telha ?
Manuela da
Pêra: - Não lhe ligues mamã
! Olha lá, eu também posso
beijar o Pinuinha na Telha ?
...
Adelaide da
Pêra: - Não, não minha
filha, pois podias ficar
contaminada com qualquer
vírus do planeta do Kanto.
Eu só o ...
Manuela da
Pêra: - Mas a mamã beijou-o
...
Adelaide da
Pêra: - Pois beijei-o ...
mas sabes minha filha, eu já
há muito que estou imunizada
contra todos os vírus !
Fausto da
Pêra: - Oh mulheres, deixem,
deixem o homem, ou melhor, o
E.T. dormir ...
( saiem todos
do pé do Pinga da Telha.
Algum tempo depois ...)
Laura: -
Pinga na Telha, amorzinho,
acorda ... sou eu, a Laura.
Acorda, dorminhoco ...
Pinga na
Telha: - Eh pá, deixem-me
dormir ... não sejam chatos.
Chatos ...
(nesse
momento entra também a
D.Adelaide ...)
Adelaide da
Pêra: - Pois é, logo vi que
estavas aqui, Laura. Tu,
como todas as criadas, és
muito curiosa. Vá, sai
daqui, sai daqui depressa e
vai-te deitar.
Pinga na
Telha: - Mas que maçada
esta. Como é que eu posso
dormir com este barulho todo
? Por favor calem-se. Ai
que eu tenho tanto sono ...
(entra também
a Manuela ...)
Manuela da
Pêra: - Com tanto barulho,
logo vi que vocês as duas
estavam aqui ! olhem para
ele coitadinho, coitadinho
dele, o Pinga na Telha, que
é tão pequenino e bonito, e
não o deixam dormir -
coitadinho !
Adelaide da
Pêra: - Sempre gostava de
saber o que é que fazes
aqui, minha filha, pois uma
ingenuazinha como tu, já
devia de estar a dormir à
muito tempo.
Manuela da
Pêra: - Ora, ora vim ver o
nosso amigo do outro
planeta. Ver se ele estava
bem tapadinho; é que os
habitantes do planeta do
Kanto, são muito sensíveis
ao frio !
Adelaide da
Pêra: - Mas para cuidar
desse assunto estou aqui eu,
e não preciso da tua ajuda e
muito menos da ajuda da
criada. Olhem lá, vocês as
duas podem irem embora, pois
eu sou mais do que
suficiente para tomar conta
de um E.T...
(entra o
Fausto da Pera ...)
Fausto da
Pêra: - Mas que barulho vem
a ser este ? … Sempre
gostava de saber o que é que
vocês as três estão aqui a
fazer, em pijama ? Desde que
este E.T. chegou, acabou o
sossego nesta casa !
Pinga na
Telha: - Mas será que não
poderei dormir esta noite ?
Só me faltava esta situação.
Por favor, vejam se não
fazem mais barulho, para eu
poder dormir.
Laura: - Olha
lá, E.T., no teu planeta do
Kanto, não são as criadas
que tratam dos hóspedes ?
Pinga na
Telha: - São as criadas, as
patroas, as filhas, todas
tratam bem os seus hóspedes,
sobretudo quando eles estão
a dormir.
Fausto da
Pêra: - Deixem o
Extraterrestre descansar, e
vocês vão descansar também,
pois devem se levantarem
cedo para fazerem a fascina
da casa. Eu ficarei aqui
junto do nosso amigo ...
Pinga na
Telha: - Por favor não se
incomode, sr. Fausto da
Pêra, pois eu fico muito bem
sozinho. É que nós, os do
planeta do Kanto, não
gostamos de ficar
acompanhados por machos ...
Fausto da
Pêra: - Tenha cuidado com a
língua … macho, eu ? Acha
mesmo que eu sou um macho ?
Pinga na
Telha: - Pois claro que é. É
um macho da Terra, assim
como eu sou um macho do
planeta do Kanto !
Fausto da
Pêra: - Assim já compreendo,
assim está bem, assim já
aceito. Meninas, toca a
andar já para os vossos
quartos, e um bom resto de
noite, sem pesadelos e sem
sonhos, digamos, cor –de -
rosa
Adelaide da
Pêra: - Tu não és um homem,
és um cínico. Vamos embora …
Fausto da
Pêra: - Agora que elas já se
foram embora, vamos nós
falar. Pinga na Telha, logo
pela manhã irei comprar-lhe
a casinhota que lhe falei,
assim como uma coleira com
muitos guizos ...
