Depois de várias
tentativas para marcar esta entrevista com a Benedita Azevedo,
chegamos a acordo do nosso encontro seria no conhecidíssimo Bar
Amarelinho, na Lapa da Cidade Maravilhosa de São Sebastião do Rio de
Janeiro, e bem perto da apartamento da Benedita nesta cidade. O bar
fica perto dos Arcos da Lapa entraram para a história como a obra
mais monumental empreendida no Rio nos tempos coloniais. Construídos
para funcionar como aquedutos, hoje os Arcos servem de viaduto para
uma outra grande atracção: os bondinhos
que ligam a Estação da Carioca ao aprazível bairro de Santa Teresa.
Ao entrar neste bar,
sorri ao lembrar-me um delicioso episódio que se passou aqui, em
Junho de 2004. Um querida amiga ao querer dar-me um beijo no rosto,
escorregou e os lábios dela só pararam no meu paletó.
Sentámo-nos numa
mesa para beber uns sumos de frutas. Aproveitei para perguntar à
Benedita onde é que de facto ela morava.
Bene:
- Olha Carlos,
Tenho duas moradas: De
sábado a terça-feira moro em Guia de Pacobaíba,
5º Distrito de Magé
- RJ. De 4ª a 6ª feira, moro à Rua Evaristo da Veiga, Lapa,
Rio de Janeiro.
Por comum acordo,
fomos apanhar o bondinho na Rua Senador
Dantas, no Centro do Rio de Janeiro, próxima à
Cinelândia, atrás do grande prédio do Banco do
Brasil. Bondinho
este que nos levou até ao bairro de Santa Teresa.
A viagem de
bondinho é muito engraçada, em alguns
trechos do percurso dá-nos a ilusão de estarmos num coche puxado a
cavalos numa calçada portuguesa. Aproveitei para pedir à
entrevistada que nos falasse um pouco de Guia de
Pacobaíba, o que ela logo acedeu.
Bene:
- O atual município tem origem no
povoado de Magepe-Mirim, fundado em 1566
pelos colonos portugueses. Possuía um dos principais portos da
região onde muitos navios negreiros descarregavam os escravos. Em
1696 foi criada a freguesia e em 1789 o concelho, com a designação
atual. A vila foi elevada a cidade em
1857. Durante a monarquia foi criado o baronato de
Magé em 1810. Este foi elevado a
viscondado em 1811.
Seus atrativos naturais como reserva de
Mata Atlântica, cachoeiras, montanhas, vales, rios,
manguezais e extensa área verde, que
emolduram uma paisagem exuberante para onde quer que se olhe. O
patrimônio histórico do município de
Magé é compreendido por diversos pontos
turísticos e históricos, com destaque para igrejas seculares e
monumentos religiosos.
A sede da Prefeitura de Magé funciona no
Palácio Anchieta localizado à Praça Dr. Nilo
Peçanha, s/n, Centro -
Magé – RJ. Em frente ao palácio há uma
estátua do Jesuíta.
Dentre os seus pontos turísticos, podemos citar o Poço Bento, com
água benta pelo Jesuíta José de Anchieta. Outro
atrativo é a primeira Estrada de Ferro do Brasil em Guia de
Pacobaíba, hoje
desativada, mas que outrora fazia a ligação com a cidade de
Petrópolis. A família imperial tomava uma barca no Rio de Janeiro em
direção à Guia de
Pacobaíba e de lá tomava o trem para a cidade imperial. Tal
ferrovia é por exemplo citada por Machado de Assis em seu livro
Memorial de Aires, exemplar do Realismo. Por fim, chegámos ao lindo
bairro de Santa Teresa.
O bairro de Santa
Teresa surgiu a partir do convento de mesmo nome, no século XVIII.
Ele foi inicialmente habitado pela classe alta da época, numa das
primeiras expansões da cidade para fora do núcleo inicial de
povoamento, no Centro da cidade. Surgiram, então, vários casarões e
mansões inspirados na arquitectura francesa da época, muitos dos
quais estão de pé até hoje.
Santa Teresa é um
dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro. Um bairro
repleto de construções curiosas, misturando estilos e desafiando a
geografia acidentada do morro que abriga o bairro e que circula boa
parte da cidade do Rio de Janeiro.
Bondinho de Santa Teresa
- Em plena actividade, é um dos
principais atractivos do bairro.
Casas coladas uma nas outras, jardins internos, outro grande
atractivo do bairro é conhecer as soluções arquitectónicas das
casas. Uma boa oportunidade para quem
não tem conhecidos no bairro é através do "Arte de Portas Abertas"
um evento anual, cada vez mais bem organizado, que abre as portas
das casas dos inúmeros artistas com residência ou com ateliês por
lá.
O Largo dos Guimarães concentra a maioria das actividades jovens,
com vários bares, lojas de artesanato e muito movimento. Mantém uma
simplicidade poética.
