SE
O SOM PERTURBA-LHE A LEITURA, DESLIGUE-O CLICANDO
NO PRIMEIRO BOTÃO DO LADO ESQUERDO (PAUSAR)
Maria Linda, uma mulher brasileira de 40 anos, jornalista do
Recife (Brasil), e um português de nome Mário Guedes, escritor.
Maria Linda, apaixonou-se por ele, cujo último livro “Ninguém se
Esconde atrás do Sol” arrebatou seu coração.
Depois de assinalável êxito em Portugal, Mário Guedes, foi ao
Recife apresentar a sua obra. Foi aí que conheceu a Maria Linda
a bela Linda...
Tinha chegado há pouco ao Hotel e, depois das formalidades, foi
até ao bar tomar uma bebida, quando nas suas costas ouviu uma
voz meiga que o interpelava:
Linda - Desculpe incomodá-lo, Sr. Mário Guedes, mas sou
jornalista e pretendia fazer-lhe uma entrevista.
Nem ali no bar de um hotel, pouco depois da sua chegada ao
Brasil, o deixavam em paz. Virou-se lentamente, respondendo à
sua interlocutora:
Mário: Minha senhora, deve estar enganada, pois sou um pobre
homem que nem sabe ler nem escrever...
Ela sorriu quando ele a encarou pela primeira vez e pensou logo:
Mário - “Que sorriso mais lindo numa cara tão linda!”
Apesar dos desgostos sofridos na sua vida, ainda apreciava o que
era belo.
Mário, virou-se totalmente para a jornalista, pondo-se então à
sua disposição. A entrevista foi longa e muito bem conduzida.
Sentia-se feliz junto daquela bela desconhecida. No final,
disse-lhe que tinha que levar sua bagagem para o quarto e não
tinha habilidade nenhuma para a arrumar. Perguntou-lhe se ela
seria tão gentil que o pudesse ajudar a arrumar suas coisas. Ela
sorriu, hesitou, mas por fim acedeu. Subiram os dois no elevador
e, já no quarto, ela ajudou-o a arrumar suas coisas. Notou que
ele estava excitado e restringiu-se. No final, ele com a
argumentação de lhe mostrar como lhe estava agradecido, pediu
para a beijar. Linda tentou resistir àquele pedido, mas foi em
vão. Ele, embora carinhosamente, apertou-a com firmeza contra
seu corpo, beijando-a nas faces, nos olhos, na boca e já estava
no pescoço, quando ela conseguiu desembaraçar-se daqueles braços
que mais pareciam tentáculos de polvo. Correndo para a porta,
ainda lhe disse:
Linda – Senhor Mário Guedes, desculpe-me mas não é, de maneira
nenhuma, o meu modo de estar na vida! Vim só para o ajudar, nada
mais…
Quando chegou à rua, bem perto do hotel telefonou ao seu chefe a
dizer-lhe que tinha conseguido a entrevista, mas sentia-se mal
disposta e, que não ia directamente para a redacção do jornal. O
chefe ainda tentou demovê-la, mas foi em vão.
Na manhã seguinte, Maria Linda chegou ao jornal muito cedo e se
mostrava bem-disposta. Durante a noite procurou reorganizar suas
ideias e colocar o juízo em seu devido lugar. Foi até a
redacção e começou a transcrever sua reportagem Quando terminou,
leu e releu, sentiu-se satisfeita. Muito embora esta entrevista
não considerasse ter sido uma das melhores, mas também não seria
uma das piores. Foi até ao gabinete de seu chefe para que ele
examinasse o texto. Ele leu atentamente sem fazer comentários,
após terminar a leitura perguntou: -
Chefe - Minha filha o que aconteceu com você ontem depois da
entrevista?
Linda sorriu e respondeu:
- Nadinha querido chefe, foi apenas um mau estar, nada que uma
boa noite de sono e um pouco de repouso não curasse.
Chefe - Olhe que você não me engana, e algo se passa com você.
