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Grande Entrevista a Vera Lúcia Passos Souza
(Vera Passos)
Formato de Carlos Leite Ribeiro
Durante a viagem Lisboa/Salvador, fui lendo os apontamentos
que levei sobre O Estado da Bahia e de sua capital, Salvador:
“A história da Bahia se confunde com a própria história do
Brasil. Em Porto Seguro, no Extremo Sul da Bahia, no ano de
1500, o Brasil foi descoberto com a chegada dos portugueses e a
celebração da primeira missa, em Coroa Vermelha, por frei
Henrique Soares de Coimbra. Nesses cinco séculos de muitas
histórias, a Bahia foi palco de invasões, como a holandesa, das
guerras pela Independência, e de conflitos e revoltas, como a
Sabinada e a dos Malés.
No século XVI, a Bahia foi explorada pela economia do
pau-brasil França) e da cana-de-açúcar, seguida pelo ciclo do
ouro e do diamante (Portugal). A fase áurea da cana-de-açúcar,
inclusive, proporcionou o surgimento da nobreza colonial,
provocando um aumento populacional e também financeiro,
principalmente na capital, o que pode ser comprovado pelas
construções das principais igrejas da cidade, como a de São
Francisco, a igreja de ouro, a venerável Ordem Terceira de São
Francisco, com fachada em barroco espanhol, e a Catedral
Basílica, onde está o túmulo de Mem de Sá, o terceiro
governador-geral do Brasil, e a cela onde morreu o padre António
Vieira”.
Combinámos começar a entrevista na bela Marina de Salvador.
Durante a viagem, fui lendo os apontamentos que tinha levado:
Quando as primeiras caravelas da armada de Thomé de Souza
deixaram o Porto da Barra onde se deu o desembarque inicial, e
rumaram para o Norte, avistaram a área onde hoje está a Bahia
Marina. Durante meses, até a construção da cidade murada e suas
residências no alto da montanha, os recém chegados permaneceram
na área, entre os barcos e os canteiros de obras. A Bahia Marina
nasceu no entorno da antiga “Ribeira das Naus”, onde Thomé de
Souza instalou o acampamento que deu suporte às primitivas obras
de Salvador em 1549. Ali surgiu a primeira indústria naval do
Brasil com a construção de embarcações à vela e muitos anos
depois os estaleiros onde os navegadores querenavam barcos a
seco sobre suportes de madeira, para a limpeza dos cascos e a
retirada do limo marinho. A Bahia Marina está localizada entre a
Praia da Preguiça, que herdou a denominação da Ladeira do mesmo
nome onde os escravos carregavam penosamente sacos de
mercadorias de até 60 kilos, e o Solar do Unhão, o conjunto
arquitetónico colonial em cujas instalações funcionou um engenho
de açúcar, fábrica de rapé e trapiche e que foi quartel dos
fuzileiros navais americanos durante a II Guerra Mundial. Hoje
uma das principais atrações turísticas da capital baiana.
Durante quatro séculos o espaço foi de difícil acesso,
dinamizado a partir da construção da Ladeira do Contorno, em
inícios da década de 60, durante a segunda administração do
Governador Juracy Magalhães.
O táxi deixou-me junto ao portão da marina, onde a entrevistada,
a Vera Lúcia Passos Souza (Vera Passos), já me esperava há
largos minutos. Desculpei-me com o atraso do avião e sobretudo
com o enorme trânsito que apanhamos para atravessar a cidade.
Ao entrar, logo o Segurança nos avisou que não podíamos tirar
fotografias. Tranquilizamos o homem e sentados na muralha da
marinha, começamos a entrevista.
Carlos: Vera, quais seus passatempos preferidos?
Vera: Ler e escrever, ir à praia, conversar, viajar. Sou
Kardecista, faço palestras, declamo.
Carlos: Melhor qualidade, e, seus maior defeito
Vera: Ser amiga, mas sou impaciente.
Carlos: Que vícios gostaria de não ter?
Vera: não tenho vícios.
Carlos: Para você, qual o cúmulo da beleza?
Vera: O encontro rio e mar, uma criança nascer, a Lua cheia.
Carlos: E da fealdade?
Vera: A guerra. A droga e tudo que ela provoca.
Carlos: O seu dia começa bem, se…?
Vera: Se os sonhos foram bons e o dia amanhece com o sol
beijando minha janela.
Como o sol estava a aquecer e o calor incomodava muito,
resolvemos sair da marina e ir para um esplanada que fica quase
em frente ao portão da marina, para continuarmos a entrevista e
bebermos uns sucos de frutas.