Fomos até à rua
Almirante Alexandrino e almoçámos no Bar do
Arnaudo. No cardápio escolhemos bacalhau assado
no brasa e para bebida um vinho tinto
suave do Sul do Brasil.
Ali começámos
propriamente dito a entrevista.
CEN: - Benedita, sua
melhor qualidade, e, seu maior defeito?
Bene:
- Qualidade, a persistência de buscar novos caminhos, novos
projetos, novos desafios. Defeito,
acreditar que as pessoas são boas, até que se prove o contrário.
Tenho levado algumas rasteiras.
CEN: - A Benedita
escritora. Fale-nos da sua obra, está de Acordo
?
Bene:
- Romances, contos, crônicas, poesia
Livros solo: 1.
Marista, 60 anos a serviço da comunidade
maranhense (1985); 2. Voltando a viver (2000); 3.
Trajetória (2001); 4.
Shena e Hércules (infantil – 2002); 5. O
dia-a-dia de uma professora (2004); 6. Nas Trilhas do
Haicai -
poesia (2004); 7. Fatalidades da Vida (2006); 8. Novo Desafio
(2006); 9. Canto de Sabiá -
Haikai (2006); 10. Praia do Anil –
Haikai (2006); 11. Gotas de Orvalho –
Haikais (2007); 12. Crescimento Pessoal
(no prelo).
Antologias: Pesadelo (crônica):
Antologia “Outonos” (2001; Autora e coordenadora do
Projeto: Escritores do Colégio Estadual
Mauá. Livros I (oficina com alunos)
(2002); Coord. do
Projeto:
Escritores do Colégio Estadual Mauá.
Livro II (oficina com alunos) (2003); Projeto
e Organização da Antologia em Prosa e Verso da Academia
Mageense de Letras (2003); Organizadora
da II Antologia em Prosa e Verso da AML (2004); Organizadora da III
Antologia em Prosa e Verso da AML (2005); Organizadora da VIII
Antologia da APALA (2006); Conto: II Antologia do Portal CEN (2006);
Poesias: Antologia “Poetas do Brasil”, Ademir
Bacca, Bento Gonçalves
- RGS (2006); Poesias: Antologia Poetas
pela Paz e Justiça Social – Editora Alcance -
RGS (2006) Conto: Revista Informativa e Cultural da ALAP (2006);
Conto: XVI Antologia da Academia de Letras e Artes do
Paranapoã (2006); Poesias: Antologia da
Oficina Editores, APPERJ (2006); Poesias: Antologia Bienal mais,
APERJ (2006); Haikais: Revista Brasil
Nikkei Bungaku
Nº. 23, SP (2006); Haikais: Revista
Brasil Nikkei
Bungaku Nº. 24, SP (2006); Crônica:
Revista Informativa e Cultural da ALAP, RJ (2007);
Haikais: Revista Brasil
Nikkei Bungaku
Nº. 27, SP (2007); Poesias: Antologia da Oficina Editores, APPERJ
(2008); Poesias: Antologia de Poetas Del
Mundo V. I (2008); Poesias: III Antologia do Portal
CEN.
*Participação em várias antologias virtuais e cirandas
*Tenho trabalhos publicados em jornais, revistas e sites.
*Meus haicais são
selecionados, quinzenalmente, para publicação no Jornal
Nippo-Brasil desde
2004.
E-books: Portal CEN
*Fatalidades da Vida
*O dia-a-dia de uma professora I-II-III-IV
*Novo Desafio
*Antologia Virtual da Academia Mageense
de Letras (2006)
CEN: - Que livro
anda a ler ?
Bene:
- “Noite Sobre Alcântara”
de Josué Montello e relendo “Mar de
Dentro” de Lya Luft.
CEN: - Continuando
no tema, quais os autores e livros preferidos ?
Bene:
- Machado de Assis: Dom Casmurro; José de
Alencar: O Guarani; Jorge Amado: Gabriela Cravo e Canela;
Graciliano Ramos: São Bernardo;
Aluísio Azevedo: O Mulato, Josué
Montello: O Baile da Ilha Fiscal; Eça de
Queirós: Os Maias; Poetas: Camões, Bocage, Fernando Pessoa, Olavo
Bilac, João Cabral de Melo Neto, Nossos
contemporâneos virtuais e tantos outros.
CEN: - Como gosta de
música, quais os seus autores preferidos ?
Bene:
- Todas do Ari Barroso, Todas de
Vivaldi, Tom Jobim,
Vinícius, Caetano, Chico
Buarque, Os autores da Música Popular
Brasileira de modo geral.
CEN: - O filme
comercial que mais gostou ?
Bene:
- Não tenho visto filmes.
CEN: - A cultura
será uma botija de oxigénio ?
Bene:
- Dependendo de quem a utiliza e como utiliza, sim.
CEN: - Seus
passatempos preferidos ?
Bene:
- Ler, Escrever e cuidar dos dois Grêmios
de Haicai que coordeno, em
Magé e na cidade do Rio de Janeiro.
CEN: - Como vai de
amores ?
