"As Detidas de uma Ilha do Atlântico"

de Carlos Leite Ribeiro

Formatação: Iara Melo

 

Numa véspera de Natal, três presidiárias fugiram de uma quase inexpugnável fortaleza situada numa ilha do Atlântico. Depois de consumada a fuga, entraram na loja do senhor Carlos, e...
 
Tipo de trabalho: COMÉDIA. Pode ser preparada para Vídeo ou Radiodifusão.
 
Vamos apresentar as nossas personagens: (Uma voz)
 
1ª - Personagem - NANDA. Assassina, falsária e traficante de renome internacional. Nas horas vagas era muito trabalhadora, muito honesta e divertida.
2ª - Personagem - NELA. Considerada a maior falsificadora de Whisky e de notas falsas da Europa. Nas horas vagas entretinha-se em acções sócio – culturais.
3ª - Personagem - TÓ-TÓ. Também assassina, falsária e adúltera. Bem conhecida e indesejável em toda a costa Atlântica. Nas horas vagas dava concertos e ensinava piano e "lavores femininos".
5ª - Personagem - O senhor Carlos, marido da D. Joaquina e dono de uma loja.
6ª - Personagem - D. Joaquina, a anafada mulher do senhor Carlos.
7ª - Personagem - O primeiro cliente.
8ª - Personagem - O odioso senhorio da loja do senhor Carlos.
9ª - Personagem - O segundo cliente (o atleta olímpico).
 
Agora por favor imaginem: Uma mulher à solta, é um verdadeiro problema; agora imagem o que será 3 (três) mulheres à solta?!...
 
E posto isto, vamos começar com a nossa história:
 
Nanda - ... A última fecha a porta, mas com muito cuidado, pois as guardas prisionais podem ouvir...
Nela - Se eu fosse um pássaro não precisava de fechar as portas com cuidado, nem andar prá qui a soltar muros...
Toto - O pior é se fosses uma passarinha, muito linda, estavas fechada numa gaiola ...
Nanda - E dentro da gaiola só comias alpista!
Toto - Pufff, aqui também só comemos arroz.
Nela - Calem-se! Pois tenho a sensação de ter ouvido um ruído...
Nanda - Uuuunh, já há muito que tinha notado que andavas com sensações muito esquisitas!
Nela - Que gracinha que tu tens! Pensas que nós não sabemos que tu queres fugir desta prisão só para poderes teres "sensações" muito fortes?!
Nanda - Por favor não me irrites porque ainda te arranco os cabelos!  A minha vontade era deixar-te já aqui...
Nela - Tu é que sabes, mas, se me deixas aqui, começo a gritar muito, e, decerto que acordaria todas as guardas do presídio!
Toto - Mas que disparate vem a ser esses?!... Olha lá, este muro também é para saltar?
Nanda - Pois claro que é para soltar! Sabes, o construtor deste presídio não sabia que nós queríamos fugir hoje, e assim, não colocou aqui uma porta!
Nela - Cada vez gosto mais de ti! Até tenho vontade de te apertar o pescoço - assimmm raaaaannnhhhhh...
Toto - Calem-se e não digam disparates... agora, toca a saltar este muro, para depois podermos sair pelo túnel.
Nanda - Túnel esse que eu cavei com tanto sacrifício! Olha, ainda tenho as mãos cheias de bolhas e de calos, e as costas derreadas...
Nela - Ai, estou mesmo a ver que o túnel deve estar feito com uma perfeição de pasmar!
Nanda - Está calada arquitecta de obras feitas...
Toto - Caluda! Não façam barulho, pois, a tão poucos metros da liberdade, seria uma pena sermos agora descobertas.
Nela - Eu cá vou andando... Calada é que não posso. Olha lá menina, isto é que é o tal túnel que tu escavaste? Que raio de obra, que raio de túnel tão estreito, tão sujo e tão escuro!
Nanda - Estou mesmo a ver que tu querias um túnel largo, alcatifado e profusamente iluminado.  E até quem sabe, no fim do túnel um automóvel de luxo para a transportar até ao Haiti!
Toto - Tomem cuidado pois isto pode desabar a todo o momento... já falta pouquinho... já estou a ver claridade... só mais uns metrinhos... UÁ, até que enfim!
Nanda - Também digo o mesmo: até que enfimmmmmmm, liberdadeeeeeeeeeee!!!
Nela - Só é pena estarmos tão sujas e tão mal vestidas.  E agora?
Toto - Agora?! Vamos procurar tomar banhinho e arranjar roupas novas; vamos tratar do nosso visual!
Nela - Também devíamos de arranjar perfume do bom!
Nanda - Olha lá menina! Preferes água-de-colónia ou água de malvas?!...
 
