Distrito de Beja

Concelhos deste Distrito:

Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos,

Beja (concelho de), Castro Verde, Cuba,

Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Odemira,

Ourique, Serpa, Vidigueira.   

 

 

 

Distrito de Beja, pertencente à província tradicional do Baixo Alentejo. Limita a norte com o Distrito de Évora, a leste com a Espanha, a sul com o Distrito de Faro e a oeste com o Distrito de Setúbal e com o oceano Atlântico. Área: 10 225 km² (o maior distrito português) Capital de Distrito e também Concelho: a cidade de Beja.

 

Nota do ano de 1900 (Jornal do Comércio): “O distrito de Beja situa-se na antiga província do Alentejo, sua capital é Beja; tem uma superfície de 10.255 Km2 e uma população de 164.754 habitantes. Compreende 14 concelhos e 93 freguesias. Os concelhos são: Aljustrel, Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Castro Verde, Cuba, Ferreira do Alentejo, Mértola, Moura, Odemira, Ourique, Serpa e Vidigueira. É regado pelos rios Guadiana, Sado, Mira. Grandes florestas de sobro e azinho. Minas de chumbo, manganés, ferro e algumas de cobre, entre as quais as de São Domingos, São João do Deserto e Algares”.

 

BEJA - (Capital e Concelho)

 

 

Qual fosse o nome desta povoação céltica ignora-se em absoluto, não tendo o menor fundamento a suposições de cenáculo, de que ela se tivesse chamado “Gês”. A pequena eminência onde, à roda dos meados do 1º século da nossa era, Júlio César fundou a “Colónia Pax Julia”, estacava, porém, no meio de uma zona rica em jazigos de cobre, sendo lógico, portanto, que oferecendo o lugar condições naturais tão favoráveis à fixação de um agregado humano, de longa data assentasse nele um dos principais aglomerados da Idade do Bronze, período muito documentado no termo de Beja. Podemos, mesmo, ter por conta a existência de um tal povoado. Segundo Reid, a vida urbana nas províncias romanas do ocidente europeu, não era criação artificial dos imperadores. O envio de uma colónia, ou a concessão dos direitos de colónias romanas ou latinas, ou dos de municípios romanos, não podiam só por si criar vida urbana; pelo contrário, pressupunham a vida urbana, antes que a colónia fosse enviada, ou que fossem concedidos os direitos de cidadania.
De tão recuadas épocas nada ficou, porém, senão vários objectos, relativamente raros, guardados nos museus, e as por vezes extensas necrópoles de cristas trapezoidais que de ano para ano se vão destroçando. Alguma coisa de mais monumental nos dos quatro séculos e meio da ocupação romana. Os conquistadores lançaram os muros da cividade sobre a parte cimeira do outeiro, abrangendo-o quase todo, menos pelo lado Nascente onde se encontra um íngreme ladeira, na qual a couraça defensiva passa a meia encosta.
Dentro do vasto recinto fortificado, traçaram ruas e praças, ergueram vultuosos templo e outros edifícios públicos, cujos alicerces vêm referidos em notícias de séculos passados, e ainda hoje é frequente notarem-se por ocasião de escavações suficientemente profundas, na área central da cidade.
A Lusitânia coube aos Alanos, e a Bética, logo a seguir ao rio Guadiana, aos Vândalos silingos. De 409 a 429, Beja fica na área dominada pelos Alanos. Com o aniquilamento destes, pelos Visigodos comandados por Valia, o Sul da Lusitânia é disputado pelos Suevos, que desde a Galiza senhorearam todo o território até aos limites setentrionais do actual Algarve.
Réquila, rei suevo, cerca em Mértola, no ano de 439, o conde Censório, embaixador romano, que se lhe rende sem luta. Em 441 o mesmo rei submetia toda a Bética e a Cartaginense. Antes, no ano de 419, os Vândalos haviam retirado da Galiza, descendo sobre a Bética, onde derrotaram, em 421, o general romano, Castino. Em 429 os Vândalos passam ao norte de África.
À data da morte de Reliquiário, o corrida no Porto, no ano de 457, já a comarca de Pax Julia teria voltado `administração romana, porquanto próximo desta cidade, foi colocado um marco milenário honorífico, em que aparece o nome de Valentiniano, imperador assassinado em 456.
A precária administração romana, de resto apenas nominal, desaparece finalmente, em 572, de todo e para sempre, pela unificação do reino hispano – visigótico por Leuvegildo.
Particularmente sobre Pax Julia, nada sabemos. Sómente que os Visigodos a instituíram sede de bispado sufragâneo da diocese de Mérida, porquanto há notícia dos prelados pacenses que intervieram em vários concílios: a iminente figura de Santo Apríngio, autor de um notável comentário do “Apocalipsis”, obra que Santo Isidoro de Sevilha qualificou de subtil e eloquente (Faleceu em 530); Palmácio (589) , Lauro, Modário, Adeodato e João – e outros mais houve, certamente, até à data em que, pela chegada do invasor islâmico, a sede episcopal mudou para Badajoz.
Sabido é que, tal como na Península em geral, a cidade visigótica foi a continuação da cidade romana, com o aproveitamento, em regra, dos sólidos edifícios anteriores, umas adaptados, outras simplesmente consertados, ou mesmo reconstruídos. A destruição deliberada, com fundamento no ódio político – religioso, só por excepção se terá verificado. Apesar de extraordinária robustez dessas construções, não lhes seriam inofensivas as consequências das guerras, somadas às dos temporais, dos terramotos, dos incêndios ocasionais, dos abandonos mais ou menos longos, da progressiva desagregação de tudo o que envelhece, devendo-se ainda acrescentar a inadequação a usos novos e novos gostos.
Podemos Ter por certo que a sé visigótica se situava no local em tem hoje está a Igreja de Santa Maria, em vista dos numerosos troços de pedra lavrada e de uma lápisa achados no edifício actual e à sua volta, que já confirmativos da época.
O templo arrabaldino que foi a primeira paroquial paroquial da freguesia de São Tiago, extra-muros, ter sido erguido nos princípios do século XlV, por Joane Meendes, sobre alicerces de traça basilical, que remontarão, talvez aos primeiros tempos do domínio visigótico nestes sítios, e em cuja reconstrução se empregaram troços de colunas romanas e capiteis visigóticos; esse templo que, para a época, não se pode considerar nada modesto em relação aos edifícios religiosos do Sul de Portugal, devia ter sido o santuário cristão de Beja, na época do domínio árabe.
A decadência da cidade teria ocorrido entre os séculos V ao Vlll, em face das provas arqueológicas, o que, está de acordo com o acontecido no resto da Península. Diminuição do comércio exportador, redução as exploração agrícola e pecuária, decréscimo de população, baixa de categoria na hierarquia administrativa – eis o resultado do lento mas decisivo desmoronar do Império Romano e das lutas entre a ortodoxia e a heterodoxia cristãs.

ALGUNS FACTOS HISTÓRICOS
Em 27 de Abril de 711, Tárique transpõe o estreito de Gibraltar. De entre 19 a 26 de Julho desse ano trava-se uma desesperada batalha de oito dias junto ao “Lago de la Janda” também conhecida pela Batalha de Guadalete, na qual foram aniquilados os exércitos do rei visigodo Rodrigo . Por este facto começa na Península Ibérica o começo de novas transformações, desta vez mais radicais, não obstante o longo período inicial de tolerância com que os novos senhores (mouros) favoreceram os vencidos.
Beja foi apossada pelos árabes no ano de 715. Três anos depois de entrada do general Musa, Beja estava entregue, como feudo, aos árabes provenientes do Egipto. Antes, porém, os romano –visigodos de Beja haviam juntado aos da Niebla e aos que de Sevilha tinham fugido, numa tentativa de libertação rapidamente sufocada por Abdu Azzis, filho de Musa. Este sangrento episódio era o primeiro da série que cobriria os agitados quatro séculos vividos por Beja, desde a sua queda, a que só pôs termo a reconquista definitiva pelos cristãos.
Por um lado, os ataques dos reinos neo – góticos: Afonso 1, de Leão e Astúrias, em 750 ; de Froila l , de Oviedo, em 758; de Ordonho ll, em 910 ou 914 ; de Fernando “o Magno”, em 1037. Por outro, as dissenções internas dos mouros, em que sobressaem a rebelião do chefe árabe el-Ala ibn Mughith, contra o emir de Córdova, em 763 ; outra contra contra Al-Haken, em 808 ; o ataque do chefe berbere, Mahomed ibn Abd al-Djabbar e consequente derrota dos habitantes de Beja, que pretenderam fazer-lhe frente, em 834 ; o cerco de Beja e rendição de Abd al Rahman ibn Said ibn Malik, por Abd al-rahman lll, em 929; e as guerras entre Almondar e Mohâmede Sid-Ray, senhor de Badajoz, e entre este e Ibn – Kasi, senhor de Mértola, em 1144. Crónicas árabes falam ainda de um ataque de piratas normandos, que subiram o rio Guadiana, em 844.
As notícias respeitantes a Beja, enquanto esta permaneceu na posse dos árabes, são igualmente escassas e precárias. Não passam de vagas informações enquadradas nas descrições gerais. Assim, o árabe natural da Península, conhecido por “Mouro Rasis”, escrevendo no reinado de Al-Haken ll, conta Beja entre as 41 regiões submetidas ao califado de Córdova; os historiadores Ibn-Hawkel e Al-Makdisi, apontam-na entre as 18 regiões ou “kuras” da Andaluzia. Outros geógrafos árabes, da época do califado de Córdova, incluem nas principais estradas peninsulares (vias romanas) a de Córdova a Beja, por Cória e Mérida; outro deixou escrito que o linho era cultivado em grande quantidade, para exportação, em Arun , no distrito de Beja; e ainda outro se referiu à exploração da prata em Totalica, do mesmo distrito, sítio que ainda não se pode identificar.
Quase no fim do domínio mouro nesta parte do actual território português, o já citado Ibn-Kasi, sherife de Silves e Mértola, emite moeda própria, feita nesta última localidade.
Outras coisas se contam a respeito dos mouros nesta cidade, mas não estão bem fundamentadas. De positivo, pode-se dizer que o declínio da cidade mais se acentuara, desde o fim da época visigótica. Alcácer do Sal, Mértola, Silves, Faro, Tavira e outras terras, outrora muito inferiores a Beja, foram ricas e gozaram de maior preeminência.
D. Dinis fez longas em Beja. Tinha a sua alcáçova no castelo. Perto daqui se salva milagrosamente de um acidente se caça. Por carta de12 de Coimbra de 1314 – ou 1276 da nossa era (*), doava as duas torres situadas sobre a porta da sua “alcáçova velha” a Guedelha, filho do arrabi mor, que lhe tinha salvado a vida numa luta contra um javali.
(*) Dizemos da “Nossa Era”, pois bem, D. João 1 determinou que a “Era de César” que pela qual na Península Ibérica se contavam os anos, fosse substituída pela “Era de Cristo”. Ao ano de 1460 da “Era de César”, em que tal medida foi outorgada, correspondia o ano de 1422 da “Era Cristã”, ou seja, 38 anos mais moderna do que aquela.
Este facto tem causados inúmeros problemas a muitos escritores e historiadores para a determinação de datas.”
Isabel de Aragão, mulher de D. Dinis, chamada também de “Rainha Santa Isabel”, fundou o Convento de São Francisco , extra - muros e próximo das “Portas de Mértola”.
D. João lV, em 1340 auxilia a fundação das monjas de Santa Clara, a curta distância das “Portas de Évora”. D. Dinis manda edificar no de São Francisco a capela de São Luís, bispo de Todosa, em acção de graças por se ter salvo dos dentes de um javali, no matagal de São Pedro de Pomares.
Joane Meendes, da casa de D. Dinis, fizera-se sepultar em Santo Amaro num túmulo com a data de 12 de Junho de 1367 Da era de “César” ou 1329 da era de “Cristo”. É nesse ano que aparece amais antiga referência `freguesia de São Tiago Maior, de que esse templo era sede. Das três restantes há indicações um pouco mais anteriores, mas sempre no reinado de D. Dinis: de 1282 de Santa Maria da Feira; Salvador em 1306 e de São João Baptista de 1320.
Beja foi várias vezes ocupada e perdida durante as lutas da Reconquista, daí resultado que a cidade se apresentava quase destruída no reinado de D. Sancho ll.
Foi D. Afonso 11 quem a mandou reconstruir e lhe deu foral em 1292 da era de “César” e 1254 da era de “Cristo”. No Salão Nobre da Câmara Municipal, um tríptico do pintor Severo Portela recorda esse acto solene.
D. Dinis mandou reconstruir as defesas de Beja e dotou o seu castelo com a mais airosa torre de menagem portuguesa. D. Fernando, irmão de D. Afonso V,
e pai de D. Manuel e de D. Leonor Teles, foi o primeiro Duque de Beja; Actualmente, o Largo dos Duques de Beja recorda o local, confinante com o Convento da Conceição, onde outrora se ergueu o Paço Ducal, que não resta o menor vestígios. Junto do convento, em terreno sobranceiro ao Largo dos Duques, encontra-se a estátua da rainha D. Leonor, mulher de d: João ll e fundadora das Misericórdias.
Foi no Convento da Conceição (***) que, há três séculos, viveu Mariana Alcoforado(**), a quem são atribuídas as famosas “Cartas Portuguesas”.
(**) – Mariana Alcoforado, nasceu a 22 de Abril de 1640, falecendo a 8 de Julho de 1723.
Entrou para o Convento da Conceição a 2 de Janeiro de 1651, como candidata ao noviciado. Durante a sua longa de professa, exerceu, por muitos anos, os cargos de vice – abadessa e escrivã da comunidade.
Esta religiosa portuguesa é a provável autora de “Cartas de Amor” publicadas pela primeira vez em França, em 1669 (Lettres Portugaises), para onde teriam sido levadas pelo oficial francês Chamilly, por quem ela se teria apaixonado.
O poder comovente desta obra que nos remete para o desvario de um amor total e envolvente a balançar entre o despero e a ilusão pueril é, talvez, uma das mais decisivas contribuições portuguesas para a sensibilidade europeia.

CONVENTO DA CONCEIÇÃO: Construído no século XV, encontra-se actualmente muito mutilado, pois da primitiva traça apenas existem o claustro, a igreja e a sala do capítulo. Os grandes cortes que sofreu acarretaram substanciais modificações e adaptações. O claustro, de grande simplicidade, tem paredes revestidas de azulejos verdes e brancos, de reflexos metálicos, quinhentistas. A porta principal da igreja, de perfeito traçado gótico, insere-se na fachada lateral. O interior, de uma só nave, é revestido de talha barroca que engloba o altar – mor e os altares laterais, com excepção de um, revestido de pedra embutida no estilo florentino. A parte inferior das paredes é inteiramente ornada por painéis de azulejos setecentistas com passos da vida de São João Baptista. A escada que dá acesso ao coro é coberta por uma abóbada ogival. A sala do capítulo comunica com o claustro por um portal delicadamente esculpido. De forma quadrangular e com uma coluna ao centro, é inteiramente revestida de painéis de azulejos hispano – árabes.
Tendo nos últimos anos sentido um progresso que a despertou do letargo em que se mantinha, Beja possui hoje as infra – estruturas necessárias ao bem – estar da população, tais como novos bairros habitacionais, recintos desportivos com piscina, restaurantes e instalações hoteleiras, praças e jardins aprazíveis. A cidade conserva, além disso, um património monumental rico, entre o qual se destacam: o castelo e a sua bela torre de menagem, Mosteiro da Conceição e Museu Regional, Capela de São Luís (gótica), no Convento de São Francisco, Igreja de Santo Amaro (visigótica), arco romano das Portas de Avis, ruínas romanas de Pisões (a 10 Km) e Ermida de Santo André, em estilo gótico alentejano, contemporânea da conquista de Beja aos Mouros.
Como homenagem dos portugueses residentes em São Paulo (Brasil)
e da cidade de Beja a um dos seus filhos mais ilustres, ergue-se numa praça com o seu nome, ao fim da avenida do Brasil, a imponente estátua do maior bandeirante em terras brasileiras : António Raposo Tavares (****, nascido nesta cidade em 1600 .
(****) António Raposo Tavares, sertanista português, fui para o Brasil com o pai, Fernão Vieira Tavares, capitão-mor governador da capitania de São Vicente (1622).
Dedicou-se logo à preação de indígenas para o trabalho escravo. Organizou os ataques que destruíram as reduções jesuítas espanholas do Guairá, Tape e Itatim. É tido como o responsável pela fixação das actuais fronteiras dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
História da Cidade de Beja

