MARIA NASCIMENTO
S. CARVALHO
“Existem praias tão lindas cheias de luz, / nenhuma tem o
encanto que tu possuis, / tuas areias, teu céu tão lindo, / tuas sereias
sempre sorrindo .../ Copacabana princesinha do mar, / pelas manhãs tu és
a vida a cantar / e à tardinha o sol poente / deixa sempre uma saudade
na gente ! / Copacabana, o mar eterno cantor / ao te beijar ficou
perdido de amor / e hoje vive a murmurar: / Só a ti Copacabana eu hei de
amar !...”.
Que linda canção de João de Barro, o Braguinha !
Combinámos o encontro com a nossa entrevistada na Praça Cardeal
Arcoverde, em frente à nova Estação do Metrô, que é das mais modernas do
mundo. Chegámos na hora marcada mas com dúvidas que a MARIA NASCIMENTO
SANTOS CARVALHO , fosse pontual; isto por os advogados terei certa fama
de chegarem sempre um pouco atrasados. Mas não, a nossa entrevistada
chegou na hora certa. – “Carlos, você conhece a Vista Chinesa ...?” –
não – respondemos nós. Pelo caminho pedimos a Maria Nascimento que nos
contasse um pouco de si: - “Nasci em Coruripe, no litoral sul do Estado
de Alagoas, aos 30 minutos de um dia 25 de Dezembro. Sou jornalista e
advogada, com o curso de pós-graduação em Direito Trabalhista, Direito
Civil e Processo Civil. Atualmente, encontro-me aposentada pelo Estado
do Rio de Janeiro, como Assessora Jurídica da Universidade do Rio de
Janeiro. Contudo, continuo prestando Serviço de Consultaria a um
Escritório de Advocacia. Recuando um pouco, direi que cheguei no Rio de
Janeiro, no dia 8 de Novembro de 1962, portanto ainda adolescente, sem
nenhuma perspectiva de trabalho, para morar numa casa em que não
conhecia nem nenhum membro da família, sem falar que o meu nível de
escolaridade (3º ano ginasial) estava muito aquém do exigido para sonhar
com um trabalho menos penoso. Na bagagem, de importante só havia a
infinita saudade da minha família e dos amigos, e um caderno de versos
que diziam ser para a minha idade, muito bons, mas eu nunca os publiquei.
Enfrentando meu desafio, corajosamente trabalhava de dia e estudava à
noite, com a maior dificuldade que se possa imaginar, mas Deus ajudou e
venci.. Terminei o curso básico, enfrentei o exame vestibular ... fiz
Faculdade de Comunicação, de Direito, etc. E fechando com chave de ouro
as portas do desafio, me casei com um dos mais premiados poetas
brasileiros, ÉLTON CARVALHO, General de Divisão e um amigo de todas as
horas. Considero-me muito amiga das pessoas que me cerca e considero a
Amizade um dos sentimentos mais nobres que um ser humano pode
experimentar, pois muitas vezes, ela é capaz de suplantar o próprio amor
... Em determinados casos, a amizade é tão forte que pode perdurar mesmo
após o declínio ou a morte do amor. O amor, quase sempre, faz cobranças
e a amizade se doa sem esperar recompensa. Por isso, meu amigo é sempre
como o meu parente mais próximo e procuro não me esquecer de que: O
amigo que estende a mão / nos momentos de perigo / é mais irmão que um
irmão / que não sabe ser amigo !... – “Carlos, posso continuar ...?”.
Pode, e deve, Maria Nascimento ! É sempre um prazer ouvir uma
encantadora senhora e mais, com a argumentação e fluidez de uma advogada
! – a nossa entrevistada sorriu dizendo: - “Você não procure ser
adulador !”. Foi a nossa vez de lhe dizer a sorrir: Adulador, não direi,
mas sim, realista !
“Eu não sou nenhuma santinha, mas as minhas qualidades superam os meus
defeitos, graças a Deus ! Certo dia, a minha prima Conceição, embora com
certo jeito para não magoar, me disse: Você é muito teimosa ... Diante
do defeito que me foi atribuído, eu fiquei radiante, porque a palavra
teimosia soou aos meus ouvidos como se fosse um elogio e dialoguei
comigo mesma dizendo: Maria ... você é que é feliz porque acredita que o
seu maior defeito é a teimosia ! Sou uma pessoa que adora cinema,
teatro, praia, uma boa leitura, andar à tardinha no calçadão de
Copacabana, dançar, escrever poesia, trovas, etc, e, principalmente,
telefonar para meus parentes e amigos ... Não saberia viver sem notícias
das pessoas queridas”.
