Ninguém sabe ao certo que é o
António da Trouxa. Uns dizem que é
um professor aposentado outros dizem
que era profissional da Finanças.
Também não se sabe porque se quis
aposentar antes da data limite para
se tornar num hippie dos tempos
modernos.
Certo dia, abandonou o seu circulo
de amigos e familiares e partiu à
aventura de tenda de campismo às
costas sempre acompanhado pelo seu
fiel cão de nome Janota. Era uma
figura alta e elegante, bem falante,
com barba e cabelo quase brancos que
lhe chegava até ao peito.
Vamos encontrar o António da Trouxa
e o seu cão, numa noite da véspera
do Natal, a caminho de sua barraca
de campismo que estava armada
debaixo de uma ponte.
- Pois é amigo cão Jonota, estamos
novamente no Natal. Repara para a
pressa que os automobilistas têm de
chegar a casa para com a família,
comemorarem esta Noite da Consoada.
O cão parecia que o entendia dando
uns latidos baixinhos e dando à
cauda. O António continuou a falar
com seu cão:
- Mas amigo, nós também temos aqui
uma bela posta de bacalhau que vou
cozer com batatas e grelos bem
regado com bom azeite. Além de uma
garrafinha de vinho branco de
Colares. Já sei que não gostas de
vinho, por isso vais beber água
engarrafada.
Já perto da tenda, ouviram um carro
travar (frear) violentamente
seguindo um som de um embate de
chapas.
- Janota, alguém teve um acidente.
Vamos lá ver o que se passou …
E os dois puseram-se a caminho para
o lado em que ouviram o embate.
Desceram uma ravina e começaram a
ver no fundo um carro a deitar muito
fumo. Apressaram o passo e em breves
minutos chegam junto do carro
acidentado que se encontrava de
rodas para o ar. Pelas janelas, o
António viu lá dentro um homem
desmaiado. Com uma pedra, partiu o
vidro, abrindo a porta de seguida.
Como o carro estava a começar a
arder, arrastou o homem que começava
a dar sinais de acordar, para bem
longe do carro. Já quando o homem
estava em pé, o carro explodiu.
- Ó homem, você escapou de boa. Se
me demoro mais um pouco, a esta hora
estaria mais assado que uma
sardinha. Agarre no seu telemóvel
(celular) e ligue aos bombeiros para
que mandem uma ambulância.
- Não, não é preciso meu bom homem,
nada tenho partido e estes arranhões
desinfecto-os em casa. Vou telefonar
a minha mulher para me vir buscar e
amanhã faço a participação à
companhia de seguros. Entretanto,
diga quem é você ?
- Sou o António da Trouxa e este
aqui é o meu cão e companheiro,
Janota. Moramos já a algum tempo
debaixo daquela ponte numa tenda de
campismo.
- O meu nome é José Carvalho e sou
um médio empresário. Além de ter
pena de perder o carro, mais pena
ainda tenho nas prendas que tinha
comprado para minha esposa e filhos.
- Deixe lá as prendas e dê graças a
Deus por estar vivo !
- Tem razão, meu amigo !
Entretanto, chegou a esposa do José
Carvalho que logo se inteirou do
acontecido. O casal fez questão em
convidar o António da Trouxa e o
Janota, para ceia da Consoada, que a
muito custo acederam.
Já em casa e depois de apresentarem
seus filhos o homem e o cão, a D.
Celeste “sugeriu” a António da
Trouxa e seu cão que, enquanto a
ceia não estava na mesa, que fossem
tomar um banho reconfortador,
sobretudo para tirar o cheiro a
queimado do carro ardido …
Durante a ceia, o António da Trouxa,
deu evasão a seus dotes oratórios e
contou belos contos de Natal. Todos
ficaram encantados com ele e com o
Janota que fazia umas piruetas que
faziam todos rir. Já de madrugada,
os anfitriões convidaram o António e
o Janota para pernoitarem na casa.
Aceitaram. Ainda o sol não tinha
nascido, já o António estava a pé e
preparado para partir para a sua
tenda. O Janota é que desde do
princípio se mostrou contra a
decisão do dono. Este teve que
pegar-lhe ao colo para o transportar
para fora de casa.
Durante o percurso para chegar à
tenda, o Janota ladrou mostrando
assim o seu desacordo por se afastar
daquela bela casa e do conforto. Mas
o dono, impávido e sereno seguia o
seu caminho. Em determinada altura,
para chamar a atenção do dono, o cão
sentou-se e não estava com vontade
de seguir o dono.
_ Olha lá ó seu cão, toca andar para
aqui para ao pé de mim. Se tivesses
um pingo de vergonha, não estava prá
aí a armar-te em esperto. Olha que
eu bem vivo que durante a noite
foste lamber os bolos e pior do que
isso, fizeste porcaria debaixo da
cama. Porcalhão ! Não tens vergonha
nenhuma nesse focinho e não
aprendeste o que eu te ensinei.
O cão baixou a cabeça, meteu a rabo
entre as pernas e com ar de
envergonhado foi ter com o dono.
Quando chegou ao pé dele, pôs-se em
pé e com uma patinha começou a fazer
festinhas ao dono, como a quer
dizer-lhe:
- Dono, cá o Janota vai seguir os
teus conselhos e tornar-se num cão
social e limpinho. Mas tens de
prometer que para o ano, voltaremos
a casa dos nossos amigos …
Carlos Leite Ribeiro – Marinha
Grande - Portugal