Talvez esteja realmente precisando de umas boas férias. Vou
providenciar isso para a próxima semana impreterivelmente... Mas
não me engana, garota!
Ela, limitou-se a responde-lhe:
Linda - Obrigada Sr. Osvaldo.
Já há vários meses que Mário Guedes levava uma vida muito
irregular, na sua santa terrinha. Bebia muito e perdia muitas
noites a fazer nem sabia o quê, descurando e dispersando a sua
fértil imaginação e criatividade de escritor. O pensamento
naquela mulher que amava e de seu filho, que tinham morrido num
acidente de viação, não o largava.
Para terminar este seu livro, o seu grande amigo José Feliciano
(um verdadeiro irmão) teve que tomar conta dele, como um menino
se tratasse. O desgosto que tinha levado Mário a este desespero,
era conhecido no seio de seus familiares e de amigos amigos mais
íntimos.
Quando Maria Linda saiu a correr de seu quarto, ele ficou longos
minutos sentado na sua cama. Ficara impressionado pela beleza e
inteligência daquela bela jovem. Tanto assim que, Mário Guedes,
esqueceu seus desgostos e direccionou seus preciosos pensamentos
para outra direcção. Pensou então:
Mário - É mais uma noite que o sono não vem, sendo que dessa vez
os motivos são outros bem diferentes, pois conheci uma mulher
que arrebatou meu coração. Não vou conseguir dormir!
Talvez fosse mesmo seu desejo ficar acordado, pensando e
repensando, naquela linda mulher que horas antes tinha
conhecido. Pensava como era linda, a sua voz suave, seus olhos
pretos, seus cabelos negros eram longos e brilhantes e uma tez
ligeiramente moreninha. Não conseguia pensar em mais nada, que,
impulsivamente, a havia apertado contra seu peito, fazendo com
que a moça se retirasse repentinamente sem enviar-lhe ao menos
um olhar, um último olhar. Quem sabe se algum dia ainda a
encontraria, para lhe pedir desculpa?
Essa hipótese atormentava-o, tirando-lhe a tranquilidade e o
sono.
Querida - Será que alguma vez a iria encontrar de novo?
Seria muita sorte se isso acontecesse...
Mário levantou-se assim que o sol apareceu, sentindo uma forte
dor de cabeça e muita sonolência, mas mesmo assim, estava
disposto e preparado para a noite da apresentação de seu livro
e, quem sabe, rever aquela a mulher que roubou seu coração.
O dia custou a passar, pois parecia mais longo do que os outros.
Grande era a sua expectativa. Apesar da ansiedade, Mário Guedes,
manteve-se lúcido, longe de bebidas e do fumo. Queria estar
sóbrio para admirar aquela beldade, caso ela aparecesse. Uma
dúvida assaltou-lhe sua mente:
Mário - E se ela não estivesse presente no lançamento? Como
poderei fazer para encontra-la? Não, não irei embora enquanto
não descobrir uma forma de me comunicar com ela, para lhe pedir
desculpa e dizer-lhe quanto a amo.
O tempo passou e já se aproximava da hora de sua apresentação.
Vestiu-se a rigor, e desta vez escolheu um terno de cor azul
claro realçando com o castanho de seus
olhos.
Linda, dormiu maravilhosamente bem. Antes de se deitar fez
uma prece e pediu protecção e a espiritualidade maior, pois no
dia seguinte teria de enfrentar mais um desafio que seria
suportar aquele olhar, aquele sorriso maravilhoso. Pensou:
Linda – “Deverei ser forte para não me deixar ser conduzida
novamente por pensamentos desequilibrados”.
O chefe tinha-lhe agendado outra entrevista com o escritor,
depois da apresentação do seu livro. Pensou com seus botões:
Linda - “Desta vez ficarei atenta para não cair em certas
tentações. Ele é muito bonito e atraente, cheio de charme, mas
tomarei todas as precauções necessárias para evitar o pior. A
final não o conheço bem e muito menos ele a mim, além do mais,
não faz meu tipo, com certeza deverá ter idade para ser meu
pai”.