A cidade de Beja implanta-se num morro com 277m de altitude, dominando a vasta planície envolvente. O campo surge, assim, como uma fronteira natural entre a vida urbana e a vida rural. Esta realidade marca a vida deste povoado desde a sua fundação, algures na Idade do Ferro. Prova cabal desse momento é o troço de muralha proto-histórica descoberta no decurso das escavações da Rua do Sembrano. Achado da maior importância, dissiparia todas as dúvidas sobre a pré-existência de um povoado anterior à ocupação romana; contudo, continuamos sem saber que povo aqui estaria nem tampouco possuímos qualquer informação sobre a forma como se organizava o espaço pré-urbano.
A cidade de Pax Julia terá sido fundada ou por Júlio César ou por Augusto. Foi capital do conventus Pacensis e administrou juridicamente uma das regiões que constituíam a província da Lusitânia (as outras duas capitais eram Santarém e Mérida). Foi também uma Civitas, ou seja, cidade responsável pela administração de uma região (tratava-se de áreas mais ou menos equivalentes aos nossos distritos) e Colonia. Sem dúvida estamos na presença de uma cidade elementar no funcionamento da grande máquina administrativa que foi a regionalização romana.
Tratando-se de uma cidade com o estatuto já mencionado, estava equipada com um conjunto de edifícios muito importantes. O espaço por excelência onde se tratava a administração jurídica provincial era o Fórum, do qual também fazia parte o templo dedicado ao culto imperial. No caso de Beja, o Fórum localizava-se junto à actual Praça da República, como testemunharam as escavações realizadas por Abel Viana quando se construiu o actual depósito de água (na altura foi identificada uma enorme estrutura que se interpretou como parte das fundações do templo imperial). A importância dos diversos achados que se têm verificado em vários sítios da cidade confirmam-nos a existência de outros edifícios, tais como o teatro, anfiteatro, o circo, as termas, etc., embora a localização para estes espaços continue na esfera das hipóteses. Certamente que a cidade romana sofreu alterações ao longo do tempo, os seus principais espaços adaptar-se-iam às novas regras e modas que sopravam de outros pontos do império.
A mudança de poder não lhe retirou importância. Durante o período de domínio visigodo manter-se-ia como uma das principais cidades do Ocidente, ainda era um centro administrativo regional e cabeça de bispado. Desta fase, ficou-nos a pequena, mas importante, Igreja de Santo Amaro, onde está instalado o Núcleo Visigótico do Museu Regional, cuja colecção é constituída por peças provenientes da cidade e do campo. O povo germânico terá contribuído para a conservação e manutenção dos espaços públicos e privados.
A cidade é referida pelos autores árabes, não só pela sua importância mas também pelos belos edifícios que possuía, assim como pelas vias grandes e bem conservadas que a ela levavam. No entanto é a partir deste momento que a configuração da cidade sofrerá as mais profundas alterações: a sua forma ortogonal vai-se alterando e ganhando uma forma radial. Infelizmente da cidade muçulmana pouco sabemos: os vestígios são mínimos, encontrando-se, desta época, apenas uma ou outra inscrição funerária e alguns artefactos. A cidade entra em declínio sensivelmente a partir do século XI: não é mais o centro administrativo e religioso, perdendo prestígio a favor de cidades que ganhavam cada vez maior importância, como era o caso de Évora.
O processo da Reconquista fez-se sentir de forma muito violenta. As muralhas foram completamente destruídas, a cidade quase deixara de existir. O Foral de D. Afonso III é muito claro: havia que repovoar a cidade e reconstruir as suas muralhas; a cidade ficaria dotada com um novo sistema defensivo, constituído pelo castelo com torre de menagem e novo pano de muralhas.
Com a fundação do Ducado de Beja projecta-se uma nova fase. Os primeiros Duques de Beja, Infantes de Portugal, vêm residir para a cidade alentejana, onde fundam o Convento de Nossa Senhora da Conceição. Junto a este edifício surge o Palácio dos Duques de Beja (Palácio dos Infantes), que terá sido um bom exemplo da arquitectura mudéjar. Como reflexo deste novo impulso, à sua volta iriam surgir novos conventos e palácios que marcariam a diferença entre a Beja velha e destruída e um novo espaço que surgia. O momento áureo deu-se, sem dúvida, com a ascensão de D. Manuel I a rei. Tratando-se do segundo Duque de Beja, desenvolveu um forte processo de nobilitação desta cidade. Assiste-se à reabertura de um novo espaço, a Praça D. Manuel I, para onde se deslocam os Paços do Concelho, que haviam funcionado junto à Igreja de Santa Maria e promove-se também a construção do primeiro Convento-Hospital de Nossa Senhora da Piedade ou da Misericórdia no lugar da antiga Gafaria. Este trabalho de recuperação teria continuidade com o Infante D. Luís III, Duque de Beja, que foi o patrono da construção da Igreja da Misericórdia, cuja loggia constitui um dos expoentes máximos da arquitectura do Renascimento em Portugal.
Podemos afirmar que a cidade respirava um novo ar com a promoção a que assistia. A classe dirigente local não acompanhou, contudo, este processo progressista. Beja voltaria a desenvolver-se muito lentamente, esquecida na planície alentejana. As obras que marcam a cidade são pontuais, vivendo-se momentos pequenos de falsas esperanças ao desenvolvimento que nunca chega.
O segundo processo destrutivo a que assistimos dá-se precisamente nos finais do século XIX continuando pelo séc. XX. Sob a batuta do Visconde da Ribeira Brava, imbuído de um espírito vanguardista, decide-se "modernizar" a cidade, despojando-a dos edifícios velhos numa tentativa clara de criar novas ruas abertas e largas. O resultado foi que a cidade perdeu metade dos seus emblemáticos edifícios, como por exemplo, no Largo dos Duques de Beja, o Palácio dos Infantes. Na sua continuidade encontra-se o Convento de Nossa Senhora da Conceição, que ficou reduzido a menos de metade, salvando-se a Igreja o Claustro menor e a sala do Capítulo. Com ligação a este Convento encontrava-se outro, o Hospital Convento de Santo Antonino e nas suas proximidades a Igreja de São João. Todo este conjunto foi simplesmente arrasado. Mas a vontade de progresso far-se-ia sentir ainda noutros espaços, já que outros conventos tiveram o mesmo fim, destruindo-se a memória dos tempos clericais.
A cidade foi assim "varrida" de boa parte dos seus equipamentos existentes. Quem visita e percorre as suas ruas sente a ausência de algo, sem compreender muito bem o quê. Apenas uma pequena parte dos novos espaços abertos foi reocupada. O espaço urbano entra no séc. XX completamente alterado, atravessando um processo de construção/desconstrução o qual se mantém mais ou menos calmo até ao momento do Estado Novo.
Com a afirmação deste regime, a cidade sofreria novas intervenções dentro do Centro Histórico. A primeira terá sido o processo de reconstrução do Castelo e das suas muralhas. Sob a direcção da DGEMN toda a zona envolvente às muralhas do Castelo seria desafogada do casario humilde que desde os tempos de paz ali se instalou. A muralha ficaria totalmente à vista, assim como o Arco Romano das Portas de Évora, imagem que parcialmente se concretizou.
A segunda grande intervenção dá-se na década de 40 na Praça da República, dotando-a da configuração actual. Com a austeridade natural do regime, esta alteração imprimiria ao Largo um sentido de nacionalismo e concentração de poder, recolocando o Pelourinho na Praça. Uma das intervenções mais importantes terá sido, também, a destruição da Cadeia Filipina e a rápida construção, no seu lugar, do novo edifício das Finanças. Este espaço, apesar de discreto, destoa num conjunto que era até aqui homogéneo, verificando-se uma interrupção desnecessária na continuidade da história deste espaço. A infelicidade de um incêndio nos antigos Paços do Concelho em 1947 levaria á necessidade de reconstrução de um novo edifício no mesmo espaço, projecto de um dos mais importantes arquitectos do Estado Novo, Rodrigues de Lima. Mais uma vez a Praça da República sofre nova intervenção. A consolidação do poder estava completada.
Entre as décadas de 30 e 40 vão surgindo novos equipamentos que vão colmatando os enormes espaços vazios libertados no início do séc. XX. O velho Teatro sofre obras de fundo, sendo totalmente alterado e adaptado a Cinema, com possibilidade de representações teatrais. Na zona onde existiu o Convento de Nossa Senhora da Esperança constroem-se o Banco de Portugal, de gosto neo-joanino, o Tribunal, o Governo Civil e por fim a Nova Caixa Geral de Depósitos, com um volume mais sóbrio e portanto mais moderno.
A arquitectura moderna vem pois ocupar, algo timidamente, alguns dos espaços libertados dentro do Centro Histórico, patenteando todavia, as dificuldades e vícios de um Estado autoritário e pouco esclarecido que não entendia as questões que com a revolução de 1974 se tornaram inadiáveis no Centro Histórico da cidade de Beja.

 

Aljustrel - (Concelho do Distrito de Beja)

 

 

Povoação antiquíssima, cujas raízes se devem procurar em época anterior ao domínio romano. Aljustrel teve uma importância enorme desde que a sua riqueza mineira foi conhecida e aproveitada. As suas pirites foram exploradas entre o século l a.C.  e o século lll d. C, pelos romanos que deram à povoação o nome Vipasca. A exploração romana destas minas, quer em profundidade, quer à superfície, está perfeitamente documentada pelo objectos e utensílios encontrados nos poços e galerias e, pela existência de uma vasta e rica necrópole que tem fornecido preciosas indicações e um rico espólio. O museu da mina de pirites alentejanas, valioso pelas peças da época romana de Vipasca que contém, merece uma visita. As tábuas, de bronze, com a lei romana, que hoje se acham depositadas em museus bem longe de Aljustrel, são raro e precioso documento aqui encontrado. As Tábuas de Aljustrel estabelecem meticulosamente os direitos e deveres de quantos exerciam a sua actividade na circunscrição metalífera (Viço Metalli Vipascensis). Encontram-se actualmente no Museu de Arqueologia e Etnografia, em Lisboa. No concelho de Aljustrel, muitos outros vestígios da ocupação romana, bem com de épocas anteriores, atestam uma ocupação humana permanente desde os tempos mais remotos. Aljustrel entra definitivamente no Reino de Portugal, quando conquistada aos mouros por D. Sancho ll.

Opiniões sobre a origem do nome:

«Arquivo Histórico de Portugal (1890): “Tudo é obscuro e sombrio; o seu passado perde-se na noite dos tempos, tudo quanto pode servir-se de indicação nesse sentido confirma a versão duma remota idade, mas não há documento algum por onde se possa reconstruir esse passado.

O nome é muito notoriamente de origem árabe, conforme designa o radical «Al-justrel»; entretanto, o restante termo não tem significação nenhuma – do que se pode presumir que ou esse termo era o nome antigo a que os árabes adicionaram o referido radical, era o nome antigo a que os árabes adicionaram o referido radical, ou o nome mourisco era outro e a corrupção o reduziu ao que hoje possui”.

«Xavier Fernandes em Topónimos e Gentílicos - 1944»: “Como vila e sede de concelho, pertence ao distrito de Beja. O padre Luís Cardoso, no seu Dicionário e Notas de Vilas e Aldeias, diz que o nome deriva do latim Aljustreleum, o que registamos com muitas dúvidas. Por mais de um motivo nos parece que, se o topónimo não é árabe, pelo menos sofreu influência árabe”.

«José Pedro Machado, em Influência Arábica no Vocabulário Português – 1958»: “ Não sei explicar com precisão, pelo menos a influência arábica. Não me parece, porém, que se trate de palavra oriunda de outra pertencente ao idioma que falou Mafona. Compreende-se o motivo desta hipótese: a presença do elemento “el”, característico de topónimos meridionais de formação híbrida, sendo arábico o artigo definido e o vocábulo fundamental pertence a dialectos romances. O vocábulo principal (isto é “justrel”) oferece ainda a particularidade de apresentar quatro consoantes, que são: “j-s-tr”, não contando, evidentemente, com dois “ll”, do artigo definido arábico e do tal sufixo românico. Note-se, no entanto, que o “r” pode apresentar a resultante habitual da prolação do grupo “st”, o que pode reduzir o número de consoantes originais”.

 

Aljustrel

Sede de concelho, a vila de Aljustrel está situada 37.8 Km a sudoeste de Beja e a 5 Km da margem esquerda da ribeira do Roxo.
Embora não tendo sido possível apurar de quando data a sua edificação, esta vila é, no entanto, das mais antigas do País, sabendo-se que, quando os Romanos chegaram à Península, já aqui encontraram um castelo de taipa. Conquistada aos Árabes por D. Sancho II, foi doada à Ordem de Santiago, tendo recebido foral de D. Manuel I em 1510.
Derivado, ao que parece, o seu topónimo do latim Aljustreleum, esta vila ganhou grande importância a partir da altura em que a sua riqueza mineira foi conhecida. A exploração romana das
minas de Aljustrel está perfeitamente documentada pelos objectos e utensílios ali encontrados e pela existência de uma vasta necrópole. Infelizmente, as Tábuas de Bronze de Aljustrel - a peça mais preciosa e rara de todo o espólio romano aqui recuperado -, que estabelecem meticulosamente os direitos e deveres de quantos exerciam a sua actividade na circunscrição metalífera, não se encontram no Museu da Mina de Pirites Alentejanas, mas no Museu de Arqueologia e Etnografia, em Lisboa.
São pontos de interesse em Aljustrel a
Ermida de Nossa Senhora do Castelo, edificada na colina onde se situava anteriormente o castelo, a igreja matriz, um dos maiores templos do País, com os seus frontais de belos azulejos, e a Igreja da Misericórdia, em estilo renascença.

 

 

Almodôvar – Concelho do Distrito de Beja

 

 

O vasto concelho de Almodôvar, a sul do distrito de Beja e estabelecendo a continuidade do Alentejo com o Algarve através da Serra do Caldeirão, tem uma vida económica especialmente ligada à actividade agrícola. A sede do concelho, a vila de Almodôvar, cujas origens e fundação não são possíveis determinar, pertenceu ao mestrado de Sant’Iago e recebeu foral de D. Dinis em 1285, confirmado e ampliado em 1512 por D. Manuel l. No edifício dos antigos Paços do Concelho, actualmente reservado para a biblioteca e museu regional, pernoitou a rei D. Sebastião quando se dirigia a Lagos (Algarve), afim de embarcar para Alcácer Quibir.

O concelho de Almodôvar apresenta documentos de ocupação humana desde épocas muito remotas. Com efeito foram encontradas antas na Aldeia dos Fernandes, junto à estrada de Lisboa, no monte das Antas do Meio e no monte das Antas dos Mouriços, mas é das Idades do Ferro l e ll que os documentos são mais abundantes. Os testemunhos encontram-se nos seguintes lugares: Monte do Guerreiro, Monte dos Mestres, Mesas do Castelinho, Corte Freixo, Tavilão, Monte Beirão, Monte Novo da Misericórdia, Monte da Azinheira, Corte Figueira, Atafona, Corte Zorrinho, Castelo dos Mestres e outros.

Também os vstígios da época romana de Castelinho, Monte do Castelejo, Senhora da Graça dos Padrões, Horta dos Mouros, etc., atestam uma ocupação humana constante, através dos tempos e em vastas áreas do concelho, que continua demonstrada por vestígios árabes e medievais em Semblana, Almodôvar Velha e outros lugares.

 

Almodôvar
A origem de Almodôvar diluí-se na luminosidade dos campos alentejanos. Entre histórias e lendas é difícil atribuir à vila, com precisão, uma origem, uma cultura e uma época. Na realidade, foram vários os povos que passaram pela Península Ibérica e marcaram, com o peso da sua cultura, as terras alentejanas. Almodôvar, no entanto, aparece pela primeira vez assinalada nos mapas do tempo dos Árabes ou Muçulmanos, com o nome de Al-Mudura. Almodôvar é a corrupção da palavra árabe Al-Mudura que significa "a coisa em redondo, ou cercada em redondo". E, de facto, Almodôvar foi reedificada pelos árabes no século VII, altura em que a vila foi cercada de muralhas e edificado um castelo, cujos vestígios, no entanto, desapareceram.
Almodôvar pertenceu ao mestrado de Santiago a quem concedeu Foral EL-Rei D. Dinis em 17 de Abril de 1285, o que demonstra ser esta vila, já nessa época um centro importante. Concedia-lhe D. Dinis, nessa Carta de Foral grandes poderes entre os quais "o de o povo não pagar portagem em parte nenhuma" nem "os gados da vila e seu termo pagarem montas" como consta do Livro de Regimento de Verdes e Montados.
Mais tarde, D. Manuel I, em 1 de Junho de 1512 deu novo Foral à vila, confirmando e ampliando os privilégios concedidos por D. Dinis. Este novo Foral concedia muito mais regalias, insenções e de prerrogativas mais latas.
A igreja matriz é o mais imponente monumento da Vila de Almodôvar, na simplicidade das suas colunas toscanas, na riqueza dos altares laterais e na sumptuosidade do altar-mor, mandado construir por D. João V.
Mas para Almodôvar, há um acontecimento de grande valia e objecto de grande estima e orgulho: trata-se da existência aqui da primeira espécie de uma Universidade de Teologia do Sul de Portugal, que funcionou no Convento de S. Francisco. Parte da Biblioteca desta Universidade encontra-se hoje na Câmara Municipal.
O Convento referido que ainda hoje existe foi fundado em 1680 por Frei José Evangelista, lente jubilado da Universidade com os bens que herdou dos seus pais. Lançou a primeira pedra a 2 de Setembro de 1680.
Apesar da riqueza histórica do Concelho de Almodôvar, é pelo afecto que se aprofundam e interiorizam todas as presenças do passado, longe dos estereótipos do mundo moderno. Almodôvar continua fiel às suas origens, às suas tradições, à sua história.

 

O Concelho de Almodôvar está situado no Baixo Alentejo, distrito de Beja, entre a Serra do Caldeirão e a planície alentejana. É rodeado pelos concelhos de Loulé e Silves a Sul e Sudoeste, Ourique a Poente, Castro Verde a Norte, Mértola a Nascente, e ainda Alcoutim, num curto segmento da ribeira do Vascão.
Dista da capital de distrito 64 quilómetros, de faro de 74 quilómetros e 214 quilómetros de Lisboa.
Com 775,9 Km2 de superfície, 1 terço do seu território, situado mais a Norte e a que correspondem as freguesias de Aldeia dos Fernandes, Rosário e Graça de Padrões e parte da freguesia de Almodôvar, é plano e pouco arborizado.
As actividades com maior expressão económica são ali o cultivo de cereais de sequeiro, a criação de gado bovino, ovino e suíno, a produção de leite e queijo de ovelha e a apicultura.
Os restantes dois terços situam-se mais a Sul, são constituídos por Serra revestida de uma vegetação abundante, onde se destaca a esteva, o medronheiro, o sobreiro e a azinheira e correspondem a 5 das 8 freguesias: Almodôvar, Santa Clara - a - Nova, Gomes Aires, Santa Cruz e S. Barnabé, onde se situa o Pico do Mú, um dos locais mais altos de toda a Serra do Caldeirão. A sua principal riqueza é a cortiça, a aguardente de medronho, o queijo de cabra e o mel. A população aqui é dispersa e vive destas actividades, que desenvolve em paralelo com a pequena agricultura.
O feriado municipal comemora-se no dia 24 de Junho ( S. João ).

 

 

 

 

Alvito – Concelho do Distrito de Beja


 

Este lugar foi habitado em épocas muito remotas, o que se deduz de achados arqueológicos, tais como moedas romanas, lápides e ruínas de edifícios. Teve foral concedido por D. Dinis em 1327, confirmado em 1516 por D. Manuel l.

Vila tipicamente manuelina, berço de infantes, pousada de marqueses, Alvito foi também claustros de membros das Ordens dos Trinitários e dos Franciscanos. Aliás, a tradição religiosa desta terra é atestada pelo número de igrejas e pela riqueza de alfaias, paramentos e objectos de culto.Com foral dado por D. Dinis e confirmado por D. Manuel l em 1516, foi a primeira baronia de Portugal. Deste facto deriva talvez o nome da segunda povoação do concelho: Vila Nova da Baronia.