Pinga na
Telha: - O sr. Fausto da
Pêra vai comprar uma
casinhota, coleira com
guizos, para mim ?!...
Fausto da
Pêra: - Olhe que para mim é
que não é ! Eu não o quero
cá em casa sem coleira e sem
guizos. Tem de compreender,
que não é por nada pessoal,
é só para saber por onde
você anda !
Pinga na
Telha: - Mas eu nunca usei
coleira ...
Fausto da
Pêra: - Mas vai passar agora
a usar. Assim como ficará
preso à casinhota por uma
grossa corrente de ferro.
Pinga na
Telha: - Você deve estar
completamente doido !
Fausto da
Pêra: - Olhe que não me
ofenda, olhe que está em
minha casa ...
Pinga na
Telha: - Estou em sua casa,
mas quero ir-me embora.
Quero ir-me embora e já.
Abra-me a porta, pois eu
quero sair !
Fausto da
Pêra: - Daqui é que você não
sai, porque, digamos,
passará a ser o animal de
estimação cá de casa !
Pinga na
Telha: - Eu, animal de
estimação ?!
Fausto da
Pêra: - Terá comida de
borla. De vez em quando
poderá ir apanhar um pouco
de sol, na varanda. Mas tome
bem atenção, pois só terá
esta regalia se portar
sempre bem e com juízo. Caso
contrário, tenho ali um
grosso cinto de cabedal. Mas
porque é que você está aos
murros à sua cabeça ?
Pinga na
Telha: - Eu devo de estar a
sonhar - a sonhar !
Fausto da
Pêra: - Não está, não, a
sonhar: E para provar-lhe
que está bem acordado, vou
dar-lhe um beliscão...
Pinga na
Telha: - Mas que é isso,
para que me está a beliscar
? Cuidado ... ai, ai, que
você está a magoar-me. Olhe
que você deve de estar mesmo
doido varrido, mesmo em
último grau !
Fausto da
Pêra: - Já o tinha avisado
que tivesse juízo, agora vou
buscar o cinto e vais ver
como "elas" te vão morder. A
culpa foi tua por não teres
juizinho nessa cabeça, e
também por teres uma língua
muito comprida.
Pinga na
Telha: - Deixe-se disso,
porque eu ... porque eu ...
estou muito doente. Tenho
uma doença incurável e muito
contagiosa ... se me bater,
contagiarei toda a casa,
todos os que aqui vivem; e
depois morrem com esta
doença que é incurável e
horrível !
Fausto da
Pêra: - Mas ... mas você
ainda não me tinha dito que
era portador dessa doença
...
Pinga na
Telha: - Claro que ainda não
lhe tinha dito, mas digo-lhe
agora.
Fausto da
Pêra: - Olhe lá, se eu por
acaso o levar ao
veterinário, ele não o
curaria ?
Pinga na
Telha: - Eu, ao veterinário
? Veja lá é como fala e se
tem mais respeito pela raça
... raça extraterrestre !
Fausto da
Pêra: - Talvez se você
levasse umas injecçõezinhas
, umas pomadinhas, uns
xaropezinhos, uns
supositórios ...
Pinga na
Telha: - Supositórios ?!
Olhe, ponha-os você. Esta
doença não tem cura e é
altamente contagiosa, tanto
assim que fui mandado para
este Planeta, para morrer e,
não contagiar e meu planeta,
o do Kanto. Repare, se eu
estivesse em perfeitas
condições físicas, não teria
vindo para cá. Mas agora
reparo, que o sr. Fausto da
Pêra, também está a ficar
contaminado !
Fausto da
Pêra: - Não me diga isso,
por favor. Eu, é impossível,
é impossível ... eu
contaminado ? Olhe lá,
diga-me porque é que diz que
eu estou contaminado com a
sua doença ...
Pinga na
Telha: - Porque vejo o sr.
Fausto da Pêra a tremer, com
suores frios, a garganta
muito seca, dores de cabeça
e é possuidor de uma grande
ansiedade. Não tenha a menor
dúvida, pois o senhor está
(pelo menos) a ficar
contagiado !
Fausto da
Pêra: - De facto, já me
estou a sentir muito doente,
muito doente ...
Pinga na
Telha: - Pois está, está a
sentir-se muito doente, eu
não lhe dizia ? Cada vez vai
ficar mais doente, cada vez
mais cansado, e depois ...