Pensou que seria um verdadeiro absurdo pensar que ele poderia
ser o homem da minha vida.
Linda - “Ainda bem que mora em outro país muito distante do meu,
e veio aqui somente com a finalidade de apresentar seu livro.
Talvez hoje mesmo, se vá embora e não irei vê-lo nunca mais”.
Esse último pensamento causou-lhe um certo incómodo, dor e
tristeza:
Linda - “Será mesmo que depois, não o votarei a ver? Meu Deus,
esta história não está me fazendo bem. Tenho que buscar o
reequilibro, o autocontrole emocional, direccionado meus
preciosos pensamentos para a tarefa que devo desenvolver.
Preciso de recuperar o fôlego; é imprescindível, para então,
preparar algumas perguntas que demonstrem sabedoria e
inteligência que ele deve ter. Não quero correr o risco de
cometer os mesmos erros da primeira entrevista. Devo mostrar
para aquele senhor atrevido que sou inteligente o suficiente
para não lhe fazer a vontade de arrumar suas coisas em seu
quarto de hotel! Com certeza deve ter rido de minha tolice, e
boa vontade de só o quer ajudá-lo! Mas quem é que sua Ex.ª o Sr.
Mário Guedes pensa que eu sou? Desta vez, vou estar
preparadíssima para que ele não seja novamente insolente. Desta
vez ser bem diferente, ai isso é que vai ser!”
Ao despertar Maria Linda, começou a sorrir dos seus pensamentos
da noite e pensou naquele adágio popular:
Linda - “A Noite é boa conselheira”.
Pensava ela, mas seu coração não estava de acordo consigo. Se
não fosse à apresentação do livro do português, talvez ele nem
apercebesse da sua ausência.
Linda - “ Tão Importante como julga ser, nem pensa numa simples
repórter como eu. O cara, deve passar a vida, cercado de
mulheres lindas e maravilhosas”.
Queria afastar esses pensamentos de sua mente. Por estranho que
parecesse, naquele momento Maria Linda foi como que transportada
mentalmente para uma daquelas festas frequentadas por artistas
famosos e dessa vez ela não estava no serviço profissional, e
era convidada do anfitrião. Imediatamente, se projectou na sua
tela mental uma imagem já conhecida, era ele, o insolente do
português que desfilava ao lado de uma linda mulher. Que raiva!
Linda tomou um susto, ao perceber que de seus belos olhos
surgiram duas lágrimas que começaram a rolar pelo seu rosto
macio e bem cuidado. Sentiu raiva, pois percebeu que poderia
estar com ciúmes daquele português insuportável.
Maria Linda, não compreendia o que lhe estava acontecendo, não
aceitava o facto de que ele pudesse estar lhe tirando o sossego
o equilíbrio mental.
Linda - “Pensava: deve ser um bruxo para me enfeitiçar dessa
forma, será melhor falar com meu chefe e pedir que indique outro
repórter para fazer esse trabalho. Acho que não estou bem de
saúde, devo estar ficando louca, é isso mesmo, estou ficando
louca, portanto não devo ir a esse evento. Tenho que convencer o
Sr. Osvaldo. Dizer-lhe que estou enferma e não posso comparecer
hoje à noite na apresentação do livro desse português. Mas que
por carga d’água ele apareceu na sua vida? Se tudo tem um motivo
de ser, porque eu ter sido escala para o entrevistar?”
Estava decidida a ir ao jornal tentar convencer o chefe a mandar
outro repórter para fazer esse trabalho. Mas estaria mesmo
decidida? É que de repente seus pensamentos vieram novamente
atormentar – lhe o cérebro:
Linda - “Se não fosse à apresentação do livro, nunca mais o ia
vê-lo, e, iria arrepender-se pelo resto de sua vida. Perderia a
oportunidade de sentir mais uma vez emoções jamais
experimentadas”.