O monumento mais conhecido desta vila é, sem dúvida, o Castelo de Alvito. Não sendo defensivo, é mais propriamente um solar acastelado, pois foi resultante de uma adaptação a residência do anterior castelo, em grande parte destruído. Edifício dos finais do século XV, foi residência dos marqueses de Alvito e lugar de frequentes visitas de reis. É imponente, com vasto pátio, torres de ângulos arredondados e maciça torre de menagem primitiva.

Segundo, Rocha Martins (Arquivo Nacional – 1935): “Este nome de Alvito vem – segundo a tradição – do facto sucedido durante uma festividade em que havia corrida de touros e um deles, tresmalhando-se, fugiu, povoação em fora. Várias pessoas mais animosas, ao verem o cornúpeto em veloz correria, lançaram em sua perseguição, conseguindo capturá-lo. Ao tempo que o conduziam para a praça, gritavam Alvitre ! alvitre – a que queria dizer “alvíssaras”. Corrompida esta palavra, deu Alvito, que ficou como nome da terra dos condes-barões que um largo de Lisboa deram o seu nome”.

 

Alvito

Alvito  é  uma  vila a cerca de  trinta  quilómetros de Beja.  Pode dizer-se  que  foi  bastante  importante,  dado  que  foi  pousada  real durante  muito  tempo.
Segundo  se  lê  na  Monarquia  Lusitana,  Alvito  nasceu  no  tempo  de D. Afonso III, a partir da herdade de S. Roque, que o Rei doou ao seu chanceler e colaço D. Estêvão Anes, em 1225.
Contudo, o local foi indubitavelmente habitado em épocas muito mais remotas, a crer nos  imensos vestígios arqueológicos da região: moedas romanas, lápidas votivas, silos, ruínas de edifícios, etc.
Um dos edifícios mais importantes da povoação é o seu castelo. Mandado construir por D. João II para pousada real e acabado apenas no  reinado  de  D. Manuel, tem como principal característica o facto de ser pronunciadamente amouriscado.
Conta  a  lenda  que  o  nome da povoação vem de um facto sucedido durante uma festividade.
Havia nesse dia uma corrida de touros e quando os homens tratavam de  os  meter  nos  curros, um  deles  escapou.  Desatou a correr pela povoação   fora   e   atrás  dele  algumas  pessoas.  O  animal   corria furiosamente,  quem  sabe  se  para  escapar à morte que adivinhava esperá-lo.
Como  estava um dia muito  quente, pouco  a pouco os perseguidores do touro foram desistindo, até que só ficaram dois, mais resistentes e corajosos, que acabaram por capturar o bicho.
Levaram-no de volta à povoação, depois de terem descansado os três sob um chaparro. Quando entraram na vila com o touro preso por uma corda, levaram-no até ao meio da praça, gritando:
 - Alvitre, alvitre! - que quer dizer alvíssaras.
 Daqui, explica o povo, nasceu o nome de Alvito.

 

Barrancos – Concelho de Beja

 

 

A vila de Barrancos, sede de concelho do mesmo nome e situada em terreno acidentado na margem do rio Guadiana, fica somente a uma centena de metros da fronteira espanhola. O concelho de Barrancos tem apenas uma freguesia, Nossa Senhora da Conceição, e é o menor do distrito de Beja. Sobre a origem de Barrancos pouco mais se sabe além de ter sido uma freguesia de Noudar, velha fortaleza hoje em ruínas.

Situado num dos pontos mais orientais do território português, entre as ribeiras de Murtiga e de Ardila, altaneiro na elevação de onde domina vastos territórios, como sentinela vigilante, o Castelo de Noudar é um notável exemplar da arquitectura militar do século XlV. Em documento da Torre do Tombo, diz-se que em 1532 «a vila de Noudar é do mestrado de Avis e é esta vila cercada e com castelo, tem um aldeia que se chama os Barrancos uma légua da vila ao sueste». Já nesta data recuada se refere uma população maior em Barrancos do que em Noudar. A decadência irreversível desta era acompanhada pelo crescimento e valorização de Barranco, e assim continuou até Noudar desaparecer definitivamente em 1825, data da última referência que lhe é feita em documento do Desembargo do Paço. NO Castelo de Noudar existia uma lápide, com a data de 1346, dizendo que no primeiro dia de Abril desse ano «Dom Lourenço Afonso, mestre de Avis, fundou este Castelo de Noudar a povoou a vila para D. Dinis, rei de Portugal nesse tempo».

 

Barrancos
Barrancos é uma vila portuguesa no Distrito de Beja, região Alentejo e subregião do Baixo Alentejo, com cerca de 1 900 habitantes (2001).
É sede de um município com 168,43 km² de área e 1 924 habitantes (2001). O município é limitado a norte e a leste pelos municípios espanhóis de Oliva de la Frontera e Valencia del Mombuey (província de Badajoz) e de Encinasola (província de Huelva), a sul e oeste pelo município de Moura e a noroeste pelo município de Mourão.
Barrancos é um dos cinco municípios de Portugal constituídos por uma única freguesia.
Dista 110 km da sede de distrito (Beja), e o mesmo da cidade de Évora.

 

 

 

Castro Verde – Concelho do Distrito de Beja

 

Povoação muito antiga, estende-se numa campina dominada por um alto castro pré-histórico em ruínas que lhe deu o topónimo. D. Manuel l concedeu-lhe foral em 1510.

Pouco se sabe sobre a origem da Castro Verde, mas o topónimo parece indicar que neste lugar tenha havido um castelo ou qualquer reduto amuralhado. Se atendermos à planície que rodeia Castro Verde, podemos considerar como ponto de boa observação e fácil defesa a peque elevação em que a vila se situa. Sendo o concelho bastante rico em provas de existência humana nos tempos pré-históricos e romanos, não se conhece documentos abundantes, e expressivos que tenham sido encontrados na vila. Embora não se saiba quando esta povoação foi conquistada aos mouros, é perto dela que se comemora a Batalha de Ourique – no outeiro de São Pedro das Cabeças, a cerca de 4 Km - , em local assinalado por uma ermida. No local de São Pedro das Cabeças, foram encontradas numerosas caveiras separadas dos esqueletos a que pertenciam. A explicação aventada para tão estranho facto é a de que D. Afonso Henriques teria mandado degolar os mouros, que teriam oferecido encarniçada resistência. Para se chegar a São Pedro das Cabeças, partindo de Castro Verde, segue-se pela estrada para São Marcos da Ataboeira e Mértola e, a 2 Km de Castro Verde, vira-se à direita, passando a Giraldos.

O foral de Castro Verde, dado por D. Manuel l em 1510, parece indicar que no tempo de D. Afonso lll ainda esta terra não tinha importância necessária para lhe ser concedido foral, e nesse caso, estaria de certo modo na dependência de Ourique.

Esta vila possui uma Igreja Matriz com rica talha dourada e azulejos do século XVlll em que o motivo é a Batalha de Ourique (parecem reproduzir os quadros da Igreja dos Remédios) e ainda a Igreja da Misericórdia, a Ermida da São Miguel, a Ermida de São Pedro das Cabeças.

Segundo, o Dr. Joaquim Albino da Silveira, de Informação Particular de 1941: “Já aparece mencionada em 1301. Penso que este nome foi transplantado da antiga e extinta vila de Castro Verde nas ambas da Serra da Estrela, hoje simples lugar de Eiró (Santa Marinha de Seia), porque a palavra Castro ( ou crasto) , tão vulgar na toponímia do Norte Beira não figura no Sul do Tejo senão neste nome, e no de Castro Marim … Mas, transplantado ou não, o seu sentido é tão claro (« - castelo verdejante, povoação ou cercado de vegetação») que quase dispensa explicação. Cp. Estes outros topónimos: Vila Verde, Penha Verde, Monte Verde, casal verde, Cabo Verde, etc.”

 

 

 

Cuba – Concelho do Distrito de Beja

 

O nome de Cuba tem a sua origem, segundo a tradição, num castelo situado no monte do Outeiro, onde os soldados de D. Sancho l, aquando da Reconquista, teriam encontrado muitos recipientes para armazenar líquidos, denominados cubas. Seria no monte do Outeiro que existiria a primeira povoação com o seu castelo, do tempo dos romanos. De acordo com outra versão, o nome seria resultante de naquele local, ou muito próximo, se encontrar uma “cuba”, pequeno monumento religioso muçulmano que tanto abundava no Alentejo e que, depois da Reconquista, nos aparece adaptado a ermida cristã.

É provável que a primitiva povoação se localizasse no monte do Outeiro, mas as ruínas ali existentes, de características romanas, ainda não forneceram elementos que o provem à evidência. Segundo documentos antigos, só em 1643 se construíram as primeiras casas no local que a vila actualmente ocupa. Em 1741, a população era de 1.220 habitantes, e em 1783, Cuba é elevada à categoria de vila, por ser até então «… um lugar do termo da cidade de Beja, em razão da distância de três léguas que o dito lugar dista da referida cidade …»

Cuba é, portanto, uma vila recente, resultante de uma povoação anterior, situada nas cercanias e transladada depois para o local que hoje ocupa.

Ligado a Cuba durante a vida e depois dela, o notável escritor Fialho de Almeida aqui viveu como médico modesto e daqui se projectou como figura grada nas letras portuguesas.

Segundo, Xavier Fernandes de Topónimos e Gentílicos (1944): “Esta vila e concelho alentejano do distrito de Beja tem uma designação que não é vulgar na toponímica portuguesa. Cuba é também nome comum, espécie de balseiro, dorna ou tonel, e, como tal derivado do latim “cupa”. É possível que se identifique etimologicamente o topónimo e nome comum, hipótese que pode ser prejudicada pela circunstância de haver a republica de Cuba, onde a designação, evidentemente espanhola, terá sido talvez a mesma origem. Mas outra hipótese de mais probabilidade se nos depara: Cuba deve ser nome arábico, isto é, derivado do árabe Coba, peque torre, que, assim será o significado etimológico do nosso topónimo, bem como do seu homógrafo hispano-americano”.

 

Cuba
Criado por alvará de D. Maria de 18 de Dezembro de 1782 o concelho de Cuba englobava então as freguesias de Pedrógão, Marmelar, Selmes e parte de S. Matias. Por esta altura as freguesias de Vila-Alva, Vila-Ruiva, Faro do Alentejo e Albergaria dos Fusos ainda constituíam concelhos independentes, situação que se manteve até 6 de Novembro de 1839, quando estes concelhos foram extintos.
As interpretações quanto à origem do topónimo Cuba adiantam duas hipóteses: uma segundo a qual Cuba seria a adulteração da palavra árabe COBA que quer dizer TORRINHA (diminutivo de Torre), e outra que vai buscar a sua explicação ao facto dos soldados de D. Sancho II terem encontrado muitas cubas de vinho quando da conquista da vila aos mouros.
Há registos arqueológicos que provam ter sido Cuba habitada desde a pré-história (cultura megalítica, 4 000 a 2 000 a.C.)
Esta região foi habitada desde épocas muito remotas. Aqui se encontram alguns exemplares da cultura Megalítica - três antas, duas situadas nos arredores de Vila Alva e a outra próximo de Albergaria dos Fusos.
Foram encontrados achados soltos e calhaus truncados, núcleos e lascas em Cuba, na pequena elevação das Hortas de Manteigas e junto da Ermida de Nossa Senhora da Conceição da Rocha.
Existem “registos” visíveis no Concelho da presença romana: a ponte sobre a ribeira de Odivelas e a represa (Vila Ruiva), bem como “restos” de duas “villas” rústicas, no Monte da Panasqueira e no Monte do Outeiro (Cuba). 
No período da ocupação romana algumas ruínas atestam o seu povoamento, sendo notória a citação que André de Resende (1573) fez de Cuba, referindo grande quantidade de medalhas e cipos romanos que se haviam encontrado no aglomerado urbano e sua periferia (História da Antiguidade da cidade de Évora, ed. 1738 e Antiquitatum Lusitanise et municipio eborensi, Liv. V, ed. 1593).
Do tempo de ocupação árabe não se encontram monumentos ou ruínas, ficando no entanto algumas lendas e a hipotética origem do topónimo da sede do concelho.
Até há trinta anos era possível observar um cemitério Medieval no adro da Igreja Matriz de Vila Ruiva. Esta igreja é o único exemplar de arte Gótica na região.
As igrejas do concelho apresentam frescos de diversas épocas.
Cinco igrejas do concelho apresentam magníficos painéis de azulejos policromos do séc. XVII.
Da arte Manuelina pouco resta, é de referir o portal que pertenceu à casa de campo do Infante D. Luís, filho de D. Manuel I, e que se  encontra  actualmente na Ermida de Nª Srª da Conceição da Rocha.
Povoação genuinamente rural, foi o Monte do Outeiro o seu primeiro aglomerado habitacional mas por razões ainda não totalmente esclarecidas a povoação passou depois para uma zona plana nas suas proximidades. Desde o século XIII que se encontram registos da existência de Cuba, tendo pertencido então ao Concelho de Beja, passando posteriormente para a posse dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Em 1305, os direitos da aldeia de Cuba ficaram na posse do rei D. Dinis. Na posse real desde a última data, foi Cuba doada por D. Fernando I (1372) ao fidalgo castelhano Diogo Afonso do Carvalhal, tendo-lhe pertencido até 1374, data em que este abandonou o Reino. Aquele Monarca, doou-a depois, de “juro e herdade” a Vasco Martins de Melo, seu guarda-mor.
Na primeira metade do século XVI pertenceu a povoação ao Infante D. Luís, quarto filho do 2.º casamento de D. Manuel I. Atribui-se a este infante a construção de um palácio denominado “Paço dos Infantes”, casa de campo ou pavilhão de caça, de que hoje apenas restam um portal de estilo dito “manuelino”, colocado como porta da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Rocha, e não há muitas décadas algumas vergas e silhares usados em diversas construções. Neste palácio jantou el-rei D. Sebastião em 1573, quando jornadeou por Évora e Beja.
A povoação teve escrivão, alcaide, duas companhias de ordenanças e uma de auxiliares, bem como juiz eleito anualmente, como o atesta documento de Filipe II de Espanha (período de ocupação castelhana) de 1626. Em 1727, uma provisão de D. João V autorizou o morador João Luiz a criar o celeiro comum, de que foi 1.º administrador Francisco de Macedo Foya, em 1732.
A vila foi criada em 1782 por alvará de D. Maria.

 

 

Ferreira do Alentejo – Concelho e Distrito de Beja

 

 

O povoamento primitivo de Ferreira do Alentejo é muito antigo, supondo-se que os romanos tenham tido aqui uma importante povoação (a cidade de Singa, segundo a tradição). Aliás, têm sido vários os vestígios encontrados que atestam essa ocupação. Sabe-se que Ferreira do Alentejo pertenceu à Ordem de Sant’Iago e que o seu castelo, hoje desaparecido, era da jurisdição do mestre daquela Ordem.

D. Manuel l concedeu foral à vila em 1516. O documento teria desaparecido, pelo que o rei D. Sebastião mandou passar novo foral, cujo pergaminho se encontra depositado na Câmara Municipal. A Igreja Matriz é considerada como uma das mais belas do Alentejo. Existe nela uma imagem reproduzindo a padroeira de Ferreira do Alentejo, que se sabe de fonte segura ter seguido com Vasco da Gama aquando da sua descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. Esta imagem pertenceu a Cristóvão Estribeiro, que acompanhou o grande navegador.

Do Mensário das Casas do Povo (1950: “ Quais os motivos que levaram esta branca e trabalhadora vila alentejana a adoptar o nome de Ferreira ? Os documentos consultados não elucidam convenientemente. Ao que parece, por todo o País, trabalham e lutam pela vida, mais de cem povoações, ao abrigo do mesmo étimo. A palavra investigada nas suas raízes filológicas, elucida-nos pouco.  Do latim «ferraria» - mina de ferro – chegou-se a Ferreira. – Quer isto dizer que poderemos encontrar uma mina semelhante, para cada obscura aldeia a que se deu a designação de Ferreira ? De modo algum.

O processo histórico da formação de novos aglomerados populacionais ensina-nos que os homens ao fixarem residência longe da sua terra natal, gostam de dar um nome semelhante à localidade para onde emigraram.

É certo que, em escavações realizadas em meados do século XVlll, foram encontrados na localidade muitos instrumentos agrários, domésticos e fabris, todos de ferro, do tempo dos romanos.

Terá esse indício alguma importância? É muito duvidoso, pois uma tradição velha da região, diz-nos que no lugar onde se erguem hoje as paredes caiadas de Ferreira do Alentejo, havia uma cidade, de nome Singa, testemunha do feito heróico de uma antecessora da Padeira de Aljubarrota, que defendeu heroicamente a porta do castelo, contra as hordas dos godos e dos suevos.

Como teria desaparecido Singa? Destruída pelos Godos? Arrasada pelos Árabes?

A história não o diz, e a lenda não o esclarece”.