UMA VOZ
 
Depois de fugirem do local onde estavam recolhidas (presas)  já há muito tempo, ou seja, atrás de umas grossas barras de ferro, as três amigas da "vida airada", vagabundeavam pela bela ilha, cercada de mar salgado, cheia de montes e vales.
Enquanto, numa rua pouco concorrida, um bom homem, que tinha tanto de bom como de falido, ou seja o  senhor Carlos Pers. 5), Casado com a D. Joaquina, formosa, anafada e educada dama daquela ilha, estava no meio da rua apanhando ar, quando...
 
Nanda - Amigas, olhem que está aqui à nossa espera! Olá "tiozinho"!
Nela - Que beleza, que chame ele tem!
Toto - Que lindo homem, é um gatão,  é mesmo um "borracho"!
Carlos - Mas, mas quem são as senhoras?!... E o que querem de mim?
Nanda - Não tenha medo "tiozinho" pois já vamos lhe dizer o que queremos.
Nela - Dê-me cá o seu braço e vamos entrar no seu estabelecimento.
Toto - Vá lá ande, não hesite, pois eu não deixo que ninguém lhe faça mal.
Carlos - Agora, agora já entrámos no estabelecimento, o que é que as senhoras desejam de mim?
Nanda - "Tiozinho" querido, imagine que nós viemos de muito longe só para fazer a limpeza completa a sua casa!
Nela - E claro também para fazer umas arrumaçõezinhas...
Toto - E vamos aproveitar para lavar as paredes.
Nanda - Vá lá "tiozinho", alegre-se e não esteja para aí com essa cara de medo!
Carlos - Por favor, por favor não me façam cócegassssss... Ai, ai, estou mesmo a ver que são muito divertidas! Ai...
Nela - Acertouuuu em cheio! Somos mesmo muito divertidas!
Toto - Ai que linda carequinha que este "tiozinho" tem!  E estes bigodes? Sensacionais!
Nanda - O nosso "tiozinho" é muito lindo! É mesmo o tipo de homem que o médico me receitou, em doses muito elevadas depois da meia - noite!
Carlos - Cuidado, cuidado pois a minha mulher está a chegar e pode desconfiar...
Nanda -  "Tiozinho", a sua mulher está em casa?
Carlos - Por acaso agora não está, mas não deve de demorar muito.
Nela - Então vamos aproveitar...
Toto - Enquanto ela não vem...
Nanda - "Tiozinho", onde está a esfregona (a vassoura com balde)?
Carlos - O que é isso?!
Nanda - É um balde com uma espécie de vassoura...
Nela - Também são precisos os detergentes.
Toto - Além de água…
Carlos - Mas, mas é preciso isso tudo?!...
Nanda - Agora já temos tudo, vamos lá à limpeza, às arrumações e às paredes!
Carlos - Mas, mas eu não estou habituado a viver no meio de tanta limpeza ...
 
UMA VOZ
Neste momento entra na loja a D. Joaquina (6ª Personagem), que ao ver as três mulheres, exclama:
 
Joaquina - Olha!  O que é que as madames estão aqui a fazer? Por acaso são francesas?
Nela - Francesas?!... Há, sim!  A minha avó até parece que nasceu em Paris...
Nanda - Madame Joaquina, estamos a fazer a limpeza à loja.
Toto - E também a arrumar...
Joaquina - Não sei para quê, pois, o pó e as teias de aranha até dão sorte!
Carlos - Ainda bem que chegaste, mulher.
Joaquina - Tu nunca mais tens juízo.
Carlos - Não te estou a compreender...
Joaquina - Porque não queres!
Carlos - Mas que mal é que eu fiz desta vez?
Joaquina - Porque mandaste fazer a limpeza? Olha que os vizinhos até vão comentar essa tua maluquice, por não estarem habituadas a estas grandes limpezas.
Carlos - Deixa lá falar os vizinhos, mulher, pois se falarem é de inveja!
Joaquina - Que raio de feitio que tens. Olha lá homem, já tens o almoço pronto e a mesa posta?
Carlos - Já está tudo pronto. A "Dobrada à moda do Porto" (*) está uma delícia!
 