Fausto da
Pêra: - Estou a sentir tudo
isso que me está a dizer !
Pinga na
Telha: - Pois é. Felizmente
para o sr. Fausto da Pêra, a
doença ainda está em fase de
incubação e, sendo assim,
ainda será fácil a sua cura.
Isto se você estiver
interessado.
Fausto da
Pêra: - Pois claro que estou
interessado ! Eu quero ser
curado !
Pinga na
Telha: - Então, terá de me
abrir a porta da rua para eu
poder sair ...
Fausto da
Pêra: - E só por isso
ficarei curado ?
Pinga na
Telha: - Bem ... digamos que
será o princípio da cura.
Como deve de compreender, eu
tenho que ir para muito
longe daqui ...
Fausto da
Pêra: - Então vamos já
começar com a cura. Vou já
abrir a porta da rua ... ...
já está, e agora saia, saia,
saia muito depressa, ouviu ?
Vá para muito longe e não
volte mais a minha casa.
Nunca, nunca mais volte a
minha casa !
Pinga na
Telha: - Calma aí, sr.
Fausto da Pêra. Muita calma
e por favor não me empurre.
Eu saio daqui, mas como já
tive oportunidade de lhe
dizer, tenho que ir para
muito longe. Talvez até para
outro planeta ...
Fausto da
Pêra: - Vá para onde você
quiser, mas saia, saia muito
depressa de minha casa. Eu
tenho muito prazer em o
deixar sair e não participar
a sua doença às autoridades
sanitárias ...
Pinga na
Telha: - Pois é, pois é, mas
eu tenho de ir para outro
planeta, e para tal preciso
de muito dinheiro ... de
muito dinheiro mesmo. O sr.
Fausto da Pêra terá de
compreender, que tenho de
comprar as passagens, que
não são nada baratas ...
Fausto da
Pêra: - Mas eu não tenho
dinheiro, ou melhor, não
tenho muito dinheiro cá em
casa.
Pinga na
Telha: - Não tem muito
dinheiro, mas, então,
quanto “cacau” que tem neste
momento em casa ?
Fausto da
Pêra: - Não sei bem, mas
talvez uns duzentos e
cinquenta euros...
Pinga na
Telha: - Pois é ... duzentos
e cinquenta euros, não dá
para nada. Tenho de esperar
cá em casa que o sr. Fausto
da Pêra consiga arranjar
dinheiro suficiente para eu
poder-me ir embora. Tenho
muita pena, mas entretanto
vou contaminando todos cá em
casa. Mas paciência ...
Fausto da
Pêra: - Tente compreender,
Pinga na Telha, você assim
contaminado, não pode de
forma alguma ficar cá em
casa. Terá de ir-se embora.
Eu cada vez me sinto mais
doente, mais cansado e até
já sinto febre ...
Pinga na
Telha: - Olhe que assim pode
morrer repentinamente, quase
sem dar por isso. Eu gostava
de o ajudar, como é que não
sei, pois, o sr. Fausto da
Pêra só tem cá em casa
duzentos e cinquenta euros
e, essa importância não dá
para nada. Olhe lá, por
acaso você não tem cá em
casa outros valores, como
por exemplo, ouro, jóias,
pratas antigas, marfins,
etc. ?
Fausto da
Pêra: - Ouro, jóias ... pois
claro que tenho. Veja bem
como tenho a minha cabeça,
com tantos valores cá em
casa, e nem me lembrava.
Talvez seja já a doença a
minar-me. Mas felizmente que
você me lembrou !
Pinga na
Telha: - Sim, sim, o sr.
Fausto da Pêra bem pode-me
agradecer. Olhe lá, por
acaso sabe em quanto estão
avaliados esses valores ?
Fausto da
Pêra: - Assim por alto, em
mais de cinco mil euros...
Pinga na
Telha: - Em mais de cinco
mil euros?
Fausto da
Pêra: - É pouco, não é ?
Pinga na
Telha: - Bem, de facto é
muito pouco. Mas enfim,
vamos lá a ver o que podemos
fazer.
Fausto da
Pêra: - Mas não se esqueça
que, além destes cerca de
cinco mil euros em valores,
também lhe dou os duzentos e
cinquenta euros em dinheiro.
Se entretanto, eu encontrar
mais alguma coisa de valor,
também lhe entrego. Só lhe
peço que espere aqui
enquanto eu vou procurar e
buscar os valores. Cada vez
estou a sentir-me pior ...
este contágio de uma doença
extraterrestre está a dar
cabo de mim. Tenha paciência
e espere mais um pouco ...