 

Ferreira do Alentejo
A excelente qualidade do solo que circunda o actual concelho e vila de Ferreira do Alentejo bem como a proximidade de linhas de água determinaram, certamente, a fixação humana nesta zona há cerca de 43 séculos. Tal ocupação é confirmada pelo  espólio arqueológico abundantemente encontrado na estação calcolítica que se estende ao longo das margens da ribeira do Vale D’Ouro.
A arqueologia revelou-nos e confirmou-nos ainda a presença, neste concelho, dos Romanos, do Visigodos e do Povo Islâmico. Presenças estas ainda confirmadas pelos próprios vestígios arquitectónicos como o sejam, no caso deste último povo, por exemplo, as construções de corpo cúbico com cobertura cupular – “Kubba” – que se podem encontrar em Villas Boas, S. Vicente ou ainda em S. Sebastião.
Quanto a fontes escritas propriamente ditas estas são muito escassas e até omissas quanto á data de fundação deste povoado. Deste modo apenas sabemos através dos documentos da chancelaria régia de D. Sancho II e de D. Afonso III que o território foi conquistado aos mouros em 1233 e foi doado, no ano seguinte, à Ordem de Santiago.
Dependente, espiritualmente, do bispado de Évora, só em época mais tardia se constituiu o seu alfoz pelo foral da Leitura Nova, concedido em Lisboa a 05 de Março de 1516, concelho que não incluía os curados de Vilas Boas, Peroguarda e Alfundão, dependentes das matrizes de Beja.
Ferreira teve castelo, situado ao pequeno cômoro do actual Cemitério Público, filial dos espatários de Alcácer do Sal, de que era alcaide em 1527, Francisco Mendes do Rio, e em 1708 Baltazar Pereira do Lago. Esta fortaleza desapareceu totalmente e, segundo informação de um particular, Francisco António Mattos, por volta de 1800, apesar de já estar arruinada, ainda ostentava algumas das famosas nove torres, o fosso e a barbacã. Por volta de 1839 deliberou a Junta de Paróquia de então, construir nesse terreno o Cemitério Público cujas obras para sempre esconderam a antiga fortaleza. Aliás a recordar a memória dessa exuberante fortaleza apenas restou o escudo da Ordem dos Espatários que ainda hoje encima a entrada principal do Cemitério Público de Ferreira do Alentejo.
No ano de 1627 foi criada a Comarca de Ferreira do Alentejo, em consequência da reforma da Ordem de Santiago e da aprovação régia Filipina dos novos Estatutos, comarca que abrangia as vilas de Torrão, Aljustrel e Alvalade, isto no domínio espiritual, porquanto no domínio temporal a vila era administrada por um juíz de fora, três vereadores, procurador do concelho, escrivão da Câmara, juiz de órfãos, com escrivão e oficiais, alcaide e capitão-mor, assistido por duas companhias, uma de ordenanças e outra de auxiliares.
Em 1762 Ferreira pertencia á Ouvidoria de Beja, e no ano de 1811, estava judicialmente anexada á Vila de Torrão. Nesta altura pertencia á Comarca  e Provedoria de Ourique , Diocese de Beja e donatária da coroa.
Em 1821 Ferreira era concelho da divisão eleitoral de Beja e da comarca de Ourique.
Em 1842, Ferreira era um dos concelhos do distrito administrativo de Beja e compreendia cinco freguesias, a saber: Ferreira e Villas Boas, Figueira dos Cavaleiros, Alfundão, Peroguarda e Santa Margarida do Sadão. Só por volta de 1874 é que a freguesia de Odivelas, também ela pertence do concelho, ficou sob a tutela de Ferreira do Alentejo.
Com o advento da República a 5 de Outubro de 1910, Ferreira do Alentejo sofreu algumas alterações arquitectónicas que acabariam por empobrecer patrimonialmente a actual vila.
Apesar de ter sido habitada por algumas ilustres famílias transtaganas, como os Estaços, os Galvões, os Lanças, os Sousas, os Mouratos, os Miras, os Pereiras, os Ravascos Silvas, os Menas, os Vilhenas e os Passanhas, não conservou mansões apalaçadas do passado e somente a estes últimos se deveram a construção dos principais edifícios urbanos que, a partir do século XIX, enobreceram a vila. Entre esses edifícios podemos apontar, a título de exemplo, o da Quinta de São Vicente, pertencente á famílias Passanha , e a casa nobre que se ergue na Rua Conselheiro Júlio de Vilhena nº 4/6, que pertenceu á casa agrícola Jorge Ribeiro de Sousa, herdeiro dos condes de Avilez e Boa Vista e da Morgada da Apariça.
Ferreira foi igualmente berço de importantes personagens que assumiram especial e relevante destaque no campo das letras e da religião, de entre os quais destacamos o conselheiro Júlio Marques de Vilhena, importante figura dos últimos tempos da antiga Monarquia.
EXPLICAÇÃO DO TOPÓNIMO DA VILA
A tradição popular afirma que por volta do século IV, na zona onde hoje se ergue o povoado de Ferreira do Alentejo, existia uma exuberante e próspera cidade romana denominada Singa. Essa cidade seria, contudo, atacada, por volta de 405 da era cristã, por povos bárbaros, os suevos e os godos, que teriam sido detidos pela valentia de uma valorosa mulher. Essa mulher, esposa de um ferreiro, terá defendido a porta do castelo com dois malhos.
Este facto, que até hoje nos traz algumas dúvidas e que ainda não pôde ser confirmado cientificamente, deu imagem ao Brasão da vila no qual figura uma mulher com um malho em cada mão.

 

 

 

 

Mértola – Concelho e Distrito de Beja

 

 

Não há outra igual. Mértola é única, por tudo o que nela há de beleza e de mistério. Um castelo, um casaria branco e um rio. À medida que percorremos as suas teias, descobrimos-lhe um condimento especial que só sabe sentir quem a percorre. Lá no alto, senhor da terra e do rio, o Castelo é o melhor local para tomar conhecimento da grandiosidade da natureza. E foram muitos os que se enamoraram desta beleza. Os vestígios estão nas escavações feitas na cerca do Castelo que puseram a descoberto a “Myrtilis” romana. Depois, basta dar alguns passos e os vestígios mudam de figura. Trata-se da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, que de mesquita árabe passou a ser Igreja Matriz. E daí para baixo desenrola-se um promontório de casas alvas ligadas por ruas feitas de calçada. O calor faz com que os donos desta terra estejam recolhidos, só as cegonhas insistem em espreitar os visitantes ou planar o rio Guadiana. O mesmo Guadiana que na terrível noite de 7 de Dezembro de 1876, galgou os limites e afogou Mértola. A vila já lhe perdoou, mas para que o dilúvio não seja esquecido, lá está a placa no largo dos Paços do Concelho. Hoje nem parece o mesmo Guadiana. As águas estão serenas e no seu leito há uma ilhota que é fã da vila e que goza os prazeres deste rio alentejano.


ORIGEM DO NOME:
“A fundação de Mértola teve por motor a fuga de alguns fenícios que se homiziaram aqui quando Alexandre Magno invadiu a cidade de Tiro. Derma à povoação o nome de Myrtilis que significa Nova Tiro. Com o andar dos tempos a palavra Mirtilis corrompeu-se em Mártola”. (Arquivo Histórico de Portugal – 1898).
É uma vila antiquíssima, teve o nome latino de Myrtilis. Ptolomeu, nos inícios do século ll da nossa era, considerou-a terra importante do Império Romano. Na Idade Média foi rodeada de poderosas fortificações, das quais subsistem vestígios. Foi integrada na Coroa de Portugal em 1238, pelo rei D. Sancho ll, monarca que a doou no ano seguinte à Ordem de Sant’Iago, da qual se tornou cabeça do Reino. O mestre D. Paio Peres Correia concedeu-lhe foral em 1254, renovado em 1512 por D. Manuel l.
A Mírtilis romana, Mirtolah árabe e Mértola portuguesa, debruçada sobre o rio Guadiana, foi importante entreposto comercial fenício, cartaginês, romano e árabe, devido à facilidade de navegação, rio acima, a partir da foz. Terra de muito remota origem, esteve sempre intimamente ligada à via fluvial que lhe assegurava as comunicações na região em que se localiza. Por Mírtilis passava uma importante via romana que ligava Pax Julia (Beja) a Beasuris (Castro Marim, e dali derivava para Balsa (Tavira) e Ossónoba (Faro) ou para Ilipula (Niebla – Espanha), Itálica (Sanlúcar la Mayor – Espanha) e Hispalis (Sevilha – Espanha). A situação de Mértola, num ponto-chave das comunicações terrestres ou fluviais com o Sul da Península e como baluartes de defesa dessas vias, conferiu-lhe uma enorme importância ao longo de séculos. Se os muitos monumentos pré-históricos da região de Mértola provam uma densa ocupação humana desta região, o cais acostável romano, as moedas romanas cunhadas em Mírtilis e muitos outros vestígios da mesma época, esclarecem-nos sobre seu prestígio e influência durante o princípio da nossa era. A Igreja Matriz, antiga mesquita árabe extraordinariamente bem conservada, é documento precioso da presença muçulmana do sul de Portugal, quando a terra era a Mirtolah árabe.
O Castelo medieval, só em parte reconstruído, mas com possibilidades de o ser totalmente, é valioso atestado de uma outra época.
Sendo Mértola, portanto, das poucas terras portuguesas em que a estratificação das culturas é suficientemente nítida para permitir um estudo aprofundado do passado, merece ser encarada com especial interesse. A sua implantação numa encosta leva-a a estender-se desde as águas da margem direita do Guadiana até ao alto da colina onde se ergue o castelo.
Fica esta vila em terrenos muito dobrados de xisto e, consequentemente, de fraca aptidão agrícola. Só alguns vales, enriquecidos pela erosão que descarna as terras mais inclinadas, se podem considerar de boa fertilidade. Por isso,, a sua economia faz-se à base de uma agricultura modesta e de uma pecuária abundante, além de um comércio de diversos produtos a que o Guadiana assegurou sempre uma via fácil de transporte, embora actualmente seja suplantado pelo transporte terrestre em boas vias de comunicação que cruzam todo o concelho. Modestas nas suas dimensões e importância, as várias povoações deste concelho são Alcaria Ruiva (nesta freguesia, perto da estrada que liga Mértola a Castro Verde, encontra-se a Ermida de Nossa Senhora de Aracelis, numa elevação isolada a meio da vasta planície. Foi local de muita devoção e de periódicas romarias), Corte do Pinto, Santana de Cambas e outras, mas foi a Mina de São Domingos aquela que teve, até há bem poucos anos, o maior peso económico nesta região. Ao esgotarem-se os filões da mina, a empresa encerrou a sua actividade verificou-se o desemprego e o êxodo da população. Mértola, que recebia a benéfica influência da actividade da mina, sentiu diminuir as receitas do comércio e da indústria. Simultaneamente, ou com pequeno intervalo, também deixaram de ser exploradas outras concessões mineiras (de manganês) na freguesia de Alcaria Ruiva, pelo que já não há qualquer mina em actividade neste concelho. A povoação de Mina de São Domingos, parcialmente despovoada, tem junto dela uma barragem que é local de pesca e de recreio na região semiárida desta parte do Alentejo. Em Mértola, ponto de passagem obrigatória de quem vai de Beja para a zona oriental do Algarve e, eventualmente, posterior passagem para Espanha pela fronteira de Vila real de Santo António, há pontos de interesse que merecem ser observados. A vista geral da vila, observada da margem esquerda do Guadiana ou da ponte que lhe dá acesso, mostram-nos o casario branco subindo pela encosta, rematando ao cimo pelo castelo com a sua altaneira torre de menagem. O Castelo, em grande parte a necessitar de urgentes obras de reparação, apresenta-nos a praça de armas, com restos de construções, e a torre de menagem, imponente na sua extrema simplicidade. Trepamos a colina “branca” para entrarmos na história do Castelo que mira o Guadiana. Percorrer o adarve que o contorna é ter oportunidade de ver Mértola no seu todo ... desde a sucessão de telhados que culminam quase no rio, à torre do relógio que é poiso favorito das cegonhas, ao desaguar da ribeira de Oeiras no Guadiana, aos vestígios de um cais fortificado da época romana restaurado pelos mouros, às escavações arqueológicas que têm lugar mesmo ao lado do castelo e à cisterna, ainda bem conservada e com abóbada de berço, que surge no centro da praça de armas do Castelo. Por Mértola, antiga metrópole da Lusitânia, já passaram romanos, suevos, visigodos e muçulmanos, que deixaram importantes vestígios, alguns deles possíveis de serem vistos nos museus da vila. Durante o domínio romano, a povoação já se encontrava cercada de fortificações mas as invasões de suevos e visigodos destruíram parte das características romanas do burgo e no século Vlll, os mouros islamizaram-no. Foi só em 1238 que Mértola entrou para o rol de conquistas da 1ª Dinastia, sendo doada à Ordem de Santiago de Espada no ano seguinte. No reinado de D. Dinis, em 1292, foi restaurada e ampliada a fortificação já existente, construindo-se uma torre de menagem com cunhais de cantaria e uma porta em ogiva que permite a entrada na nobre sala abobada, sala esta que hoje é Museu de Arte Romana, Visigótica, Muçulmana e Cristã. A Mirtolah árabe foi conquistada em 1239. O primeiro foral concedido a Mértola data de 1250 assinado por D. Afonso lll e confirmado por D. Dinis em 1287, para em 1512, o rei D. Manuel l lhe conceder novo foral. A primeira figura notável que se sabe ter nascido em Mértola, foi São Brissos, martirizado e morto pelos romanos, em 312.
No rio Guadiana podem observar-se agradáveis panoramas e merecem uma visita os canais e o Pulo do Lobo. Os canais são excelente zona de pesca a que conduz um caminho vicinal que parte de Corte de Gafo de Baixo. O Pulo do Lobo é um estrangulamento do rio que passa, com enorme fragor e nuvens de espuma, por entre dois penhasco rochosos que distam entre si cerca de 3 metros, formando uma deslumbrante queda de água com 13,5 metros. Seguindo por Corte de Garfo de Baixo e Amendoeira da Serra, atinge-se com facilidade o Pulo do Lobo. Sendo o Guadiana fronteira natural entre os concelhos de Mértola e Serpa, esta bela obra da Natureza pertencerá a ambos, mas o acesso a partir de Serpa é bem mais difícil.
Integrada numa vasta zona continental situada a norte e estendida para nascente e poente, cabia a Mértola drenar para sul as mercadorias acarretadas através das várias vias terrestres. Metais, certamente na época mais antiga. Depois também cereais, nomeadamente ainda na época cristã e até muito recentemente. Transporte de pessoas, a par das cargas. Até que tudo finda – o desenvolvimento viário vem destronar definitivamente as carreiras regulares de barcos de passageiros que se efectuavam entre a vila e Vila real de Santo António. Mértola é pois uma povoação que, atravessando o tempo, guarda dentro de si altas memórias do passado. Hoje, graças a um esforço quase inédito no país, a povoação vai revelando estrato a estrato a sua memória multissecular. De maneira visível, a mais antiga das presenças que surge na vila à luz do dia é a civilização romana, já que dos tempos anteriores não ficaram traços monumentais. Roma começa por estar presente na parte mais nobre do agregado urbano, no local que avizinha o núcleo duro das fortificações, o Castelo. Sebastião Estácio da Veiga, arqueólogo incansável do século passado, teve ocasião de explorar quer esta zona quer outras da vila, compondo com o seu saber assim auferido as suas “Memórias das Antiguidades de Mértola”, editadas em 1880.
Mértola é decerto um dos mais antigos sítios de Portugal onde, com idênticas funções, uma povoação se manteve importante através dos séculos. Já na época pré-romana a desconhecida Mértola de então terá servido de elo de ligação portuária entre o interior do território e o mar, particularmente com o Mediterrâneo. Eram os tempos em que uma brilhante civilização, de que o expoente máximo foi a cidade de Tartessos, se desenvolvia no sudoeste da Península Ibérica. Veio depois Roma, veio a época muçulmana, e Mértola continuou a ser uma importante cidade. Será a conquista cristã do sul do território português, em meados do século Xlll, que abrirá caminho ao seu apagamento. Lembra um grande barco ao remirar-se nas águas do Guadiana. Na parte mais elevada, a norte, estabeleceu-se a acrópole, a alcáçova, o Castelo, num ponto cimeiro que não chega a atingir os 90 metros de altitude. Cá em baixo, porém, as águas do rio descem ou alteiam-se acompanhando o ritmo das marés, que este é, para além de um dos grandes cursos de água da Península Ibérica, um longo canal que liga a vila ao mar do Algarve, com uns 70 quilómetros de extensão. A toda a volta de Mértola estende-se o amuralhado, a cerca, a acompanhar de ambos os lados da sua ponta sul os dois vales ravinosos da ribeira de Oeiras e do antigo Odiana. Da chamada Torre da Carocha (certamente a torre “coraicha”, a da coiraça), sai-se para o rio, para a zona do antigo porto, situado ao que se presume já na ribeira de Oeiras, no seu troço terminal, quando o modesto curso de água prepara para se lançar no Guadiana.
Este esporão em que assenta Mértola cedo atraiu populações que aqui, lá no cimo do cerro, se estabelecem bem antes que tivessem desembarcado na Península os exércitos romanos. O motivo dessa implantação humana pode dizer-se que “está à vista”. Uma alta cunha que oferece magníficas condições de defesa. A existência de uma área envolvente banhada por dois rios desiguais.
Mas, sobretudo, este local ocupa uma posição privilegiada em relação ao rio Guadiana que permite à urbe ali implantada a utilização e o controlo desta magnífica via de comunicação entre o interior alentejano e o mar algarvio, anteporta do mar Mediterrâneo, das suas costas imediatas sul e norte (esta a da civilização tartéssia). Mas sobretudo das mais longínquas e míticas praias do Mediterrâneo oriental, de onde partem marinheiros e comerciantes que procuram adquirir nestas terras interiores o mais precioso dos metais – o ouro. Esta parece ser a função de Murtili, de Mytilis, de Mântua, e, ainda que rápida perda de importância, da Mértola conquistada em meados do século Xlll pelos exércitos cristãos. Numa época em que os transportes fluvial e marítimo eram dominantes, Mértola localiza-se à beira de um rio navegável que tinha comunicação directa com o mar e a garantia de um caudal constante que lhe era fornecido através do próprio fluir das marés. Situada a norte do Castelo (castellum), é nesta zona que se registam os restos de estruturas que compunham o fórum, a praça, o local público por excelência da cidade. Aqui se prestava o culto aos deuses, o culto imperial. Aqui se situava a basílica, edifício ligado à vida profana, que veio a converter-se em templo com o cristianismo. Aqui, neste escasso espaço, se situavam também as termas. Aqui se exercia, em vendas fixas, sob arcadas ou em plena praça, o variado comércio, tal como uma praça medieval, espaço também definido pelos belos edifícios públicos (a Igreja, a Câmara, o Tribunal e a Cadeia). Mas a Myrtillis, a Mértola romana hoje aberta ao visitante, não se esgota aqui. O núcleo romano musealizado encontra-se intramuros, mas no subsolo de um edifício público, a sede do Município. Ainda que numa povoação tão sedimentada não seja difícil adivinhar que qualquer escavação resulte na descoberta de estruturas de interesse arqueológico, foi um acaso de obras de reconstrução que levou à descoberta de uma casa romana no subsolo deste edifício, espaço este entretanto tornado circulável e aberto ao público. Recordemos que esta casa dava para a mais importante rua de Mértola. Esta será a via fundamental na organização de todo o seu espaço urbano. De facto, trata-se do eixo que estabelecia a ligação entre a acrópole acastelada e a zona de utilização do rio, a zona portuária. Desta pode ainda ver-se de pé, destacando-se da cerca, uma estrutura arcada que parece ter correspondido não a uma ponte, como também foi interpretado, mas a um cais torreado que se integraria no conjunto de obras defensivas da cidade amuralhada. Era por esta zona de confluência com a ribeira de Oeiras que se situaria o porto. Era aqui também que uma via romana secundária – a que punha em ligação a cidade com as Minas de São Domingos e a serra algarvia – se interrompia, recorrendo-se então a barcas para cruzar o rio Guadiana. A via principal, essa ligava Mértola a Beja, a Pax Julia, então capital de um “convento”, circunscrição administrativa da época romana. Vindo do norte, era pela zona do fórum que o viajante fazia sua entrada em Mértola. Depois, atravessando toda a cidade, chegava ao porto e, por via fluvial, partia para o sul. Ainda certamente da época romana conhece-se o traçado de uma extensa muralha – com cerca de dois quilómetros – que protegia a cidade à distância, cercando-a de uma ponta a outra do Guadiana e cruzando a ribeira de Oeiras. No exterior do casco urbano antigo, situado quase no limite do circuito interno deste grande amuralhado, encontra-se o templo que revela a implantação do cristianismo na cidade. A basílica paleocristã foi um dos templos aqui construídos no século V. Já escavada no século passado por Estácio da Veiga, a equipa dirigida por Cláudio Torres prosseguiu também aqui a pesquisa arqueológica. Actualmente, a parte recuperada do templo integra um museu de sítio. Postas a descoberto as estruturas subsistentes, ergueu-se à sua volta um edifício onde se expõe o espólio aqui recolhido, com especial destaque para um conjunto de lápides funerárias epigrafadas. Se o período “visigótico” se encontra também documentado, com exposição de peças na torre de menagem do Castelo, um destaque especial merece a época islâmica. Durante o domínio muçulmano, Mértola continuará a exercer a sua função de drenagem de minério e de produtos agrícolas para o Guadiana e para o golfo que banha os dois Algarves, o africano e o ibérico. Mas será já depois da desintegração do califado que a cidade vai dar que falar. A personagem dominante será o filósofo e místico Ibne (ou Bem) Qasî, que, em 1144, consegue apoderar-se de Mértola, então em mãos dos almorávidas. Ibne Qasî torna-se chefe de um pequeno estado. Expulso por um seu antigo aliado, Ibne Wazzir, procurará socorro em África, junto dos almóades. Mais tarde Ibne Qasî vai ficar senhor de Silves. Aqui, recusa submeter-se ao poder almóada, aliando-se a D. Afonso Henriques. Uma conspiração porá termo à sua vida nessa mesma Silves, em 1151. A Mértola muçulmana está representada pelo edifício da antiga mesquita, que seria reconvertido ao culto cristão ainda na Idade Média. No entanto, ainda que já transformada em Igreja, Duarte d’ Armas, no seu álbum das fortelezas, dá-nos dela uma representação ainda com a configuração de tempo islâmico, com os seus telhados múltiplos, correspondentes à cobertura das cinco naves – estrutura que o edifício conserva – e com a almenara, agora acrescida de um campanário. Para além disso, Mértola, possui outro importante testemunho deste período, agora resultado das pesquisas arqueológicas efectuadas no seu caso urbano. O núcleo islâmico do Museu de Mértola reúne um espólio extremamente rico, com destaque particular para a cerâmica desta época. Aliás, o “ex-libris” da vila passou mesmo a ser a reprodução de uma cena de casa com falcão que decora uma tigela datada do século Xl encontrada nos entulhos do antigo criptopórtico romano, adaptado a cisterna na época muçulmana e entulhado na época cristã. Integrada no Portugal cristão, Mértola, perdendo as funções de ligação com o Magrebe e com um mar Mediterrâneo, só voltará a Ter um surto de desenvolvimento nos séculos XV e seguinte. Será justamente com a ocupação de praças-fortes litorais marroquinas pelos portugueses que a vila reencontrará temporariamente funções de porto fluvial. É essa imagem que Duarte d´Armas vai fixar no seu livro, com duas caravelas fundeadas no rio, então ainda designado, “à portuguesa”, Odiana.