Bene:
- O marido, os filhos e netos são meus grandes amores.
CEN: - Quando a
Benedita era criança … ?
Bene:
- Arrumava casinha debaixo da mesa para brincar com minhas bruxas de
pano; brincava com meus irmãos de pique-pega
ao redor da casa; subia nas árvores para comer fruta no pé: manga,
goiaba, caju, laranja, pitomba; nadava
no Rio Itapecuru, pegava manga do outro
lado; brincava de queimado e amarelinha na escola e voltava do
recreio toda suada; cantava músicas para minha mãe embalando na
rede; sempre fui muito inquieta, vivia imaginando histórias. Uma
noite, dei um escândalo ao imaginar que o reflexo da luz no metal do
ponto da máquina de costura, era o olho
de uma alma a me espreitar.
CEN: - E hoje como
se auto-define ?
Bene:
- Sou uma batalhadora. Tive de ultrapassar muitos obstáculos. Sou
sujeito da minha própria história. Mas, hoje, preciso desacelerar.
CEN: - De que mais
se orgulha ?
Bene:
- De ter conseguido conduzir minha família durante a doença de meu
marido e transformar duas crianças em dois adultos bem resolvidos,
tanto no aspecto profissional quanto no pessoal.
CEN: - Uma imagem do
passado que não quer esquecer no futuro ?
Bene:
- Das belas manhãs da minha infância e a de meus pais.
CEN: - Qual foi o
maior desafio que aceitou até hoje ?
Bene:
- Com o AVC do meu primeiro marido, tive de assumir todas as
responsabilidades da família e cuidar dele durante dez longos anos,
até sua morte em 1980.
CEN: - Qual a
personagem que mais admira ?
Bene:
- Minha mãe foi uma grande mulher. Criou 10 filhos e trabalhou muito,
em várias atividades, para que não lhes
faltasse o indispensável.
CEN: - Que género de
filma daria sua vida ?
Bene:
- Um drama
No regresso e já nos
Arcos da Lapa, perto do apartamento da Benedita Azevedo, esta,
amavelmente convidou-me para ir com ela a Magé.
Dentro de um Fiat palio, demorámos cerca
de uma hora até à Praça Nilo Peçanha,
que fica ao centro de Magé. Durante o
percurso, continuámos a entrevista com tão simpática entrevistada.
CEN: - Para a
Benedita, o arrependimento mata ?
Bene:
- Nem sempre, mas nos deixa frágeis por
um bom tempo. Nessas ocasiões, o melhor é nos perdoarmos e
aproveitar o fato para aprender a conviver com nossos limites.
CEN: - Para si, qual
o cúmulo da beleza, e, da fealdade ?
Bene:
- Beleza, um jardim florido na primavera ao sol da manhã. Fealdade,
O resultado da corrupção gerando fome e miséria.
CEN: - Que vício
gostaria de não ter ?
Bene:
- Não tenho vícios.
CEN: - E as piadas
às louras são injustas ?
Bene:
- Sim e de muito mau gosto.
CEN: - Qual a
característica que mais aprecia em si, e, nos
outros ?
Bene:
- Em mim, a persistência; nos outros, a honestidade.
CEN: - Para a
Benedita, Deus existe ?
Bene:
- Sim
CEN: - Acredita na
reencarnação ?
Bene:
- Gostaria de acreditar, mas, infelizmente não.
CEN: - E em
fantasmas ou em “almas do outro mundo” ?
Bene:
- Não, são projeções do pensamento de
quem as vê.
CEN: - Na mesma
linha, e em histórias fantásticas ?
Bene:
- Não, acredito em coisas fantásticas como a tecnologia criada pelo
homem, como a internet, que nos dá a oportunidade de comunicação
imediata.
CEN: - O imaginário
será um sonho da realidade ?
Bene:
- É um desdobramento da nossa capacidade de raciocinar.
CEN: - O que é para
si o termo esoterismo ?
Bene:
- Não tenho intimidade com o assunto.
CEN: - O dia começo
bem para a Benedita se … ?
Bene:
- Se tive uma boa noite de sono e estou bem de saúde.
CEN: - Para
terminar. Que influência tem em si a queda da folha e a chegada do
frio ?
Bene:
- No outono tenho a sensação de tristeza
e melancolia transitando para a sensação de solidão e abandono com a
chegada do inverno.
E assim, falámos de:
Benedita Silva de
Azevedo
www.beneditaazevedo.com
Professora
aposentada de Português, Literatura e Redação
Nascida a 10 de Maio
de 1944
Essa Dança
A valsar pelo salão
levando-me em teus braços,
teus abraços me apertando
olhos nos olhos me olhando.
Em sôfregos suspiros...
Coração batucando,
pouco a pouco se acalmando.
As pernas se
equilibram
e param de tremer.
A emoção que nos invadiu
fez a ternura nascer.
E num ritmo mais
tranqüilo
chegamos ao amanhecer.
Então percebi que era tudo
o que esperei de você.