Pensou mais uma vez para com os seus botões:
Linda - “ Será que eu vou perder essa oportunidade? Será que ele
também pensa em mim? Ai meu Deus, não posso deixar de ir,
tenho que encontra-lo novamente, nem que seja de longe. Mário
Guedes, porque você veio da sua santa terrinha para me
atormentar ? Eu, estava tão sossegada da vida...”
Nessa manhã, Linda não foi ao jornal. Passou o dia inteiro nos
preparativos. Foi de tarde a um shopping e comprou um vestido
digno de uma princesa. Mandou arrumar as unhas, cabelos, e uma
belíssima maquiagem, que suavizasse ainda mais sua pele
delicada, realçando seu lindos olhos, e a boca. No final
mirou-se a um espelho, e pensou:
Linda – Estou linda!
E até poderia até mesmo ser confundida com uma estrela de cinema
internacional. Admirou seu corpo, suas formas bem delineadas e
em seus lindos cabelos pretos, com alguns cachos que lhe caiam
sobre o rosto. Aquele tratamento havia lhe transformado numa
nova mulher. O vestido era justo e modelava seu belo corpo,
salientando e seguindo cada curva, cada forma. Pensou alto:
Linda – “Ai português, tu me vais admirar, mas desta vez não me
vais tocar, nem sequer com um dedo!”
Mas as dúvidas também a assaltavam: -
Linda - “Será que ele vai me reconhecer? A final nos vimos
apenas uma vez e não foi por muito tempo! Agora, sinto-me tão
diferente! Talvez nem repare em mim, com certeza deve ter
milhares de mulheres lindas nesse evento. Ele é um homem famoso
e muito atraente e este será um forte motivo para que toda a
sociedade esteja presente. Mas não tem importância, estou
vestida para sentir-me bem e não para agrada-lo. Mas eu gostava
que ele repara-se em mim...”.
Falando em voz alta, entrou em seu automóvel de cor vermelha que
coincidentemente da mesma cor de seu vestido. No fundo, estava
preparada para o ataque!
Maria Linda chegou ao local do evento, um pouco depois das 19:00
horas. Sua presença causou certo impacto nos homens e despertou
inveja em algumas mulheres. Até seus próprios colegas de
profissão, não tiravam os olhos dela, e até pararam de correr
atrás do escritor português para a cortejar. Claro que
observaram sua transformação, sendo que isso somente lhe
causava aborrecimento, pois não tinha interesse nesses homens
que só pensam em levá-la para cama, Infelizmente existem homens
que não conseguem reter em suas mentes por muito tempo,
pensamentos que não sejam desse teor, portanto não interessa ser
cortejada por esses tarados sexuais é isso que eles são e por
outro lado só lhe interessava localizar seu alvo, que era o
Mário Guedes, aquele português... Procurou ser indiferente para
todos para não ser importunada. Ansiosamente, procurava aquele
homem diferente, especial e ao mesmo tempo estranho. E o pior
de tudo é que gostava de sua forma de ser e de se comportar.
Maria Linda estava surpresa com a quantidade de pessoas ali
presentes. Reconheceu que pela fama do escritor realmente
deveria ser um grande evento, mas porém, não contava com tanta
gente. Ali estavam pessoas de todos os níveis sociais, além dos
fãs e curiosos, estavam presentes rádios, jornais e televisões,
e era quase que impossível permanecer no local por muito tempo,
contudo não poderia sair sem cumprir com sua obrigação e também
queria e precisava ser vista pelo português. Quando por obra do
acaso, algo lhe chamou a atenção: Era ele, o português, o Mário
Guedes, que estava ali sentado e cercado por fãs e curiosos.
Era o momento dos autógrafos, e ele gentilmente, perguntava o
nome e escrevia na primeira folha do livro. Apenas um
jornalista conseguiu se aproximar e as perguntas que ele fazia
eram exactamente as que ela gostaria de fazer, assim, aproveitou
o trabalho do colega para concluir seu trabalho dando-se por
satisfeita.
