Entrevista (virtual) conduzida por Carlos Leite Ribeiro, a Valquiria
(Val) Abreu
A nossa convidada de hoje, é professora, responsável pelo Museu
Antropológico Caldas Junior, e mora em Santo António da Patrulha RS
(Brasil).
Carlos: - Boa Noite, Val!
Val: - Boa Noite, Carlos! Boa noite, estimado jornalista e professor Carlos
Leite Ribeiro.
Carlos: - Quem é a Val e como se auto-define?
Val: - Sou professora de História, formada pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, pós-graduação em História e Geografia do
Brasil. Assim, como tantos outros cursos de aprimoramento para meu trabalho
com jovens/alunos/adolescentes, nos mais diversos assuntos relacionados a
história, arte, literatura e comportamento, tendo sido por um determinado
período a responsável pelo trabalho de conscientização da cultura "Afro-brasileira"
nas escolas de minha região. Sou uma apaixonada por letras e inclusive
cursei até a metade do curso universitário, arrependo-me muito por não tê-lo
concluído, mas, na época não havia condições...
Quanto ao definir-me, digamos, que eu seja, uma pessoa que adora brincar com
palavras, e a partir, delas expressar meu pensamento, nem sempre sensato
como deveria ser, tão pouco coerente com o pensar da maioria. Enfim, sou
aquilo que me faço ser, leal aos princípios que acredito (até que me provem
ao contrário), pois, penso ser a flexibilidade de pensamento uma
característica dos seres pensantes.
Não creio em conhecimento sem aprendizagem, sem busca, seja, pelo
instrumento que for. Considero a "escrita e a boa leitura" um dos maiores
avanços da humanidade, e isso, já observamos na pré-história, quando os
hominídeos através de seus rabiscos deixaram-nos importantes informações.
Mais, tarde já na história antiga criaram os hieróglifos, e eis que surge a
escrita e tudo passa a desenvolver-se magnanimamente no curso da história.
Atualmente estou permutada pelo estado a serviço do município onde resido,
para exercer a função de presidente da Fundação Museu Antropológico Caldas
Júnior, trabalho que venho desenvolvendo, desde, março de 2008, sem nenhuma
conotação política a convite do atual prefeito da cidade.
Carlos: - Vamo-nos situarmos geograficamente: Fale-nos um pouco de Santo
António da Patrulha, da sua situação geográfica; sociocultural;
socioeconómica; cidades mais importantes que ficam mais perto; etc.
IMAGEM ENCONTRADA NA INTERNET SEM
CRÉDITOS
Val: - Santo Antônio da Patrulha é um município do Rio Grande do Sul.
Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre. Microrregião Osório.
Municípios limítrofes: Rolante, Viamão, Capivari, Osório, Caraá, Taquara,
Glorinha e Gravataí.
Distância até a capital do Rio Grande do Sul: 73 km
Possui uma área de: 1. o48,904 km2
População de: 39.500 habitantes.
Densidade de: 36,1 hab./km 2
Altitude: 131 metros.
Fuso horário: UTC-3
IDH: 0,77 médio
PIB: R$304.711 mil IBGE/2005
PIB per capta: R$ 7.905,00 IBGE/2005
História do Município
Santo Antônio da Patrulha é um dos quatro primeiros Municípios do Rio Grande
do Sul. Com colonização basicamente de origem açoriana, com o decorrer do
tempo passou a ser ocupado também por italianos, alemães e poloneses.
Em 1760 foi elevado a condição de Freguesia para, em 1809 passar a Vila e,
em 03 de abril de 1811 foi instalado o Município de Santo Antônio da
Patrulha que recebeu essa denominação em função das patrulhas instaladas em
seu território objetivando a cobrança de impostos para a Coroa.
Simultaneamente, Rio Grande, Rio Pardo e Porto Alegre, receberam a mesma
condição formando assim os quatro municípios mais antigos do Rio Grande do
Sul.
As origens desse povoado remontam à própria história do Estado. Com a
fundação da Colônia de Sacramento em 1680, cresce o interesse dos
colonizadores portugueses em povoar e defender o território meridional do
Brasil. Por volta de 1736 é aberta por Cristóvão Pereira de Abreu a Estrada
dos Tropeiros. Devido ao contrabando de gado que passava por essa estrada,
surgiu um "Registro" ou "Guarda", mais tarde chamada patrulha. Essa
fiscalizava e cobrava impostos dos rebanhos que passavam por ali e seguiam
para Sorocaba e Minas Gerais.
Esse aquartelamento, é responsável por parte do nome do município, que antes
se chamava Guarda Velha de Viamão.
No início de 1743, se estabelece efetivamente na atual sede do município com
"roças e casas", Inácio José de Mendonça e Silva, que servia como soldado
nessa "Guarda". Ele e sua esposa, Margarida Exaltação da Cruz são
considerados os fundadores do município, pois resolveram construir em suas
terras uma Capela onde hoje localiza-se a Pira, na Av. Borges de Medeiros. A
Capela levara o nome de Santo Antônio, e, em volta dessa, começa a surgir um
povoado.