Mértola parece ainda adormecida quando chego e a observo de longe, na margem oposta do Guadiana. Apenas um pescador rasga as águas tranquilas do rio, vigiado de perto por duas cegonhas que sobrevoam o casario apertado entre as muralhas. Nada, por enquanto, a distingue de outras povoações alentejanas, igualmente alvas e pacatas. “Vila Museu”, indica a placa de boas-vindas junto à estrada. Com alívio, sei à partida que não vou encontrar um daqueles lugares, tão comuns em alguns países do Norte europeu, que servem de cenário a recriações históricas, onde os sorrisos, tal como as lojas, têm horários de abertura. Desfaço as dúvidas num pequeno café situado junto ao mercado, um animado local de encontro segundo me parece. As respostas chegam prontas, ainda mal acabada a pergunta, interrompidas por alguém que entra e dá a sua achega.
Cá fora, sob uma luz intensa reflectida nas paredes claras, Mértola mostra-se semelhante a muitos locais do Alentejo, com as ruas engalanadas de laranjeiras, pequenos comércios com os produtos locais e trânsito lento. Mas, aos poucos, conforme se entra na zona muralhada e se pisam as gastas lajes, uma história grandiosa revela-se sob os nossos pés e olhos, desmentindo a aparente pequenez do burgo.

 

Da Myrtilis romana à reconquista
Localizado na confluência do Guadiana com um pequeno afluente – a ribeira de Oeiras –, sobre um promontório rochoso, o povoado já era mencionado por geógrafos da Antiguidade que se referiam à imponência das suas fortificações. Na encruzilhada de vias terrestres e fluviais – 70 quilómetros separam o Atlântico daquele que foi o porto mais setentrional do grande rio do Sul –, este era, desde o período pré-romano, um importante entreposto comercial. Fenícios e cartagineses andaram por aqui fazendo trocas de produtos e trazendo notícias e influências de outros mundos. Com a chegada dos romanos, a povoação foi baptizada de Myrtilis, tornando-se uma das quatro municipia da Lusitânia. Por aqui passava a importante estrada que ligava Baesuris (Castro Marim) a Pax Julia (Beja). Seguem-se os suevos, por volta do ano 400 d.C., e os visigodos, durante os séculos VI e VII, altura em que a região integra o reino de Toledo.
O ano de 712 assinala o aparecimento dos árabes. É o começo de um longo período de prosperidade para a Mirtolah muçulmana, que chega a ser capital de um reino Taifa, tal como Silves e Faro. Resultado do desmembramento do califado de Córdova, as diversas taifas da península contribuíam para o desenvolvimento cultural e artístico dos respectivos territórios.
A reconquista cristã chegou em 1238 com o exército de D. Sancho II que, nesse mesmo ano, doou o burgo à Ordem Militar de Santiago e Espada, para que fosse repovoado. A primeira carta de foro foi outorgada por D. Afonso III em 1250 e a segunda por D. Manuel II em 1512. Durante o século XV e o início do XVI este seria ainda um ponto de abastecimento cerealífero das tropas do Norte de África. Com a concorrência dos portos marítimos a vila entrou numa suave letargia, de que tem vindo a sair com o dinamismo de gente de fora que escolheu o concelho para viver.
Foi para tentar desvendar os segredos dos 550 anos do Gharb Al-andalus (o Ocidente do Andalus) que Cláudio Torres se instalou em Mértola em 1976, dando início à primeira escavação contínua da arqueologia portuguesa. Desde então, muitos artefactos têm visto a luz do dia, ajudando finalmente a perceber os contornos da história da ocupação árabe da península. A maior parte dos trabalhos desenrola-se no bairro islâmico, mesmo ao lado do castelo construído no século XIII sobre a antiga alcáçova. De uma dezena de habitações com algum piso intacto, ao lado das quais se encontrava a oficina de um ourives de prata, saem “cacos” com que os técnicos do Campo Arqueológico reconstituem objectos magníficos, em puzzles intrincados que requerem muita paciência. Os historiadores, esses, vão lentamente juntando as peças do fabuloso mosaico de uma cultura que deixou muitas marcas na nossa história.
Este é o sítio ideal para começar um passeio não só através das ruas da vila, mas também do seu passado – longínquo ou mais recente –, visitando os seus inúmeros núcleos museológicos e monumentos. Do topo da fortaleza avista-se uma paisagem já mais algarvia do que alentejana. As planícies dão lugar a um relevo acidentado, onde se destacam as serras de Alcaria, S. Barão e S. Brissos – o primeiro mertolense notável de que há registo, martirizado e morto pelos romanos em 312. O olhar desce até ao rio, acompanhando os telhados das casas com os seus pátios interiores recheados de limoeiros e canteiros de flores.
Uma cegonha ronda a Torre de Menagem, que alberga um conjunto de fragmentos arquitectónicos da época pré-islâmica, recolhido na região. Desce-se depois até à Igreja Matriz, erguida no lugar de uma mesquita do século XII. Dessa época, o belo interior de abóbadas nervuradas conserva ainda quatro arcos em ferradura e o mihrab (nicho que indica a direcção de Meca). De uma das vezes que lá passei a Bíblia do altar tinha por companhia o Corão. Cá fora soavam tambores e ouvia-se o som de cantigas árabes. Em frente ao templo, uma tenda com o chão forrado de tapetes deixava entrar quem quisesse ouvir histórias das Mil e Uma Noites, enquanto os cuspidores de fogo se preparavam para o espectáculo nocturno.
Parecia que tinha acabado de viajar no tempo, embora esta fosse apenas mais uma edição do Festival Islâmico que, a cada dois anos, dá à vila a oportunidade de reviver uma época áurea. Algumas ruas transformam-se num autêntico souk, com bancas onde artigos vindos do Norte de África convivem com os produtos locais. Os restaurantes aderem à iniciativa servindo pratos como cuscuz e tajines e em vários lugares pode provar-se a doçaria marroquina, acompanhada por chá de menta, juntamente com os méis e queijos da região.
Rota museológica
Enquanto se aguarda pela próxima festa, em Maio de 2005, seguimos para o Núcleo do Ferreiro, antiga forja recuperada de forma a mostrar os artefactos da actividade. Continuamos junto à muralha, passando pela sede do Parque Natural do Vale do Guadiana, onde nos poderão ser indicados alguns dos pontos mais interessantes da área protegida como o Pulo do Lobo ou as Minas de S. Domingos. Perto dali, o Núcleo de Arte Islâmica expõe o resultado de mais de duas décadas de trabalho arqueológico. São peças de osso e metal, objectos de adorno e utensílios domésticos, vasos e jóias que formam a melhor colecção do género de todo o País. O contíguo Núcleo de Arte Sacra, instalado na antiga Igreja da Misericórdia, contém imagens e alfaias litúrgicas recolhidas em igrejas do concelho.
Se, como já se referiu, grande parte dos achados tem sido o resultado de longas investigações, outros acontecem por obra do acaso. É o caso do incêndio ocorrido no edifício da câmara municipal, que deixou à mostra vestígios de uma casa romana, datada de 2000 a.C. O projecto de recuperação do edifício acabou por integrar mais este espaço museológico, albergando outros objectos da mesma época.
Estamos praticamente no fim de um percurso que, por coincidência ou não, segue sempre junto ao pano de muralhas. Mas não se deve ir daqui sem nos deixarmos perder pelas vielas do interior. Aí haverá sempre tempo para dois dedos de conversa num bar, para relaxar, e até em algumas oficinas (como a de joalharia e a de cerâmica) que produzem objectos inspirados nas técnicas e nas formas das coisas de outrora.
Terminado o passeio intramuros, é altura de regressar ao relativo bulício de uma vila em lento crescimento. Também aí a terra guardou segredos. É o caso da basílica paleo-cristã, escondida sob a fachada de um edifício anónimo, onde foram encontradas várias dezenas de lápides, incluindo uma com inscrições em grego provando o carácter cosmopolita dos habitantes de então. Quem por aqui andar durante a semana poderá ainda visitar a necrópole romana (século II a.C.) e a ermida de S. Sebastião, de fundação medieval, que se encontram dentro do perímetro da escola EB 2,3 de Mértola.
Para finalizar em beleza, nada melhor do que visitar o Convento de S. Francisco, situado na margem direita da Ribeira de Oeiras, junto à estrada que segue para Sul. Entre 1612 e 1834 o templo pertenceu à Ordem de S. Francisco, tendo vindo a degradar-se até ao estado ruinoso em que se encontrava quando foi adquirido, em 1977, por um casal de artistas holandeses. Apesar de ser propriedade particular, pode percorrer os seus jardins e descansar no espaço da antiga capela, decorado com obras de Geraldine Zwanikken. É um local de muita paz, ideal para uma despedida a Mértola.

 

 

 

Moura – Concelhos e Distrito de Beja

 

Segunda uma antiga lenda local, o topónimo deve-se à Formosíssima Salúquia, filha do governador mouro desta praça, que se lançou de uma das torres do castelo ao ter conhecimento da morte do noivo, numa emboscada de cristãos, que, após terem desbaratado os seus inimigos, penetraram no castelo disfarçados com os fatos dos vencidos. A vila passou a chamar-se Moura em 1232, após ter sido ocupada por D. Sancho ll, mas só foi definitivamente integrada na Coroa Portuguesa no reinado de D. Dinis, que lhe concedeu o primeiro foral em 1295 e reedificou o castelo no ano seguinte.

A Lenda da Moura – (Domingo Ilustrado – 1898)

“Como a lenda da tomada desta terra pelos cristãos seja a mesma que deu origem ao seu brasão de armas, vamos referi-la.

Corria o ano de 1166. D. Afonso Henriques, aclamado rei de Portugal nos plainos de Ourique, tinha expulsado os infiéis da Estremadura, e combatia sem descanso para os expelir do Alentejo, cujo terreno lhe disputavam palmo a palmo, em luta porfiosa e desesperada.

Era então alcaide do Castelo da antiga Arucitana um mouro nobre e opulento, senhor de muitas terras do Alentejo. Abu Assan, que assim se chamava, tinha uma filha por nome Saluquia a quem amava ternamente. Em prova do seu afecto dera-lhe em dote aquele castelo, por ele reedificado e guarnecido com tudo quanto era mister para conforto e defesa.

A jovem moura, tão ricamente dotada, não tardou a contratar o seu casamento com um agareno, não menos rico e poderoso, e também alcaide do forte Castelo de Arouxe.

Chegada a ocasião dos desposórios, pôs-se a cminho Braffma, era o nome do noivo, seguido de uma numerosa e luzida cavalgada. Ao entrarem, porém, num vale estreito e sombreado por espesso arvoredo, caíram sobre eles alguns cavaleiros cristãos, tão de improviso, e com tal fúria e denodo, que em breve espaço de tempo se viu o chão juncado de cadáveres, não escapando com vida um só sarraceno.  Foi esta acção uma empresa de antemão combinada e disposta; e foram autores dela dois fidalgos da corte de D. Afonso Henrriques, chamados Álvaro Rodrigues e Pedro Rodrigues.

Apenas foi concluído este primeiro acto do drama, apressaram-se os dois fidalgos, e os outros seus companheiros de armas, a despojar os corpos dos mouros de todos os fatos e adornos, e, trocando-se pelos seus, num momento se acharam transformados em perfeitos cavaleiros mauritanos.

Assim disfarçados, seguiram o caminho do castelo da noiva, entrando alegres com vozes e gritos ao modo dos sarracenos. A desditosa Saluquia, que esperava ansiosa a vinda do consorte, viu da janela do alcáçar aproximar-se a brilhante o jovial comitiva.

Com o riso nos lábios, e no coração a falar esperança e felicidade, correu a ordenar à sua gente que baixasse a ponte levadiça, e abrisse de par em par as portas da fortaleza para receber o seu novo senhor. A sua ilusão, porém, passou rapidamente, como o relâmpago. As vozes de alegria e paz, que os cavaleiros entoavam ao transpor os fossos do castelo, em breve se converteram no retinir das armas, nos alaridos da guerra, e enfim, nos brados da vitória.

O sagrado pavilhão das quinas portuguesas tremulava já triunfante sobre as ameias da cidadela. A praça estava rendida aos pés do vencedor, mas não assim a sua altiva senhora. A desgraçada da Saluquia, preferindo a morte à escravidão, arremessara-se do alto da torre, que defendia a entrada da fortaleza.

Em memória deste sucesso tomou a terra o nome de vila de Moura, e por seu brasão de armas um escudo com um castelo, e junto à porta deste uma mulher morta.

Esta é a lenda, mas pretendem alguns autores que a povoação antes desta conquista, já era denominada Moura. Outros dizem que durante o domínio dos árabes davam-lhe este nome do Ilmanijab”.

 

Moura
A origem de Moura remonta aos tempos pré-históricos. Da Idade do Ferro ( séc. VII a III a.C. ) destaca-se o povoado do Castro da Azougada a 4 km da cidade.
Durante a dominação romana ( séc. III a.C. - V d.C. ) a povoação do concelho sofre um forte incremento, traduzido no grande número de explorações agrícolas (villæ). É deste período a velha ponte romana sobre o Brenhas.
Moura conhece um período de prosperidade durante a permanência árabe ( séc. VIII - XIII ), sendo ainda hoje visível um conjunto apreciável de legados desta época.
 A partir da reconquista cristã ( ca. 1232 ) e posterior integração no reino de Portugal, Moura esteve sempre na linha da frente das sucessivas guerras e quezílias com Castela, sendo uma das praças fortes da zona raiana. Várias vezes ocupada, a vila foi sendo sempre recuperada pela coroa Portuguesa. O Castelo foi reconstruído no inicio do séc. XIV, tendo uma nova cinta de muralhas sido edificada por volta de 1660.
A questão das fronteiras perdurou praticamente até aos dias de hoje. Paradigmático deste estado de coisas é a situação original dos terrenos da Contenda. Esta herdade, actualmente pertença do Município, integrou até 1892 uma área de administração comum, tendo nesta data sido feita a delimitação de fronteiras
A data do primeiro foral de Moura não reune a concordância dos entendidos. Certo parece ser a data da confirmação ( 1251 ) no reinado de D. Afonso II. O título de "Notável Vila de Moura" que até hoje permanece nas armas da cidade foi-lhe concedido em 1554, embora já em 1525 D. João III lhe conceda tal distinção.
Moura foi elevada à categoria de cidade em 1 de Fevereiro de 1988.