(*) "Dobrada à moda do Porto, em Portugal e por graça, diz-se que é comida que mulher não gosta, e, quando a sobremesa é "torta" (de qualquer fruta) diz-se que ainda é pior (dobrada e torta).
 
Joaquina - Vamos lá então ao almocinho. Entretanto as senhoras não lavem muito o chão pois até pode ficar manchado.
Nanda - Amigas, enquanto eles almoçam, vamos aproveitar para escolhermos as roupas e depois "piramos".
Nela - Vamos nessa. Olha, cheira aqui este perfume.
Toto - Uiii, que cheiro tão horrível!
Nela - O perfume cheira mal?
Toto - Não é o perfume, é a dobrada à moda do Porto!
Nanda - Olhem, para este biquíni, devo ficar uma autêntica "tara" com ele, não é verdade "queridas"?
Nela - Sim, sim devia-te ficar muito bem, quando tinha menos 20 Quilos. Agora reparem nesta saia que me vai ficar mesmo a "matar"...
Toto - As pregas é que ficam lisas, pois engordaste muito na "prisa". Esta blusa é que me vai ficar lindamente...
Nanda - Só é pena é que essas banhas saiam da blusa... é só banha!
Toto - Amigas, vem aí um cliente. Agora, vamos ter muito juizinho e atende-lo muito bem.
 
UMA VOZ
Neste momento entra na loja um jovem (7º Personagem) de aspecto muito convencido.
 
1º Cliente - Olá belezas, boa tarde!
Nela - Amigas, reparem que este também não é parecido com ninguém!
Toto - Olha que tens razão. Este deve ser exemplar único e se tivesse rabo pendurado, seria macaco!
Nanda - Então vamos lá ver o que o freguês deseja...
1º Cliente - Bem eu desejo... Olhe, quero um bom cachecol,  mas parece que é artigo que não têm...
Nanda - Olhe que você está enganado pois nós temos tudo, de tudo. Olhe aqui cavalheiro...
1º Cliente - Isto aqui é um cachecol?! Mais parece uma manta de tiras!
Nanda - Peço-lhe desculpa, mas você deve de estar a ver mal. Não sei como isto lhe pode parecer uma manta de tiras?
Toto - Amigas, eu bem vos avisei que este cliente não percebia nada, mas mesmo nada do artigo!  Oh cavalheiro, até parece impossível confundir um cachecol moderno com uma simples manta de tiras. Eu nem quero acreditar...
1º Cliente - Bem, sabem... desculpem, mas este tecido tão largo e tão comprido...
Nanda - Em parte você tem razão, mas só em parte. De facto o tecido é bastante largo e comprido, mas nós cortamos à medida e ao desejo do cliente. Passem-me aí essa tesoura. Agora você diga-me se a largura está bem assim... assim?
1º Cliente - Bem... Eu... Olhe, talvez um pouquito menos... talvez assim...
Nanda - Olhe lá: você quer cortado ao comprimento ou à largura?
Toto - Olha que será melhor cortares ao comprimento, pois assim, o freguês pode dar meia dúzias de voltas no pescoço.
Nela - E assim, o cliente não terá mais frio. Olhe que o cachecol até lhe fica muito bem!
Nanda - Do cachecol já estamos resolvidos. O freguês precisa de mais alguma coisa?