(o Fausto da
Pêra retira-se e o Pinga na
telha fica sozinho.
Entretanto, vai falando
consigo mesmo ...)
Pinga na
Telha: - “Formidável !!! Eu
nem quero acreditar, o
Fausto da Pêra (que por
sinal só tem bigode) vai
entrar que nem um patinho !
ah, ah, ah, cinco mil euros
cá para o rapaz. Esta noite
vou ganhar bem !”…
(neste
momento entra a sua
namorada, a Laura ...)
Laura: - Com
que então, o menino está a
tentar vigarizar o meu
patrão !
Pinga na
Telha: - O quê ?! ah, és tu,
pensava que fosse alguém !
Laura: - Olha
lá, e eu não sou ninguém ?
Pinga na
Telha: - Pois não. Tu não és
ninguém, ou melhor, és o meu
grande amor, o amor da minha
vida, a minha querida Laura
!
Laura: - Olha
que eu não sabia que tu eras
um grande vigarista !
Pinga na
Telha: - Eu, vigarista ?
Isso é que não sou ! Posso
ser um oportunista. Para
mais, até estou muito
doentinho ...
Laura: - De
facto, nota-se que estás
muito doentinho e em baixo
de forma ... Seu grande
vigarista sem vergonha ! Mas
desde já ficas a saber que
eu também quero ir-me embora
contigo senão ...
Pinga na
Telha: - Olha que neste
momento é impossível. Mas
depois, quando isto acalmar,
venho buscar-te para
casarmos ...
Laura: -
Deixa-te de fantasias,
porque eu faço questão de ir
contigo, e por favor, nada
de discussões. Senão eu sou
bem capaz de te "arraiar a
bronca" e dizer tudo ao meu
patrão. Não me provoques.
Pinga na
Telha: - Laura acalma-te por
favor, pois eu amanhã ...
(neste
momento reentra em cena o
Fausto da Pêra ...)
Fausto da
Pêra: - Pronto, já
regressei. Consegui reunir
todos os valores que tinha
cá em casa. Mas agora
reparo, que fazes aqui Laura
? A esta hora, ainda devias
de estar no teu quarto a
dormir.
Laura: - Pois
é, mas como o sr. Fausto da
Pêra sabe, o Pinga na Telha
está ... está muito
doentinho e, como tal, vim
trazer-lhe um copo de água.
Fausto da
Pêra: - Mas tens de ter
muito cuidado em não te
aproximares dele, pois podes
ficar também contagiada como
eu, de uma doença estranha
que ele tem. Ai, cada vez me
sinto mais doente, e também
muito cansado. Esta doença
está a dar cabo de mim ...
Pinga na
Telha: - O sr. Fausto da
Pêra, já sabe quanto mais
depressa eu sair desta casa,
mais possibilidades tem de
cura total. Senão, o
contágio pode atingir
valores demasiadamente altos
...
Fausto da
Pêra: - Olhe que você tem
muita razão, Pinga na Telha,
muita razão mesmo. Tome lá
este saco, que já tem lá
dentro todos os valores que
eu encontrei cá em casa.
Pinga na
Telha: - E onde está o
dinheiro ?
Fausto da
Pêra: - Veja que também se
encontra aí dentro do saco.
Pinga na
Telha: - Pois está, muito
obrigado. Agora assine aqui
este documento em que diz
que me deu todos estes
valores de livre vontade ...
assim, está bem. Já agora
diga-me, por acaso essa
pulseira que tem aí no
pulso, por acaso não é de
ouro ?
Fausto da
Pêra: - Ouro ? Por acaso sim
é de ouro. Foi o meu pai
quem ma deu ...
Pinga na
Telha: - Então. Se não se
importa, ponha-a também
dentro do saco. E esse
relógio, por acaso também
não é de ouro ?
Fausto da
Pêra: - Sim, também é de
ouro e de diamantes de
muitos quilates. Foi uma
herança da minha avó.
Particularmente tenho muita
estima por este relógio.
Pinga na
Telha: - Não há razão para
ficar com problemas
psicológicos por causa do
relógio. Ponha-o dentro do
saco que eu terei muito
prazer em também o estimar !
Fausto da
Telha: - Adeus relogiosinho
! vou ter muitas saudades
tuas. Nunca pensei que o teu
último dono fosse ... fosse
um extraterrestre !
