|
José Félix
|
 |
Mora no Cacém (Portugal) a
poucos quilómetros da sela Sintra. Todos os dias
pode ver a serra, desde o seu ponto mais alto, a
Cruz Alta, onde se pode admirar um surpreendente
panorama desde a parte ocidental de Lisboa,
Estoril, Cascais e parte do Guincho; na margem
esquerda a cidade de Almada (com seu Cristo-Rei),
Trafaria, Costa da Caparica, Fonte da Telha e,
seu o dia estiver claro até os contrafortes da
serra da Arrábida. Noutro monte o Palácio da
Pena ; só não poderá ver o Palácio da Condessa (D’ella)
o grande amor de D. Fernando ll nem o Convento
dos Capuchos mandado construir pelo filho de D.
João de Castro (vice-rei da Índia). É um lugar
fora do comum onde conta a tradição Frei Honório
ali viveu 33 anos alimentando-se só de ervas e
água. Sintra no dizer de Lord Byron “é um dos
jardins do Éden”. Camilo Castelo Branco chamou-lhe
“paraíso terreal”.
O nosso entrevistado nasceu na bela capital de
Angola (a devastada Angola com seu povo mártir),
no dia 9 de Novembro de 1946 (do signo Escorpião:”...
impõem as suas próprias normas, mas se os
obrigam a actuar de uma determinada maneira, são
capazes de jogar com dois baralhos, como forma
de satisfazer os seus impulsos ...”. Descende de
judeus sefarditas com origem em Trás-os-Montes e
da 3ª geração em África. Não anima qualquer tipo
de religiosidade, além de alguns ensinamentos
transmitidos por sua mãe, àcerca de algumas
práticas do judaismo que só o estudo posterior
lhe confirmou.
A terra vermelha, as cores da geografia onde
nasceu, o mar, o grande espaço, a diversidade
cultural de um país como Angola estão sempre
presentes na sua vivência de hoje, que transmite
nas mais simples conversas que mantém, quer com
familiares, quer com amigos que por aí encontra.
As gentes de Angola são diversas, havendo
variadas línguas, quantas culturas, qual delas
as mais ricas, desde os Ambakas, Tchoukués,
Ganguelas e Mukankalas, aos Bosquimanos,
Cabindas, Luenas e muitos outros.
Estamos a falar de JOSÉ FÉLIX
http://www.terravista.pt/1701
“A minha infância foi despreocupada, ao lado de
um rio, Rio Seco, que só corria quando chovia e
que desaguava na Samba Pequena. Tudo bem perto
de minha casa com um quintal que, quando a maré
enchia, o mar entrava pela casa dentro,
inundando as bananeiras, mamoeiros, goiabeiras,
pitangueiras e macieiras da Índia. Hoje
permanece na memória, nada disso existe.
Estudei no colégio João das Regras até à 4ª
classe, ingressei depois no Liceu Salvador
Correia de Sá, em Luanda; depois do 7º ano (antigo),
concorri para a Administração e fui Adjunto de
Administração de Posto em Calomboloca, cerca de
120 Kms da capital; aí era a autoridade máxima
do Estado, podia casar, cobrar impostos e
tratava da Administração Pública de cerca de
onze aldeias. Foi um período curto, um ano, em
que o conhecimento adquirido originou o meu
pedido de exoneração, por conhecer a língua
local e saber os “tramas” que se delineavam em
prol da independência do país. Tive que vir
assentar praça em Portugal, 1966 onde tirei o
curso de Controlador de Tráfego Aéreo e depois
fui para a Base Americana das Lages durante o
período negro da guerra do Vietnam.
Os ídolos da minha adolescência foram: Che
Guevara, Ho Chi Min, faziam parte do meu
imaginário, juntamente com ídolos musicais como
Jimmy Hendrix, Chuck Berry, Louis Armstrong,
mais tarde os Beatles”.
E continuou:
“Trabalho, presentemente, numa empresa agro-pecuária
como consultor, apesar do meu curso de História
pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova, em Lisboa.
Quando terminei o curso de História e porque já
tinha e tenho bem presente o que eu quero do
