Depois de ter combinado, telefonicamente a
entrevista com a Ilda Brasil, dirigi-me para o Aeroporto Hercilio
Luz, em Florianópolis/SC e uma hora depois desembarquei no Aeroporto
Salgado Filho, em Porto Alegre/RS, onde a entrevistada me esperava.
Durante a viagem consultei uns apontamentos
para se situar sobre a história de Porto Alegre: “ (…)a região onde
se ergue Porto Alegre era primitivamente habitada pelos indígenas
tapes Minuano. Com o estabelecimento do Tratado de Tordesilhas em
1494, e com a posterior descoberta do Brasil em 1500, cujo
território ficava dividido pela linha demarcada pelo Tratado, a
região sob domínio português terminava na altura de Laguna, em Santa
Catarina, e o Rio Grande do Sul foi povoado inicialmente por
espanhóis que, entretanto, se concentraram na região das Missões
(…).
Depois das apresentações e saudações,
entrámos no carro da Ilda Brasil e pedi à entrevistada que me
falasse um pouco da cidade de Porto Alegre - RS.
Ilda: - Há muitos anos moro na Capital do
Rio Grande do Sul, Estado localizado no extremo sul do País, que faz
fronteira com a Argentina e o Uruguai e que sempre ocupou lugar de
destaque no cenário nacional. As belezas naturais de Porto Alegre
são indescritíveis: praças arborizadas, parques nativos e morros que
atraem e encantam a todos.
Com o passar dos anos e, conseqüentemente, com a expansão da cidade,
novos bairros começaram a se formar; cada um com uma infraestrutura
muito peculiar. O Bairro Santana, onde, há três anos, resido, no
século passado, não passava de um banhado. No local havia poucas
casas distribuídas pela sua rua principal, a Santana. Hoje, nele se
misturam casas, edifícios e casas comerciais.
Carlos, vamos até ao Jardim Botânico?
Concordei e foi aí que iniciámos esta
entrevista.
CEN: - Como a Ilda se auto-define?
Ilda: - Uma educadora que acredita que o
mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e de definir
com clareza os seus objetivos. Ora canta a vida através da poesia,
ora traça uma prosa que desperta para o amor ao próximo e à natureza,
pautando sentimentos e emoções em vivências agradáveis e saudáveis.
CEN: - Quando era criança ?
Ilda: - Curtia tudo, desde o canto dos
pássaros ao coaxar dos sapos; corria e rolava na grama alegremente;
ouvia fascinada, o farfalhar das folhas provocado pelo vento, o que
acreditava ser um som emitido pelos anjos. Infância... Irmão,
primos, amigos, garoa, cheiro de mato e de terra molhada, brisa no
rosto, pipocas, gemadas, choros e risos.
Em meu universo infantil não havia tempestades, embora muitas
situações imprevisíveis e inesperadas tenham ocorrido. Nada era
impossível. Para cada fato, uma solução, uma saída. Minhas idéias
borbulhavam e, por serem muitas e o tempo correr velozmente, nem
sempre eu conseguia colocá-las em prática. Meu dia-a-dia era um
constante inovar, não havia mesmice nem rotina. Brincadeiras,
travessuras, risos, choros, banhos de açude, fruta do pé, leite com
canela, cambalhotas em cima das sacas de trigo, rodas de fogo no
galpão, bonecos de barro e de massa de pão, poças de lama, tudo era
fonte de deleite e prazer. Infância - um velejar em águas de grandes
emoções.
CEN: - Uma imagem do passado que não quer
esquecer no futuro ?
Ilda: - O nascimento dos meus filhos: Ana
Paula, em 21/09/72, Santa Maria/RS; Gustavo, em 05/03/74, Santa
Cruz do Sul/RS; Roberto, em 28/03/75, Tramandaí/RS; Simone, em
11/09/76, Santa Cruz do Sul/RS.
CEN: - De que mais se orgulha ?
Ilda: - Dos meus netos, Kahuã - Victória e
Derek, gostarem de ler e escrever.
CEN: - Qual a personagem que mais admira ?
Ilda: - Minha mãe, que sempre esteve e,
ainda, está atenta à história que nós, seus familiares, estamos
construindo. É coragem, amor, verdade, perseverança e muita
afetividade.