Pinga na
Telha: - Bem, como não diz
que não tem mais nada de
valor cá em casa, creio que
me posso ir embora.
Laura: - Eu
também vou com o Pinga na
Telha ...
Fausto da
Pêra: - O que é que estás
p`ra aí a dizeres ? Vais com
o Pinga na Telha? Mas o que
é que vais fazer com ele ?
Laura: - Vou
com ele para ... para o
poder tratar com muito
carinho. Além de também
estar muito interessada em
estudar o modo de vida dos
E.Ts., em especial dos do
planeta do Kanto.
Fausto da
Pêra: - Mas Laura,, tu sabes
bem que a doença que ele
tem, é muito contagiosa e
até mortal ?
Laura: - Eu
sei disso tudo, sr. Fausto
da Pêra, mas vou
sacrificar-me em nome da
Amizade Luso-do-Kanto !
Fausto da
Pêra: - Oh Laura, estou a
ficar muito comovido.
Bendito seja o teu
sacrifício !
Pinga na
Telha: - Mas Laura, tenta
compreender, eu amanhã
passava por aqui e levava-te
comigo ...
Fausto da
Pêra: - Olha lá Pinga na
Telha, cá a casa é que você
não vem mais ! Laura, a tua
atitude é altamente
louvável. É um gesto de uma
grande e sublime grandeza,
só ao alcance de pessoas
magnânimas como tu ! Minha
amiga, segue, segue o teu
destino e, acompanha este
amigo Extraterrestre que só
veio ao nosso planeta para
morrer de uma doença
altamente contagiosa e
mortal. Vai minha amiga, e
cimenta ainda mais a Amizade
Luso-do Kanto ! Adeus ...
Laura: -
Estou muito comovida com as
suas palavras, sr. Fausto da
Pêra. Meu querido amigo,
também um adeus. Peço-lhe
que dê cumprimentos meus à
D. Adelaide, a sua filha
Manuela e ao seu filho
Sancho.
Fausto da
Pêra: - Em teu nome serão
entregues esses
cumprimentos.
Laura: -
Agora, meu querido E.T.,
vamo-nos embora para o nosso
planeta, ou seja, rumo ao
planeta do Kanto!
Fausto da
Pêra: - Cada vez estou mais
convencido que vocês foram
feitos um para o outro.
Oxalá que tenham muitos
filhos e que morram cheios
de amor e de felicidade, um
pelo outro. Você, Pinga na
Telha, é um E.T., e a Laura
passa a partir deste momento
a ser uma verdadeira
E.T.U.A. !
(os dois
saiem de casa de Fausto da
Pêra, enquanto sua esposa, a
Adelaide, entra em cena ...)
Adelaide da
Pêra: - Marido, eles já
saíram ?
Fausto da
Pêra: - Já sim, mulher.
Uuffaa, que eu já estava a
ficar, como se diz, noutro
planeta !
Manuela da
Pêra: - Os espertinhos
pensavam que nos enganavam,
a nós, papá !
Fausto da
Pêra: - Aproveitando a
"esperteza" deles, consegui
"palmar-lhe" (roubar-lhe) a
carteira, que por acaso até
estava bem recheada. Além de
ter “encontrado” no bolso
dele, este anel que deve
valer uns bons patacos ...
Adelaide da
Pêra: - E eu no quarto da
Laura, encontrei esta mala
que também está bem
recheada. Nunca pensei que
ela tivesse tanto dinheiro
cá em casa ...
Fausto da
Pêra: - Olha que ainda bem
que a Laura era poupada !
Adelaide da
Pêra: - E dentro dessa mala,
também encontrei estas
pulseiras e estes fios em
ouro ...
Manuela da
Pêra: - Ai papás, com isto
tudo, ainda fico com a
consciência pesada.
Fausto da
Pêra: - Não tens razão para
ficares assim, pois "ladrão"
que rouba ladrão, tem cem
anos de perdão, e neste
caso, até devemos de ter aí
uns duzentos anos de perdão
!
Adelaide da
Pêra: - Mas com esta paródia
toda, fiquei sem aquelas
bugigangas que consegui
trazer, “dolorosamente”, o
ano passado de boutiques
espanholas. Mas mereceu a
pena as ter trazido. O Pinga
na Telha, que tem a mania
que é esperto, ao fim e ao
cabo, também não percebe
muito de metais preciosos!