Maria Linda, ia se retirando do local por está cansada; o salto
de sua sandália era tipo Luís XV, não aguentava mais ficar de
pé. Sentiu-se envolvida por uma grande e profunda tristeza,
pois queria vê-lo de perto, observar melhor seu comportamento
para com os fãs. Decepcionada, começou a andar sem olhar para
trás, quando de súbito alguém lhe pega pelo braço e diz:
Feliciano - MariaLinda, para onde pensa que vai tão cedo? Não
pode se retirar dessa maneira, pois o escritor Mário Guedes,
precisa muito falar com você. Olhe que por diversas vezes ele
tentou fugir da multidão para vir ter contigo, mas não
conseguiu, foi então que me pediu para não lhe deixar escapar.
Precisa muito lhe falar”.
Maria Linda, caminhava distraída sem rumo ou destino, e sua
mente atormentando-lhe com o escritor.
A abordagem deste moço lhe trouxe de volta a realidade,
causando-lhe um terrível susto. Foi então que movida por um
impulso de raiva, disse-lhe:
Linda - Quem ele pensa que é? Irei embora sim. Quem vai me
impedir? Diga-lhe que não falo com estranhos muito menos se for
insolente, e por gentileza largue meu braço”.
Feliciano - “Desculpe mas não queria ofendê-la de modo algum! Eu
sou o Feliciano, o amigo e editor do escritor Mário Guedes, e
responsável por esta apresentação no Brasil”.
Delicadamente, pedia desculpa e procura justificativas
plausíveis.
Tentava explicar que não a intenção de Mário Guedes, magoa-la ou
agredi-la, apenas não soube se expressar o que lhe ia na alma, e
assim pede-lhe que lhe perdoa-se.
Mas Linda, ainda pesarosa de não ter estado com o escritor, não
aceitou suas argumentações e saiu imediatamente do local do
evento, deixando o Feliciano desesperado com a sua reacção.
Correu atrás dela e pediu (ou implorou-lhe):
Feliciano - “Por favor Maria Linda, dê-me ao menos o número de
seu telefone ou o seu endereço”.
Sem olhar para trás, ela abriu a sua pequena bolsa e retirando
de dentro um cartãozinho, que jogou em direcção ao ser
interceptor que estava atento aos seus movimentos, e ao pegá-lo
observou que estava escrito apenas o endereço electrónico:
linda@neocultura.com.br. Depois, saiu quase a correr, sentido
duas lágrima a correr-lhe pelo rosto.
Linda - “Que dia mais decepcionante - pensou então...”
José Feliciano ficou muito surpreendido e admirado com a reacção
da jornalista, pois não sabia como dar a notícia a seu amigo.
Como dizer-lhe que tinha feito tudo errado e mais uma vez deixou
escapar a felicidade dele, pensou em voz alta:
Feliciano - Eu sou um perfeito idiota e o Mário vai matar-me! E
o pior é que ele vai morrer também de raiva e desgosto. Que vida
esta!”
Maria Linda, chegou a sua casa por volta das 2.00 horas da
manhã, pois antes fora caminhar um pouco pela praia em busca de
paz e tranquilidade, daí então pensou:
Linda - “Ainda bem que algumas coisas estão a meu favor como por
exemplo: é Domingo e não irei trabalhar, o meu filho Mateus está
com o pai, senão quando acordasse, teria que lhe dizer o que
aconteceu, pois esse menino tem uma percepção de adulto. Não
consigo esconder por muito tempo minhas angústias e dores, e
quando não invento uma boa história não me larga. E com esta
aparência horrível, ele não se daria por conformado com qualquer
desculpa, é um menino inteligente e amável e ocupa quase todos
as lacunas na minha vida – pensou em voz alta”.