Entretanto, chegámos à deslumbrante Vista Chinesa, com o Pão de Açúcar e
a Baía de Guanabara como fundo. É lindo, muitas vezes lindo. É um local
(dizemos nós) para inspiração da sensibilidade de um poeta ! Mas a
entrevista tinha de continuar. – Maria Nascimento, quando você era
criança ...?: - “Ah ! Faz tanto tempo !... melhor, já faz algum tempo
!... Mas lembro-me com saudade do tempo em que era criança. Meu pai
trabalhava de manhã à noite, por isso, via o sol nascer e morrer todos
os dias. Ele trabalhava de segunda-feira a Domingo, sem uma folga para
descansar, mas não perdia o seu bom humor, apesar da vida sacrificada
que levava. Adorava cantar “Sertaneja” e muitas outras músicas da época.
Eu queria crescer depressa para me tornar adulta, porque achava que só a
Carolina, minha irmão mais velha, tinha roupas bonitas. Dizia que ia ser
advogada, quando crescesse, mesmo não sabendo o que fazia um advogado,
porque o da cidade andava sempre bonito, com roupas novas. Além do mais,
acreditava que, quando ficasse adulta, não iria existir mais mortes, que
haviam descoberto um remédio e ninguém iria ficar doente, morrer. Quando
eu era criança, ficava muito preocupada sem saber porque minha mãe tinha
filho quase todo o ano. Quando não estava esperando neném estava às
voltas com as fraldas e as mamadeiras, o que resultou numa prole de 17
filhos”. – Muito bem, minha querida amiga. Resumindo, diga-nos como se
auto-define... ?: - “Bom, me sinto constrangida em responder ... Me
considero uma pessoa simples o bastante para pensar no meu semelhante e
tentar ajudá-lo na medida do possível. Se pudesse, eu ajudaria muito as
pessoas necessitadas, principalmente os velhinhos desamparados, porque a
idade é muito ingrata para quem envelhece e não tem recurso suficiente
para cuidar da saúde e se alimentar bem. Foi pensando nas pessoas idosas
pelas quais tenho tanto carinho e respeito que escrevi: Minha angústia
se insinua / ao ver tanta segurança / no olhar dos velhos de “rua” /
orfãos de amor e esperança ...”.
Estava na altura de descermos até à beira mar, para, antes do almoço,
dar uma passeata pelo calçadão sempre belo da Avª Atlântica, com os seus
lindos desenhos, feitos em grande parte por mestres calceteiros
portugueses. Corria uma ligeira brisa que tornava o ambiente ainda mais
belo. – Maria Nascimento, qual a característica que mais aprecia em si
...?: - “Carlos, você faz cada pergunta !!!” . – O que você como boa
advogada que é, além de jornalista, não tem qualquer dificuldade em
responder – argumentámos nós. A nossa entrevistada deu uma sonora
gargalhada e calmamente satisfez a nossa curiosidade: - “Até ao momento,
ainda não havia pensado no assunto. Mas como tenho que fazer uma
apreciação sobre mim mesma, creio que a minha característica mais
marcante, é, sem dúvida, a capacidade que tenho de fazer e conservar
amizades, demonstrando, quando necessário, meu espírito de solidariedade
e respeito pelas nossas possíveis diferenças. Aprendi com meu pai, que,
na vida, tudo ou quase tudo gira em torno da solidariedade e que só as
pessoas que a praticam são capazes de revelarem outros grandes
sentimentos, porque, segundo ele, a solidariedade é o primeiro degrau
para se tentar chegar próximo à virtude, inclusive, e principalmente, a
de fazer amigos. Realmente, só quem é solidário pode se doar,
desinteressadamente; pode amar, sabendo que o amor para sobreviver tem
de ser alimentado todos os dias; que afeto não se exige, se conquista;
que quem ama, respeita e ajuda o seu semelhante, tem motivos para se
sentir feliz. Em síntese, a maior prova de amor que se pode dar a
qualquer humano, especialmente aos menos favorecidos pela sorte, é
oferecer-lhes amizade, tratando-os condignamente, obedecendo o que dita
a minha consciência: Reparte o teu pão, teu vinho, / com o afeto mais
profundo / e farás do teu caminho / o mais florido do mundo ...”. – E
qual a característica que mais aprecia nos outros ...?: - “Respeito o
provérbio que diz: Cada um dá o que tem!. Evidentemente quando se é
jovem, se busca, às vezes, características que por si só, não têm o
menor valor prático ... que não passam de simples detalhes. Com a
maturidade, e experiência, nos mostra que devemos ser mais tolerantes,
aceitando as qualidades dos outros como um presente e para nós, que com
eles convivemos. Quanto aos possíveis defeitos, devemos tentar fingir
que os desconhecemos, levando em conta que também temos as nossas
imperfeições ... E, como não sei consertar nem as minhas falhas,
simplesmente digo: “Em face da discrepância / existente entre os
conceitos, / procuro sempre distância / dos que se julgam perfeitos”.