 

 

 Odemira – Concelho do Distrito de Beja

 

Centro populacional instalado em terra pobre e pouco povoada, Odemira manteve e conserva ainda a ligação ao mar através do rio Mira, a que lhe foi pedir o nome. Aliada à pobreza da região, as dificuldades de navegabilidade do rio e sobretudo as difíceis condições da barra não permitiram à vila um grande desenvolvimento, o que é visível na quase ausência de edificações, religiosas ou civis, de cunho monumental. Pelas mesma razões, acrescidas dos perigos do mar, o porto marítimo de Milfontes, de criação tardia, arrastou-se em penosa existência ao longo dos tempos. Até que o grande surto de turismo lhe descobriu nova vocação.


ORIGEM DO NOME:
“Seu nome provém do árabe “Wad – Emir”, que significa – água ou rio de Emir.
Os portugueses corromperam o Wad ou Wed em Ode e Emir em Mira. Com quanto a palavra ficasse alterada, e por fim um pouco estranha, não deixa de reconhecer-se que não é inacreditável esta etimologia. Os naturais da vila sopõe-lhe outra, mas essa nem discussão merece. Dizem que no tempo dos árabes habitava o castelo um alcaide mouro chamado Ode. Com ele vivia sua mulher, naturalmente linda como todas as mouras das tradições populares. Um dia, D. Afonso Henriques meteu-se a conquistar terras a mouros e lembrou encravar na sua recente coroa aquela pequena jóia alentejana, e marchou sobre ela. A alcaidessa estava a uma das janelas do seu castelo, quando o exército do Rei Conquistador surgiu de improviso antes seus formosos olhos. Aflita, quanto surpresa, a bela muçulmana entrou a chamar pelo marido, gritando-lhe: “Ode, Mira !”. Tem graça como a filha de Mafona conhecia o verbo “mirar” de origem castelhana ...”. ( do Arquivo Histórico de Portugal – 1898).
Odemira será uma povoação muçulmana, certamente já acastelada, pois, em 1245, Paio Peres, mestre da Ordem de SanT’ago, faz a doação do seu castelo ao bispo do Porto. Odemira será tomada pelos cristãos, tal como a sua vizinha Província do Algarve, da qual de algum modo pertenceu, em meados do século Xll. No foral que lhe concedeu D. Afonso lll, em 1256,tal como noutros forais, privilegiaram-se com o foro de cavaleiros os membros adstritos a um navio: o pretor (alcaide), dois espadaleiros (homens do leme, que manobravam a espadela (navio costeiro ou de pesca) ou talvez apenas remeiros (remadores); arrais (ou remeiros do lado da proa (?); e um petintal (calafate especializado “ os grandes especialistas em calafate foram os judeus, com grande fama profissional”). Curiosamente, o senhorio do castelo e da vila de Odemira foi concedido, em 1319, por D.Dinis, ao genovês (natural de Génova, principado do Península Itálica, mais tarde unificada e se tornou conhecida por Itália), almirante do mar, com quem fora estabelecido um contrato para que viesse pôr-se à frente da marinha portuguesa ( que podemos considerar os “primórdios das descobertas portuguesas”, pois, os ensinamentos que os árabes nos tinham transmitido, já há muito estavam ultrapassados). No levantamento do país ordenado por D. João lll, em 1527, para que se averiguasse o número de moradores existentes em cada uma das cidades, vilas e lugares de cada comarca, com instruções bastante precisas, refere-se, a propósito de Vila Nova de Mil Fontes (*), que pelo rio Mira “podem entrar caravelas de sessenta tonéis, com água cheia” , isto é, na praia – mar (maré alta). Acrescenta-se aí que essas caravelas sobem acima de Odemira uma légua. Esclarece-nos também que o castelo da vila de Odemira ainda existia e que ficava sobre o rio, a noroeste. Uma outra afirmação referindo o tipo de navegabilidade do rio Odemira está consignada na “Descrição do Reino de Portugal”, mais propriamente da Coroa portuguesa, datada de 1621, feita por Alexandre Massay, um engenheiro napolitano (de Nápoles, um dos reinos da Península Itálica, antes da unificação para se tornar num país: Itália), ao serviço de Filipe ll e Filipe lll (durante a denominação espanhola – 1580 a 1640). Escreve ele, um pouco à rude maneira do tempo e que por isso aqui se enfeita, que o rio de Odemira “se navega com caravelas quatro léguas e meia e com barcos de coberta até à vila de Odemira, que são cinco até sua barra” . Já no fim do ano seiscentos, uma outra fonte corrobora o facto de o rio ser navegável por barcos de 40 ou 50 moios, até ao limite da maré. E nessa altura alguém avança que os pilotos, só permitiam a entrada a caravelas se a barra permitia.
Em toda a costa alentejana não há mais que dois rios, dignos de serem por tal nomeados, capazes de penetrar profundamente a costa – se é que é legítimos exprimir assim o fenómeno contrariando o curso natural das suas águas. A norte o rio Sado, com os seus portos – o de Setúbal, e o antigo porto de Alcácer do Sal – e, a meio do litoral, o rio Mira, com Vila Nova de Milfontes. Tudo o resto, ou quase, é um contínuo de costa hostil à fundeação, ressalvada, talvez a angra de Arrifana, talvez também Odeceixe, o canal entre a ilha do Pessegueiro e a costa e- esta sim – a baía de Sines. O rio Mira pode dizer-se que corre em sentido inverso ao seu correr natural. É que este rio vale, enquanto canal de navegação, pela maré que lhe penetra o leito até à vila de Odemira. De qualquer maneira, forçando a imagem, a embocadura do rio Mira é um verdadeiro oásis neste litoral agreste. Que bem o dizia o prior responsável pelas almas residentes em Odemira, na freguesia de São Salvador, escrevendo em 1758, “a costa do mar desta vila de Odemira é muito áspera de rochedos, que mal – em poucas partes – admite, ainda (que) no Verão, algum pequeno barco sua entrada”.  Pois bem, perigosa ou não, que se aventurava a navegar para o norte, para os abrigos do rio Sado, do Tejo, do Mondego, tinha aqui, apesar de tudo, um poiso, uma tábua de salvação nesta foz do rio Mira. E a verdade é que na Idade do ferro, na época romana e pelos tempos fora, esta costa foi constantemente percorrida por embarcações, de início apenas por gente do Mar Mediterrâneo que, nestes países longínquos procurava os lucros do comércio. Buscavam sobretudo metais, com sabida preferência pelo estanho e pelos metais preciosos, como o ouro e a prata. Traziam produtos das suas terras de origem como aqueles que fazem parte do espólio encontrado à beira do Mira, na necrópole do Galeado, datado da época do ferro, atribuídos ao século V, antes de Cristo. A presença romana está por sua vez representada pelos vestígios de edifícios e pelos numerosos fragmentos cerâmicos descobertos na margem direita do rio, pertencentes ao século 1º depois de Cristo, no local em que fizeram assentar a actual ponte. Para além destes, um cepo de âncora de chumbo foi encontrado na barra, enquanto outro foi mesmo descoberto no rio, junto à vila de Odemira, provando assim a utilização do antigo rio Mira como via de transporte fluvial.
Mais loquazes vão ser os priores que encabeçam as duas freguesias em que se reparte a vila, a de Salvador e a de Santa Maria. É a resposta ao inquérito ordenado pelo Marquês de Pombal, em relações datadas de 1758. Diz o segundo, o padre Pereira (judeu convertido), que o rio Odemira tem, em linha recta, um comprimento de 15 léguas, entre a serra de Almodôvar e Vila Nova de Milfontes. Só que, com os meandros, com os giros que faz, acaba por percorrer mais cinco léguas. Que corre entre serras, que de ordinário sem rápido movimento, e só o fluxo e refluxo da maré, maré esta que alcança seis léguas no interior. E é aqui, parece, que o padre Pereira distingue neste corredor de água a ribeira de Odemira (rio Odemira). É ribeira desde a serra aonde nasce até à herdade da Torrinha (local da confluência do Corgo da Mata – uma pequena ribeira confluente do rio Odemira), limite máximo da maré. A partir daí, para jusante, começa o rio Odemira. Advertindo, embora, que de Inverno o rio se torna mais violento pelas inundações de várias ribeiras que em si recolhe, declara o prior que, quanto à navegação, no correr dessas seis léguas, “nihil obstat” -  Não tem cachoeira ou represa que lha impeça. Acautela, porém, quanto à existência de baixios que lhe dificultam o navegar em caso de maré menos vigorosa. Quanto ao porto da vila de Odemira, declara-o estar tal qual como veio ao mundo, sem artifício, sem que a mão do homem aí tenha tido qualquer intervenção, e de grande capacidade: “A ele chegam em todo o tempo iates, caravelas e barcos ordinários e o têm navegado embarcações que alojam sté 200 moios de trigo” . Só estas últimas penetram o rio com mais cautela, “com o receio perigoso de alguns baixios, que em o mesmo rio há perto desta vila” (por esta razão o pároco do Salvador limita a navegação à carga de 150 moios). E, para complemento viário, não se esquece o padre de recordar como em Odemira passa uma estrada real que liga o Alentejo ao “Reino do Algarve”, e que para cruzar o rio existe uma barca, com passagem franca a qualquer hora do dia ou da noite. Visto o rio do lado da vila de Odemira, não se deixe de ter em conta um factor determinante para que a sua navegação possa fazer-se: a acessibilidade da barca, onde se situa a Vila Nova de Milfontes. Ainda que, como se viu, o sítio tenha sido habitado, nomeadamente na época romana, a verdade é que a povoação de Milfontes só será criada tardiamente, por carta régia de D. João ll, em 1486. Região pouco povoada, agricolamente pobre, não atrairia a instalação de populações na barra do rio Mira. É certo que o desenvolvimento da navegação através do rio permitia criar na sua foz condições económicas para que aí se fizesse a radicação de um núcleo populacional. No entanto a insegurança do minava e iria dominar durante séculos os centros populacionais estabelecidos no litoral, dados os riscos consabidos que para eles advêm.
São numerosíssimos os testemunhos que, desde a Alta Idade Média até ao início do séculos XlX, referem a pilhagens e os raptos de pessoas por navios piratas, navios corsários ou navios de guerra que frequentam a costa portuguesa. Desde a passagem dos normandos, entre os séculos lX e Xl, até aos piratas turcos e argelinos, passando por franceses e ingleses, quando não mesmo piratas da ocasião, piratas desta mesma casa. A carta de fundação de Milfontes, de 1486, vem logo acompanhada de uma carta de couto para homiziados na tentativa de fixar no local uma população mais ou menos estável que permitisse dar continuidade ao povoamento. No entanto, de acordo com António Martins Quaresma, “o privilégio do couto, apesar de inicialmente ter atraído alguns povoadores, não teria alcançado os efeitos pretendidos, já pela precariedade da permanência dos homiziados, já pelo reduzido número de inscritos”. A construção do Forte de São Clemente, na margem direita da foz do rio, entre 1599 e 1602, vem a rebate, sucede justamente uma dezena de anos após um assalto do corsário argelino Murate Arrais, cerca de 1590. Aliás, como salienta o engenheiro Massay, próximo de Milfontes, no sítio do actual porto do Canal, havia uma fonte onde os piratas costumavam fazer aguada (abastecimento de água para sua embarcações). Quanto ao episódio protagonizado pelo capitão Murate, conta Massay Ter ele chegado com quatro galés reais e ter entrado a barra. Desembarcando, cercou a igreja, onde se encontrava reunida toda a população da vila, pois era dia santo. Cativados os habitantes, “deitou o turco fogo à igreja, às três dezenas de casas que existiam e aos cultivos, os trigos, destruindo também as vinhas”. Como se não bastasse a constante insegurança, a própria barra é difícil e torna-se infranqueável durante boa parte do ano. A costa do mar é brava, escreve o prior de Milfontes, “e a barra do seu rio, que dista desta vila pouco mais de um tiro de mosquete, por conta da braveza da costa, muitas vezes não permite navegação”. Apesar das tentativas, ainda na primeira metade de século XX, de fazer-se desta foz um porto com condições de atracagem, Milfontes ficou-se pelo portinho de sempre e deu-se de vez à sua vocação turística.
De clima ameno, sobretudo junto à sua extensa orla marítima, e com terrenos de configuração variada, umas vezes serranos, outras de olanura, Odemira apresenta belas e contrastantes paisagens em que sempre abunda a vegetação.
Além da tradicional culinária alentejana, usada em todo o concelho, abundam na costa os pratos de peixe e marisco, como sejam o sargo e a lagosta suada, autênticas especialidades. As praias, quase todas ligadas por boas estradas, sucedem-se desde o limite do concelho de Sines até à foz do rio Deixe, no Algarve, destacando-se as de Vila Nova de Milfontes, que têm excelentes condições para a prática de desportos náuticos e se situam na desembocadura do rio Mira, tendo como cenário a vila embutida na margem direita e embelezada pelo seu airoso castelo. Zambujeira, Almograve e Odeceixe são outras praias convidativas pela sua beleza natural, alcantilados rochedos e areia fina. No interior, na freguesia que lhe dá o nome, depara-se nos a Barragem de Santa Clara – a - Velha , com a sua majestosa albufeira de margens arborizadas, magnífico local de repouso. No centro do concelho, bem tratada, salpicada de parques e jardins e banhada pelas águas ansas do rio Mira, encontra-se a vila de Odemira, cujo nome tem reminiscências árabes. Aqui, tal como em São Teotónio, Almocreve, Zambujeira e Vila Nova de Milfontes, existem instalações que permitem ao visitante demorar-se na apreciação de quanto este concelho lhe oferece. Sendo Odemira vila muito antiga, não se conhece a sua origem. Os numerosos vestígios de culturas anteriores à romanização e os testemunhos de culturas posteriores atestam a sua antiguidade. A sua localização, a dominar a via de comunicações que é o rio Mira, fez desta vila um ponto estratégico valioso, e por isso a sua posse foi desejada pelos vários povos que nesta região viveram. Conquistada aos mouros por D. Afonso Henriques em 1166, obteve o seu primeiro foral de D. Afonso lll, em 1256. Mais tarde, D. Manuel l deu-lhe novo foral em 1510. Sede administrativa de um vasto concelho com inúmeras potencialidades económicas, variado na geografia e nos diferentes panoramas que apresenta, com múltiplas culturas agrícolas e intensamente florestado, Odemira é o centro de uma região diferente neste Alentejo do Sul e detém a única costa marítima de que ele dispõe. Nos areais das sua praias e nas escarpas rochosas da sua costa de admiráveis recortes há uma variedade de panorâmicas dignas de apreciação. A beleza rude do cabo Sardão, a tranquilidade da praia do Almograve, o anfiteatro que é a praia da Zambujeira, as praias, fluvial e marítima, de Vila Nova de Milfontes, são aliciantes que trazem ao concelho de Odemira um sem – número de visitantes. Com o seu miradouro, o Parque das Águas, a 3 Km da vila, é mais um local onde se pode apreciar a beleza deste Alentejo diferente. Vive este concelho, principalmente, da actividade agrícola e pecuária (cereais, legumes, gados, madeiras, cortiças, frutas e aguardente de medronho), mas também possui indústrias de concentrado de tomate e cerâmicas, assim como de pesca
O concelho de Odemira, com os seus 1.727 Km2 de área, é o maior de Portugal. Constituem-no freguesias como as duas sedes (Salvador e Santa Maria) e Colos, Relíquias, Sabóia, São Martinho das Amoreiras, São Teotónio, Vale de Santiago e Vila Nova de Milfontes.


VILA NOVA DE MILFONTES: “Quando el-rei, D. Manuel l deu foral a esta vila, chamava-se e, “Mil Fontes”; D. Manuel l lhe deu o título de Vila Nova, talvez pelo facto de a repovoar – e desde então se denomina “Vila Nova de Milfontes” – nome que alguns estudiosos julgam muito apropriado, nomeadamente João Maria Baptista, na sua “Corografia Moderna” , pois falando desta vila diz o seguinte: “De águas tão abundantes que deve o seu nome às muitas fontes que brotam na vila e seus arredores”. Saibam, porém, os leitores que nesta vila não há uma única fonte ! Toda a sua água se reduz a três poços !”.
Não é. Pois, da água que brota na vila que lhe provém o nome de “Vila Nova de Mil Fontes”, mas dos muitos arroios que nas suas vizinhanças, ao longo da costa, se dirigem da terra para o mar, sendo magnífica e até medicinal a água de muitos deles; mas o meu ilustrado amigo, o comendador e Dr. Abel da Silva Ribeiro, que possui aqui propriedades e que tem feito largos estudos e profundas investigações com relação a esta paróquia, diz a seguinte: “Suponho que o nome de “Mil Fontes” provém do de “mellis fons”, com que os romanos designavam o terreno que circundava aquela povoação, por ser abundantíssimo de mel de superior qualidade em razão das plantas aromáticas de que era extraído. Ainda hoje o mel daqueles sítios é muito estimado pelo seu delicado sabor”. ( Dr. Pinho Leal – 1886).
“Vila Nova de Mil Fontes” – nome de uma vila no Baixo Alentejo. Aqui mil é designação de pluralidade indefinida; cfr. Os Textos Arcaicos, 3ª edição, p. 156. É curioso que na Descripção do aro de Lamego, de Rui Fernandes, do século XVL, nos Inéditos de Hist. Portug., este autor referindo-se às muitas fontes que eram cinco mil: t.v. p. 560 – Por Vila Nova de Mil Fontes há, de facto, chamadas, algumas, por exemplo: O Canal, Bico da Areia, Fonte de Joaquim da Silva, Fontes Férreas (a água cai d’ alto), Fonte do Bosque da Vila Formosa (herdade), etc., e inúmeras outras sem nome próprio. Tudo isto na costa do mar – O povo, em vez de dizer Vila Nova de Mil Fontes, forma oficial, diz apenas Mil Fontes, que de certo foi a forma primitiva. (Cfr. Mil Floris, nome de um casal em Soure; e também Quinta de Mil Fontes, em Lisboa e em Camarate”. (Dr. José Leite de Vasconcelos – 1932).
Vila Nova de Mil Fontes, é uma vila piscatória debruçada sobre o mar, onde se encontra um forte (hoje estalagem nacional), cuja data de construção permanece obscura. Segundo o Prof. Damião Góis, terá sido erguido em 1552 sobre uma fortificação já em ruínas. Ao longo dos tempos, os grupos de piratas, sobretudo berberes, aumentaram e tornaram-se tão poderosos que conquistaram cidades e territórios europeus. Bem situado e constituindo um excelente acesso para Odemira, o porto de Milfontes era um dos seus alvos preferidos. Nele desembarcaram muitas vezes e atacavam a povoação. Aconteceu durante o reinado de D. João ll um violento ataque de pirataria, que fez com que o rei se ocupasse da construção ou reconstrução do forte de Milfontes.
Alguns homens foram feitos prisioneiros e levados para Argel, sendo libertados já no reinado de D. João lV. Foi, aliás, este monarca quem aperfeiçoou e aumentou o carácter defensivo do forte. Quando a pirataria se extinguiu, o forte foi abandonado. Debruçado sobre a foz do rio Mira, o forte é hoje propriedade privada. Está coberto de heras e rodeado de flores, não escondendo, porém, a vocação militar que ainda está latente na ponte levadiça e nas canhoeiras.
Não muito longe de Odemira, fica OURIQUE.
Os concelhos de Odemira e Ourique situam-se, tal como os de Almodôvar e Mértola, na zona de transição Alentejo – Algarve, e, por isso, são notórias na sua parte sul a semelhança geográfica com o Algarve e a afinidade de usos e costumes das suas populações com os seus vizinhos. Estes dois concelhos conservam na parte norte as características do Alentejo, mais plano e mais árido, enquanto a sul, em perfeito contraste, os terrenos se apresentam ondulados e com abundante vegetação, características que se acentuam à medida que nos aproximamos da serra de Monchique. Também aqui se encontra uma flora natural caracteristicamente serrana, exemplo da qual é o medronheiro, cujo fruto é artesanalmente destilado para obtenção da apreciada aguardente de medronho. Na sua orla marítima, o concelho de Odemira desfruta de um clima ameno, com reflexos benéficos nos seus prados, culturas e arborização.