Foi até ao seu quarto e abriu o zíper do seu do lindo vestido
deixando que deslizasse lentamente pelo seu corpo, até cair aos
seus pés. Deixou-o sobre o chão e começou a tirar as outras
peças até ficar totalmente despida, depois foi ao espelho e
ficou admirando seu belo e bem cuidado corpo, pensando:
Linda - “Agora, está tudo em forma, mas daqui a 30 anos estarei
com 70 anos de idade, e aí, como estarão minhas formas?”.
Com um sorriso triste nos lábios foi até o banheiro ligou o
duche na posição de Inverno e ficou um longo tempo em baixo do
chuveiro, como se quisesse que a água retirasse de sua mente
tudo que havia passado naquela noite inesquecível de dor e
decepção, e, em seguida, foi deitar-se. Encontrava-se mais
calma, e quem sabe conseguiria adormecer e ao despertar
confirmaria que tudo não passara de um sonho ou melhor um
pesadelo. Mas aquele português...
Segunda - feira, mais uma semana que se inicia, Maria Linda
levantou-se um pouco mais tarde do que o costume, toma um
banho rápido por não querer se atrasar para o trabalho, escolhe
para vestir uma calça jeans e uma blusa estilo masculino e sai
rapidamente, pretende dar tudo de si ao seu trabalho, para
assim, não permitir que sua mente lhe atormente com pensamentos
indesejáveis. Já estava com a porta aberta para sair quando o
telefone tocou. Era o seu chefe:
Osvaldo – Recebi o teu trabalho por e-mail do evento do
lançamento do livro do português. Conforme o combinado, estás
dispensada uma semana. Garota, goza bem este período de férias.
Linda – Este período de férias calha mesmo bem. Só não sei o que
vou fazer… Já sei, vou à região de Caruaru comprar umas roupas
para mim e para meu filho.
Foi nesta bela região do Nordeste brasileiro que a jornalista
encontrou um casal amigo de longa data que viviam no Recife e
agora moravam na Praia do Francês, já no Estado de Alagoas.
Conversa puxa conversa e em determinada altura, o casal Medeiros
convidou-a a ir passar uns dias no seu apartamento da praia.
Aceitou o amável convite e depois de combinar com o pai de seu
filho, para ficar com ele uma semana. Por fim todos rumaram ao
apartamento do José Medeiros e da Maria Inês, na tal Praia do
Francês.
Dias depois, o casal Medeiros resolveu ir à pesca numa jangada.
Maria Linda recusou alegando que enjoava muito dentro de um
barco. Assim, a jornalista ficou em terra e, em companhia de uma
nova amiga que morava no mesmo bloco do apartamento dos
Medeiros, foram tomar banho à praia. Já estavam a algum tempo
dentro de água, quando começou a chover e, como não eram grandes
nadadores, a água da chuva era mais fria do que a água do
oceano. Saíram da água e procuraram um abrigo que as abrigasse
da chuva fria, e o melhor (e único) sítio que encontraram, foi
um pequeno barco que estava na areia voltado ao contrário.
Meteram-se debaixo deste improvisado abrigo, enquanto a chuva
caia implacavelmente. Duas horas depois a chuva deixou de cair
com intensidade e as amigas regressaram aos respectivos
apartamentos.
As horas foram passando e a Maria Linda começou a ter fome
(insuportável, considerava ela). Tinham combinado que o almoço
seria o produto da pesca o que a impedia de poder fazer o
almoço. Lembrou-se então que tinha visto umas caixas de
biscoitos na dispensa do apartamento. Se pensou, melhor fez e
foi comer biscoitos enquanto os anfitriões não chegassem. Por
fim chegaram muito cansados e molhados.
Linda – Então a pesca foi boa?
O José Medeiros tirou um peixinho que teria sequer um palmo de
comprimento:
José – A pesca foi “maravilhosa”! Olha este peixinho…
Linda – Então é esse o nosso almoço?!
Inês – Não minha querida, vamos comprar mantimentos ao
supermercado!
No regresso ao Recife, a jornalista recordou este curioso dia.
