Mais um vez no Brasil, desta vez no Aeroporto de São
Paulo, aguardando ligação aérea para Curitiba,
capital do Estado do Paraná. Para passar o tempo,
foi passando os olhos por uma breve resenha da
História do Paraná. “Tendo sido abandonada pelos
portugueses no século XVI, a área do atual Paraná
foi explorada principalmente pelos espanhóis, a quem
se deve a fundação dos primeiros núcleos urbanos. No
século XVII, o bandeirismo encaminhou-se para esta
região, vindo a ocasionar a descoberta de ouro
aluvionar e a intensa escravização dos nativos. A
produção aurífera não se mostrou sobejamente
rentável, tendo sido interrompida ao fim de pouco
tempo. A perseguição aos índios gerou genocídio e
também a destruição de aldeias e missões jesuítas.
Após a descoberta de ouro no Estado de Minas Gerais,
os paranaenses passaram a ocupar-se do
abastecimento, em especial da comercialização do
gado bovino, destinada àquela região. Adiantado na
história, em 1811 criou-se a comarca de Paranaguá e
Curitiba, integrada na capitania de São Paulo, Em
1853, instituiu-se a Província do Paraná, e,
incentivou-se então uma rica e diversificada
população de imigrantes europeus. Entre 1912 e 1916,
desenrolou-se a Guerra do Contestado, que pôs em
conflito os interesses de sertanejos e os do Paraná
frente aos do Estado de Santa Catarina…”.
O tempo foi passando e poucas horas depois aterrei
no aeroporto de Curitiba. Depois de passar pela
alfândega, à saída do aeroporto a amiga Neyd Maria
já esperava-me. Depois dos comprimentos da praxe,
convidou-me a fazer um tour pela cidade, que me
pareceu logo muito bela.
Neyd: - Curitiba é uma linda, limpa e organizada
cidade do sul do Brasil, que foi colonizada por
italianos, alemães e poloneses (eu descendo desses).
Curitiba tem 1.890.000 habitantes, é o município
mais populoso da região Sul e o 8º do Brasil em
número de habitantes. Foi fundada em 1693 para ser a
parada dos bandeirantes que se dirigiam ao sul do
país. É famosa internacionalmente pelas suas
inovações urbanísticas e cuidado com o meio
ambiente. Conta com elevada posição nos indicadores
de educação, a menor taxa de analfabetismo e a
melhor qualidade na educação entre as capitais
brasileiras. Tem um clima temperado, com médias
abaixo de 18ºC nos meses de inverno, caindo por
vezes para perto de 0ºC em dias mais frios. Já teve
a incidência de neve. Possui 30 áreas preservadas de
Parques e Praças, sendo as principais: O Parque
Barigui, o Bosque do Papa, Jardim Botânico, Passeio
Público, Zoológico.

Curitiba tem uma grande quantidade de museus: o
Museu Paranaense, Museu Oscar Niemeyer, Museu de
Arte Sacra, Museu do Expedicionário, de Arte
Contemporânea, Metropolitano de Arte, de História
Natural. No centro da cidade está a maior biblioteca
pública da Região Sul, com quase 600.000 livros e em
vários bairros existem os Faróis do Saber que servem
de bibliotecas e centros de cultura. Curitiba tem 3
principais times de futebol com seus estádios e a
cidade foi uma das sedes nas duas Copas realizadas
no Brasil em 1950 e em 2014. Nesta última a Arena da
Baixada do Clube Atlético Paranaense foi reformada e
serviu de palco para o mundial.
Carlos: Desculpe interrompe-la: Como é que a amiga
de autodefine?
Neyd: - Uma pessoa feliz, de bem com a vida, com a
minha linda família e com o que me cerca.
Carlos: - E como vai de amores?
Neyd: - Muito bem. 36 anos de casada e me apaixono
por meu marido várias vezes ao ano.
Carlos: - E seus passatempos preferidos?
Neyd: - Fazer bolos confeitados, tricô, costura,
ler, ver filmes policiais, plantar.
Carlos: - Sua melhor qualidade, e seu maior defeito?
Neyd: -
Qualidade ouvir; defeito dar opinião.
Carlos: - Quando a Neyd era criança ...?
Neyd: -
Gostava de conversar com os mais velhos, brincar lá
fora, brincar de faz de conta (armazém, princesas,
Bonanza).
Carlos:
- Qual a personagem que mais admira?
Neyd: -
Meu falecido sogro, que era uma pessoa íntegra,
virtuosa e amável. Seus princípios de vida
contribuíram para melhorar a minha. Escrevi um livro
biográfico sobre ele. Núncio Montingelli -
Inesquecível homem de família.