1º Cliente - Precisar de facto, preciso. Preciso de um cinto de cabedal.
Toto - Cinto de cabedal?!...
Nela - Ho cliente, os cintos de cabedal já não se usam!
Nanda - Ho cavalheiro, você é um jovem desfasado da realidade da moda. Você não queira ser "bota-de-elástico". Olhe o que se usa agora são... São cintos a condizer com cachecóis!
Nela - Desta vez vamos cortar outra tira, mas desta vez mais fininha...
1º Cliente - Minhas senhoras, mas, este cinto não tem qualquer furo...
Toto - Mas isso é tão simples de fazer, quer ver? Amigas, dêem aí essa agulha...
1º Cliente - Cuidado, olhe que me está a picar... Mas onde está a fivela?!...
Nanda - Fivela?!... Pois é, os cintos da moda já não levam fivelas, ficam assim, assim, digamos, com um laço!
Nela - Você confie em nós pois cada vez está a ficar mais gatão, mais "borracho".
Toto - Pelos vistos, você também deve estar a precisar de meias. Olhe aqui estas...
1º Cliente - Estas meias?! Mas são muito pequenas; até parecem meias para bebés.
Nela - Para bebés?!... Ho freguês, isso é uma ofensa. Se lhe forem pequenas, estique-as pois o que elas precisam é serem esticadas.
Nanda - E para facilitar o esticamento, ponha-as na água pois elas assim crescem mais rápido!
1º Cliente - Bem, bem... enfim. Sapatos é que não têm?
Toto - Pois claro que temos sapatos, e dos bons!
Nela - Estes aqui são muito jeitosos e ficam-lhe lindamente.
Nanda - Deve calçá-los é com muito cuidado, pois o material é muito sensível...
1º Cliente - Há não! Estes sapatos são muito apertados. Estes não me servem mesmo.  É impossível...
Nanda - Você desculpe, mas os sapatos servem-lhe lindamente e até lhe ficam muito bem. Terá de insistir um pouco mais... vá lá, um pouco mais. Você tem é muitos calos nos calcanhares e as unhas muito compridas!
Toto - O melhor será você cortar as unhas e raspar muito bem os calcanhares.
1º Cliente - Peço desculpa mas não, não me convencem. Assim, com estes sapatos tão apertados, nem podia dançar!
1ª-  Nanda - Pois não, nem estes sapatos são próprios para dançar.
1º Cliente - Além disso nem posso andar com eles...
Nanda - Que grande admiração. Estes sapatos são próprios para se ter guardados em casa, para os mostrar aos amigos, para eles verem que temos sapatos e sempre novos.  É a chamada psicologia do sapato!
1º Cliente - Podem ter razão, mas a despesa hoje já é substancial. Fica para outra vez...
Nanda - Por favor cavalheiro, olhe que perdemos muito tempo com você, e um homem da sua categoria, não me diga que não tem aí 200 euros?
1º Cliente - Por acaso até tenho, mas...
Nanda - Não pode haver "mas" nem meio "mas". Amigas, embrulhem muito bem estes artigos para este freguês. Escolhem um papel muito bonito, a condizer com ele e com a categoria da mercadoria que leva.
Nela - Olhe, que não é muito conveniente você refilar, pois, perdemos muito tempo com você...
 