Baseada no provérbio e na experiência adquirida ao longo da vida, não
poderia deixar de apreciar características como a honradez, porque nela
estão embutidas, também, muitas outras qualidades, inclusive a
solidariedade, a amizade e muitos outros predicados que rimam com “ade”
“.
Parámos em frente do restaurante onde tínhamos encomendado o almoço, o
Sobre as Ondas, na esquina da rua Miguel Lemos. Começámos por uns frutos
do mar, depois uma prato de carne cozida acompanhada por uma enorme
variedade de legumes e verduras. Tudo acompanhado por vinho suave do sul
de Brasil. Durante o repasto aproveitámos para continuar a entrevista,
entrando em novos capítulos, como Autores e Livros Preferidos ...?: -
“Tendo em vista o grande número de autores e seus livros fantásticos,
torna-se quase impossível apontar os que mais aprecio, sem cometer
grandes injustiças, porém, como tenho que citar alguns, elegi, sem ordem
de preferência: “Uma História de Amor” , Erich Segal ; “O Prémio”,
Irving Wallace ; “O Príncipe e o Mendigo”, Mark Twain; “Cem Anos de
Solidão”, Gabriel Garcia Márquez; “As Sandálias do Pescador”, Morris
West ; “Papillon”, Henri Charrière ; “O Velho e o Mar”, Ernest
Hemingway; “O Caso dos Exploradores de Cavernas”, Lon L. Fuller; “O
Morro dos Ventos Uivantes”, Emily Brontë; “Vida Depois da Vida”, Raymond
Moody Jr. ; “Os Maias” e a “Relíquia”, Eça de Queirós. Dos brasileiros:
“Os Pastores da Noite” e o “Mar Morto” de Jorge Amado; “A Companheira de
Viagem”, Fernando Sabino; “O Cortiço”, Aluísio de Azevedo; “Obras
Completas”, Monteiro Lobato; “Angústia” e as “Memórias de Cáceres”,
Graciliano Ramos; e muito mais ...” – E passando à música,
sinteticamente pode referir alguns Autores e músicas preferidas ...?: -
“Existe uma infinidade de músicas que gostaria de citar, mas passaria,
por certo, um dia inteiro a relacionando-as. Eis um punhado delas: “Io
che amo solo te”, Sérgio Endrigo; “Ma vie”, Alain Barrière; “”Dio come
ti amo”, Domenico Madugno; “Ave Maria”, Gounoud; “Ave Maria”, Schubert;
“Al di lá”, Donida; “O sole mio”, Di C. Capurro; “Limelight, Charles
Chaplin; e muitíssimos outros. Da música brasileira: “Lembra de Mim”,
Ivan Lins / Vitor Martins; “Quando eu digo que te amo” e “Emoções” ,
Roberto Carlos / Erasmo Carlos; “Eu nunca mais vou te esquecer”, Moacyr
Franco; “Bandolins”, Oswaldo Montenegro”; “Aquarela do Brasil”, Ary
Barroso; “Carinhoso”, Pixinguinha / João de Barro “o Braginha”; “Eu sei
que te vou amar”, Tom Jobim / Vinícius de Moraes; assim como “Eu não
existo para você” dos mesmos autores; “Como vai você”, António Marcos /
Mário Marcos; “Impossível acreditar em você”, Márcio Greyck; “Volta para
mim”, Cleberson Horsth / Ricardo Feghali; “Outra vez”, Isolda; e muitos,
muitos outros”. – E qual o filme comercial que mais gostou ...?: -
“Realmente é uma tarefa, digamos, quase impossível de ser realizada ...
Contudo, dada a necessidade de optar por um deles, fico com o Titanic,
não pelo seu desfecho, pois lhe faltou um final totalmente feliz, mas
pela imensa carga de emoção que nos transmitiu e por sua reconhecida
grandiosidade”.
Depois do almoço ( excelente almoço, digamos) o ambiente estava a
tornar-se um tanto ou quanto pesado. Convencionámos sair e passear mais
uma vez no calçadão, com o ar marítimo e belas “exposições” na areia.