Carlos: Qual foi o maior desafio que aceitou até hoje?
Vera: Viver é um desafio.
Carlos: O que é para a Vera o Esoterismo?
Vera: É uma doutrina que só revela seus segredos aos mais
íntimos, creio eu.
Carlos: Crer na reencarnação?
Vera: Creio na Reencarnação como a forma mais justa de corrigir
erros praticados contra aos outros. Creio em espíritos de todos
os graus de evolução, assim como nós encarados. Uns bons e
outros maus.
Carlos: E o Imaginário que valor tem para a Vera?
Vera: O imaginário reflete o que pensamos. Pensamento e vontade
se materializam à medida que se trabalha por isso.
Carlos: Acredita em “fantasmas” ou em histórias “fantasiosas”?
Vera: As histórias fantásticas os homens as criam e acreditam
nelas.
A hora do almoço tinha chegado e combinamos ir almoçar a um
restaurante que tem uma vista privilegiada sobre a bela Baia de
Todos os Santos, situado no Bairro dos Aflitos, perto do Campo
Grande. Durante o percurso, a entrevistada foi falando da “sua”
Salvador:
“Como o Carlos sabe, moro nesta bela Cidade de Salvador - Bahia
-Brasil. É uma cidade Histórica, rica de belezas naturais,
banhada pelo Oceano Atlântico. Tem lindas praias e lindos
monumentos, por exemplo ao Poeta Castro Alves, ao 2 de Julho,
etc.”.
Entretanto, chegamos ao Restaurante Café “Mirante” e logo
ficamos extasiados com a beleza que dali se avista: a Baia tendo
ao meio o Forte Marcelo e mais ao longe, Itaparica.
CAFÉ MIRANTE EM SALVADOR
O bairro dos Aflitos, é vizinho do Campo Grande e
do Passeio Público. O minúsculo bairro dos Aflitos
compreende apenas um largo, uma praça logo ao lado, onde
há a decadente Igreja dos Aflitos, e duas ladeiras, uma
à direita e outra à esquerda do largo. Mesmo assim, a
quantidade de coisas a se fazer é alta. As opções são
variadas: um restaurante luxuoso com preços elevados,
uma vista privilegiada – a custo zero –, uma casa de
shows e um teatro pequeno e aconchegante. O Forte (ou
Quartel) foi construído na primeira metade do século
XVII. Servia como depósito de armas e munições,
conhecido na época como Casa do Trem Militar. Localizado
em ponto estratégico, abastecia com armamento os Fortes
de São Pedro, São Paulo da Gamboa, Ribeira e Porta de
São Bento. Com a construção da Capela do Senhor dos
Aflitos, em 1825, o largo em frente ao forte passou a
ser chamado de Largo dos Aflitos e a casa do trem de
Trem dos Aflitos. Desde a sua fundação, o quartel
participou da História da Bahia. Em 1837, durante o
Movimento da Sabinada, o prédio foi ocupado por
revolucionários que se apoderaram das armas e instalaram
uma fabrica de cartuchos. Posteriormente, na fase de
reação das Forças Legais que debelaram o movimento, o
quartel foi retomado pela Brigada Pernambucana, unidade
integrada pelo Exército Restaurador, comandada pelo
Tenente-coronel Alexandre Gomes de Argolo Ferrão. Hoje,
o Quartel dos Aflitos abriga, além do Comando Geral, o
Subcomando, o Departamento de Comunicação Social, o
Departamento de Planeamento, o Serviço de Inteligência,
a Coordenação de Policiamento e o Comando de
Policiamento da Capital.
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QUARTEL OU FORTE DOS
AFLITOS |
VISTA DO BAIRRO DOS
AFLITOS |
Encomendamos o almoço, que foi uma saborosa comida baiana,
acompanhada por vinho (por acaso português). Enquanto
esperávamos e durante o repasto, continuamos a entrevista.
Carlos: Vera, quando criança?
Vera: Amava olhar o Rio Jiquiriçá, brincar de bonecas... Foi uma
infância na linda cidade de Ubaíra.
Carlos: Como vou de amores?
Vera: Estou solteira e feliz. Sou fiel aos amigos. Ajo como
amiga sempre fidelidade.
Carlos: As piadas às louras são injustas?
Vera: Qualquer desrespeito ao ser humano é desprezível.
Carlos: O arrependimento mata?