 

ORIGEM do NOME:
“Segundo se vê nos Vestígios da Língua Arábica, obra interessante de Frei João de Sousa, vem do árabe Orique (ou Orik). Pinho Leal, que sabia tanto de árabe como eu, depois de citar a Évora Gloriosa, que dá como etimologia de OURIQUE o ouro proveniente das minas auríferas que abundavam (?) no Campo d’ Ourique diz que Ourique vem de Orik , nome que os árabes deram ao dito campo depois da batalha. Orik, é palavra árabe e significa infortúnio, adversidade, desgraça, etc.
Desbancou o sábio arabista Sousa e conclue dizendo – “Não se sabe o nome de Ourique teve antes da grande batalha”. Herculano também diz, ou parece dizer, que os árabes denominavam o dito campo Orik. Na minha opinião “OURIQUE” é vocábulo godo, não árabe, e vem de Honoriquizi ou Honoriquizi, patronímico de Honoricus, “ i “, nome pessoal germânico, na idade média vulgar entre nós, que deu OURIQUE no Alentejo, em Lisboa, Penela, Formoselha ou Montemor – o – Velho.
Deu também Honorgio, antigo nome pessoal, Origo, aldeia, - Ourigo, nome, dum sítio da praia da Foz, - Oriz, nome de várias povoações, e freguesias nossas. – Adrigo, povoação e freguesia do Alto Douro, - e Adourigo, povoação nossa também”. (Dr. Pedro Augusto Ferreira – 1907).
“É a forma moçárabe do visigodo Auricus. David Lopes escreveu: “Ourique, provavelmente, é o nome germânico Auricus arabizado, e por isso imobilizado, nessa forma”. Noutros topónimos portugueses – Origo, Oriz, Ourigo, ouril, Ourilhe e Ourilho – parece haver um elemento inicial proveniente duma raíz comum, o que permitirá aproximar morfologicamente todos estes nomes”. (Dr. Xavier Fernandes – 1944).
Ourique é povoação muito antiga, mas ignora-se por quem foi fundada. Por todo este concelho são abundantes e muito expressivos os vestígios pré – históricos, entre os quais se contam, para além de dólmenes e monumentos de falsa cúpula, a Necrópole da Atalaia (monumento invulgar e grandioso do final da época do Bronze) e o Castro da Cola.
Neste castro, intimamente ligado às lutas lusitano – romanas, estão sedimentadas as várias culturas sucessivas e provada a sua ocupação até ao tempo dos nossos primeiros reis. A construção do Castelo de Orik pelos invasores árabes da Península não anulou o Castro da
Cola, pois este, junto da ribeira do Marchicão e próximo do rio Mira, estava em boa situação estratégica. É tido como certo que D. Afonso Henriques ouviu missa na Cola, quando de uma incursão por estas terras. A Batalha de Ourique (no reinado de D. Afonso Henriques), cujo local exacto é motivo de algumas discordâncias, deu-se nos campos de Ourique, que se situam, logicamente, numa área que tem Ourique por centro. Que a batalha fosse travada no castelo árabe de Orik ou em campo raso dos arredores é pormenor que não tira a esta região, circunscrita a Ourique, a glória de nela se ter infligido uma pesada derrota às tropas árabes. D. Sancho l doou a vila em 1265 à Ordem do Santo Sepulcro, e D. Dinis deu-lhe foral em 1290. O brasão de Ourique, com um guerreiro a cavalo, de armadura e empunhando uma espada, é alusão clara à luta pela reconquista cristã do Sul de Portugal.
O concelho de Ourique, tendo a agro – pecuária como actividade dominante, já saiu do isolamento a que esteve votado durante muitos anos e avança no sentido do progresso. Para isso muito contribuiu a nova estrada de penetração para o centro do Algarve, que, facilitando e encurtando as comunicações, assegurou um intenso tráfego de pessoas e de mercadorias que passa obrigatoriamente por Ourique. As Barragens do Monte da Rocha e de Santa Clara (esta no concelho de Odemira, mas cujo refolgo atinge o de Ourique) deram a esta região uma nova panorâmica, com aprazíveis recantos de contacto directo com a Natureza. A vila de Ourique, espraiando-se pelas suas três colinas, de Nossa Senhora do Castelo, Nossa Senhora do Castelo, Nossa Senhora do Carmo e São Luís, com o ar fresco e lavado do casario branco encimado por um cuidado miradouro, destaca-se da paisagem circundante, limitada pelas serras do Alferce e de Monchique. O edifício do século XVll onde está instalado os Hospital da Misericórdia, tem portas e janelas de cantaria lavrada e inscrições da época, merece observação atenta. Os ouriquenses não perdem ocasião de citar, entre seus filhos ilustres, Frei Amador Arrais, que foi bispo de Portalegre e autor dos Diálogos , portanto figura proeminente não só da hierarquia da Igreja, como da literatura portuguesa.


CASTELO DE ODEMIRA
Antecedentes
Embora as informações a seu respeito sejam escassas, acredita-se que a primitiva ocupação de seu sítio remonta a um "oppidum" romano, posteriormente ocupado por Visigodos e por Muçulmanos, que terão erguido uma fortificação.
O castelo medieval
À época da Reconquista cristã da península Ibérica, a povoação terá sido tomada aos mouros em 1166, pelas forças de D. Afonso Henriques (1112-1185).Sob o reinado de D. Afonso III (1248-1279), a vila recebeu Carta de Foral (1256), procedendo-se a reconstrução de sua defesa (1265).
Quando do reinado de D. Dinis os domínios da povoação e seu castelo foram doados ao bispo do Porto (1319). Data deste período a construção de uma nova cerca para a vila. Ainda em seu reinado, ou no de seu filho e sucessor, D. Afonso IV (1325-1357), os domínios da vila e seu termo foram doados ao almirante genovês Manuel Pessanha (Emmanuele di Pezagna) e seus descendentes. Este navegador, contratado por D. Dinis como almirante para organizar a marinha portuguesa e combater a pirataria, foi o autor da primeira viagem documentada às ilhas Canárias a mando da Coroa portuguesa (1341).
D. Manuel I deu Foral Novo à povoação em 1510.
A vila foi alçada à condição de condado sob o reinado de D. Duarte (1433-1438), sendo 1° conde de Odemira, D. Sancho de Noronha, casado com D. Mécia de Sousa. Este privilégio manteve-se na família até ao reinado de D. João IV (1640-1656), quando estes domínios foram doados a D. Francisco de Faro e Noronha.
Posteriormente, D. Pedro II (1667-1706), doou estes domínios ao 1° duque do Cadaval.
Os nossos dias
Restam poucos vestígios do castelo e da muralha da vila medievais, além do troço mais visível, onde assenta a Biblioteca Municipal. Esses remanescentes encontram-se actualmente Em Vias de Classificação pelo poder público português.

 

 

 

 

Ourique – Concelho do Distrito de Beja

 

 

É povoação muito antiga, mas ignora-se por quem foi fundada. Por todo este concelho são abundantes e muito expressivos os vestígios pré-históricos, entre os quais se contam, pra além de dólmenes e monumentos de falsa cúpula, a Necrópole da Atalaia (monumento invulgar e grandioso do final da época do Bronze) e o Castro da Cola. Neste castro, intimamente ligado às lutas lusitano-romanas, estão sedimentadas as várias culturas sucessivas e provada a sua ocupação até ao tempo dos nossos primeiros reis. A construção do Castelo de Orik pelos invasores árabes da Península não anulou o Castro da Cola, pois este, junto da ribeira do Marchicão e próximo do rio Mira, estava em boa situação estratégica. É tido como certo que D. Afonso Henriques ouviu missa na Cola, quando de uma incursão por estas terras.

A Batalha de Ourique, cujo local exacto é motivo de algumas discordâncias, deu-se nos campos de Ourique, que se situam, logicamente, numa área que tem Ourique por centro. Que a batalha fosse travada no castelo árabe de Orik ou em campo raso dos arredores é pormenor que não tira a esta região, circunscrita a Ourique, a glória de nela se ter infligido uma pesada derrota às tropas muçulmanas.

S. Sancho ll doou a vila em 1265 à Ordem do Santo Sepulcro, e D. Dinis deu-lhe foral em 1290.

O brasão de Ourique, com um guerreiro a cavalo, de armadura e empunhando uma espada, é alusão clara à luta pela Reconquista cristã do Sul do território.

Opiniões sobre a origem do nome:

«Pedro Augusto Ferreira – Tentativa Etimológica Toponímica (1907): “Segundo se vê nos Vestígios da Língua Arábica, obra interessante de Fr. João de Sousa, vem do árabe Orique. Pinho Leal, que sabia tanto de árabe como eu, depois de citar a Évora Gloriosa, que dá como etimologia de Ourique o ouro proveniente das minas que abundavam (‘) no Campo d’Ourique diz que Ourique vem de Orik, nome que os árabes deram ao dito campo depois da batalha, - o que Orik é palavra árabe e significa infortúnio, adversidade, desgraça, etc.

Desbancou o sábio arabista Sousa e conclui dizendo - «não se sabe o nome que Ourique teve antes da grande batalha».

Herculano também diz, ou parece dizer, que os árabes denominavam o dito campo Orik.

Na minha opinião Ourique é vocábulo godo, não árabe, e vem de Honoriqui ou Honoriquizi, patronímico de Honoricus, i, nome pessoal germânico, na Idade Média vulgar entre nós, que deu Ourique no Alentejo, em Lisboa, Penela, Formoselha ou Montemor-o-Novo.

Deu também Honorgio, antigo nome pessoal, Origo, aldeia – Ourigo, nome dum sítio da praia da Foz, - Oriz, nome de várias povoações, freguesias nossas. –Adrigo, povoação e freguesia do Alto Douro, - Adourigo, povoação nossa também”.

«Xavier Fernandes em Topónimos e Gentílicos (1944): “É forma moçárabe do visigodo Auricus. David Lopes escreveu: «Ourique, provavelmente, é o nome germânico Auricus arabizado, e por isso imobilizado, nessa forma». Noutros topónimos portugueses – Origo, Oriz, Ourigo, Ouril, Ourilhe e Ourilbo – parece haver um elemento inicial proveniente duma raiz comum, o que permitirá aproximar morfologicamente todos este nomes”.

 

 

 

 

Serpa – Concelho do Distrito de Beja

 

Povoação muito antiga, foi integrada na Coroa Portuguesa, em 1295, após ter pertencido ao padroado do infante de Serpa D. Fernando, irmão de D. Sancho ll.

Povoação cuja fundação se perde na noite dos tempos. Serpa tem revelado uma ocupação humana que remonta à Pré-Histórica. Já está perfeitamente documentada como aglomerado humano e importante entroncamento de vias durante a época romana.

Só em 1295 passou a fazer parte do Reino de Portugal, mudando Antão o nome árabe de Sheberina para o de Serpa. Posteriormente, foi pomo de discórdia entre portugueses e castelhanos, tendo a última ocupação espanhola ocorrido em 1707, por conquista do duque de Ossuna, o qual, quando foi obrigado a retirar-se, fez explodir o castelo, a fim de mais facilmente poder vir a reocupá-lo, o que não aconteceu. Ainda hoje se podem observar os estragos que este duque ocasionou na muralha. Da primitiva fortificação só restam, aliás, a torre do relógio (antiga torre de menagem) e alguns troços da muralha, do tempo de D. Dinis. Junto desta encontra-se o Palácio dos Marqueses de ficalho (família Melo), do século XVll, mandado construir pelo bispo da Guarda, D. Martim Afonso de Melo, natural de Serpa. O edifício, em perfeito estado de conservação e mobilado ao estilo da época, merece uma visita. Serpa está rodeada de pequenas ermidas, algumas em estilo gótico alentejano muito simples, e possui também a Igreja Matriz em estilo gótico.

«Da Tradição – Notas Históricas acerca de Serpa, do Conde de Ficalho (1900): “É Sheberina ou Cheberina identifica-se satisfatoriamente com Serpa. A tomada de Serpa, segundo os documentos cristãos, concorda plenamente com a Chebrina, segundo os árabes; e os dois nomes não são tão diversos como à primeira vista poderia parecer (*) “ (*)A palavra Serpa, adoptada pelo árabes dava naturalmente Cherba: primeiro porque o “s” inicial é frequentes vezes representada pelo “chin”, como em “Chantarem” Santarém, em “Chant-iacub” de Sant’Iago; segundo, porque o “p” medial falta no alfabeto árabe e é substituído pelo “b”. De Cherba teríamos Chebra por uma simples transposição de consoantes, habitual entre os mouros pouco letrados …

Nos tempos antigos, a palavra tomava muitas vezes entre cristãos a forma Serpia, que encontramos, por exemplo na inscrição do Marmeral do princípio do século XVL e em vários documentos anteriores; e esta forma daria em árabe – Chebria. Indicamos apenas as semelhanças, deixando aos arabistas o cuidado de resolverem cientificamente este ponto”.

 

Serpa
Sem mergulhar demasiado nas origens da antiga organização administrativa do concelho, refira-se que a documentação escrita só nos finais do século XIII consagra a área do termo. Assim, em 1281, quando Serpa e todas as terras da Margem Esquerda do Guadiana estavam ainda sob domínio de Castela, Afonso X estabeleceu a demarcação do concelho, para melhor se povoar, e atribuiu-lhe o primeiro foral, o de Sevilha.
Ao fim de um século de peripécias militares e diplomáticas, com a Reconquista cristã do Alentejo, Serpa recebe de D. Dinis, em 1295, nova carta de foral.
Do ponto de vista económico, as disposições do documento indicam que a pastorícia e a agricultura eram as actividades fundamentais. Quanto ao comércio, era o pão e o vinho, os panos de lã e linho, o pescado... e o mouro vendido em mercado.
O foral dionisino revela ainda uma sociedade em reorganização, onde é grande a tensão social e política. Vejam-se as penas que oneravam as violações, o roubo de objectos e de terras e até as dificuldades na travessia de barco do Guadiana, de uma para a outra margem. Mas nem só a travessia do Guadiana era vigiada. Os caminhos também não eram seguros e o foral pretende garantir a protecção da actividade mercantil, em particular a movimentação de mercadores, judeus, cristãos ou mouros.
Outra ideia que se retira do foral de D. Dinis é a da estrutura social vigente, profundamente desigual. Mesmo aqueles que tinham direitos políticos, os vizinhos do concelho, estavam divididos pelos bens em cavaleiros e peões. Pouco a pouco, mesmo entre os vizinhos, começa a definir-se o grupo mais poderoso dos homens bons e, mais tarde, ainda nestes, os homens honrados de boa fazenda. Na base social, sem direitos políticos, ficavam os mesquinhos, os mancebos, os solarengos e escravos. Os diferentes níveis sociais não eram, evidentemente, estanques e regista-se mesmo uma intensa mobilidade social.
Do ponto de vista da organização administrativa e judicial, o concelho era dirigido por dois juizes, eleitos na assembleia dos vizinhos, sendo depois a eleição ratificada pelo rei. Mas uma disposição do foral proíbe que o gentile, ou seja, o estrangeiro ou pagão, possa exercer o cargo.
Em 1513, Serpa recebe foral de D. Manuel que, antes de ser rei, tinha sido senhor de Serpa. Este foral pouco fala da organização e da actividade política e social do concelho. Insiste principalmente na carga fiscal. De qualquer modo, a leitura do foral manuelino sugere que Serpa era, no início do século XVI, um povoado florescente onde persistia a pastorícia como actividade de grande relevância mas em que o artesanato e a actividade comercial atingem um alto desenvolvimento. Vale a pena determo-nos sobre a actividade artesanal dos habitantes do concelho. Fabricavam-se pelicos, mantas, material de empreita, materiais de ferro, ferramentas. O monarca isentava de tributo as matérias primas usadas na actividade artesanal. A lista de produtos transaccionados é impressionante e se já não há mouros da Reconquista a vender no mercado não faltam os novos escravos, marroquinos e do Sára e principalmente da África negra.
Serpa era, no século de D. Manuel, um dos mais importantes portos secos do reino. Escrevia um autor espanhol da época que de Castela para Portugal existiam então duas estradas principais: uma vinha de Salamanca para Cáceres e daí para Évora e Lisboa; a outra, partia de Sevilha e por Serpa e Beja seguia também para Lisboa.
A propósito do foral manuelino refira-se que em meados do século XVI o Alentejo concentrava o maior número de centros urbanos do país, com uma intensa actividade artesanal e mercantil, e era, a nível nacional, a província que mais contribuía, com 27%, para as receitas do Estado.
Nesse quadro, Serpa apresentava-se, na centúria de Quinhentos, como uma das mais importantes vilas do Alentejo e do próprio reino, cujo desenvolvimento assentava na agricultura dos cereais e do gado mas também no artesanato poderoso, voltado para o comércio, e numa aliança muito estreita com o rei.
No século seguinte, Serpa quase duplica a sua população, o que está de acordo com a evolução geral do país. De facto, nos séculos XVI e XVII, as terras de fronteira, o interior, estão muito longe da desertificação pois a fronteira não trava ainda as ligações entre Portugal e Espanha.
Em 1674, o príncipe regente, futuro rei D. Pedro II, confere à vila o título e os privilégios de "Vila Notável", justificados pelo número de moradores – mais de mil e quinhentos -, pela nobreza das gentes, saindo dela muitos homens insignes, tanto nas letras como nas armas, e pela posição militar estratégica que ocupava, junto à linha de fronteira, em ocasiões de guerra.
Esta última situação, aliás, fez com que o concelho fosse particularmente afectado pela insegurança e as destruições provocadas progressivamente pelas guerras da Restauração de 1640/48, a guerra da Sucessão de Espanha, entre 1703 e 1713, e as invasões napoleónicas, em 1801 e 1814.
Em meados do século XVIII, o concelho perde preponderância militar e, ao contrário do resto do país, a sua população não aumenta, talvez pelas inúmeras situações de crise registadas devido a maus anos agrícolas.
No final da centúria de Setecentos o concelho está mais próximo do século XVII do que do século XIX. O antigo regime económico mantém-se e com ele as desigualdades sociais. As terras férteis do concelho estão nas mãos dos grandes proprietários, que controlam a vida municipal, e constitui-se uma massa crescente de camponeses sujeitos a crises cíclicas de trabalho e a uma situação de subsistência miserável.
No dealbar do Século das Luzes, o país, em geral, e Serpa e a sua região, em particular, estão muito longe da "Luz" que tanto referem os homens desse tempo. Ironicamente, um deles, o Abade Correia da Serra, nasceu em Serpa, em 1751.
Nos séculos seguintes ter-se-á verificado uma concentração cada vez maior das propriedades nas mãos dos grandes senhores, que, salvo raras excepções, aplicam os seus lucros fora da região.
Durante a segunda metade do século XIX, a multiplicação dos desbravamentos, não só das terras boas mas também das terras improdutivas, a que chamavam galegas, e depois, nos anos 30 e 40 do século XX, a célebre Campanha do Trigo, que estendeu a sua cultura mesmo às vastas regiões de xisto, tiveram consequências desastrosas.
Desequilibraram o frágil sistema produtivo baseado na complementaridade da pecuária com as actividades recolectoras e com o cultivo intenso das hortas e não resolveram o problema de uma economia que servia os interesses de quem vivia fora do Alentejo. Talvez resida aqui a verdadeira dimensão do isolamento que afecta a região.