Sorriu e embora perto do seu apartamento, sentiu saudades do seu
“cantinho”. Recordou mais uma vez aquele português que ela
conhecera e que se tinha portado com ela de uma maneira
estranha…
Levantou-se na segunda-feira com aquela sensação de quem termina
um período de férias e tem de regressar ao trabalho. E aquele
português não lhe saía da cabeça…
Mal chegou ao jornal, foi abordada por uma colega que lhe
segredou:
Colega – “Maria Linda, você sabia que aquele escritor
português, que tu foste fazer a cobertura da apresentação do
livro, tem sérios problemas com mulheres e bebidas que é um
viciado. Parece que nem tudo são rosas em sua vida, como muitos
pensam. Só não sei como é possível um escritor famoso com o
Mário Guedes, possa ter problemas tão graves ao ponto de fazer
com que ele enveredasse por caminhos escuros como o da orgia e
dos vícios?! Sinceramente, não consigo acreditar que isso seja
verdade, apesar de que os comentários que surgiram, é o seu
empresário toma conta dele, como quem cuida de uma criancinha,
mas isso somente quando bebe exageradamente. Comentam também que
seu ciclo de amizade está ficando bastante restrito, tendo em
vista alguns problemas que ele está atravessando, nos últimos
meses. A imprensa está divulgado que Mário Guedes não tem
recebido quase nenhuns convites para eventos culturais, e
assim, os amigos começam a desaparecer, pois só quando se tem
fama, é temos muitos “amigos”. Os motivos que levaram o
afastamento de seus supostos amigos, foi alguns problemas que
andou metido com a sociedade e a imprensa de Lisboa”.
Com esta notícia, a jornalista ficou muito triste e preocupada.
Não, um homem como aquele, para ter descido tão baixo, foi por
que alguma coisa de grave lhe aconteceu em sua vida, pensava
ela:
Linda - “É impossível o Mário ser assim! Quando me abraçou,
notei o seu carinho de pessoa muito carente, Não, não me
convenço do que ouvi”.
Foi para o seu gabinete, pegou no telefone e pediu à
telefonista:
Linda - Por favor, ligue-me rapidamente ao jornal português de
maior circulação.
Minutos depois estava em contacto com Lisboa. Depois de uma
longa conversa com o director do jornal português, soube que o
grande problema do Mário Guedes foi a perda da mulher num brutal
acidente de carro. Perdeu a mulher e um filho de 18 anos. Ficou
aliviada com aquela notícia, pensando alto:
Linda – “O “meu” português não é tão mau como o querem fazer.
Ai, com os meus miminhos e carinhos, voltaria a ser ele mesmo!
Mas a esta hora, o que ele estará a fazer? Vou tentar-lhe
telefonar mais tarde, pois o colega de Lisboa até me deu seu
número de telefone”.
Pensou melhor e, como boa nordestina e mulher arretada, resolveu
ligar à agência para comprar uma viagem aérea para Portugal.
Horas depois estava dentro de um avião a caminho da bela capital
de Portugal…
Logo que acabou de atender o telefonema da Maria Linda, o
director do jornal, telefonou de seguida a Feliciano, para lhe
contar a conversa que tinha tido com a jornalista. Este, logo
transmitiu a Mário Guedes esta conversa.
Mário – E tu já marcaste o meu voo para o Recife?
Feliciano – Claro que não! Ainda estiveste lá há pouco tempo…
Mário – Pois, não percas tempo e vai já á agência de Viagens.
Horas depois, o escritor estava a voar para a capital do Estado
do Pernambuco…
Feliciano abriu a porta do apartamento e com grande surpresa
encontrou a Maria Linda. Ficou sem palavras e foi ela que
perguntou-lhe:
Linda – O Mário Guedes está em casa?
Feliciano – Não! O Mário foi hoje para o Recife à sua procura…
Linda – Ho, que doido!
Feliciano – Direi mais: Que doidos vocês são!