Vera: Não me arrependo de nada. Os erros são lições que nos
ensinam a viver.
Carlos: De que mais se orgulha?
Vera: De ser mulher.
Carlos: Qual a personagem que mais admira?
Vera: Jesus.
Carlos: Qual o filme comercial que mais gostou?
Vera: Ghost
Carlos: Música e autores preferidos?
Vera: O bolero de Ravel, clássicas de um modo geral, Força
estranha, Ando devagar, Grão. Gilberto Gil, Caetano, Tom Jobim,
Roberto Carlos, etc.
Carlos: Livros e autores preferidos?
Vera: “O problema do ser do destino e da dor” e o “Progresso”,
ambos do francês, Léon Denis. E Pablo Neruda, Castro Alves,
Mario Quintana, Léon Denis, etc.
Carlos: A Cultura será uma botija de oxigénio?
Vera: Será sempre se soubermos usá-la com dignidade e amor.
Carlos: Vera, vamos falar de sua obra literária?
Vera: “Ubaíra, passos de uma canoa de mel”; “Intuição,
Primaveras e Primavera passo a passo”.
Carlos: Que livro anda a ler?
Vera: Meu livro é o Problema do ser, do destino e da dor.
Carlos: Para você, Deus existe?
Vera: Vejo Deus, no mar, nas matas, no nascer e morrer, no céu
coberto de mistérios, no sorriso de uma criança. Vejo Deus noa
amor, na dor, na justiça... Deus está em mim e nos outros.
Carlos: Como se autodefine?
Vera: Agitada, sorridente, feliz.
Carlos: Que género de filme daria sua vida?
Vera: Daria um filme de uma mulher valente que soube aproveitar
a vida, venceu um a um todos os obstáculos.
E assim, falamos de:
Vera Lúcia Passos Souza
Nascida num belo dia 23 de Outubro
Professora de Geografia, Licenciada pela Universidade Católica
de Salvador
Vera Passos
Se eu pudesse recomeçar…
Voltaria à mesma jornada que me trouxe para cá
Viajaria num trem em disparada até a derradeira estação
Veria o rio bordando a estrada
Na última parada atracaria à beira mar.
Depois das férias, as festas encerradas
Abraçaria meus amigos da rua
Nas noites de lua Cheia, mataria a solidão
Correria sem rumo na praça lotada
Levando comigo meus sonhos, as doces manias, minha eterna ilusão
Que bom seria vovó sentada no batente!
Cuidando dos sonhos da gente e nos ensinando a lição
Voltaria aos ternos amigos, guardados no cofre do peito
Recordaria os que habitam no plano perfeito
Lá no templo direito, para o velho recomeçar
Se eu pudesse recomeçar… seria do mesmo jeito:
Casa grande, quintal e mesa na sala de estar
Crianças, gente de toda idade, semente por germinar
Choro de bebês, gritos, algazarra, agonia… faltava lugar
Menino que sumia, os outros vão procurar
Fruta no pé, rio de peixes, anzóis sem nunca pescar
É tanto tempo afora, que nem marcando a hora, daria pra relatar.
Têm estórias de carochinha, outras a se provar
Alegrias e despedidas, saudades e tudo mais
Valeria a pena recomeçar
Saudades do rio serpenteando os pastos.
Águas transparentes, espelho de luz dos raios de sol
Peixinhos dançando na correnteza
A imensa beleza da vida correr
O gado solto a se banhar em baixo do arco íris
O alarido das crianças no verão da liberdade
O rio descendo ligeiro dividindo as cidades
Cantando a saudade do eterno jiquiriçá
A goiabeira se desgalhando para o rio abraçar
Do alto da ribanceira a algazarra, o frisson
O vai-e-vem dos pulos da gurizada
Na estrada que leva ao Vale do jiquiriçá
Aquele rio menino crescia como eu, agigantava
Recebia dos afluentes da vida, sua ação
Deslizava nas quedas d’água, forjava os lagos
Se avolumava buscando outros rincões
Na jornada, parava em algumas estações
Depois seguia viagem caçando seus sonhos
Fertilizava o solo, levava as sementes pelo Vale
Lavava os palácios, visitava as favelas…
Das janelas, risos e lágrimas, crianças acenavam…
Meu rio não brinca mais, não faz piruetas pela estrada
Bloquearam a jornada, quebraram as pernas, para o rio não
correr
Que gente mais burra, vai padecer, assiste deitada o rio
perecer.
***
Formato de entrevista de: Carlos Leite
Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
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