Carlos: - Uma imagem do passado que não quer
esquecer no futuro?
Neyd: - Eu conversando com minhas avós Zeneida e
Maria.
Carlos: - Qual foi o maior desafio que aceitou até
hoje?
Neyd: - Publicar o primeiro livro e antes disso, a
prova do Mestrado.
Carlos: - De que mais se orgulha? De ter criado 4
filhas lindas e inteligentes junto com meu amado
marido.
Carlos: - Que vício gostaria de não ter?
Neyd: - Comer doces. E para falar em comer, está na
hora do almoço. Convido o Carlos para almoçar
comigo. Vamos ao Restaurante Gianfranco Massas,
comer um saboroso Mignon de pimentas verdes.
Carlos: - Aceito a sua gentileza!
Antes e depois da refeição, continuámos a
entrevista:
Carlos: - Que gênero de filme daria sua vida?
Neyd: - Romance, certamente!
Carlos: - O dia começa bem para Neyd se...?
Neyd: -
Eu fizer uma oração, abrir as janelas e conversar
com meus pássaros.
Carlos:
- Que influência tem em si a queda da folha e a
chegada do frio?
Neyd: -
A lembrança que meu nariz vai ser a parte mais
importante do meu corpo, pois tenho rinite. Fora
isso, gosto do sentido da renovação: caem as folhas
velhas para dar lugar às novas.
Carlos:
- Qual a característica que mais aprecia em si, e,
nos outros?
Neyd: -
Em mim, a criatividade; nos outros, a gentileza.
Carlos:
- Qual o cúmulo da beleza, e, da fealdade?
Neyd: -
Beleza, o pezinho de um bebê; da fealdade, meninas
de 10 anos usando roupas, maquiagem e sapatos de
adultos.
Carlos:
- As piadas às louras são injustas?
Neyd: -
São, mas deixa estar que algumas merecem...
Carlos:
- O arrependimento mata?
Neyd: -
Não, justifica novas atitudes.
Carlos:
- Deus existe?
Neyd: -
Sim.
Carlos:
- Acredita em histórias fantásticas, e em fantasmas
ou em "almas do outro mundo"?
Neyd: -
Não, até prova pessoal em contrário.
Carlos: - Acredita na reencarnação?
Neyd: - Não, mas preciso estudar a respeito.
Carlos: - O imaginário será um sonho da realidade?
Neyd: - Ele parte da realidade e voa por caminhos
não conhecidos.
Carlos: - O que é para você o termo Esoterismo?
Neyd: - Oculto. Desperta minha curiosidade.
Desconhecido.
Carlos: - Mudando de tema: A cultura será uma botija
de oxigênio?
Neyd: - Sempre.
Carlos: - O filme comercial que mais gostou?
Neyd: - De volta para o passado, O segredo do
abismo.
Carlos: - Música e autores preferidos?
Neyd: - Sou eclética. Tirando o rock barulho, funk
e rap. Escuto e aprecio todas as músicas. Gosto de
ler a letra e saber da mensagem, da poesia. Gosto de
ouvir música clássica e seus cantores a plenos
pulmões. Gosto de música de criança e de hinos
religiosos.
Carlos: - Autores e livros preferidos?
Neyd: - Autor brasileiro do passado, gosto de
Machado de Assis e Dom Casmurro. Do presente gosto
de Isabel Furini em O livro do escritor.
Estrangeiros gosto de livros de ficção, romance e
dramas.
Carlos: - Tem um amigo/a escritor?
Neyd: - Tenho vários: Isabel Furini, Rogério Coelho,
Izabelle Valladares, Andréia, Elieder, Marilena,
Vanice e mais...
Carlos: - Sua obra literária?
Neyd: - Tenho 19 livros publicados e participo em
parcerias e antologias em 74 outros livros.
Carlos: - Literariamente, seus projetos para o
futuro?
Neyd: No meu desktop, tenho 16 títulos começados
(este número sempre cresce). Todos os dias dou uma
beliscadinha em dois ou três. Quando um livro é
publicado. Fico dias decidindo qual dos muitos vou
dar continuidade.
E assim falámos de:
Neyd Maria Makiolka Montingelli (nome literário:
Neyd Montingelli)
Nascida a 05/11/1957
Aposentada pela Caixa Econômica Federal; já teve um
laticínio e agora é escritora.
Herói
morto ou covarde vivo - de Neyd Montingelli
Era uma
tarde ensolarada de verão e se ouvia o canto dos
canários vindo das 3 gaiolas presas na parede
laranjada da casa da minha avó. Capinhas de plástico
colorido envolviam o fundo e folhas de couve murchas
pelo sol pendiam pelas grades. Eu lavava minhas
roupas de boneca em uma grande bacia de churrasco
com mais sabão do que água e me divertia com a
enorme quantidade de espuma.