UMA VOZ
Depois deste freguês ter saído, aproxima-se da porta da loja outra personagem ( 7ª Personagem e senhorio da loja do sr. Carlos). É um homem de aspecto quase, digamos, sinistro. Rosto muito fino, olhos encovados, nariz muito grande e adunco, e cara de poucos amigos; roupa muito suja e até algo seboso...
 
Senhorio - Onde está esse "caloteiro" que me deve tanto dinheiro?!...
Nela - Amigas, já olharam bem para este "patusco"? Até mete medo a um fantasma!
Toto - Este "mamífero" deve estar "pirado" ou "marado". Bom do cérebro é que ele não está...
Senhorio - Deixem-se de conversas parvas e digam-me onde está esse caloteiro, esse Carlos!
Nela - Este cara está cá a dar-me uns "frenesins" que já me estão a subir à cabeça. Já estou a tremer toda, daqui a pouco nem respondo por mim... agarrem-me por favor, senão dou cabo dele...
Toto - Tem muita calma, não vês que esta "encomenda" descende directamente deles? Dos Primatas?!...
Senhorio - Eu já as avisei que deixassem de brincar comigo. Aonde está esse caloteiro, não me ouvem?
1ª-  Nanda - Bem me parecia que o "homezeco" estava a falar. Olhe lá, o que é que o senhor deseja do sr. Carlos?
Senhorio - O que eu desejo? Desejo falar com o dono da casa, esse grande caloteiro que já me deve 18 meses de renda...
Nela - Só dezoito meses?! Sabe, o tempo passa muito depressa, e para mais, o senhor já há muito tempo que não manda arranjar este prédio...
Toto - E os canos estão entupidos e rebentados...
Senhorio - Que estejam, não me interessa, eu nunca mando arranjar nada, só recebo as rendas.
Nanda - O que diz é lamentável...
Nela - Já estou a ficar com o coração muito oprimido...
Toto - Amigas, tem de ser, embora estejamos um pouco destreinadas...
Nanda - Mas a quem sabe, nunca esquece...
Senhorio - Deixem-se de lérias e deixem-me passar já para o poder encontrar.
Nanda - Tenha cuidado. Olhe que não me empurre, seja delicado...
Senhorio - Se não sais já do caminho, levas-me um grande murro na cara!
Nanda - Socorro!  Socorro! Este homem quer bater-me!
Senhorio - Está caladinha, senão ainda aparece aí a Polícia, e eu sou um homem sério!
Nanda - Amigas,  por acaso vocês ouviram bem? Ele diz que é um homem sério...
Nela - Vamos gritar todas bem alto e dizer que este homem quer violar-nos!
Toto - Uá, vamos então começar a gritar para os vizinhos ouvirem!
Senhorio - Por favor, não comecem a gritar, pois seria um grande escândalo. Eu sou um homem sério!
Nanda - Então vamos dar-lhe uma oportunidade, mas só uma: diga-nos o que é que veio cá fazer?
Senhorio - Vim cá para receber dezoito meses de renda...
Nela - Calma. Mas você deve cá uma grande conta em compras, não deve ?...
Senhorio - Pois devo...
Nanda - E quando é que paga?
Senhorio - Eu só pago quando tiver dinheiro.
Nela - Então o sr. Carlos não lhe deve nada...
Senhorio - Não brinquem comigo; ele deve-me dezoito meses de renda!
Nanda - O senhor pense muito bem, porque pode estar enganado...
Toto - O que lhe seria muito perigoso...
Nela - Você está enganadíssimo. Como vê, estão aqui na minha mão, 18 recibos de renda de casa. Vou ver se me enganei... deixe-me contá-los... são mesmo dezoito e todos assinados por você. Como vê...
Senhorio - Mas, mas isso é impossível. Os recibos estão todos dentro da minha carteira, querem ver?
Nela - Olhe que você deve de estar enganado. Veja bem...
Senhorio - É impossível!  É impossível! Não pode ser; vocês roubaram-me os recibos!
Nanda - Caro senhor, meça bem as suas palavras, olhe que nos está a ofender...
Toto - E eu não gosto nada de ser ofendida...
Nela - Também eu não suporto tal situação, e começo ter vontade de gritar, gritar, e daqui a pouco começo a gritar mesmo!
Nanda - Caro sr. Olhe será melhor ir embora, pois a situação está a ficar muito perigosa para você e eu não me responsabilizo pelas minhas colegas...
Nela - Saia rapidamente, não aumente mais a minha raiva!
Senhorio - Vou-me embora, mas vou já queixar-me à Polícia, pois vocês roubaram-me os recibos da renda desta casa.  E agora reparo: também me falta o porta notas e o meus dinheiro,  fiquei sem nada, sem nada.  Vou queixar-me à Polícia...
1ª - 2ª - 3ª Personagens - E nós também, pois você tentou não só agredir-nos como também violar-nos.
Senhorio - Gozonas,  gozonas!   Hei-de vingar-me, vingar-me...
Toto - Amigas, já repararam que o homenzinho está a fazer uma cara muito cómica?
Nela - Pois está. Com esta barafunda toda, até já me estava a esquecer...
Nanda - A esquecer de quê?
Nela - Olha, de me rir ahahahahahahahah !!!
 
UMA VOZ
Sai o senhorio muito furioso da loja do senhor Carlos e logo à porta aparece outro freguês (Pers. 9), este com ar de atleta falhado...
 