 

 

 

Vidigueira – Concelho e Distrito de Beja

 

 

Recebeu o seu primeiro foral em 1 de Junho de 1512, concedido por D. Manuel l. Numa pequena monografia local, assinada por J. J. Lampreia de Gusmão e publicada em 1924, lê-se que a actual Vidigueira era a Vitigeria do tempo dos romanos, muito anterior à fundação da monarquia portuguesa. Vilhena Barbosa, na sua obra Cidades e Vilas, escreveu textualmente: “O seu brasão é um castelo enlaçado com uma vide. Alude este brasão, ao castelo da vila e às muitas vinhas, que seu território outrora continha. Dizem que desta circunstância tirou a vila o seu primeiro nome de Videira, que depois se trocou no de Vidigueira”.

Leite de Vasconcelos, porém, não hesitou em manifestar-se sobre este assunto de maneira que merece a pena transcrever: « De certo quem imaginou o brasão, relacionou com vide, mas falsamente, como falso é que Vidigueira venha de Videira. Em primeiro lugar, Vidigueira repete-se várias vezes no onomástico (distritos de Évora, Aveiro e Porto). Em segundo lugar, correlacionam-se com tal palavra as seguintes: Vidigal (muito repetida nas Beira, etc); o seu plural Vidigais (distrito de Lisboa) e o seu diminutivo Vidigalinho (distrito de Évora); e além disso, o aumentativo real ou aparente Vidigão (Alentejo e Estremadura).

 

Vidigueira
O Concelho de Vidigueira situa-se no extremo norte do Baixo Alentejo e é atravessado por um dos eixos rodoviários nacionais, o IP2.
O Município compreende 4 freguesias  (Pedrógão, Selmes, Vidigueira e Vila de Frades).
Em termos demográficos, a população, em 1991 era constituída por 6305 residentes numa área de 314.199Km2. A vila de Vidigueira é a sede do município e registava nesse mesmo ano, uma população de 2865 residentes. A variação da população residente entre 1960 e 1991 foi de - 40%.
A economia municipal assenta na agro-pecuária, silvicultura e industria alimentar, destacando-se ainda o papel da administração local.
De salientar, que, a vinha é uma cultura importante que contribui para que este concelho se encontre integrado numa Denominação de origem de produção de vinhos de qualidade.
No concelho de Vidigueira existem espaços e paisagens muito diferenciados que o convidamos a percorrer e descobrir. Entre Vila de Frades e a Vidigueira estamos perante a zona dos pomares, hortas e das vinhas que tanto afamam o concelho; na direcção de Selmes e Pedrógão sentimos o Alentejo das grandes extensões, aqui, o cereal reina, por fim o vale do Guadiana, simultaneamente agreste e calmo, povoado de pequenas azenhas. O Mendro apresenta-se-nos como uma silhueta no horizonte.
Os principais pólos de atracção turística deste concelho resultam da existência de património monumental, actividades de caça e pesca, piscinas e artesanato regional.
No artesanato predomina a azulejaria, as peças em barro e em madeira, destinadas à decoração.
A doçaria é óptima e muito procurada, destacam-se sobretudo os doces conventuais, barriga de freira, bolo de torresmos, bolo de requeijão, bolo de bolota, biscoitos e os famosos bolos folhados.
A gastronomia é simples e muito saborosa, nesta região podemo-nos deliciar com as famosas açordas, as migas, a sopa de cação, o ensopado de borrego, os enchidos, e a caldeirada de peixe do rio, que encontramos principalmente, em Pedrógão do Alentejo. Estes pratos podem ser bem regados com os famosos vinhos da região.
A existência da Vidigueira como povoação, embora provavelmente de reduzida importância, só se encontra documentada a partir de meados do séc.XIII. Adata em que essa povoação terá surgido e a forma como se constituiu não são possíveis de determinar com exactidão pois nenhum documento conhecido no-lo revela.
Porém, já em relação ao espaço actualmente abrangido pelo concelho de Vidigueira se possuem numerosos dados, sobretudo de natureza arqueológica, que tornam possivel detectar aí a presença humana até aos tempos pré-históricos e traçar assim um panorama da evolução histórica desta região.
Da cultura megalítica, que se desenvolveu especialmente no Alentejo e no sul de Espanha, restam ainda vestígios no concelho de Vidigueira, a provar que esta zona foi também habitada em tempos pré-históricos.
Na herdade da Mangancha, situada entre Vidigueira e Alcaria da Serra foram descobertas duas Antas, conhecidas pelos nomes de Anta da Vinha da Mangancha e Anta do Alto da Mangancha, ambas bastante deterioradas e conservando já só alguns dos esteios.
Na herdade de Corte Serrão, perto de Marmelar, na freguesia de Pedrógão , existem outras duas que distam entre si cerca de 200m. A ambas faltam alguns esteios e nenhuma apresenta cobertura.
É ainda de referir o Menir de Mac. Abraão, na freguesia de Vila de Frades cujo estado de conservação é notável.
Todos estes vestígios pré-históricos e outros que se vão descobrindo denotam a importância que teve esta região, sobretudo no período neolítico, e fornecem eloquente testemunho de um povoamento que se estende já por vários milénios.
Desde épocas muito recuadas, o clima e as riquezas naturais ofereceram ao homem as condições necessárias e motivos suficientes de atracção para que ele aqui se estabelecesse.
Igualmente atraídos por estas condições também os Romanos escolheram esta zona para aqui fixarem residência durante longo tempo.
Do que se refere à vida rural são exemplos típicos e extremamente importantes as numerosas villae, grandes explorações agrícolas disseminadas por todo o país, e de que se conhecem bastantes na região de Beja.
No concelho de Vidigueira, merecem especial referência, a Villa Romana de S. Cucufate, situada na freguesia de Vila de Frades e a Villa Romana do Monte da Cegonha, situada na freguesia de Selmes.
É no reinado de D.Afonso III, que se encontram as primeiras referências à vila de Vidigueira, povoação nessa altura provávelmente de pouca importância, pertencente ao termo de Beja. O primeiro donatário da Vidigueira foi mestre Tomé, tesoureiro da Sé de Braga, que serviu D.Afonso III com grande lealdade.
De 1304 a 1315, segundo testemunha a escritura então lavrada, a vila de Vidigueira pertenceu ao rei D. Dinis e em 1385, D. João I doou-a ao contestável D. Nuno Álvares Pereira.
Ao que parece a região da Vidigueira nunca teve grande importância estratégica ou militar, não dispondo por isso de qualquer fortaleza notável. Foi sempre uma zona essencialmente agrícola, tendo como cultura predominante a da vinha e como tal adquiriu notariedade.
Do ano de 1496 data a fundação do Convento de Nossa Senhora das Relíquias, pertencente à Ordem do Carmo e situado na Várzea do Zambujal, onde, segundo a tradição a Virgem Maria teria aparecido a uma pequena pastora. Este convento teve grande importância, sendo o quarto em antiguidade, da província Carmelita de Portugal.
Estando a vila na posse da Casa de Bragança, D.Manuel concedeu-lhe foral em 1 de Junho de 1512.
Sete anos após a concessão do foral, por carta passada em Évora a 29 de Dezembro de 1519, D.Manuel concede a D.Vasco da Gama, almirante da Índia o título de conde da Vidigueira, ficando esta vila assim ligada ao nome de tão ilustre argonauta.
A Casa da Vidigueira, fundada por Vasco da Gama, continuou nos seus descendentes até ao nosso século, havendo ainda um títular mesmo depois da proclamação da Republica. A ligação da vila à familia dos Gamas levou decerto a que a povoação se desenvolvesse e a que o seu nome ganhasse prestígio e figurasse na enumeração da grande nobreza do reino.
A vida religiosa na Vidigueira parece ter sido nestes séculos bastante intensa, o que levou o seu segundo conde D.Francisco da Gama a fazer aí a apresentação de seu filho D.Manuel da Gama, que seguira a carreira eclesiástica.
A prosperidade da vila e do seu concelho era devida sem duvida à actividade agrícola. O predomínio era da pequena propriedade, de entre outras culturas sobressaiam as da vinha e da oliveira, tal como as hortas e os pomares.
Além disso, os vinhos da Vidigueira já então eram famosos, o que decerto se exprimiria na sua procura e nas condições de venda.
Ao tempo de D. João II ( Séc. XV ) era frequente a aquisição de vinhos alentejanos por comerciantes bretões, e no séc. XVI não eram raras as partidas de galeões carregados de vinho desta região com destino ao oriente.
No séc. XIX, Vidigueira, Vila de Frades, Cuba e Alvito fazem parte da 7ª região vinícola do país.
No certame de Berlim de 1888 " o vinho branco da Quinta das Relíquias do expositor Visconde da Ribeira Brava da Vidigueira, obteve um prémio de honra pelo seu vinho ", a maior distinção da época atribuída a um vinho.
Hoje, e dando continuidade à tradição os vinhos desta região continuam a receber prémios e menções honrosas nas feiras e certames onde participam.
Possuidor de uma notável riqueza histórica com mais de 5000 anos, o concelho de Vidigueira, encontra-se actualmente numa fase de pleno desenvolvimento, mantendo contudo bem vivas todas as suas tradições. 
 

LOCAIS DE INTERESSE HISTÓRICO


Torre do relógio
Construção antiga mas de data ignorada. De planta quadrangular, construída em alvenaria com cunhais aparelhados em granito. O relógio é composto por três grandes mostradores circulares de mármore branco e de numeração romana. Sobreposto a este está um terraço, onde existe um lanternim-campanário de quatro olhais. A guarita ou coruchéu, alberga um sino oferecido por Vasco da Gama na era de 1520, como prova a inscrição.
 

Cascata Armoriada
Edificada em 1981. Esta é revestida de pequenas rochas marinhas, encimada por um obelisco de mármore, de forma octagonal, seccionado e liso. Tem na base folhas, florões e singelas urnas estilizadas e esculpido o brasão da Vidigueira.
 

Estátua de Vasco da Gama
Inaugurada em 1970, esta estátua de bronze assente em plinto de granito, do glorioso descobridor do caminho marítimo para a Índia encontra-se no centro do largo com o mesmo nome.
 

Praça da República
Esta praça tem sobretudo merecimento arquitectónico na face norte, constituida por alguns edifícios ancestrais que, apesar dos volumes diferenciados, merece ser conservada estruturalmente.
 

Castelo - Paço dos Condes da Vidigueira - Torre de Menagem
Conhecida popularmente como castelo, terá a sua origem no séc.XV. Desta residência fortificada dos Gamas, resta apenas a Torre de Menagem que serve como miradouro, de onde se avista uma magnífica paisagem urbana da Vidigueira e de Vila de Frades, tal como dos campos que a envolvem. Na frente da torre encontra-se o escudo das armas dos gamas esculpido em mármore branco. Junto à Torre de Menagem colocou-se uma janela Manuelina, encontrada em Vila de Frades. Esta é formada por elegantes arcos de querena, de chanfraduras golpeadas e recobertas por placas florícolas de relevo.
 

Paços do Concelho
O edifício foi recuperado no séc.XVIII. Este mantém na fachada o aspecto original, rasgado por uma galeria de oito arcos de volta inteira. O piso superior suporta na frente , sete balcões de sacada, fechados por grades de ferro forjado. A beleza deste edifício é por si só motivo suficiente para uma passagem por esta praça.
 

Igreja de S. Francisco ( Séc.XVIII )
Foi construida em 1732, e é hoje a igreja paroquial. Por cima do portal encontra-se uma lápide de mármore branco, com uma inscrição dedicada a S. Francisco. A imagem de N.ª Sr.ª das Relíquias, de roca, com vestes primaveris e formosa coroa de prata, colocada no altar-mor é uma das peças mais valiosas desta igreja. Aqui encontram-se também uma imagem do menino Tobias e a réplica da de S. Rafael, visto a original ter sido levada para o Museu da Marinha em Lisboa.

 

Igreja da Misericórdia ( Séc.XVI )
Foi erigida em 1592 e reedificada em 1688, após um incêndio ocorrido no ano precedente. A capela-mor desta igreja é magnífica e os valores artísticos que aí se encontram são dos mais notáveis do concelho. O seu interior é de uma só nave e possui três altares com retábulos de talha dourada. Os laterais dão hoje pelas designações de N.ª Sr.ª das Brotas e N.ª Sr.ª do Livramento, de estilo barroco nacional, com duas colunas salomónicas, de capitéis coríntios, revestidos de elementos marianos, aves, parras e uvas. O altar mantém nos alçados, interrompidos, dois painéis de azulejos historiados, de azul e branco, representando cenas mitológicas e bíblicas, além de um painel com um pavão.
 

Ermida de S. Rafael (Séc.XVIII)
Associada à veneração de S. Rafael, esta ermida foi mandada edificar por D. Francisco da Gama, 4º conde da Vidigueira, para aí ser colocada a imagem deste santo que acompanhou Vasco da gama à Índia.
É uma construção de planta quadrada e arquitectura simples. Foi restaurada duas vezes pela Câmara Municipal. Presentemente o interior desta ermida encontra-se vazio e a imagem de S. Rafael, que aí permaneceu cerca de dois séculos, está patente ao público no Museu da Marinha.
 

Ermida de S. Pedro (Séc.XVII )
Esta ermida é um verdadeiro miradouro, que oferece aos visitantes uma panorâmica encantadora. Situada no cimo de uma coluna sobranceira à vila, é um local ideal para romarias e festejos populares de diversa ordem.
A sua origem não está ligada à história, nem a qualquer lenda, mas sim à popularidade que S. Pedro tinha entre as gentes simples deste concelho.
 

Ermida de Santa Clara ( Séc.XVI )
Do conjunto das cinco ermidas existentes em redor da Vidigueira, a mais antiga é a Ermida de Santa Clara, de traça manuelina.
Mandada construir em 1555 pelo 2º conde, D. Francisco da Gama, dizem as "vozes lendárias ", que terá sido aí a primeira igreja matriz da povoação, um facto porém não comprovado.
Sempre ligada a lendas e milagres, esta ermida foi um lugar de romaria, muito venerada pelas gentes da Vidigueira.
Com agradável vista sobre a Vidigueira, o caminho que conduz até lá, entre vinhas e oliveiras antigas, é a possibilidade de desfrutar a envolvência mediterrânica destas terras do Alentejo. A ermida encontra-se em deficiente estado de conservação, aguardando uma intervênção de restauro.
 

Antigo Convento de Nossa Senhora das Relíquias ( Quinta do Carmo )
O Convento de Nossa Senhora das Relíquias já de há muito que não existe, pois foi extinto quando da abolição das ordens religiosas em 1834. Mas o edifício onde esteve instalado esse convento ainda hoje se conserva, embora adaptado a casa de habitação, e os terrenos que lhe estão adstritos constituem, já desde o século passado, a Quinta do Carmo, designação derivada do nome da ordem a que pertenciam os frades que aí tiveram residência.
Na igreja do convento estiveram depositados os restos mortais de Vasco da Gama cerca de três séculos e meio.
A fundação do convento nos finais do século XV está ligada à tradição do milagre de Nossa Senhora das Relíquias e da sua aparição no sitio da Várzea, situado a pouco mais de um quilometro da Vidigueira.
Testemunha de um passado memorável e vitima da incontância dos tempos, o antigo Convento de Nossa Senhora das Relíquias é o monumento mais prenhe de história do concelho de Vidigueira. Visto de longe, o vulto da igreja, ou do que foi a igreja do mosteiro, ainda se eleva acima do arvoredo circundante, que hoje, porém cobre a maior parte da fachada do antigo templo. ( Propriedade Particular )

 

 

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande - Portugal

 
 

 

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