ensino, este nunca me atraiu, pela incongruência
dos programas do Ensino Secundário, onde os
alunos são induzidos a adquirir saber, mas sim a
“empinar” uma série de conceitos “feitos” e sem
sentido. Concebo o ensino e a educação em geral,
como uma actividade lúdica, o que não acontece
com os métodos seguidos até hoje, em Portugal.
Contudo, faço alguns trabalhos nesse campo, pois
nunca cortei o cordão umbilical que me liga à
Universidade. Se considerar a escrita como
actividade lúdica, sim, é a maior actividade que
tenho fora do contexto profissional, ou seja, a
actividade que me dá o pão para sobreviver”.
- Sua filosofia ?
“Não tenho uma filosofia em particular. Sou
crente na minha lídima individualidade e, como
tal, respeito a individualidade dos outros,
mesmo inserida no colectivo; porque há
colectivos com individualidade própria. O que
não aceito é que, mesmo havendo colectivos com
individualidade própria, por serem-no, porque
não há o “um” mas há o “vários”, esses, não
devem de modo algum sobrepôr-se à
individualidade do “um”.
-Suas metas a atingir e já atingidas ?
“Não tenho metas a atingir, nem metas atingidas.
A curta temporalidade da vida não me dá tempo
sequer para pensar em atingir metas. Atingir
metas, para mim, é uma subversão da existência.
Contudo faço algumas coisas que, por fazê-las
vão dar a caminhos, ruas, avenidas,
auto-estradas, etc. Por exemplo, tenho uma
página na Internet, Encontros de Escrita (http://www.terravista.pt/mussulo/1701)
,
onde já tenho mais de uma centena de
assinantes residentes que divulgam o que
escrevem e se faz discussão poética. Através da
discussão e divulgação de poesia nas listas já
publiquei na Editorial Minerva em Poiesis ll,
Poiesis III e a Antologia Incomensurável (Poesia
a Treze) dirigida por Ângelo Rodrigues e com o
selo do PD do Forum-PD, dirigido pela querida
Asta Vonzodas, entrei numa antologia
“Horizontes” com quatro poemas Estou também na
Antologia “Inspiração Erótica” e “Sensualidade
da Língua” do Clube Jundiaiense dirigido por
Douglas Mondo “Espelhos da Língua”, antologia da
Sociedade de Escritores de Blumenau dirigida
pelo meu querido amigo Tchello de Barros. De
resto tenho trabalhos em várias páginas na
Internet , nomeadamente da NON, Crítica &
Intervenção, “Leituras”, de poesia, com dois
poemas meus”.
“- O que mais aprecio nos outros? ...: a Verdade
! porque sou amante dela”. Para mim o dia começa
bem “se a palavra me acorda”. Como soe dizer,
sou um “bom garfo”: a comida africana está acima
de qualquer suspeita e o “prato” de que mais
gosto é o “fungi de peixe” e o “muzungué”.
-Deus existe ?
“Prefiro pensar na existência do homem”.
-E para terminar ?
“Um haicai, homenageando Matsuo Bashô
Gota a gota cai
da folha da cameleira
a noite de orvalho”
um dia disseste-me que tinhas a noite
agarrada ao peito como se acendesses
o pólen da flor, a nua madrugada
de lua e de sol no copo de gin.
procuravas a água, frágil transparência
de palavras que iam num eco de gritos,
e o gesto das mãos um longínquo tango
dançava no aplauso de raro silêncio.
disseste de ti e da natureza
da voz impossível com que te passeias
na bainha da página, numa água em gota
tão imponderável de simples beleza.
na contemplação das coisas inúteis
havia uma aurora presa no crepúsculo.
o fogo da flor no olhar e na fala.
E assim falámos de JOSÉ
FÉLIX
Formato de entrevista virtual de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande -
Portugal
|
|

Envie
esta Página aos Amigos:





Por favor, assine o Livro de Visitas:

Todos os direitos reservados a
Carlos Leite Ribeiro
Página criado por Iara Melo http://www.iaramelo.com
|