Em 1760, foi inaugurada a Capela Curada de Santo Antônio da Guarda Velha de
Viamão, e no seu entorno passou a organizar-se uma vida administrativa e
social. Esse núcleo que atendia todo o Litoral Norte e parte da Serra aos
poucos foi crescendo e em 1809 participou da divisão do Estado em quatro
municípios.
A presença de casais açorianos em Santo Antônio da Patrulha deu-se por volta
de 1760, sendo alguns fugidos de Rio Grande devido a invasão de espanhóis e
outros avulsos. "Mas só em 1771 que oficialmente o Governador da Capitania
recebeu ordens de assentar casais açorianos em Santo Antônio da Patrulha.
Recebiam - DATAS - pedaços de terra de tamanho variável. Segundo o Monsenhor
Ruben Neis, foram 28 casais que se localizaram entre a sede do povoado (hoje
a Vila de Santo Antônio da Patrulha) e as terras da Lagoa dos Barros."
Alguns imigrantes abandonaram suas datas buscando terras em outras
localidades, enquanto outros ilhéus ou descendentes os sucediam. A partir
daí torna-se morfologicamente definido o primeiro núcleo de povoamento, que
é hoje um núcleo histórico localizado na Cidade Alta.
Os Campos do Litoral Norte do Rio Grande do Sul favorecem a criação de
rebanhos bovinos e eqüinos e, a partir de 1743, são distribuídas as
primeiras sesmarias, geralmente à paulistas e lagunistas, nos Campos de
Tramandaí*.
Índios: Além disso, nestes campos, os índios já haviam sido capturados ou
fugido para oeste. Mas têm-se notícia que nesses campos houveram indígenas
das tribos Carijó (oriundos de Laguna), Arachãs e no início da Serra,
próximo a São Francisco de Paula, os Caáguas, todos membros da grande Nação
Guarani.
Os povoadores, gradativamente, foram solidificando uma agricultura forte
para a subsistência (trigo, mandioca, e outros), mas o que impulsionou a
economia do povoado que se formava, foi a produção de cana-de-açúcar e seus
derivados como a aguardente. Existem registros de engenhos por volta de
1800.
Carlos: - Qual a filosofia do projeto Museu Antropológico Caldas Junior, e,
quem foi esta personagem, que deu seu nome à Fundação?
Val: - Caldas Júnior, patrimônio do Rio Grande do Sul.
Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, conhecido por toda a sociedade
gaúcha como “Caldas Júnior”.
Nasceu no município de Neópolis, estado de Sergipe, situado 121 km da
capital Aracaju, a 13 de dezembro de 1868, filho do bacharel em direito,
Francisco Antônio Vieira Caldas, e de sua mulher, D. Maria Emília Vieira
Caldas, distinta sergipana de esmerada educação intelectual. Tendo falecido
na capital gaúcha a 09 de abril de 1913, aos 44 anos de idade, podemos
dizer, moço ainda.
Acompanhou a sua família indo residir no Rio Grande do Sul, pois seu pai,
depois magistrado de carreira, fora nomeado Juiz Municipal de Santo Antônio
da Patrulha, onde passou parte de sua infância na casa que ainda preserva as
características daquela época. Hoje transformada na “Fundação Museu
Antropológico Caldas Júnior”, único do estado visando conservar na memória
dos gaúchos os feitos desse sergipano de alma gaudéria, que foi um dos
primeiros cultores das tradições do Rio Grande, pois, entendia e amava como
poucos o tradicionalismo gaúcho.
Alguns anos após, Caldas Júnior, passou a morar em Porto Alegre, cursou o
primário e o secundário, dedicando-se, em seguida, à imprensa, sendo
considerado um dos maiores vultos do jornalismo da história gaúcha.
Em sua afortunada carreira de periodista, tão rica em obras meritórias,
teve a glória de ser considerado o “Fundador da Imprensa Moderna do Rio
Grande do Sul”. Colaborador desvelado do progresso e civilização desta terra
gaúcha, em incessante empenho de verdadeiro servidor do bem público, reunia
os dotes de inteligência e estimáveis qualidades de coração, sempre tendendo
ao sentimento da beneficência, um dos traços eminentes do seu caráter.
Caldas Júnior trabalhou em vários jornais gaúchos, inclusive no “A Reforma”,
depois no órgão de imprensa mais importante do seu tempo, “O Correio do
Povo”, fundado por ele em 1º de outubro de 1895. Foi também, um dos
fundadores da Academia Rio-Grandense de Letras e seu único membro que não
nascera no Estado.
Prosador e poeta deixou inúmeros artigos e crônicas publicadas na imprensa,
e o livro de sonetos, editado por amigos numa homenagem após sua morte , em
1913, intitulado, “Versos escolhidos de Caldas Júnior”.