Escolhemos o lado esquerdo, ou seja, para os lados do Leme onde parámos
na esplanada do Sindicato do Chope, onde terminámos a entrevista. –
Enquanto esperamos pelo seu batido de “H 2 0” e pela minha cerveja,
diga-nos que gênero de filme daria sua vida ...?: - “Carlos ! não me
faça rir novamente, pois, nunca pensei transformar minha vida em filme
... Contudo, já pensei voltar a escrever meu livro de memórias iniciado
em 1969, quando meu pai faleceu prematuramente. Como sou muito romântica,
se imaginasse um filme que se relacionasse com a minha vida, com certeza
seria uma grande história de amor ... Amor por tudo ou quase tudo que
Deus, caprichosamente, deixou sobre a Terra. E como seria um filme
exclusivamente como amor, seu título, com certeza, seria “Confissões de
Amor” ...”. – Maria Nascimento, por falar em “amores”, como vai você de
amores ...?: - “Eu ?! ... Vou muito bem, obrigada ... Amo a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo ... como determina um dos
“Mandamentos da Lei de Deus”. Amo a natureza com todas as maravilhas que
ela nos apresenta. Amo meus familiares, amo meus amigos, claro ! Amo o
Dom de Deus me deu de fazer poesias. Enfim, amo demais a vida, não
importa se ela está calma ou turbulenta, o que importa é não esquecer
que a vida é o maior presente divino que me leva a dizer: Mesmo sem
forças, vencida, / sem ter o que sempre quis, / eu amo demais a Vida /
como se fosse feliz !”. Mais uma vez saímos do esplanada para entrar no
já nosso conhecido calçadão. Só que desta vez, para o lado direito em
direcção ao Leblon. Tanto nós como a nossa entrevistada, tínhamos
compromissos para esse dia. Nós queríamos dar aquele abraço” aos nossos
queridos amigos e eternos namorados Luíz Carlos e Irene Serra; e jantar
com a nossa querida amiga de sempre, a Gladis, no chamado “nosso”
restaurante “Fascínio da Lua”, em Tijuca. Esta pois, na altura de fazer
a parte final desta entrevista com a Maria Nascimento Santos Carvalho. –
Fale-nos da sua obra literária, Maria Nascimento ...?: - “Carlos, vá
tomando nota: “Batel de Fantasias” com 150 trovas (líricas e
filosóficas) e 50 (humorísticas) 1973; “Preces de Amor” com 200 trovas
(líricas e filosóficas) e 50 (humorísticas) 1978; “Confissões de Amor”
com 26 sonetos, 21 poesias modernas, (versos brancos) 1 poema, Ode a
Coruripe, em homenagem à minha terra natal, 140 trovas (líricas e
filosóficas) e 40 (humorísticas, com os subtítulos: Via Crucis, Caminhos,
Garimpo de Sonhos e Estro – piadas ! (1989). Promessas de Amor é o livro
a ser publicado, obedecendo aos moldes de “Confissões de Amor”. Mas
Carlos, meus trabalhos foram publicados em inúmeros jornais, revistas e
coletâneas, sendo a mais recente a “Evangelho da Trova”, que contém 6
trovas filosóficas de cada trovador, coordenada pelo trovador José
Fabiano, de Belo Horizonte (MG). As minhas primeiras trovas que foram
publicadas, então contidas no livro “Portugal Atlântico – Brasil” de
Amândio Marques (que me descobriu como trovadora) uma edição do Grupo de
Estudos Brasileiros do Porto, que versa sobre os “Aspectos do Brasil e a
Vida Social Brasileira” de 1965.
Assim falámos de MARIA NASCIMENTO SANTOS CARVALHO
http://www.easyline.com.br/manascimento
Advogada, jornalista, trovadora, que, quando lhe perguntámos: - Deus
existe ...?, nos respondeu: - “ Claro que existe ! Como não acreditar na
existência de Deus se todas as maravilhas contidas no Universo foram
arquitetadas por Ele ? São tantas as evidências da existência de Deus
que minha vida seria imensamente curta para descrevê-las. Assim sendo,
prefiro professar minha crença na existência Dele, afirmando:
“Nas minhas preces, contrita, / pelo milagre da crença, / não vejo Deus,
que me fita, / mas sinto a Sua presença.
Aquele que um Deus aceita / e encontra a paz nos seus ritos / nem sente
que a vida é feita / de um turbilhão de conflitos.
Às vezes, tudo exigimos / que Deus faça a todo custo / sem pensar que o
que pedimos / Tornaria Deus Injusto.
Se a sorte vai aonde eu vou, / agradeço, enternecida, / à Mão de Deus
que traçou / os rumos da minha vida.
Protegendo os inocentes / é que Deus, sábio demais, / põe cenários
diferentes / nas impressões digitais ... “.