CEN: - O maior desafio que aceitou até hoje
?
Ilda: - Fazer voluntariado numa instituição
de crianças e adultos especiais.
CEN: - Qual a característica que mais
aprecia em si, e, nos outros ?
Ilda: - Em mim, a sinceridade; nos outros,
a responsabilidade.
CEN: - E o cúmulo da beleza, e, da fealdade
?
Ilda: - Beleza, o beija-for; da fealdade, a
hipocrisia.
CEN: - Que vício gostaria de não ter ?
Ilda: - Comer doces diariamente.
CEN: - Prato e bebida preferida ?
Ilda: - Lasanha e suco.
A conversa estava muito agradável e quase
nem demos que tinha chegado a hora do almoço.
Fomos até à Avª. Ramiro Barcelos (Floresta)
onde se situa o restaurante “Na Brasa”. No percurso perguntei a Ilda
Brasil em que dia do ano e mês tinha nascido. Respondeu que tinha
nascido a 4 de Março. Sorri e disse-lhe que tinha nascido um dia
depois. A Ilda riu e replicou que seu filho Gustavo tinha também
nascido a 5 de Março.
Encomendámos lasanha e sucos além de vários
doces. Disse-lhe por graça que não era guloso, mas que os doces me
atraiam irresistivelmente.
Enquanto esperávamos pela refeição,
continuámos a entrevista.
CEN: - Para a Ilda, qual a sua melhor
qualidade, e, defeito ?
Ilda: - autenticidade a melhor qualidade;
maior defeito, o perfeccionismo.
CEN: - O arrependimento mata ?
Ilda: - Creio que não; mas, certamente,
gera muitas inquietações e desconforto.
CEN: - Seus passatempos preferidos ?
Ilda: - Ler, escrever e incentivar jovens a
escreverem.
CEN: - Em sua opinião, as piadas às louras
são injustas ?
Ilda: - Sim, além de desrespeitosas e de
péssimo gosto.
CEN: - Que influência tem em si a queda da
folha e a chegada do frio ?
Ilda: - Tanto o outono quanto o inverno
transmitem-me uma intensa sensação de paz e felicidade, assim como
de harmonia e calor humano.
CEN: - Para si, o dia começa bem se …?
Ilda: - Quando o amanhecer porto-alegrense
traça, no horizonte, um painel belíssimo e multicolorido; é
ensolarado; sopra uma agradável brisa e as árvores aromatizam as
ruas e os parques de nossa capital.
CEN: - Qual o filme comercial que mais
gostou ?
Ilda: - Nenhum despertou a minha atenção.
Depois da refeição fomos dar uma volta pela
bela cidade de Porto Alegre. E contunuámos a entrevista.
CEN: - A Ilda Brasil acredita em fantasmas
(ou almas do outro mundo) e em Histórias fantásticas ?
Ilda: - Não.
CEN: - E na reencarnação ?
Ilda: Sim.
CEN: - O que é para você o termo esoterismo
?
Ilda: - É uma doutrina que se fundamenta em
fenômenos sobrenaturais e cujos princípios são ensinados aos
simpatizantes ou interessados.
CEN: - O imaginário será um sonho da
realidade ?
Ilda: - Imaginário e realidade se confundem
num jogo interessante do ato de viver com sabedoria, magia e
encantamento.
CEN: - Para a Ilda, Deus existe ?
Ilda: - Sim. É solidariedade, amor e
fraternidade.
CEN: - Que livro anda a ler ?
Ilda: - “A cidade do sol”, de Khaled
Hosseini e “O silêncio dos amantes”, de Lya Luft.
CEN: - A cultura será uma botija de
oxigénio ?
Ilda: - Sim, pois cultura é vida,
descoberta, aceitação, aprendizado, buscas, certezas e incertezas
que nos fazem crescer e encontrar caminhos de realizações.
Quando chegámos à rua General Câmara
(Centro da cidade), entrámos no Bar Chopp Tuim, onde fizemos a
última parte desta entrevista.
CEN: - Ilda, falando de música, quais os
autores e interpretes mais aprecia ?