Nanda - Amigas, lá vem outro freguês.
Nela - E este é bem gordinho!
Toto - Se fosse mais magrinho seria um "gato / borracho".
Nela - Um "peixão" queres tu dizer!
2º Cliente - Olá boa tarde, Juventude.
1ª - 2ª - 3º Pers.- Boa tarde, senhor!
Nanda - Então o que o freguês deseja desta casa?
2º Cliente - Desejo um fato de treino, mas estou a ver que é artigo que vocês não têm cá na loja...
Toto - Meu caro senhor, nós temos de tudo o que os fregueses precisam, incluindo fatos de treino!
Nela - Nesta casa há de tudo!
Nanda - Então você quer um fato de treino para quê?
2º Cliente - Para treinar á noite, pois quero ir aos Jogos Olímpicos.
Toto - Temos ali um artigo muito apropriado para o seu caso.
Nela - É este o modelo mais apropriado para treinos desportivos à noite.
Nanda - Aprecie só este luxo de fato de treino, que por sinal há-de ficar-lhe muito bem. Ora experimente...
2º Cliente - Mas vocês chamam a isto fato de treino?  A mim parece-me um pijama.
1ª-  Nanda - Isto um pijama? Eu nem quero acreditar no que ouvi. Apesar de ser especial para treinos à noite, não quer dizer que seja propriamente dito um pijama...
2º Cliente - Além do mais, é tamanho muito pequeno...
Nanda - Perdão, isso é o que você pensa, e pensa mal!
2º Cliente - Não penso mal, não. É pequeno é, estão a ver?  O meu corpo não cabe aqui dentro...
Toto - Se não cabe, é porque você está muito gordo! Faça ginástica, muita ginástica, pois você precisa de emagrecer!
Nela - Eu vou ajudá-lo. Vá lá, braços bem esticados por cima da cabeça; agora à altura dos ombros; agora para baixo...
9ª-  2º Cliente - Cuidado menina, não carregue muito nas minhas costas que me está a fazer doer...
Nela - É só para você conseguir tocar com as pontas dos dedos das mãos nos pés... um.. e dois... três... insista... insista... para cima... para baixo... insista, insista...
Nanda - Não obrigues o freguês a insistir tanto, pois senão ainda ficamos sem ele...
Toto - Estou a ver o homem a ficar "desminlinguído".
Nela - Como já fez cinco flexões completas, experimente novamente o blusão do fato de treino.
2º Cliente - Como vê, ainda continua um pouco apertado...
Nela - Então faça mais e mais flexões, que vai ver que emagrece. Um.. e dois... três... insista, insista...
Toto - Cá para mim, tu estás a aproveitar da ocasião para te atirares às costas do homem!
Nela - Cala-te antipática. Tu tens é inveja. Só estou a tentar ajudar o cliente...
Nanda - Com estes exercícios todos, o blusão já lhe deve servir.
Cliente - Ainda está um pouco apertado, e as calças são muito curtas. Mas vocês têm razão: preciso mesmo de emagrecer.
Nanda - Para você conseguir emagrecer mais rapidamente, temos aqui este tecido que veio directamente do estrangeiro, e é próprio para ajudar o emagrecimento dos bons atletas...
2º Cliente - Esperem lá. Isto parece-me uma simples manta de tiras, ou não será?
Nanda - Pode parecer, mas não é. Você, como atleta, até parece impossível que não conheça este moderno tecido, próprio para atletas olímpicos. Podemos cortar uma tira à medida do seu tronco...
2º Cliente - Bem, se você me afiança que é indicado para atletas olímpicos... mas estas calças estão muito curtas...
1ª- Nanda - Curtas? Então quer dizer que você, um jovem atleta, quer usar calças de fato de treino pelos tornozelos?! Isso era antigamente, pois agora, os atletas que se prezam, usam as calças de fato de treino pelo meio da barriga das pernas!
Nela - Olhe que nós temos muita prática destes assuntos olímpicos. Até somos consultoras dos melhores atletas mundiais...
2º Cliente - Acredito em vocês, e sendo assim, também preciso de sapatos de ténis.
Nanda - Sapatos de ténis? Você está completamente desajustado da realidade, pois agora, os atletas olímpicos já não usam desse tipo de sapatos, mas sim deste tipo...
2º Cliente - Eu nem quero acreditar. O que você me está a mostrar são tamancos com sola de madeira!
Nanda - Você tem o direito de lhe chamar o que muito bem entender, mas os grandes atletas, os verdadeiros olímpicos, usam destes sapatos pois além de serem muito cómodos, também dão muita velocidade!
Nela - Meu amigo, se você quer vir a ser um grande campeão, deve seguir à risca todos os nossos conselhos, pois as nossas técnicas são inovadoras. Terá de confiar cegamente em nós, meu amigo!
2º Cliente - Como vêem, estou confiando plenamente em vocês. Também precisava de um malote para transportar o material...
 