A sinfonia dos pássaros entremeada pelos meus risos
foi interrompida pelo chamado urgente do Seu
Genésio, um vizinho, que chegou no portão. Meu avô
que cochilava preguiçosamente na cadeira de vime da
varanda, levantou limpando a baba e catando os
chinelos de pano. Foi até o portão levantando a
tradicional calça de pijama listrado com os
fundilhos caídos, ajeitando a camiseta regata para
dentro da cintura de elástico, como se isso o
deixasse mais apresentável.
Assim que falou com o homenzinho barrigudo, tomou de
assalto e entrou em casa tão rapidamente que aquele
homem que dormitava na varanda desapareceu
completamente para dar lugar a um policial
semifardado em segundos. Com bota de cano alto,
calça e camisa de trabalho e até o capacete. Subiu
em sua moto gigantesca, também de trabalho, pois era
policial Rodoviário e saiu cantando pneu, deixando o
mini senhor vizinho parado no portão, como um anão
de jardim.
As minhas mãos ficaram geladas e pegajosas por eu
ficar brincando com o sabonete amolecido
distraidamente enquanto observava o vai e vem com os
dois. Foi até difícil tirar o sabonete grudado entre
os dedos e unhas. Isto porque eu não queria mais
brincar daquilo. Agora eu queria ver de perto o que
estava acontecendo.
De cima dos meus 8 anos eu precisava saber. Devia
ser alguma coisa muito séria, pois meu avô em casa,
era muito pacato e para ele se alterar, tinha que
ser algo muito perigoso mesmo.
Entrei na casa da minha avó tentando enxugar as mãos
na minha calça, não sem antes deixar um rastro de
água e sabão pela cozinha. Ela estava apreensiva
olhando pela janela. Quando cheguei perto, ela me
abraçou bem forte que quase me esmagou e, logo me
deu uma bronca por estar toda molhada.
Uns minutos depois escutamos a barulhenta
motocicleta do meu avô e corremos para a porta da
cozinha a tempo de ver o meu tio sendo tirado da
garupa pelos cabelos. O meu avô agarrou aquela
franja negra ondulada dele com a mão esquerda e com
a direita dava uns sopapos nele.
Minha avó já estava na 5ª. Ave Maria e não saia do
lugar e eu, que era bem esperta, me agarrei no
avental dela e fiquei bem perto e bem quietinha.
O meu avô era um homem muito grande, um libanês de
1,90m de altura e devia pesar uns 100kg. Vestido
como policial parecia maior ainda. Brabo e gritando
então…
Ele veio da moto até a porta de casa dando tanto
safanão no moço, tanto tapa na orelha e falando e
gritando tanto que até aquela hora eu não entendi
nada. O filho tentava falar, mas não adiantava.
Apesar de não ser mais criança com seus 18 anos, os
clamores eram em vão.
Eu estava morrendo de vontade de perguntar para a
vovó o que o Tico tinha feito, mas estava com mais
medo de interromper do que curiosidade. Até que ouvi
uma frase do meu avô que me deixou mais curiosa
ainda:
- Para mim, Herói morto pode ser o filho de qualquer
vizinho. Prefiro que o meu filho seja um COVARDE
VIVO.
Depois de falar isso ele largou o pobre do meu tio e
entrou em casa. Minha avó foi lá cuidar do que eu
pude deduzir ser o “Herói QUASE morto” que estava
parado ao lado da casa, todo enlameado e arranhado.
Ele foi tomar um banho e minha avó fez vários
curativos nos braços e nas costas dele.
O que ele fez?
Bem, ele e os rapazes do bairro estavam tomando
banho no rio e um deles aventurou-se nas cavas, um
lugar perigoso, com areal no fundo. Só para se
exibir para as moças que estavam junto. Ficou preso
na mistura de areia, lama e galhos do fundo e estava
se afogando. Os outros companheiros não queriam ir
até lá porque sabiam do perigo, mas o Tico era
corajoso e foi salvar o amigo. Quase se afogou, pois
havia muitos galhos e aquele que estava preso se
agarrou nele e o estava puxando cada vez mais para o
lodo. Com muito custo conseguiu tirar o amigo para a
margem e quase que o meu tio é que se afoga.
Daí que o meu avô ficou muito irado, pois pela
bravura e coragem dele, o amigo seria salvo e ele
morreria. Por isso que ele disse que preferia um
filho covarde, mas VIVO.