No Recife, Mário foi ao jornal onde trabalhava Maria Linda, à
sua procura. Todos os que estavam presente se riram e, quando
apareceu o chefe Osvaldo é que sou que a jornalista tinha
embarcado para Lisboa, por motivos pessoais.
Osvaldo – Parece que a garota está com problemas de coração…
Saiu do jornal completamente desorientado e sem saber o que
fazer. Telefonou para o seu apartamento em Lisboa, mas ninguém
atendeu.
Mário – Desta vez mato você, seu Feliciano!
Tentou o telefonema mais de duas horas. Por fim, conseguiu a
ligação:
Mário – Por onde tens andado, meu figurão?
O amigo, deu uma grande gargalhada antes de responder-lhe:
Feliciano – Tenho andado a mostrar Lisboa a uma linda mulher e
não sei se fiquei apaixonado por ela!
Mário – Deixa-te de graças, pois, não estou com paciência para
te aturar. Vamos ao que me mais interessa: a jornalista do
Recife esteve aí em casa?
Feliciano – Deixa-me cá ver… jornalista? Quererás tu dizer a
Maria Linda?
Mário – Sim, essa mesmo!
Feliciano – Esteve e foi com ela que fui passear. Depois
deixei-a num hotel.
Mário – Porque não ficou aí em casa? Esquece. Em que hotel está
ela hospedada?
Feliciano – Não me recordo muito bem o nome do hotel…
Mário – Deixa-te de brincadeiras e dá-me o número telefónico e o
número do quarto onde está hospedada. Já, já…
Feliciano – E quem te mandou ser maluco e ires para aí? Não fui
eu, pois não? Liga-me daqui a meia hora que te darei todos esses
dados. Claro, se não morreres antes!
Quando Feliciano lhe deu o nome do hotel e o número telefónico,
Mário Guedes tentou logo ligar para Maria Linda. Mas escritora
tinha ido numa excursão para visitar os pontos turísticos de
Lisboa que incluía uma noite de fados.
Nem jantou nem saiu do quarto nessa noite, e foram as inúmeras
vezes que ligou para o hotel. Precisava de falar com aquela bela
moreninha que lhe tinha tomado conta de seu coração e dar-lhe
volta à cabeça. Pensou alto:
Mário – “Os fados nunca mais acabam e ele nunca mais regressa ao
hotel. E eu aqui enervado e sem disposição nem para ler nem
sequer ver a televisão. Que vida a minha!”.
Só cerca das 2.30 horas é que conseguiu falar com a sua “amada”,
como ele já considerava:
Mário – Até que enfim que a menina regressou ao hotel. Até
pensei que passasse a noite a cantar o fado, ou melhor, que se
tivesse tornado fadista!
Linda – Que exagero! Que lhe deu na cabeça para me ir procurar
aí no Recife?
Mário – O mesmo que te levou a ires à minha procura em Lisboa!
Ambos riram com as alegações um do outro. Já mais calmos,
começaram a conversar normalmente sem aquele “arretamento”
inicial.
Mário – Bem, tu ficas aí em Lisboa, pois amanhã apanharei o voo
da manhã para aí…
Linda – Isso é que não poder ser pois, já marquei o voo de
regresso para amanhã de manhã e não há volta a dar pois a
agência a esta hora não atende. Olha, espera por mim aí no
Recife – de acordo?
Mário – Tenho que estar mesmo de acordo devido às
circunstâncias… Estou a pensar ficar cá uns três meses para
trabalhar o esboço do meu novo livro…
Linda – Eu vou estudar um convite que me fizeram à pouco tempo
de uma agência de notícias, para ser a “enviada especial”, não
só em Portugal mas também em Espanha…
Mário – Essa ideia é maravilhosa!
Linda – Então até manhã.
Mário - Dorme bem e se possível, sonha comigo, meu amor!
FIM
Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
Tubes: Guismo & Anna
Fundo Musical: Desencontro do cantor/compositor
Português Luís Represas
Interpretação: Luís Represas e Simone
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