Fausto da
Pêra: - Vejam lá que eu
também lhe tive de entregar
aquela caneta, que parece
que “achei”, mas não tenho
bem a certeza, além do
relógio que “encontrei” num
pulso de um indivíduo no
Metropolitano de Lisboa …
tive que lhe entregar tudo!
A propósito, onde está a
pistola que o Sancho tirou
ao Pinga na Telha ?
Adelaide da
Pêra: - Não te preocupes,
Fausto da Pêra, pois o nosso
Sancho levou a pistola para
o quarto dele, e, quando
acordar entrega-te a arma. O
nosso filho, a nós, não
rouba nada !
Manuela da
Pêra: - Paizinho, estou a
ficar muito nervosa ...
Fausto da
Pêra: - Então porquê, minha
filha ?
Manuela da
Pêra: - Estou a pensar que
eles ainda vêm cá a casa
reclamar estas coisas ...
Adelaide da
Pêra: - Acalma-te, minha
filha, pois o papá já vai
resolver rapidamente esse
assunto, não é Fausto ?
Fausto da
Pêra: - Tens toda a razão,
Adelaide, toda a razão.
Olha, passa-me aí o
telefone…
Manuela da
Pêra: - Tu vais telefonar a
quem, papá ?
Fausto da
Pêra: - Já vais ver, minha
filha. E toma atenção para
começares a aprender certos
truques ...
“... está, é
da Polícia ? ... é uma
denuncia anónima; tome bem
atenção: O conhecido
vigarista internacional,
Pinga na Telha, procurado
até pela Interpol,
encontra-se nesta cidade e
em companhia de uma perigosa
mulher. Fazem-se transportar
num carro vermelho,
matrícula CAU-15-68.
Cuidado, pois eles podem
andar armados e como já
sabem, são muito perigosos
... com licença”.
Manuela da
Pêra: - Essa foi de mestre,
papá ! E como é que sabes
que eles levaram um carro
“nosso” que o encontramos
perdido numa rua ?
Adelaide da
Pêra: - Pura dedução, minha
filha, pura dedução. Mas vai
aprendendo estes truques.
Manuela da
Pêra: - E agora o que poderá
acontecer ?
Fausto da
Pêra: - É simples: a Polícia
vai procurar prendê-los,
pois, indivíduos como eles,
são noviços à Sociedade, e
não podem nem devem, de
maneira nenhuma andarem p`ra
aí à solta, a incomodar
cidadãos pacíficos e
honestos, como nós.
(nesse
momento entra o seu filho,
Sancho ...)
Sancho da
Pêra: - Papazinho, o tal
E.T. já se foi embora ?
Fausto da
Pêra: - Já sim, meu filho. E
até levou a criada, a Laura,
com ele !
Sancho da
Pêra: - Ainda bem que já se
foram embora. Olha, toma lá
a pistola que ontem à noite
lhe roubei ...
Fausto da
Pêra: - Tens de começar a
aprender a falar, Sancho.
Nunca se diz roubar, diz-se
antes transferir ou palmar,
etc.
(neste
momento a filha reentra em
cena, e...)
Manuela da
Pêra: - Papá, papá, fomos
roubados, fomos roubados !
indecentes, indecentes
roubarem-me ...
Fausto da
Pêra: -Estou surpreso ... e
o que foi que eles roubaram?
Manuela da
Pêra: - Todo o ouro que eu
tinha escondido no forro do
sofá do meu quarto.
Indecentes ! Roubaram tudo,
tudo. Tanto “trabalho” que
tive, para nada. Lá se foi o
meu “trabalho” de um mês !
Fausto da
Pêra: - Vejam bem a quem é
que nós demos guarida em
nossa casa. Isto só visto,
porque contado, ninguém
acredita !
Manuela da
Pêra: - Tanto trabalho que
eu tive em "transferir"
esses objectos, para outros
virem roubar tudo !
(neste
momento a Adelaide reentra
em cena, e...)
Adelaide da
Pêra: - Fausto, Fausto ...
estamos desgraçados !
Fausto da
Pêra: - O que é que ainda
mais nos aconteceu, mulher ?
Adejada da
Pêra: - Os diamantes que
tínhamos escondido atrás do
contador da água,
desapareceram !
Fausto da
Pêra: - Ladrões, bandidos,
gatunos ! Aquele malandro do
Pinga na Telha ...
Manuela da
Pêra: - Não pode ter sido
ele que roubou os diamantes,
pois não saiu desta sala. O
ouro, devia de ter sido
roubado por ele, mas os
diamantes, não ...