Neste momento e depois do almoço, entra na loja o sr. Carlos
 
Carlos - Malote?  É artigos que não temos de momento...
Toto - Olha, o "tiozinho" já voltou!
Nela - Peço desculpa mas, o sr. Carlos ainda não teve oportunidade de ver as encomendas que chegaram hoje do estrangeiro.
Nanda - Chegaram os mais modernos malotes da actualidade, próprios para atletas olímpicos. Por exemplo, este aqui, é dos mais modernos e mais completos...
2º Cliente - Mas, mas isto é uma saca de serapilheira!
Nanda - Isso é o que lhe parece a si. Na realidade, é uma serapilheira, mas também um malote especial para atletas olímpicos!
2º Cliente - Pois, estou a ver. Mas este material deve ser muito caro...
Nanda - Não é não. Como você leva o fato de treino, assim como a cinta especial própria para emagrecimento, e os tamancos, o malote é oferta da casa!
Nela - Somando tudo...
Toto - Não te esqueças que o malote é oferta da casa!
Nela - São, são 285 euros.
Nanda - Pode crer que fez um óptimo negócio. Mas também é nosso dever ajudar os nossos atletas olímpicos.
2º Cliente - Muito obrigado pelos vossos conselhos. Quando necessitar de mais material desportivo é aqui que virei comprar. Boa Tarde!
1ª - 2ª - 3ª Pers.- Boa sorte e bons resultados, amigo!
 
Nanda - "Tiozinho", agora vamos falar nós: sempre que tenhamos a fazer negócio, por favor nunca se meta.
Nela - Há um provérbio muito antigo que diz: "Quem não sabe ser caixeiro, fecha a loja".
Carlos - Mas, mas vocês só vieram cá fazer a limpeza...
Nanda - Pois, mas também conseguimos vender vários artigos, com cachecol, cinto, fato de treino, etc.
Carlos - Mas eu não tenho cá na loja esses artigos!
Toto - Isso é o que lhe parece. Só é preciso ter um pouco de imaginação.
Nela - Vendemos também meias e sapatos...
Carlos - É impossível, é impossível!
Nanda - Para lhe provar que é possível, aqui está o dinheiro dessas vendas.
Nela - Mas ainda há mais: estão aqui também dezoito recibos da renda da casa!
Carlos - Ai, ai que eu ainda dou em doido...
Nela - Acalme-se "tiozinho", olhe o seu coração...
Carlos - O senhorio deste prédio deve-me muito dinheiro; ainda mais que a importância dos recibos...
Nela - Pois devia-lhe, devia-lhe. Mas estão aqui mais mil e quinhentos euros!
Nanda - Sabe, "tiozinho", o senhorio desta casa quis liquidar tudo o que lhe devia...
Carlos - Vejam bem, venderam artigos que nunca tive; pagaram a renda da casa. Isto até parece um sonho bom!
 
Neste momento entra em cena a D. Joaquina com ar tanto ou quanto aparvalhado.
 
Carlos - Joaquina, estas senhoras são formidáveis! Além da limpeza e da arrumação, venderam muitos artigos, que eu nem sabia que os tinha cá na loja...
6ª-  Joaquina - Foi Deus que as enviou para nos ajudar!
Nanda - Sabe, nós por vezes gostamos de ajudar toda a gente.
Joaquina - Vou já para a cozinha fazer o jantar para todos nós. Vou cozinhar de propósito uma saborosa "dobrada" à moda do Porto, e , para sobremesa vou fazer uma saborosa torta !
Nela - "Dobrada"? e também "torta"?!...
Toto - Isso para nós, que estamos há muito tempo presas?!...
Nanda - Não, não se incomode, D. Joaquina.
Joaquina - Mas não incomoda mesmo nada, até é um grande prazer para nós!
Nela - É que nós, sabe...
Toto - Temos de regressar ao...
Nanda - Ao Presídio...
Nela - A esta hora já deviam ter notado a nossa falta...
Toto - E as nossas companheiras gostam muito de nós...
Nela - Sobretudo da nossa companhia...
Nanda - E hoje é a Noite da Consoada...
Carlos - Sinceramente tenho muita pena de vocês não poderem ficar.
Joaquina - Com vocês cá seria uma noite muito agradável!
Carlos - Eu até ia comprar mais duas ou três lâmpadas para a casa ficar mais alegre!
Nanda - Sabe, nós também temos muita pena, mas...
Nela - Este ano não calha muito bem.
Toto - Voltaremos para o ano que vem.
Nela - Não prometemos é comer a "dobrada"!
Nanda - E muito menos a "torta"!
Toto - Adeus amigos, até para o ano que vem!
 
5ª e 6ª Pers.- Até para o ano, amigas!!!
 
F I M

Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
 
 
 
 

 

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