O Museu Caldas Júnior se orgulha em fazer parte da história desse ilustre
personagem brasileiro. Atuando na sociedade em prol de feitos que dizem
respeito a cultura, educação, arte e ao resgate do patrimônio histórico em
benefício do conhecimento dos jovens, alunos e cidadãos, pois acreditamos
estar na educação a força motriz da transformação para uma sociedade melhor.
Valquiria Abreu de Oliveira
Presidente da Fundação Museu Antropológico Caldas Júnior.
Acredito que um museu tem grande função a serviço da sociedade. Seria
injustificável investir em preservação do acervo patrimonial se não
objetivássemos a educação, informação, recreação e interação com a
comunidade.
Museus merecem ser vistos e aproveitados como espaços de aprendizagem,
questionamentos, diálogo, reconhecimentos e descobertas. Tanto os que
exercem alguma função num museu ou técnicos de museus e os visitantes, são
considerados aprendizes, porque todos geram discurso que contribuirão para o
conhecimento.
Eis, a importância dos museus pensarem seus acervos e a ligação com a
comunidade, priorizando o método educativo e o adequando ao público. Pois,
educar é mais que transmitir informações ou qualificar-se profissionalmente,
há de se ter o comprometimento em ampliar o legado cultural da humanidade
como fonte de informação.
Uma obra de arte, para ter essa denominação, deve apresentar-se de modo
diferenciado da realidade. Porque ela não se restringe necessariamente a
reproduzir o que é observado como de fato existe.
A arte não necessita representar o mundo como ele é, mas como o artista o
vê. Sendo transgressora e inovadora em temas, estilos e formas de
linguagens. Criando novos códigos para ser fiel a sua função de evocar um
sentimento de mundo imaginário ou utópico, mas antagônico a realidade usual.
Essa é a responsabilidade do museu com a comunidade e com o artista e sua
obra. Ele de fato atuará como mediador entre a ideia, a mensagem, e a
orientação visual que o artista queira passar. Na qual depois de permeada
por sua ótica, será idiossicrada por cada indivíduo.
Carlos: - Em Literatura, quais seus autores preferidos assim como suas
obras?
Val: - Bem, Mestre Carlos já deu pra perceber que tenho um predileção por
poetas e poetisas, mas, como devoradora de letras, leio tudo,inclusive
aquilo que não é tão bom para poder criar meus parâmetros.
Mas, vamos ao que mais gosto, porém, é importante que eu diga que sou uma
ratazana de livrarias e feiras de livro.
*Carlos Drumond de Andrade impossível não identificar-se com sua poesia tão
poeticamente concreta.
*Cecília Meireles, doce e forte na medida certa ao meu entender.
*Mario Quintana, tão querido senhor eterno menino.
*Oswaldo de Andrade.
*Pablo Neruda.
*Fernando Pessoa.
*João Cabral de Melo Neto.
*Murilo Mendes.
*Caio Fernando Abreu.
*Ariano Suassuna.
*Carpinejar.
*Clarice Lispector.
*Ferreira Gullar. (que inclusive há um poema dele em minha página de
informações no Facebook.
*Martha Medeiros.
*Sophia de Mello Breyner Andresen
*Augusto dos Anjos.
Enfim, acho que passaria a noite escrevendo...rsrsrs
Carlos: - E em Música, quais os cantores preferidos assim como as canções?
Val: - Gosto de canções que falem do momento que vivo, ou seja, sou
eclética, contudo, não abro mão da qualidade cultural.
Passei minha adolescência ouvindo "Belchior", e ainda o considero suas
letras hoje muito atuais. Cazuza, por ser contestador numa época em que aqui
no Brasil tudo era proibido. Chico Buarque, Ivan Lins, Caetano, eu o acho um
gênio pela forma como brinca com as palavras. Aprecio aquilo que poderei
apreciar por décadas infinitas, odeio modismos e ritmos efêmeros e
vendáveis.
Amo a música francesa, Édith Piaf, O seu canto expressava claramente sua
trágica história de vida. Entre seus maiores sucessos estão "La vie en rose"
(1946), "Hymne à l'amour" (1949).
Carlos: - Para terminar, para a Val, a Cultura será como uma botija de
oxigénio?
Val: - A cultura é a mola mestra da engrenagem de todos os saberes, é
fundamental para a compreensão de diversos valores morais e éticos que guiam
o comportamento social.
Cultura é um processo em permanente evolução que soma a evolução do homem no
planeta.
Carlos: - Muito obrigado pela sua disponibilidade de nos conceder esta
entrevista!
Val: - Eu que agradeço e sinto-me lisonjeada por tal oportunidade.
OBS: Peço licença para citar algumas publicações onde há minha participação.
- Poesia na Praça XX Antologia Poética Patrulhense.
- Autores gaúchos 2010. Edições Caravelas.
- Rio Grande do Sul - Brasil / Décima Ilha Açoriana. Revista Semestral da
Presença Açoriana.
Entrevista (virtual) formato Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande -
Portugal
Formatação e Arte Final: Iara Melo