Adelaide da
Pêra: - Se não foi ele, quem
poderia ter sido ?
Fausto da
Pêra: - Espera ... só se foi
a ...
Sancho da
Pêra: - A criada, a Laura !
Adelaide da
Pêra: - Pois foi … Que
grande ladra que nos saiu !
Fausto da
Pêra: - Olha que dois se
juntaram cá em casa, e nós,
a recebê-los tão bem !
Sancho da
Pêra: - E agora, papá ?
Fausto da
Pêra: - Agora, ficamos em
perigo de sermos procurados
pela Polícia ...
Adelaide da
Pêra: - Pensas que eles
seriam capazes de nos
denunciar, Fausto ?
Fausto da
Pêra: - Infelizmente, temos
de esperar tudo de
indivíduos da laia do Pinga
na Telha e da Laura !
Manuela da
Pêra: - E agora, o que é que
vamos fazer, papá ?
Fausto da
Pêra: - Vou pensar, vou
pensar ...
(Numa
localidade perto de Lisboa
…)
Laura: -
Pinga na Telha, estou tão
cansada. Estou farta de
andar a pé. Ainda não
compreendi a razão porque
deixaste o carro naquele
pinhal.
Pinga na
Telha: - É simples, porque o
carro já não tinha gasolina.
Laura: - Com
essa é que não me convences.
Roubaste o carro e agora,
com receio de seres
apanhado, deixaste-o ali,
não foi ?
Pinga na
Telha: - Olha que eu não
roubo nada, mas mesmo nada,
a ninguém. Eu simplesmente
“encontrei” aquele carro
abandonado, e...
Laura: -
Encontraste o carro
abandonado ?! ... A minha
santa alma até está parva !
Pinga na
Telha: - Sim este carro
estava abandonado, pois
ninguém estava lá dentro e,
durante uns dias utilizei-o.
Agora que já não tem
gasolina, já não serve para
nada. O carro que o Fausto
da Pêra nos “emprestou”,
também não tinha gasolina.
Laura: - Não
vale a pena discutir
contigo. Como já te disse,
estou muito cansada e com
muita fome.
Pinga na
Telha: - Só te peço um pouco
mais de esforço, isto pela
Amizade Luso-do-Kanto. Ali
mais adiante, encontra-se um
restaurante onde podemos
almoçar e descansar um
pouco. Depois temos tempo de
procurar outro carro ...
Laura: - E
vais comprar um carro com os
valores que o Fausto da Pêra
te “deu” ?! Tu tens a mania
que és esperto, mas desta
vez foste bem vigarizado !
Pinga na
Telha: - Nisso tens toda a
razão, pois só me deram
bugigangas. Aqueles
malandros enganaram-me e
bem. Vá lá uma pessoa
confiar em ladrões e em
vigaristas !
Laura: - Com
que então querias cinco mil
euros, não querias, meu rico
menino ? Sempre enfiaste um
enorme barrete, foste bem
enganado !
Pinga na
Telha: - Não tanto como tu
julgas Laura, pois, no forro
do sofá do quarto da
Manuela, encontrei este saco
cheio de objectos de ouro.
Devem valor bem mais de
cinco mil euros.
Laura: - Ai
que grande vigarista que tu
me saís-te !
Pinga na
Telha: - Se não quiseres
acompanhar-me, podes seguir
o teu caminho, pois eu nunca
consenti, nem consinto que
me chamem nomes feios, como
esse de vigarista.
Laura: - Não
te zangues, pois nós até
fomos feitos um para o
outro.
Pinga na
Telha: - Ainda tens muito
que aprender, Laura …
Laura: - Mas
já sei algumas coisinhas.
Talvez até me inspirasse
contigo, meu querido, ou
talvez não ...
Pinga na
Telha: - Porque é que estás
a ficar tão misteriosa ?
Laura: -
Sabes, é que eu também
"encontrei" em casa do
Fausto da Pêra, atrás do
contador da água, este
saquinho cheio de diamantes.
Como vês ...
Pinga na
Telha: - Oh sua ladra, isso
faz-se ?! Até parece
impossível. Eu nem quero
acreditar, pois tinha-te na
conta de uma pessoa honesta,
até de uma boa pessoa ...
Laura: - E eu
não sou boa ?! ...
Pinga na
Telha: - Se és boa ? és cá
uma gatinha boazona ! Mas
com isto tudo, chegámos ao
restaurante. Eu também me
sinto muito cansado e cheio
de fome. O passeio a pé,
também me abriu o apetite.