Ilda: - Aprecio músicas clássicas e as do
MPB. Destaco: Elis Regina, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico
Buarque, Renato Russo, Herbert Viana e Arnaldo Antunes.
CEN: - E entre autores e livros preferidos
?
Ilda: - Entre os muitos autores nacionais e
internacionais, tenho preferência por Victor Hugo, Machado de Assis,
Luis Antonio de Assis Brasil, Moacyr Scliar, Luís Fernando Verissimo,
Milton Hatoum, Rubem Alves, Walcyr Carrasco e Bartolomeu Campos de
Queirós.
Da galeria de obras que aprecio, destacam-se: Incidente em Antares,
de Erico Verissimo; As Torrentes de Santa Clara, Liberato Vieira da
Cunha; Os Miseráveis, de Victor Hugo; O inspetor geral, de Nicolau
Gogol e A Saga do Gaúcho Martín Fierro, de José Hernandez.
CEN: - E vamos falar de sua obra literária
?
Ilda: - São Poemas, Contos e Crónicas. Sou
autora de:
*2005: “Pragas e Anjos? Uma História
Especial" (Conto), Editora Alcance, Porto Alegre/RS;
*2006: “Chave e Fechadura: Uma História de Descobertas!” (Conto),
Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro/RJ;
*2007: “A Magia do Encontro” (Contos e Crônicas); “Emoções e Arte” (Poesia);
“Lembranças e Vivências” (Poesia); "Peças e Um Mesmo Tabuleiro: Uma
História Ímpar!" (Conto), Câmara Brasileira de Jovens Escritores,
Rio de Janeiro/RJ.
Organizadora:
*2002: "A Palavra como Arte e Expressão", Alunos do Colégio Conhecer,
Porto Alegre/RS, Editora Alcance, Porto Alegre/RS;
*2006: "Três Gotas de Poesia – Haicais”, Alunos do Ensino Médio do
Colégio Estadual Júlio de Castilhos, Porto Alegre/RS, Câmara
Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro/RJ;
*2007: "Olhares: Crônicas Escolares", Alunos da 1ª Série do Ensino
Médio do Colégio Conhecer, Porto Alegre/RS, Câmara Brasileira de
Jovens Escritores, Rio de Janeiro/RJ;
*2008: E-Book "Palavras, uma Linguagem Viva!", Alunos da 2ª Série do
Ensino Médio do Colégio Conhecer, Porto Alegre/RS, Edição e
Composição: Sonia Orsiolli, Sorocaba/SP.
CEN: - Como se auto considera Escritora ?
Ilda: - O ato de escrever tem me propiciado
um fascinante exercício intelectual, além de aguçar a minha
subjetividade e me ensinar a lidar com as adversidades da vida,
sendo, muitas vezes, um refúgio, um ombro amigo e, acima de tudo, um
caminho de encantamento e de magia.
A cada produção, o ensejo da descoberta e, conseqüentemente,
conhecimento e realizações, uma vez que cada momento é um andar
novo, repleto de mistérios e de surpresas, necessário para viver e
encontrar ecos para as novas aspirações.
Assim, falámos de:
Ilda Maria Costa Brasil
www.avspe.eti.br/avspe/poeta1/ilda.htm
Nascida a 4 de Março de 1949
Professora de Literatura, Língua Portuguesa
e Redação
Olhar Andarilho! - Ilda Maria Costa
Brasil - Porto Alegre - RS
Um olhar andarilho vaga entre as montanhas em busca
de respostas. O que estará a procurar? Paz? Dignidade?
Não sei! Talvez, amor, segurança ou a solução para o caos
em que se encontra a Terra pela ausência de bons valores.
Entre sonhos e esperança, nesse misterioso momento,
o olhar andarilho, após muito percorrer, acaba de entrar,
profundamente, em minh’alma e resgatar o seu brilho
em meio aos meus sentimentos, emoções e vivências.
Oh, houve ocasiões em que esse olhar parou e se fixou
em diversos pontos, ficando ora desolado ora cabisbaixo,
embora um dia, transmitira beleza, encanto e intensa luz.
Felizmente, o condão da poesia, em tempo, transformou
esse olhar, pois, como a natureza, vagou, por muito, aflito,
desolado, triste, decepcionado, obscuro, magoado e sofrido.