Laura: - Mas
precisamos de ter muito
cuidado, pois ainda estamos
relativamente perto da casa
do Fausto da Pêra, e ele
pode vir aqui procurar-nos.
Pinga na
Telha: - Oh, Laura, nesse
aspecto tem calma. Ainda
tens muito que aprender. Vá
lá, vamos entrar no
restaurante e verás como se
faz …
(Entram no
restaurante …)
Empregada: -
Bom dia. Vêm almoçar ?
Pinga na
Telha: - Sim, claro, que
vimos almoçar. Mas antes
diga-me onde está o telefone
?
Empregada: -
Está ali naquele canto.
Laura: - Olha
lá, Pinga na Telha, para
quem vais tu telefonar ?
Pinga na
Telha: - Já vais ver e tenta
aprender, Laura ...
“...é da
Polícia ? ... é para uma
denúncia: "o perigoso gatuno
Fausto da Pêra, encontra-se
num apartamento da rua da
Água Pluvial, nº 16 - 5º F..
O perigoso bandido está
acompanhado de uma perigosa
quadrilha e estão todos
armados" ... com licença”.
Laura: - Olha
lá, Pinga na Telha, tu
tiveste a pouca vergonha e
coragem de denunciares o
Fausto da Pêra ?!...
Pinga na
Telha: - Pois claro que tive
! Assim, já não nos pode
incomodar mais. Agora é que
podemos almoçar
descansadamente, e com a
consciência que praticámos
uma boa acção, ou seja,
ter-mos denunciado uma
perigosa quadrilha de
gatunos !
(nesse
momento entra em cena dois
ladrões …)
Ladrão: -
Mãos ao ar ! olhem que isto
é um assalto, por isso nada
de espertezas. E comecem já
a pôr todos os vossos
valores em cima das mesas.
Tu aí, abre a caixa do
dinheiro, e já, antes que eu
comece p`ra qui aos
tirinhos. Tu, Nito, vai às
mesas recolher todo o
dinheiro e todos os valores.
Vocês aí, deitem-se no chão
e muito juizinho, senão ...
se já recolheste tudo,
vamos rapidamente embora,
vamos ...
Laura: -
Chamem a Polícia, chamem a
Polícia ! não deixem os
gatunos fugirem ! ...
Empregada: -
Já dei o alarme. A Polícia
não deve tardar aí ...
(Entram dois
polícias …)
Polícia: -
Então os bandidos já saíram
e alguém os reconheceu ?
Empregada: -
Não, ninguém os reconheceu.
Levaram todo o dinheiro que
eu tinha na caixa, assim
como também o dinheiro dos
clientes e também os seus
valores.
Polícia: -
Pois é. Foi um golpe muito
bem organizado. Isto
cheira-me a Fausto da Pêra
ou mesmo a Pinga na Telha.
Ou quem sabe, talvez a
ambos.
(À porta do
restaurante …)
Laura: - E
assim ficámos com os bolsos
a abanar sem uma única
moeda.
Pinga na
Telha: - Com tantos bandidos
à solta, que ninguém diga
que está bem. Vê lá tu,
Laura, a nossa pouca sorte !
Laura: - O
que vale é tu ires herdar a
grande fortuna que o teu tio
te deixou, incluindo parte
do rio Liz ...
Pinga na
Telha: - Pois é, pois é ...
só que esse tio morreu ...
há mais de vinte anos !
Laura: - Oh
seu grande mentiroso, seu
grandíssimo mentiroso, seu
grande vigarista ! A minha
grande vontade era torcer-te
o pescoço ... Mas, com a
fome que tenho, nem força
tenho para isso !
Pinga na
Telha: - Ainda bem que estás
fraquinha, pois senão, ainda
ficava com o meu rico
pescoço torcido !
Laura: - Olha
lá, Pinga na Telha, e agora
sem dinheiro, o que vai ser
de nós ?
Pinga na
Telha: - Também estou muito
preocupado com o nosso
momento presente. Sabes,
tive uma grande ideia : este
restaurante precisa de
pessoal para a lavagem da
loiça ...
Laura: - Não
é muito do meu agrado, mas
terá de ser ...
Pinga na
Telha: - Então vamos lá até
arranjarmos outra coisa
melhor. Temos lavar loiça
sem a partir …
F I M
Teatro de
Alta Comédia. Original de
Carlos Leite Ribeiro –
Marinha Grande - Portugal